A arte de não dizer nada num país literal.
Textos
acacianos,
conversas
vazias,
papos
furados e enganos,
debates
sem muitas assertivas,
encontros
de desencontros.
Palavras
no ar,
rimas
pobres,
frases
sem nexo no elaborar,
parágrafos
sem fim, até esnobes,
linhas
desconexas do pensar.
Poesias
sem sentidos ou raízes,
mensagens
de conteúdo superficial,
sínteses
de antíteses,
um copo
encima da mesa, tudo normal,
o bar,
quatro bêbados, quatro teses.
Quatro
garrafas de nulidades,
banais,
vulgares,
vivendo
em realidades,
verdade e
platitudes,
no fundo
de cada copo de adversidades.
Em cada
gole, quase fatal,
o ego
falante,
inflexível,
intolerante, radical,
a verdade
de cada um ali operante,
cegueira
e solidão no discurso pessoal.
Lampejos
de euforia,
impulsividade
e disfarçada agonia,
revoltas
contidas, agitações mentais,
revoluções
em sinais.
Opiniões
perdidas,
políticas
contraditórias,
cacos de
ideologias mal costumizadas,
demagogia
em ações corriqueiras,
cidadãos
em fugas contidas.
Espiritualidade
de baixo nível,
críticas
superficiais das realidades
bobagem e
risada possível,
gargalhadas
ao ar, banalidades,
a vida
vazia do nada invisível.
Intelectuais
defeituosos,
obras
insignificantes,
expressões
pessoais, muitos revoltosos,
frustrações
materiais, intoxicantes,
a
literalidade e seus feitos.
Com o dia
a dia sendo em parte modelado pela mídia e o inconsciente coletivo sendo
estropiado, surge uma realidade escamoteada, enganosa que pode desnortear o
discernimento mais apurado. No topo, o desencontro de informações, as
contradições, as manipulações, na base as brutalidades visíveis e invisíveis,
promovidas por broncos, brutos, rudes e bêbados de todas as camadas sociais.
São visíveis as consequências da negligência, da imperícia, da imprudência decorrentes de um alto grau de relaxo, desrespeito, revolta e frustrações pessoais, raiva social e desamor ao Próximo.
No setor de serviços, invadido pela falta de escolaridade, ocorrem as maiores disparidades. Acidentes e crimes que ocorrem em poucos lugares do mundo, aqui revelam um grau de relaxo e abandono, descaso e descura, numa frequência indignante, tomando espaço cada vez maior do noticiário. Ainda não chegamos ao nível de considerar tal aspecto como mero papel de embrulho de uma realidade desnorteada.
Em todos
os cenários, há o cidadão seco, bruto, literal, semi-qualificado, ocupando
funções de responsabilidade do vilarejo à capital.
Na
história de vários países, hoje em outro nível de desenvolvimento, houve
períodos iguais ou até piores. Na nossa evolução de ex-colônia para a
atualidade, temos que aturar as consequências do analfabetismo e
desqualificação técnica e mental. Isso durará por décadas, apesar de a
tecnologia poder acelerar ou talvez agravar nossas disparidades em relação ao
que está acontecendo no chamado primeiro mundo, onde em menor intensidade, os
problemas sociais são outros e a revolta humana em estilo mais grave e irritado.
Nada mais
poderá ser feito a curto e médio prazo, todavia, essa realidade deve ser
considerada em tudo que o cidadão vive e faz, seja no restaurante, no trânsito,
no hospital, no prédio onde mora, no local de trabalho, ao ser cliente de
clínica, pois o exército de desqualificados aumenta diariamente.
Negligência,
imperícia e imprudência são inaceitáveis, não podem ser banalizadas. Há uma
insegurança jamais vista e as consequências aparecem em várias formas, mas
geralmente protegidas pelas máscaras do egoísmo.
O país
das inconsequências, da impunidade. Só há incriminação quando conveniente.
Dará
certo ou estamos nos perdendo na idiossincracia de modelos falidos? Se o tema está se tornando invisível, já é um
indício de grande perigo; se enfadonho e repetitivo, já é um sinal do avanço da
banalização. Seja lá como for é o pano de fundo da realidade feita de
mediocridade com viés decadente. Está em todo lugar e agora invade até o Pão e
Circo, hábil distração para todas as classes sociais, pois vejamos a crise de
competência no futebol, hoje, infelizmente, a última âncora da nacionalidade.
Estaríamos
chegando ao lamentável estado de sermos os rebotalhos, os fiapos, as aparas do
que sobrou de boas ideais e modelos. Não importa mais a pergunta que país é
esse, mas que país será este que estamos todos fazendo.
As
consequências estão à vista, as mentes já estão sendo condicionadas pelos
níveis mais baixos. A mediocridade antes era o perigo, hoje já pode ser até o
novo modelo de salvação para o momento. O nivelamento por baixo está produzindo
isso e mais.
Odilon
Reinhardt 3.4.2025