quinta-feira, 3 de abril de 2025

A arte de dizer nada .

 







                                     A arte de não dizer nada num país literal. 

 

 

 

Textos acacianos,

conversas vazias,

papos furados e enganos,

debates sem muitas assertivas,

encontros de desencontros.

 

Palavras no ar,

rimas pobres,

frases sem nexo no elaborar,

parágrafos sem fim, até esnobes,

linhas desconexas do pensar.

 

Poesias sem sentidos ou raízes,

mensagens de conteúdo superficial,

sínteses de antíteses,

um copo encima da mesa, tudo normal,

o bar, quatro bêbados, quatro teses.

 

Quatro garrafas de nulidades,

banais, vulgares,

vivendo em realidades,

verdade e platitudes,

no fundo de cada copo de adversidades.

 

Em cada gole, quase fatal,

o ego falante,

inflexível, intolerante, radical,

a verdade de cada um ali operante,

cegueira e solidão no discurso pessoal.

 

Lampejos de euforia,

impulsividade e disfarçada agonia,

revoltas contidas, agitações mentais,

revoluções em sinais.

 

Opiniões perdidas,

políticas contraditórias,

cacos de ideologias mal costumizadas,

demagogia em ações corriqueiras,

cidadãos em fugas contidas. 

 

Espiritualidade de baixo nível,

críticas superficiais das realidades

bobagem e risada possível,

gargalhadas ao ar, banalidades,

a vida vazia do nada invisível. 

 

Intelectuais defeituosos,

obras insignificantes,

expressões pessoais, muitos revoltosos,

frustrações materiais, intoxicantes,

a literalidade e seus feitos.

 

Com o dia a dia sendo em parte modelado pela mídia e o inconsciente coletivo sendo estropiado, surge uma realidade escamoteada, enganosa que pode desnortear o discernimento mais apurado. No topo, o desencontro de informações, as contradições, as manipulações, na base as brutalidades visíveis e invisíveis, promovidas por broncos, brutos, rudes e bêbados de todas as camadas  sociais.

São visíveis as consequências da negligência, da imperícia, da imprudência decorrentes de um alto grau de relaxo, desrespeito, revolta e frustrações pessoais, raiva social e desamor ao Próximo.

No setor de serviços, invadido pela falta de escolaridade, ocorrem as maiores disparidades. Acidentes e crimes que ocorrem em poucos lugares do mundo, aqui revelam um grau de relaxo e abandono, descaso e descura, numa frequência indignante, tomando espaço cada vez maior do noticiário. Ainda não chegamos ao nível de considerar tal aspecto como mero papel de embrulho de uma realidade desnorteada.

 

Em todos os cenários, há o cidadão seco, bruto, literal, semi-qualificado, ocupando funções de responsabilidade do vilarejo à capital.

Na história de vários países, hoje em outro nível de desenvolvimento, houve períodos iguais ou até piores. Na nossa evolução de ex-colônia para a atualidade, temos que aturar as consequências do analfabetismo e desqualificação técnica e mental. Isso durará por décadas, apesar de a tecnologia poder acelerar ou talvez agravar nossas disparidades em relação ao que está acontecendo no chamado primeiro mundo, onde em menor intensidade, os problemas sociais são outros e a revolta humana em estilo mais grave e irritado. Não é à toa que aqui, alguém estaciona o carro de serviço no meio de pista de aeroporto internacional para trocar lâmpadas e quase causa uma tragédia. Muitos são os exemplos na vida diária. Se há punição, isto nunca vem à tona, quer por corporativismo, quer por já ser uma banalidade.

Nada mais poderá ser feito a curto e médio prazo, todavia, essa realidade deve ser considerada em tudo que o cidadão vive e faz, seja no restaurante, no trânsito, no hospital, no prédio onde mora, no local de trabalho, ao ser cliente de clínica, pois o exército de desqualificados aumenta diariamente.

Negligência, imperícia e imprudência são inaceitáveis, não podem ser banalizadas. Há uma insegurança jamais vista e as consequências aparecem em várias formas, mas geralmente protegidas pelas máscaras do egoísmo.

O país das inconsequências, da impunidade. Só há incriminação quando conveniente.

Dará certo ou estamos nos perdendo na idiossincracia de modelos falidos?  Se o tema está se tornando invisível, já é um indício de grande perigo; se enfadonho e repetitivo, já é um sinal do avanço da banalização. Seja lá como for é o pano de fundo da realidade feita de mediocridade com viés decadente. Está em todo lugar e agora invade até o Pão e Circo, hábil distração para todas as classes sociais, pois vejamos a crise de competência no futebol, hoje, infelizmente, a última âncora da nacionalidade.

Estaríamos chegando ao lamentável estado de sermos os rebotalhos, os fiapos, as aparas do que sobrou de boas ideais e modelos. Não importa mais a pergunta que país é esse, mas que país será este que estamos todos fazendo.

As consequências estão à vista, as mentes já estão sendo condicionadas pelos níveis mais baixos. A mediocridade antes era o perigo, hoje já pode ser até o novo modelo de salvação para o momento. O nivelamento por baixo está produzindo isso e mais.

  

Odilon Reinhardt 3.4.2025

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