Como vai
o grande negócio?
O pessoal está agitado,
competindo, rivalizando,
e o negócio fica arriscado.
Ninguém quer perder
ou deixar de ganhar,
e assim querem viver.
Ganhar-ganhar,
tirar vantagem ,
se possível sem trabalhar.
Eu por primeiro,
nunca rir por último,
ganhar tudo rápido em dinheiro.
Não é caso de vence o mais forte,
mas, via de regra , o mais sujo,
mesmo que lhe sobrevenha a morte.
Muito conflito ,
trama, muita lavagem,
o umbigo sempre aflito.
O Próximo é inimigo em seus anseios,
vence quem ganha mais,
os fins justificam os meios.
Muita trapaça, trama ,
segundas intenções,
tudo in-off e longe do programa.
Má-fé em regra,
nada de democracia,
muita fuga , ninguém se entrega.
Golpe lá e acolá,
milhões embaixo do colchão;
entre paredes , a economia informal , trá-lá-lá.
Fortunas insustentáveis,
oportunismo e esperteza,
dias contados e enquadráveis.
Muita insegurança,
inconstância e violência,
euforia , falsa esperança.
O oficial sendo encolhido,
vale o ilegal,
quem está sendo vencido?
Sem transparência vivem bem,
à margem , em luxo ,
mas à luz pagam tudo que têm.
A lei em uma das suas duas formas vem ,
foram iludidos,
vivem, convivem com seus pares, mas não sobrevivem.
Para a luz, alguma mínima coisa aparece,
a polícia e a TV mostram,
mas o que não aparece?
Conhece-se o pico do iceberg,
nada mais , tudo desaparece,
e milhões estão a caminho do albergue.
Odilon Reinhardt.
Diante da permanente dificuldade econômica e financeira, gerações vão passando e sempre com mais pressão dada pela necessidade de ter coisas para a vida do dia a dia. Face a impossibilidade de satisfazer todas as necessidades criadas pelo marketing, jovens ansiosos e inseguros , deixam de estudar e adentram o caminho possível, que inconscientemente acreditam lhes dará o amontoado de coisas para viver . Uma vida sem sustentação, trilhada no escuro mental ou não, mas sempre na insegurança da falta de educação formal e familiar. Surgem os seres perdidos que estão em qualquer grupo social. A escuridão reina nos olhos eufóricos do jovem e na mente egoísta do cidadão. A violência é só uma manifestação decorrente dos brutos e literais.
Violência em várias formas, a física mais explícita e já banalizada e a invisível, que aparece nas decisões dos homens literais envolvendo projetos, pessoas e empresas. A má-fé como regra estabelecida é uma violência assim como desrespeito a qualquer ser. O menosprezo e desconsideração são modalidades de falta de respeito. A vida dos negócios é arriscada, imprevisível quanto ao resultado, eis que cheia de suspeitas, desconfianças e muita falta de transparência.
No país da oralidade, o fio do bigode já foi picado a muito tempo, ninguém assegura nem mesmo a própria palavra. A retórica é falsa e venal e volúvel. Há no ambiente dos negócios a insegurança. Não só a de compromisso mas a de qualidade técnica, quando os técnicos e profissionais são visivelmente de qualificação incompleta. O setor de serviços com serviços meia boca.
Concretizada a enganação em um caso concreto, mesmo o golpe, não sobra ninguém além da vítima.
Vai assim a vida nacional, periclitante em tudo. Fácil de contratar, difícil de se descontratar. Cria-se uma fantasia onde o esperado jamais é o resultado contratado.
A fase não é inédita, pois na história social de vários países do hoje chamado primeiro mundo, ocorreram fases de estelionato. Sempre a inteligência deslocada para o Mal. Poderia muito bem ser utilizada para fins do Bem. Todavia, na nossa realidade atual , ou seja, na nossa evolução social, hoje estamos mais de 100 anos atrasados e o golpe é a grande saída para os afoitos jovens e cidadãos em seus empreendimentos de palha.
Deficiências são muitas, seres de qualificação incompleta , mentes deficientes; o setor de serviços acumulando exemplos de negligência grave de uma mão de obra descolada, esfarrapada, imperita. E tudo dobra-se ao bruto, para a violência como expressão primeira e última do sufoco. A guerra civil e por vezes policial nos morros da Cidade Maravilhosa, um exemplo, tudo banalizado, parte do cotidiano. Literais maldades.
A vida a base de má-fé, golpes e desencontros éticos se mistura às atividades do dia a dia, dissipasse-se no coletivo, para tornar-se realidade na vida individual de alguns, onde o cidadão indefeso engole tudo com farinha. Tudo acontece em pequenas ou grandes doses no dia a dia, mas não no mesmo lugar, camuflando-se num ar de aparente normalidade, o suficiente para se dizer que está tudo bem. Ninguém vê um tecido social confeccionado com fios enfraquecidos e fracos.
País continental, muitas realidades diversas, mas o pano de fundo é o mesmo, em parte feito de intelectualidade bastante controversa em qualidade.
Tantas são as platitudes virando rapidamente em banalidades. Eis o perigo. O grande negócio exalta o umbigo e segue virando em coisa normal e aceita.
Odilon Reinhardt 3.3.2025
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