segunda-feira, 3 de novembro de 2025

À Margem?

 




À margem?

  

 

               Esta aí para se ver.

 

Imprudência,

negligência,

imperícia;

vulgarizadas.

 

Desqualificação,

despreparo;

banalizados.

 

Consequências ,

sensacionalismo ;

publicados.

 

Causas ,

fontes;

menosprezadas.

 

Num contexto diversificado,

pelo total da obra;

o cidadão desequilibrado.

 

O país doente,

o indivíduo como centro 

fazendo o dia com enganosa mente.

 

Em muita cabeça

um vulcão

capaz de eclodir sem surpresa.

 

Mas não explode, implode,

fica reprimido em atos diários

onde o terrorismo se esconde.

 

Atos de autodestruição,

violências contra o Próximo,    

vontade de detonar a organização;

 

adulterar leite, falsificar remédios, combustíveis,

roubar fiação de escola e posto de saúde,

não são atos terroristas puníveis? Aqui não.

 

Quantos não tem raiva na cabeça.

esperando a oportunidade

de dar vazão a sua desgraça? 

 

Mas tudo é desconsiderado,

vale o caso individual, exceção,

“o cara era desequilibrado”, e tal.

 

Desculpas mascaradas

sempre convenientes

e os danos e as vítimas encarceradas.

 

A mídia relativiza e considera tudo como exceção,

sustenta-se no sensacionalismo;

o pensar é feito pela teoria da conspiração.

 

A quem aproveita tal condicionamento

senão a alienação por saturamento

do cidadão que se aliena e foge do envolvimento.

 

 

 

Falando em evolução democrática, dois séculos de autoritarismo como modelo de liderança para qualquer nível, não podem ser desfeitos em pouco tempo. Trabalho lento de desconstituição da distopia, para que a realidade vá se ajustando aos modelos mais livres de debate sobre como ajeitar os instrumentos da vida para que sejam conduzidos por estrutura forte e consolidada a favor da democracia como jeito de ser e agir. Por enquanto, muito show na vida privada e pública, denotando que ainda há muito a ser feito do lar até o palácio.

 

O dever-ser do Direito, a lei e a Justiça fazem a espinha dorsal para apoio dos ganhos na batalha pela democracia e liberdade.  São instrumentos que garantem a igualdade perante a lei. Todo o sistema jurídico guarda em si os ganhos da sociedade no avanço para liberdade e respeito à natureza humana.

 

Contra tal vontade coletiva, militam a educação formal deficitária ou inexistente que dificulta a compreensão do sistema, da estrutura formal deste e do  vocabulário ali utilizado, que jamais será popularizado, pelo que só será compreensível através do estudo e leitura. Diante da quase inacessibilidade pela grande maioria, há uma realidade formal, estrutural que atua em paralelo a uma realidade da vida do dia a dia, tocada livremente, até de um modo anárquico, já que as condições do mercado permitem qualquer iniciativa sem o mínimo de conhecimento e instrução; uma economia paralela e poderes locais com liderança armada. Tudo dá certo até o momento em que não dê mais, geralmente logo após o mundo da realidade formal acordar ou reagir à bala.

 

A vida à margem do mundo formal parece ser a regra. Assim é parte da economia, assim é a vida das famílias, seu modo de vida, sua estrutura, suas bagunças conjugais. Nada legalizado, nada de acordo com a lei. É a alienação por ignorância, por falta de discernimento. Berço para o ego animalesco que dita as regras impulsivas para ação e reação, acarretando muitos efeitos na pessoa.

 

Nossos maiores feitos históricos ocorreram sem qualquer ciência pela população, que não participava do mundo da realidade formal, o que ainda hoje é o que ocorre. Desnecessário dizer que tais feitos tinham dentro de si o autoritarismo do sistema militar, sendo os militares as pessoas mais preparadas intelectualmente para tomar decisões e ordenar.  Não podemos negar, que as raízes do mundo formal estão conectadas ao autoritarismo de dois séculos. Logo após o regime militar, muitos recursos financeiros do exterior só eram entregues ao Brasil se no contrato houvesse cláusula ela qual a empresa pública ou de economia mista se comprometesse a implementar programa de democratização da liderança empresarial com sistemas e instrumentos gerenciais correspondentes. 

 

Com a pouca democracia que temos conquistado, já flexibilizamos muito os  modelos gerencias de inspiração militar.  Hoje em alguns casos, o sistema formal quando dirigido pelo autoritarismo recebe prontamente a crítica e a rejeição. E tal reação não vem só das pessoas do mundo formal, mas também da grande maioria que não tolera a falta de liberdade.

 

Mesmo que haja vários entraves que atrasam a democratização familiar, empresarial e governamental, o senso comum é repelir a falta de democracia, ,principalmente pelas novas gerações, hoje muito mais livres, embora mal orientadas quanto aos vários aspectos da vida.

 

Contra as formas de autoritarismo, há reação correspondente à falta de discernimento e consciência, pelo que as manifestações populares podem ir da não-participação à demonstração violenta, quebrando ruas e comércio, penalizando diretamente os iguais e não o autoritário.

 

Mas o que preocupa mesmo é a forma de reação individual de revolta contida, que pode aparecer no relacionamento pessoal, na família, nas decisões impensadas do empresário e autoridade, na revolta do adolescente, no político, no projetista de obra pública, no cozinheiro de restaurante, etc. É a reação pessoal por um ego contrariado no pessoal e no coletivo, que anda na mente das pessoas, cada uma um vulcão prestes a explodir.

 

É esta célula da sociedade que mantem o autoritarismo vivo com meio de afirmação pessoal para sobreviver. Máscara de alienado, mas por dentro um potencial terrorista indo contra o próprio corpo ou contra o Próximo, tido como bode expiatório para uma errada visão de mundo, resultado da mesma falta de luz, discernimento. Animal contra animal, usando as melhores inovações da tecnologia ou não.

 

Ninguém vive à margem. Todos têm um grau de insatisfação e diferentes modos de reagir. O mais perigoso é o silêncio como falsa expressão de uma mente insatisfeita com o conjunto da obra, vendo o mundo pela ótica da conspiração. Há várias máscaras para tal propósito. 

 

Difícil emaranhado para ser resolvido com medidas de bem estar coletivo na atual etapa de evolução.  Negligência, imprudência, imperícia,  talvez ,não sejam só falta de preparo técnico, pois têm muito a haver com o estado emocional de cada um, o que pode estar no modo autodestrutivo ou de vingança contra o social, a dita raiva social; potencialmente, o terror latente em cada caso, seja familiar ou social.

 

Nesse contexto, nossos meios de resolver conflito é calar qualquer tipo de  opositor, visível ou invisível; é precário, quando resolvido pela Winchester e o Colt; é desumano, quando pelo vocabulário de ódio, rejeição e cancelamento; é prepotente quando a estrutura político-formal é usada para bloquear a individualidade do cidadão pelo simples jogo de poder do mais forte, seja por decisão monocrática ou pela maioria ou não.   

 

Tudo promovido de cidadão contra cidadão, todos marchando direita e esquerda sem ir para a frente no tempo desejado. A democracia ainda vem de fora para dentro por imposição legal, a inversão só virá como tempo. Por enquanto, só as consequências tomadas por causa.

 

Um motorista de caminhão, desleixado por problemas pessoais, causa acidente matando várias pessoas, não é um terrorista? Não aqui, não há conotação política, sua condenação poderá levar o fator pessoal, seu estado psicológico  e ódios pessoais como atenuantes. Mas no fundo, o dano causado tem base ideológica. No mesmo sentido, uma pessoa que aplica grandes golpes, afetando a vida de muitas pessoas e empresas não é um terrorista, mas cria terror. 

Na banalização e vulgarização da imprudência, negligência, imperícia e violência física e mental pode estar a raiva social, uma espécie de terrorismo que ainda não é levado em conta.

 3.11.2025 Odilon Reinhardt.

 

 

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