sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

A Ameaça literal.

 






                                              A ameaça literal.

 

 

 O indivíduo literal.

 

 

Literalmente,

só palavra, a frase em si,

secamente.

 

Nenhum sentido figurado,

conotação ou denotação,

só o que foi dito.

 

Verdadeiro cacto no deserto,

desidratado,

uma exatidão do pobre literal incerto.

 

Na aridez de tal realidade,

nenhuma divagação, 

nada para a sensibilidade.

 

O indivíduo literal

vive pelo que vê,

tudo vira objeto seco e racional.

 

Relação de sargento para soldado,

nenhuma distração,

só o exato existir do termo usado.

 

A dimensão burra e básica,

rude e de encaixe fisiológico,

colada aos estreitos limites da vida fática.

 

Robotizado, condicionado,

move-se pela comunidade

como ser manietado.

 

Segue a praxe,

o uso , o costume;

pune quem relaxe.

 

Sua literalidade

domina seu pensar 

que mergulha na violenta inflexibilidade.

 

Intolerância às diferenças,

tem medo e torna-se conservador,

seu ego não trata o diverso com indiferenças.

 

Sua rara opinião

é de sentenças curtas e radicais

de sínteses cheias de escuridão.

 

Quer tudo igual,

todos iguais, cartesiano,

no seu mundo de mente operacional.

 Odilon Reinhardt. 


      

Diante das tendências atuais, cresce a automatização e a robotização, agora não só das máquinas e meios de operação, mas da mente e do pensamento robotizado, literal, sem qualquer sentido figurado. Por vários meios informatizados, utilizando textos premoldados, frases de praxe e palavras-chavão, a literalidade será o comum, não permitindo interpretações  adaptáveis às situações humanas.  Só haverá a estreita relação entre o asno e a suas alforjas. Nada mais e nada menos. O humano seguirá placas de direção como carros no trânsito. Nada a pensar.

Este o perfil de cidadão que se avizinha; pragmático, exato, robotizado, facilmente conduzido. Pronto para seguir, para copiar, nada a criar. Operacional, sempre mirando fugas e distrações, como modo de preencher sua vida intelectualmente vazia. A lição é seguir o manual, nada de oposição, nada de crítica positiva ou negativa. O bom negócio é se justificar como sendo  só uma engrenagem no contexto.

Enfim, o homem literal é o produto de toda a má condução do sistema educacional familiar e  escolar, que esteve à mercê de políticos e interesses comerciais, que se renderam sem barreiras às campanhas de marketing comercial, todo baseado na campanha de uniformização e robotização do pensamento, não só aqui , mas mundial.

A época é de emburrecimento, idiotice mesmo. Consequências de planos e estratégias para unificar e facilmente conduzir.

Os reflexos já aparecem na Economia com uma mão de obra sofrível. Empresas sem poder preencher cargos, empreendimentos sem futuro, modelos gerenciais atrasados, nível de decisão arcaico, falhas humanas sem precedentes. E tudo começa a ser um grande golpe existencial com reflexos individuais e coletivos.

É o resultado do imediatismo com que a educação foi tratada nos últimos 50 anos. Agora as consequências literalmente ruins. No entanto, o indivíduo literal pensa, embora guiado pelo ego,  inconscientemente de certo modo sente-se um idiota quando em alguma situação o espelho revela sua imagem; vive sufocado pelo medo de tal imagem, pelo vazio intelectual que o assombra em certos momentos. No fundo de seu interior, quer acabar com tudo, tal a revolta que sente devido ao vazio existencial e intelectual. Um novo pecado original.

Mesmo com o caráter animalesco que o invade grosseiramente,  não suporta a falta de Luz na sua condição humana e quer na profundidade de suas razões malucas deseja se vingar maltratando o próprio corpo ou o de outrem se  puder, daí o abandono, o relaxo, a negligência e desrespeito provocador que origina a violência, oportunidade diária para trazer novidades, embora violentas, para movimentar sua imbecilidade cotidiana. É vítima ou inocente? Polêmica investigação que pode atacar e fazer tremer a raiz dessa materialidade. Na falta de Luz, até o ego se assusta com ações e reações do indivíduo literal.

Essa é a vida de um indivíduo sem boa intelectualidade, sempre pronto para reagir, atacar para defender seu ego. Sem piada, sem sorriso honesto, também, sem livro nem caneta. Não lê, pouco escreve, não tem vocabulário para se expressar. Seus pensamentos dirigidos ao antes, durante e depois da cada ação rotineira. Um ser superficial em sua plenitude.

Mas se desejar escrever algo, não se preocupa, pois deve haver algo na internet para copiar.

Por ora, temos que viver respeitando a crescente ignorância em qualquer lugar, pois o desrespeito pode vir a ser caso de vida ou morte.

O cidadão literal, um instrumento para a uniformização através da falta de consciência; autômato sem espírito de crítica, o que favorece a sua manipulação. De quem será ele o soldadinho de chumbo?

Para que mais outras ideologias o cidadão literal será marionete de risadas ou simplesmente útil? Que margem de liberdade individual sobrará além de poder levantar o copo de cerveja que lhe for imposta? Quantos milhares desses literais serão suficientes para enterrar a boa intelectualidade ainda sobrevivente? Quantos serão necessários para ameaçar a democracia?

Não surpreenderá que um dia, na reunião de tais máquinas todas rebelem-se nem que seja contra o dono do bar da esquina, local, à devida época,  considerado a catedral da vida e de toda a intelectualidade. O nível está baixando.

Alguém que cata as respostas para a pergunta a que tudo isso levará? Há indícios e sinais nascendo em todos os lugares. Alguém se importa? 

 Odilon Reinhardt . 3.1.2025

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Medo de se expressar.

 








Medo de se expressar.

 

 

Não, esta palavra não,

é politicamente incorreta.

 

Não, esta frase não,

pode ter alguém contra.

 

Não , este livro não,

pode ter uma palavra, frase de polêmica.  

 

Não, esta cor não,

mostra engajamento.

 

Não esta camisa não,

pode levar ao espancamento. 

 

Não, esta ideia não,

é de direita, é de esquerda.

 

Não, este sinal de mão não,

será de alguma ideologia. 

 

Não, este artigo não,

é muita exposição. 

 

Assim os poucos pensantes

ficam ainda mais poucos .

 

O medo de ser classificado,

perseguido, rejeitado, deletado.

 

Eis a realidade miúda e graúda,

o silêncio dos pensantes.

 

A mordaça , a censura

a morte da livre intelectualidade.

 

 

Enfim, o medo de se expressar. O silêncio barulhento no intelecto dos reprimidos, na realidade feita de pouca leitura e escrita, onde o linguajar desce aos níveis mais baixos da expressão, tudo para ficar mais democrático e referenciar a realidade posta. Logo, escutaremos bandos nas ruas perseguindo pessoas e gritando: “Pega, pega ele pensa e escreve!” E teremos saudade do “Pega ladrão!. 

E então, alguns persistentes irão,  na calada da noite, nos lugares fechados , escrever sobre o que levou a tal realidade: o medo de se expressar. Tais grupos subversivos ao mostrar sua intelectualidade ainda viva, terão, certamente, não impressoras nem picotadoras de papel, mas incineradoras para consumir seus escritos à mão de imediato.

Certamente, irão pensar e escrever sobre as deficiências no sistema educacional, sobre o quanto o sistema educacional falhou em alcançar a maioria dos jovens, de quanto a situação econômica  desestimulou ou impossibilitou os estudos completos, gerando toda uma realidade em que há falta de vocabulário, uso de formas de expressão cada vez mais populares como forma de  adequação ao semianalfabetismo dominante, rebaixamento dos níveis de pensamento e comunicação; superficialidade nas análises dos assuntos pessoais e coletivos, ausência de  crítica ; conversas mantidas sobre temas banais ; ausência de linguagem figurada e figuras de linguagem ; extermínio do uso de conjunções como ligação das ideias; pobreza da linguagem e construção de frases; predomínio do fisiológico .  

Mas certamente, a tônica dos escritos feitos na calada da noite, abordariam uma realidade em que o intelectual se sentia sozinho e resentia a falta a interlocutor, gerando um crescente ambiente de desinteresse em observar, ler e escrever , já tidas como atividades inúteis perante o avanço da literalidade.

Surgia o jornalista como escriba de si mesmo, todavia, totalmente alinhado a alguma tendência ideológica, a mesma do editor responsável a fim de preservar o emprego ou evitar censura, rejeição e cancelamento. Enfim, o status conquistado da oralidade dominada por assuntos eleitos por alguns e desconsiderados por muitos que já desconheciam a possibilidade de debate e participação, pois não só o medo de se expressar era comum como também a impossibilidade e preguiça em fazê-lo eram já verdades estabelecidas.

Logo surgiria o desinteresse em se expressar, participar e criar situações em que houvesse polêmica e possibilidade de rejeição e cancelamento. Seria perigo de vida expor-se ao patrulhamento intelectual das anônimas redes sociais que com caça às bruxas, promovida entre os próprios cidadãos comuns, levaria à mediocridade do alinhamento com o  pensar do grupo dominante em cada setor de interesse.  Não seria a desobediência civil, mas o abandono intelectual voluntário e espontâneo como meio de preservação.

No cenário feito de obscurantismo crescente, já não se perguntaria ao Próximo, o que pensa, o que e como sente e como a tudo engole. Tampouco haveria interesse em saber quem são os líderes pensantes para o país e seu planejamento, sempre usando a TV como meio de implementação sem qualquer filtro. Do interesse econômico de ocasião e da ferinha receptiva de qualquer bugiganga da moda, tudo virou aposta com elevada probabilidade e nada disso dar certo.   

Com o fim da escrita e de outros tipos de livre expressão, a liberdade já não é nem mais um objetivo, mas o cidadão comum já estava bem habituado a seguir o roteiro fornecido sem questionar.

Na sequência, o domínio da intelectualidade dominada pela Inteligência Artificial, que em textos e demais composições, poderá formatar um nova realidade de expressão e a ela as  gerações irão se acostumar, a redações até que bem feitas, mas terão o elemento humano fornecidos pelos sentimentos ou será tudo parte de um mundo frio, calculista, uniforme,  utilitarista, racional e individualista seguindo formulários e  praxes ? Onde caberá a arte de escrever e expressar opiniões livremente? Quem ousará compor um livro fora do padrão que possa existir?  O que será permitido pensar ?  Chegaremos ao medo de pensar?

Odilon Reinhardt -3.12.2024


domingo, 3 de novembro de 2024

O que incomoda?

 






O que incomoda ?

 

 

 Magia, fantasia e temor da distopia. 

 

 A fantasia no momento

não muda o dia;

é só um encantamento.

 

Em certas situações

a fantasia é reprovada;

o pragmatismo tem suas reações.

 

Já a magia tem poder,

altera a rotina,

pode ser milagre em seu acontecer.

 

Mas a magia pode também ser a fantasia

que se tornou realidade

e agora encanta o dia.

 

Fantasia ou magia,

quem não as tem,

para melhorar o dia?

 

Quem não as tem,

vive do retilíneo cartesiano,

frio e calculista como refém.

 

Um dia poderá  precisar decerto

de fantasia ou de magia

para se livrar de seu deserto.

 

Poesia traz em si fantasia

e mensagens de magia,

tudo a favor da harmonia.

 

O pragmatismo da atualidade

tem medo da fantasia e da poesia,

porque teme pela sua verdade.

 

O materialista tem horror à poesia,

pois não tolera outra verdade;

a fantasia adora desafiá-lo com rebeldia.

 

Abstração, distração, diversão,

só não tolera outra verdade ;

a fantasia adora desafiá-lo com rebeldia.

 

Magia e fantasia ,

duas forças que se unem

para beneficiar pessoas e quem as cria.

 

No entanto, o pragmatismo domina,

tem a força das engrenagens atuais,

e sufoca a fantasia e a poesia, a todos mina.

 

Sem abstração ,

até a espiritualidade fica sem acesso,

e o ser humano vira um robot  em  reação.

 

No nível mais comum,

a mera distração toda formatada,

a alternativa de cada um.

 

 No contexto do esvaziamento intelectual, por falta de estrutura pensante, vão ficando prejudicadas a lógica, o discernimento; o diálogo descamba para níveis inferiores. A temática entra na brenha dos interesses escusos e afunda nos tópicos mais baixos da materialidade com assuntos diários do mero fazer o dia e da política ,a qual está beirando seus piores níveis.  

Consequentemente, a intelectualidade dobra-se ao nível do dia num país onde ainda se discute, só para exemplificar,  gênero e raça, temas por mais pacificados em lugares mais adiantados da Humanidade.

A independência física conquistada em 7 de setembro, sem abalar a estrutura de grupos de intelectuais da época que, todavia, nas últimas décadas estamos vendo desparecer a passos de ganso.

Como isto pode afetar o discernimento, o entendimento, o esclarecimento necessários para a ação e reação individual e coletiva, não é mais pergunta, é constatação verídica e está em todos os cantos do dia a dia, onde a questão não é mais física, mas mental, gerando  a violência moral e física não só na vida individual mas na coletiva.

A vida bem conduzida, produtiva e bem sucedida enfrenta obstáculos e a ignorância toma conta dos diálogos descambando para ações e reações que contaminam o bom senso e dão norte duvidoso para a tomada de decisão. Torna-se comum o erro de avaliação por parte do cidadão e das autoridades, agindo isoladamente ou em conselhos e instituições.  Soluções públicas de dar medo.  

Pragmáticos e utilitaristas, enterrados na materialidade podem perguntar: e daí com tudo isso?

A compreensão dos vários aspectos da vida privada e pública fica diminuída. Não há vocabulário, nem escrita nem discernimento para alimentar qualquer diálogo que se arrisque além da segunda frase. De tal falta de intelecto, surgem erros recorrentes e reações egoístas com consequente aumento da violência e diminuição sensível do debate e da democracia. O intelecto prende-se e recua para terreno básicos do meramente fisiológico de onde tira alimento para os vários campos da atualidade, inclusive a música, a qual explicitamente está em seus piores momentos, mas continuará fazendo padrão e modelo. Para baixo qualquer qualidade de gosto  ajuda. Nada se espere disso tudo que possa representar progresso.

 E mais, reflexos da baixa intelectualidade estão por aí em tudo, nas decisões, na vida pessoal, nas empresas, no jeito de fazer negócios e implantar ideais, nas repartições públicas, nas disputas políticas. É na hora dos confrontos, dos debates, do choque de interesses, que podemos ver pelos pequenos retratos da vida na Nação onde ela está indo. Não há democracia, tampouco república sem intelectualidade, sem mentes pensantes par ao Bem. 

Diante das pressões do marketing do Ter, as pessoas, face seu nível intelectual e escolaridade paupérrima, estão privilegiando os grandes jargões como: ganhar sem fazer nada; ficar rico sem esforço; tirar vantagem de tudo; adotar o ganhar-ganhar. Afinal, o fulano ficou rico sem estudar. Como? Aí é outra estória, mas as respostas estão no dia a dia. Será que vai segurar o dinheiro e posição? Quer apostar, o negócio é apostar. 

Os reflexos aparecem em formas de doenças sociais. A baixa intelectualidade brinca com o senso comum, transforma padrões, cria modelos e moda de igual qualidade, aparecem nas campanhas publicitárias, nas legendas das redes sociais, nos modos de atrair a   atenção com sensacionalismo obscuro; aparecem no marketing em geral e no campo político que faz com que grandes cidades revivam seus tempos de vilarejo.  Lamentável ocaso. Que Ordem, que Progresso estamos fazendo sem intelecto elevado?

 Odilon Reinhardt. 3.11.2024

 

 

 

 

 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Distração

 




                                                                    




 

                                                             Distração.

 

Em fuga seguem diariamente todos

para os bares espalhados

onde muitos rodos

limpam os pensamentos quebrados.

 

Em cada gole o copo se aproxima

do seu fundo

e nele a verdade faz rima

com os olhos do real mais profundo.

 

Nada foi conseguido,

só uma distração passageira

para o cidadão que se tem por perseguido

num sistema de produção exigente e ligeira.

 

Mero moinho de vento ,

usado como desculpa

pela falta de intelecto sem assento

na mente cheia de frustração e culpa .

 

De copo em copo procuram

uma conversa , que só conseguem preencher

com algo que nunca encontram

na mediocridade do intelecto a desaparecer.

 

Alguém surge com um livro,

“vai de retro satanás “

de tu me livro,

nem que seja com um copo de aguarás.

 

Assim , morre a chance de abstração,

abaixo qualquer cois apara ler, escrever ou pensar,

a vida desce para a baixa distração,

e o intelecto cede ao superficial até mesmo no bar.  

 Odilon Reinhardt. 

   

 

 

Distração, sinônimo mais popular , para abstração, entre nós, um instante de fuga do trabalho e dos fracassos no relacionamento profissional e pessoal. Muito pão e circo, muito barzinho novo, tudo para desopilar o fígado e enganar a mente com falsos devaneios e bois de piranha.

Enganam-se as novas gerações em números mais expressivos quanto a quantidade de jovens e aumenta-se a revolta dos já enganados e fracassados , produtores da violência. 

A busca incessante é pela descontração, sendo a distração o meio. Mais por que há contração? Pergunta que fica no ar da boca de muitos, que costumam  jogar todas as suas falhas  pessoais para o sistema. Bodes expiatórios em promoção, até grátis.

A largos passos , diante da intelectualidade em baixa, num país que ainda discute o básico em relação à sexualidade, racismo e a  liberdade humana em debates muito estranhos e de baixa qualidade, renegando a solução mais evoluída e já incorporada a vida de outras sociedades, nota-se a redução substancial da literatura, da poesia, dos livres pensadores . A sessão cultural de alguns jornais fica reduzida a intelectuais controlados pela mídia e suas linhas de pensamento.

Sem muito do ler e escrever, certamente o pensar deve estar sendo mais ocupado pelas frustrações e contrariedades do ego em reação do que pelas boas ideais e soluções de como fazer um mundo melhor. A intelectualidade restringe-se as situações comezinhas e o diálogo é orientado pelas notícias dos eventos climáticos, políticos e socais de abominável qualidade , de modo que os breves instantes de abstração ficam sendo preenchidos por lapsos de medo e euforia , apego desvairado e com o ego dançando na cabeça da maioria. Nem se fale mais em  linguagem figurada , metáforas .

Na terra da vantagem, do ganhar muito e fazer pouco, a espiritualidade é feita de níveis cada vez mais baixos de adoração inconsciente; uma  falsa espiritualidade. 

Até o refúgio das multidões já mudou faz tempo; não é mais, a religião com seus livros e a Bíblia ininteligível , que a cada momento exige mais interpretes para o povo de pouco vocabulário e recursos gramáticos.

Textos, livros e  frases mais elaboradas já não fazem parte da vida das pessoas nem de seus diálogos no dia a dia , feito de assuntos corriqueiros , vazios e operacionais.  O discernimento está nos níveis mais baixos. Com tantos meios de comunicação, quem está falando com quem?

Por falar nisso, onde estão as bancas de jornais e revistas? No mesmo lugar , mas vendendo  doces e salgadinhos, bebidas.

Quantas livrarias famosas no país já fecharam as portas? Que livros estão sendo vendidos nas que não fecharam?

Se alguém desejar comprar um livro, que procure um sebo, o cemitério da intelectualidade. Bem amado cemitério.

 

Odilon Reinhardt. 3.10.2024

 

 

 

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Abstração III

 





Abstração III

 

 

Por vários sinais

de um futuro que já se apresenta,

pode estar empobrecendo o país.

 

A abstração descuidada,

modelos sem trocados,

a intelectualidade retirada.

 

A produção intelectual 

sendo sequestrada pela economia,

o individual , o útil , o pragmático, o  racional.

 

Perde-se a sensibilidade ,

nada dessa tendência, se percebida é divulgada,

vestígios de pobre e abominável realidade.

Diálogos esvaziados,

letras se perdem no desinteresse,

livros descartados.

 

Intelectuais isolados, segregados,

boa abstração em crise,

maus momentos visualizados.

 

No resto vale a abstração popular,

diversões culturalmente  inúteis,

pão e circo para o povo não se matar.

 

 No meio de tantas incertezas e pendências quanto aos meios para assegurar um mínimo de vida razoável, o dia é feito por intensa atividade operacional, a produção ocupa o tempo de qualquer um e os momentos de abstração são sufocados por exigências materiais e o pouco que resta vira diversão , também no campo do fazer, na generalidade, para esvaziar a cabeça dos problemas que se acumulam gravemente , deixando as pessoas tontas e perturbadas com os inúmeros pensamentos saltitantes que a qualquer momento do dia aparecem na mente,  em busca de soluções, que ficam cada vez mais difíceis, fazendo o pano de fundo do teatro do sobreviver.  No sufoco ,  o  fazer parece ser a terapia usual , jamais o pensar,  o refletir , o meditar, o escrever ou ler. Então, a pergunta é como a pessoa está preenchendo seus instantes de nada fazer? Seria luxo falar em abstração.  

Com tantos assuntos pendentes, sem definição clara, projetos novos , ideias versus ideais, planos de negócios e  dificuldades muitas, a cabeça do cidadão movimenta-se em permanente agitação.

Abstração seria o momento de cada um pensar em si, ter sua conexão mais elevada como o ser. Todavia, hoje, há tempo para isso? Ou a abstração fica para as horas de TV e bar, de copo e sexo-fuga. Então, a abstração tornou-se diversão promovida pelo álcool , droga, conversa superficial, piadas e gargalhadas eufóricas , escárnio da alquebrada vida a fim de não dar em nada?

O bar , hoje o clube social da nova geração , torna-se o centro promotor da abstração mais rala que pode haver. Que outros tipos de “barzinho”, o cidadão está montando, para mitigar sua insatisfação e evitar seu “dia de fúria”?

Difícil momento para a intelectualidade livre e criativa. Nenhuma garantia de qualidade, só um devaneio de mentes tontas, desejando se livrar da cabeça cheia de tantas contrariedades .

Tudo  isso tem algo de conexo com a falta de espiritualidade sincera, porque só a educação mau conduzida, incompleta ou inócua é insuficiente para justificar o baixo nível do preenchimento da abstração , ou melhor, “distração, .

E nesse mote, estamos perdendo a sensibilidade de transcender, de ver os sinais de tendências danosas que afetam o ser, que já pouco escreve, pouco cria, pouco pensa no que efetivamente importa. A Epidemia de miopia não está mais só nos olhos.

O presente parece ser de involução, a sociedade humana aqui recusa-se a atingir o seu mais elevado patamar, ou seja, o pensar , o pensar unanimemente em sua melhoria contínua. A errônea compreensão da função do sistema produtivo e do capital gera individual desestímulo ao intelecto e foca os níveis mais operacionais: garantir o controle do fisiológico. Todavia, corpo e mente são maltratados diariamente por hábitos corporais bem inconscientes. Viva a cachaça de cada um! Viva o Universo do bar e seus deuses e deusas do dia e da hora!   

Novos padrões de distração. Até o pão e circo oficial está sendo questionado e em crise. A revolução dos copos está em andamento com seu vazio atormentador , para quem conhece  padrões mais elevados.

Enquanto a intelectualidade é desconstruída, sebos prosseguem com seus livros amarelados, mas procurados por garimpeiros  alienígenas  de uma época que vai acabando. E a produção de  livros? Traduções de livros estrangeiros, páginas e páginas de narrativas vazias e sonolentas e comezinhas e inúteis. Excelente campo para a inteligência artificial treinar seus artificiais tradutores.

 

Odilon Reinhardt.  3.9.2024

 

sábado, 3 de agosto de 2024

Abstração II

 





Abstração II

 

 

E agora na pátria oral.

 

A abstração virou distração

e esta uma diversão

a caminho da alienação.

 

O diálogo virou papel picado,

o livro é jogado no lixo,

a conversa , um solilóquio desanimado.

 

Sem abstração de qualidade,

a vida está no barzinho,

hoje clube social da  instabilidade.

 

De bar em bar,

a intelectualidade se amesquinha

entre copos até a hora de fechar.  

 

A História pode contar,

queriam o país como igreja, quartel ,

sindicato , mas agora o bar.

 

Imenso bar,

onde o espaço individual para pensar,

não é maior do que o curto respirar.

 

No país da oralidade,

onde  pouco se quer ler, escrever , pensar,

prossegue a baixa intelectualidade.

 

A quem beneficia isso na prática?

Seria muito forçado exigir,

que a civilização do bar seja tão pragmática.

 

Mas a resposta está bem presente

na qualidade dos serviços profissionais,

em cada setor já ineficiente.

 

Sem bons pensadores,

as boas decisões rareiam,

o país mostra números perdedores.  

 

 Face a atribulações e mesmo instabilidade  da vida pessoal  em todas as classes socais, o tempo disponível para o indivíduo em si, encontra-se em processo de redução, sendo cada vez mais preenchido por horas de desafogo , pretendendo-se não pensar em nada e livrar-se  do desconforto causado pelas condições de trabalho, quer seja autônomo ou não.

Políticas de descompressão como as de pão e circo estão sendo exacerbadas, manobras invisíveis de psicologia de massa estão em voga e são aplicadas para reduzir o cansaço social, utilizando distrações de péssima qualidade que não preenchem a real necessidade de abstração que o indivíduo no seu tempo para si teria para se preencher intelectualmente.

Nesta quadra da evolução, ousar em mencionar  “intelectualmente” cheira a passado, algo mofado, já carregado de tendências de esquerda ou direita,  algo retrógrado, pois o que vai na cabeça popular é o economicamente, o praticamente, o utilmente, o virtualmente. E na cabeça dos livres intelectuais, uma minoria em extinção, a solidão. A grande explosão dos pensadores acontece sem comoção.

A realidade gerada pela limitação do discernimento, vem dos limites to sistema educacional público, privado e familiar. Há crescente limitação do intelecto, com aumento da sujeição aos condicionamentos e comandos do coletivo. O pensar está limitado ao grotesco tema das dificuldades pessoais em pagar contas , aumentar números e achar tempo para a cerveja no barzinho da galera.

Já está visível que a intelectualidade livre, desengajada, criativa, diletante que brota da necessidade da conexão individual usando o  talento para ligar-se à Energia Criadora, está tão encolhida quanto a atividade espiritual, que virou adoração em cerimônias e rituais calejados. O que pode sobrar de tal realidade? Só uma intelectualidade rasteira e comercialmente conduzida , escravizada e artificial voltada a fazer rir aos seres robotizados.

E assim vai a vida neste canto do Globo, esvaziando de conteúdo e produzindo comunicação de atos, fatos e fotos de um deserto multi dilacerado em termos de qualidade no pensar.

“Abstração!?”, deve ser palavra exotérica, usada em rituais de magia negra. O negócio agora é “ have fun”. Segue... 

 

Odilon Reinhardt – 3.8.2024