sexta-feira, 8 de abril de 2016

Não haverá golpe!


                                 Foto: "cabeça de pedra"- fotografo Odilon Reinhardt.
 8.4.16

Claro que não, pois o mesmo já foi dado durante décadas. Golpe na
Nação, golpe no Tesouro, golpe na esperança e sonhos de cada
cidadão, golpe na moral e na ética. Por ambição, ganância, cobiça
e megalomania, fizeram o “Grande Assalto”, não só aos cofres
públicos, mas à mente das novas gerações, aos jovens que
acreditaram na realidade posta que não sabiam ser virtual, ficcional,
fantasiosa e fascista.
Prevaleceu o lema máximo “agora eu vou me fazer” e o mais antigo
“enriquecer sem trabalhar” que de há muito é o da vagabundagem
nacional.
Todavia, desta feita, a mega sucessão de escândalos não pode ser
encoberta e deixou à mostra as partes íntimas e sórdidas da
carcomida vida política nacional, seus jeitinhos, entrelaçamentos,
seu modo de ser hediondo, seu discurso mentiroso e falso, seus
parâmetros odiosos e seus ajeitamentos financiados com cargos,
suas acomodações, acordos e muita corrupção, tudo financiado por
impostos em obras públicas onde o interesse público só existia para
oficializar a intenção do desvio, a oportunidade de gerar recursos de
campanha. Veio à tona de todo este mar de lama da cultura política
existente, que é fruto de décadas de formação. Desta vez não deu
para empurrar com a barriga, escamotear, etc porque afetaram a
vida nacional de modo grave.
Tampouco foi possível preservar paradigmas como o da falsidade,
da mentira, das frases de efeito, da manipulação, da propaganda
enganosa, da aparência e do pior, o da cultura do “se colar colou”,
que marca a irresponsabilidade, a inconsequência e o retorno ao
mundo do sofisma.
Diante da catástrofe gerada na destruição do castelo de areia, do
desmonte dos planos e sonhos de perpetuidade dos projetos de
assalto, alguns políticos e até advogados apressam-se a condenar
juízes e as operações de investigação, querendo reviver as lutas
para a redemocratização do país nas décadas de 60 e 70.
Esqueceram que a luta hoje é outra, é de moralização e que são
ladrões agora os inimigos da Pátria, os que estão sendo
investigados e condenados, pessoas que só pensaram em seu
próprio umbigo, esquecendo-se das milhares de pessoas que estão
perdendo emprego, bens e família, empresas encerrando atividade,
todos os seus eleitores etc. Assim o discurso dos defensores logo
caiu por terra. Acusar a Justiça e o Ministério Público de estar
violando direitos constitucionais soou como acusar a Polícia e as
Forças Armadas de provocar a desordem. Perante a independência
de Poderes e a força das Instituições, os ataques não tiveram como
se sustentar.
Nossa Justiça, a nível federal, tirou a venda, acordou de seu sono
secular, deixando de ficar entorpecida diante dos ajeitamentos dos
jogos do Poder. Recuperou-se com maestria, assumiu seu próprio
Poder, saindo de um coma quase histórico, para surgir com a Fênix
dos novos tempos, a esperança do povo e principalmente das
novas gerações.
Há tentativa de tornar Sérgio Moro, um herói, mas qualquer
advogado sabe que num processo as provas são o essencial e
dependem de uma boa instrução, o que vem sendo feito pela
Polícia Federal e pelo Ministério Público minuciosamente para
desmascarar por vez todas as entranhas da vida política nacional.
Não há heróis nem bravos na Magistratura, diante de uma
legislação processual e a Constituição . Qualquer Juiz no caso teria
que tomar as atitudes legais como está sendo feito, pois a atividade
do Juiz não é livre, mas tutelada pelas partes e, no caso, o próprio
Ministério Público. A Instituição Justiça mostra-se imparcial e
impessoal diante das determinações legais. O processo judicial
segue os ritos normais previstos em lei e qualquer desvio cometido
será questionado e corrigido.
O caso é que como resultante de todo o desmonte em andamento,
o país está estaleirado para reforma. Um carro depenado para ser
refeito. Com prisão ou sem prisão, com impeachment ou sem ele, o
país não poderá continuar sendo o mesmo em sua parte política e
na realização e fiscalização de obras e serviços para a população.
Alguns do povo perguntam se vai acabar o famoso “jeitinho”, a troca
de favores, a negociatas de cargos etc. É que jamais se afrontou de
tal maneira o “establishment”, o modo de ser de nossa política e
seus políticos. Não se acredita que isto tudo esteja sendo mostrado
e condenado. O que está acontecendo envolve um costume, uma
cultura, um modo que assaltou o país por décadas, daí a dúvida de
se isto tudo vai mesmo acabar.
Ayn Rand, filósofa russa, fugitiva do comunismo, dizia “Quando
você perceber que, para produzir, precisa obter autorização de
quem não produz nada; comprovar que o dinheiro flui para
quem negocia, não com bens, mas com favores; perceber que
muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo
trabalho e que as leis não nos protegem deles, mas pelo
contrário, são eles que estão protegidos de você; perceber que
a corrupção é recompensada e a honestidade se converter em
auto sacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que
sua sociedade está condenada”.
O momento que estamos presenciando na História do Brasil é muito
importante. Trata-se de encerrar uma página suja, escrita por uma
cultura política subdesenvolvida para abrir uma nova página.
Há muitos interesses em jogo, mas temos que acreditar que a
Justiça comandará este momento histórico e que nada afastará o
Brasil de uma nova era.
O que vemos é um regime se debatendo em desespero. Situação e
Oposição num teatro onde podemos observar com indignação tudo
que os políticos e pessoas envolvidas são capazes de fazer e
representar: mentiras, falsidades, tramas diabólicas, enganações,
sofismas, frases de efeito, simulações, traições, manipulações,
comportamentos de tradicionais “caras de peroba” etc, etc.
E isto é plenamente possível num país onde o nível de
discernimento é muito prejudicado pela enorme quantidade de
pessoas que estão ocupadas em sua rotina de sobrevivência e que
possuem pouca leitura, pois vale lembrar que dos 96% de pessoas
que podem assinar o nome, só 8% podem ler um texto e interpretálo.
Ora, isto deve ser lembrado sempre e pode ser a base para a
explicação de muitas coisas neste país.
Diante desta cruel realidade, é permitido dizer que aqui vale o que
se escuta e se fala. O país é emocional. Atacar o emocional através
de frase de efeito é a arma do político para atingir as massas, o que
só pode ser neutralizado ou colocado em dúvida pelo racionalismo
(também oral) dos telejornais. Se uma frase de efeito não for
contrastada com nada mais, fica valendo e quem a escutou a toma
por verdade ou pelo menos informação. No resto neste país tudo é
emoção do dia e do agora e em algum tempo nada será lembrado.
Do mesmo modo isto explica a dissonância entre as notícias orais e
a verdade existente no processo judicial. As informações passadas
à população e o discurso tendencioso dos entrevistados valem para
a emoção ,o fisiologismo popular e tendem a criar expectativas que
muitas vezes não correspondem à da realidade judicial .
Seja lá como for, seja lá o que acontecer aos envolvidos, todos
sabem que fizeram coisa errada, que atrapalharam o país e que o
Brasil não aguenta mais este modo de ser e agir.
Resta esperar que o carro que está parado para ser refeito não vire
um frankstein do mundo automobilístico, um “hearse” como se diz
em Inglês e que não vou nem ousar traduzir, tal a esperança que
tenho.
Pela força e independência dos Poderes, pela Polícia Federal em
bom momento, pelo Ministério Público e pela Justiça despertada,
ainda temos base para acreditar que a nova página da Histórica do
Brasil comece a ser escrita com transparência, participação popular
na escolha de obras públicas, moralização da fiscalização, fim da
politicagem, nova lei de licitações, independência dos Tribunais de
Conta, preenchimento de cargos de conselheiros nestes tribunais
sem participação de ex-políticos, fim do 5º Constitucional para
indicação de cargos na Justiça, fim da participação do Executivo
em nomeação de cargos na Justiça e de tantos outros aspectos que
dariam uma lista enorme já de conhecimento de cada brasileiro e
que tem matado a energia do país.
Se o Brasil é o país de Deus, que ele volte das férias e chegue para
novos tempos.
Odilon Reinhardt.