domingo, 3 de dezembro de 2017

Feliz Natal 2017




                                                   
 
 
                                                                    
                                                      Feliz Natal 2017.

Para os amigos da existência, fiz esta árvore de Natal; está com bolinhas coloridas este ano, para mostrar que a cada um cabe, durante o próximo ano, enfeitar sua própria árvore. Serão 365 bolinhas de cada um, até 25 de dezembro de 2018. Isto é possível, se considerarmos cada dia um Natal eterno e, por agradecimento, colocar uma bolinha na sua árvore com mérito de ter bem vivido mais um dia. 
Cada um pode fazer a diferença no ambiente onde convive pelo comportamento. O tempo de Natal traz um espírito que pode ser o do ano inteiro, se a cada dia vencermos as forças do pragmatismo, do individualismo, do materialismo, do egoísmo e considerarmos o Próximo como irmão e não como coisa nem como rival. Devemos lembrar que estamos sozinhos no Universo e a fraternidade e a solidariedade devem se unir no cooperativismo para superar as diferenças do humano em prol de salvar o seu comportamento, o qual deveria  ser regido pelo Amor e a Bondade como referência maior, pois é fonte verdadeira e confiável de energia positiva; vale nisto investir e a cada dia reforçar tais princípios para ter qualidade na nossa única casa, a bola azul, que vai girando sem destino na solidão do espaço sideral. 
Na  época de Natal, estamos sempre com a alma aberta, esperando reunir, confraternizar, receber pessoas e presentes e aguardando que nossos presentes agradem; estamos com ar de festa e fraternidade, dispostos a evitar conflitos e preservar a harmonia; pensamos com compaixão, somos humanos, ficamos emocionados, desejamos que o mundo seja melhor e as pessoas tenham felicidade e não só alegrias mercadológicas passageiras e desejos contaminados, num ambiente condicionado por filosofias que nos tornam já tão áridos, embora carentes e silenciosos sofredores, que conscientes, sabem, no fundo, que o dia a dia pode ser diferente. Se cada um conseguir fazer diferença, poderá enfeitar sua vida, a árvore de Natal, como a aqui colocada, com a bolinha colorida, ganha com mérito próprio ao final de cada dia. Façamos de cada um dos 365 dias uma vida melhor, de verdade, fiel a nossas promessas de fim de ano, deixando nossa boa essência prevalecer sobre o ego e assim teremos 365 dias de Natal na árvore de 2018. Façamos um plano de vida diária para isso. Que cada um destaque-se das tendências da vida atual, vença os condicionamentos impostos pelo mundo da produção, do trabalho, e consiga ser sujeito de sua história de vida e não o objeto dos eventos e dos meios de comunicação, e assim consiga  vencer a si mesmo todos os dias e saiba conviver sem gerar conflitos.
Por que abandonar o fascínio do olhar que ressurge na época do Natal e deixar de fazê-lo reaparecer na manhã de todos os dias da vida,esquecendo que ele  pode fazer e ser a própria vida?  

 Odilon Reinhardt  - Feliz Natal. 2017

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Florestas e desertos já em degradação.




                                        


 
                                                     
                                                        Florestas e desertos já em degradação.




Muito do que está se passando no país é banalizado, vulgarizado ou negligenciado, seja pela intensidade e frequência da divulgação de problemas nacionais pendentes, para os quais não há aparente solução, seja pela multiplicidade de problemas das cidades, seja pela descrença da população quanto a real intenção do Governo em tentar resolver os eventos problemáticos.
Como num circo mambembe, na zona de subúrbio, numa quarta feira à noite, a plateia está inquieta, no picadeiro a peça até chama a atenção, mas o pano de fundo, destinado a ser parte do cenário do teatro, está descolorido, sendo degradado a cada apresentação. Ninguém nota, que os atores estão esbodegados, que as mulheres têm meias desfiadas, isto porque a euforia é fabricada pelos tocadores de bumbo e cornetas, que prosseguem fazendo as vezes de orquestra de um mundo colorizado num jogo de luzes sem parar, mascarando a realidade e encobrindo o pano de fundo de um circo de lona rasgada, que deixa entrever estrelas que aparecem no céu e com as quais parte da plateia ainda sonha com o amanhã lá fora.  A audiência feita de pessoas, assim hipnotizadas ou entorpecidas pelos espetáculos de cada noite, nada vê e nada sente além do que lhe digam para sentir e ver.
Afora o que acontece no ambiente, tido como humano do Antropoceno, há muito que está acontecendo e que não ocupa nenhum espaço de jornal televisivo, o qual assumiu hodiernamente o papel de escriba moderno ou prestidigitador para as massas, de modo que sem as preleções diárias do âncora do jornal, quase nada é entendido por uma população já farta de tudo sobre a realidade do dia a dia e do mundo político. Qual a isenção das orientações e explicações diárias? Não é oportunidade para manipulação e tendenciosa interpretação dos fatos? 
Há sempre este caleidoscópio fantástico, eufórico e ilusório para desviar a atenção da realidade. Governos e Governos sempre se aproveitam disso e vão minando a Nação, tudo com a justificativa de estar defendendo o “interesse público”, a receita de impostos, o progresso de seus próprios bolsos, a criação de empregos, a estabilidade política etc.
Assim foi que a inconsciência popular nem notou que nas décadas de 40 a 60 acabaram as florestas no Paraná e ninguém deu a mínima importância, pois o mato só era lucrativo para alguns e o que importava era mostrar “progresso”, num modelo atrasado desde o início. Acreditava-se que uma cidade com prédios era o moderno. O caso do Paraná é só um exemplo no contexto nacional, onde o mesmo modelo vai se arrastando para o centro-oeste e noroeste do país.
O gafanhoto humano hoje prossegue. Acabou como o Oeste de Santa Catarina, com o Oeste do Paraná, Mato Grosso e segue para Rondônia, Acre e Amazônia, tudo em nome do progresso num modelo ultrapassado de colônia espoliada. 
Por tudo, a mesma ideologia tributária e o resto que se dane. Recursos para obras e que gerem propina; “negócios” para garantir a reeleição e a soberania partidária.  As gestões do futuro a Deus pertencem e as gentes de Deus que se virem.
O que prevalece é a visão materializada do panorama. Somem as florestas por alguns dólares a mais, diminuem as cidades pequenas, crescem os arrabaldes da grande cidade. Tudo vai mudando de geração para geração, dando a aparência de progresso, enquanto há uma lenta degradação de todas as classes sociais numa imperceptível e irresponsável manobra amalucada.
É funesta a realidade, com danosas consequências para o ambiente inteiro e não só para a porção verde que o compõe. Mas tal quadro não parece ter sido   prioridade nas últimas décadas; sociólogos, na parte humana, e ambientalistas , na parte verde, são ridicularizados em toda parte como obstáculos ao  “progresso” promovido pela gente da propina e do clubinho fechado do “interesse público”. Situação e oposição são ambas tendenciosas, desejam atender seus objetivos eleitoreiros e fazem tudo para agradar quem os financie, enquanto o eleitor é mantido no circo em sessões que se alternam entre o ruim e o medíocre. 
Na parte verde dessa história, tudo é feito para garantir a produção agrícola, abrindo novas fronteiras a todo dia, numa guerra aberta “progresso x mato”. O mato significativo aqui é agora a Amazônia, o pulmão do mundo.  A atitude é de degradação consciente. Má-fé mesmo. Nenhuma preocupação com o futuro.
Sistematicamente, passa-se para o visual da população a ideia de uma Amazônia interminável, um oceano verde, patrimônio nacional, onde populações indígenas vivem ainda isoladas. É imagem da mesma qualidade enganadora de como se mostra o Nordeste, seco, com casas de barro e o jegue na porta. Fabrica-se uma imagem para puxar cada vez mais recursos para a região nordestina onde ainda impera o coronelismo e instituições coloniais do autoritarismo e pobreza cativa, raiz de nossa história política e de alienação social. 
David Nasser, em seu livro “A revolução que se perdeu a si mesma” escreveu que: “ a chuva é o flagelo do Nordeste. Quando chove, falta dinheiro aos políticos. Outros dizem que a seca dos flagelados é o inverno dos ladrões. Seca significando fome. Inverno significando fartura...... “. E quantos nordestes existem, sendo usados para iludir o país?
Não podendo conter a farsa amazônica, de tempos em tempos, a mídia coloca em linhas miúdas que a devastação em tal ano foi equivalente a tantos milhares de campos de futebol. Só neste país, face seu gigantismo, campo de futebol virou unidade de medida.
O fato é que desde os tempos imperiais, com recrudescimento no tempo da última ditadura, a região amazônica nunca foi colocada no contexto de importância mundial quanto ao clima, mas sim como propriedade do Brasil, argumento ufanista  contra a possível invasão estrangeira. Com intenso medo patriótico de perder a região, a política era de ocupação a qualquer custo e modo. 
Seria inteligente dar um fim ao modelo de ocupação através de fazenda de soja e gado e mineração. Talvez não seja o caso de dar aos índios o seu território, criando milhares de parques nacionais na região? Isto como primeira medida para congelar o assunto e não atrair já a atenção do mundo, que vai reagir logo contra a degradação em detrimento da Humanidade.   
Mesmo assim, a Amazônia já tem seu futuro marcado. Será cada vez mais tida como o pulmão do mundo, última reserva de tudo da mais completa selvagem Natureza. Uma mera questão de tempo. A continuar a ocupação predatória, a sua tresloucada degradação, será declarado o fim da brincadeirinha do fazendeiro contra o mato e o índio, porque a questão será objeto de reunião da ONU e certamente em alguma geração futura haverá a declaração de Patrimônio da Humanidade. Por que não será decretada a utilidade pública mundial da região, se o assunto referir-se ao Mundo e à Civilização? Não que isto leve à desapropriação no primeiro momento, mas certamente implicará administração compartilhada da região, defendida por forças internacionais.
Quando se tratar da sobrevivência do próprio Planeta, os estados nacionais terão muito pouco a mandar. Se detectado que a região é fundamental para a atmosfera da Terra, não haverá alternativa. O mundo será administrado pela ONU ou por um grupo de Estados responsáveis pela manutenção da Terra, que estabelecerá limites, permissões e autorizações para a região Amazônia em todos os países que ela envolver.
Se hoje, há países que invadem militarmente outros para defender seus interesses comerciais, por que a ONU ou qualquer outro órgão que vier a substituí-la não fará o mesmo para garantir a segurança do Planeta? Acabarão a autonomia e a soberania dos países para assuntos como energia, saúde, poluição e alimentação, se a espécie humana estiver em risco e isto ameaçar qualquer regime baseado em produção e consumo. Ou vamos continuar acreditando em projetos de colonização da Lua ou Marte? Não estará descartada uma administração de força radical e autoritarismo.
A devastação lenta e progressiva é inevitável quer pela impossibilidade financeira do Estado Nacional, quer pelo interesse ruralista de expansão, quer pelo gigantismo da área, quer pela impossibilidade de ações preventivas e pró-ativas, quer pela insensatez política e falta de visão de futuro. Em algum tempo do futuro, alguma geração vai sofrer as graves consequências do impacto ambiental gerado.
O caso da Amazônia é aqui só um exemplo; é uma vírgula num contexto muito maior feito de muitas interrogações, de muitas frases negativas e afirmativas de cruel realidade.
Esta é a devastação do verde. Mas o que assusta é a devastação humana em andamento. O que hoje ocorre nos bairros do Rio de Janeiro não é o resultado de 500 anos de governo e muitas decisões erradas? Não é a versão mais atual da evolução social e política a que chegamos? Não mostra a impossibilidade de o Governo controlar o movimento social e a humanidade ali colocada? Darci Ribeiro não foi atendido. Agora temos as consequências. Mais de 70 % da população da Cidade Maravilhosa gostaria de abandonar a cidade. Ora, pode-se menosprezar isto? É a falência do tecido social. E não adiantará a polícia, o exército ou qualquer outra força como esforço de solução, pois quem está doente é o cidadão, a comunidade, o bairro inteiro que nada no analfabetismo, na falta de cultura, na falta de emprego, na avacalhação do social. De Cabral a Cabral, tudo está dando errado aos pés do Redentor. Está claro que a civilização ali não está dando certo. Observe-se o que deu do jeitinho brasileiro de ser, deu motivos para a Lava Jato; e assim com o jeitinho carioca, o jeito do Tenório defender seus interesses, o pequeno grupo de jovens que começou a usar boletas vindas do exterior etc., etc. E como evoluiu o estereótipo do carioca bom de papo, malandro, de linguagem descontraída, egoísta e cheio de si, como meio de se autoafirmar contra o anonimato da cidade grande? E o que deu de toda aquela democracia de botequim, aquele orgulho de bêbado falante de verdades absolutas e populistas, aquele inato espírito de vedete, aquela brutalidade nos relacionamentos, sempre camuflada pela pieguice sexualizada do carioca mulherengo e vulgar? Como estão as estatísticas da violência contra a mulher, infância, juventude e idosos? E a violência moral que nunca é registrada até que vire violência física? Tudo é uma
Evolução, que em algum lugar do passado começou como pequenos atos, tidos como modinha passageira e nunca como tendência perigosa, pelo que passou desapercebida, pois a peça no picadeiro era outra, iludia do mesmo modo que qualquer outra, enquanto o pano de fundo já começava a ser deteriorado sem que ninguém notasse.  E isto tudo não foi semente para todo o país, onde hoje as pessoas já estão condicionadas pelo individualismo, pragmatismo e pela selvageria do ego?
Quanto ao humano, usuário do meio ambiente, o campo está cada vez mais complicado, com sinais que indicam que a civilização não está dando certo aqui. Se o Governo não tomar providências, desde já, e que sejam eficazes, se perdurar o mesmo empurra-empurra para gestões futuras, se não houver autocrítica e vontade de reformar todo o Estado brasileiro, se persistir a acomodação e o pensamento de que tudo está bem, as consequências serão funestas, já havendo sinais e perspectivas que indicam que haverá uma evolução para realidades que gravemente marcarão época para as gerações do futuro, se o quadro social não for revertido para melhor. 
Neste sentido, estressando algumas tendências é de se prever que haverá: um aumento dos efeitos danosos do pragmatismo com o consequente vazio existencial e espiritual, provocando maiores conflitos entre as pessoas; insuficiência do materialismo em promover o bem social e o conforto emocional; avanço da violência por insatisfação egoística; envelhecimento da população e redução da taxa de nascimentos; falência do sistema dependente do consumo; enfraquecimento do ser humano como mão de obra; enfraquecimento da democracia e surgimento de regimes extremistas; apodrecimento do tecido social urbano em primeiro lugar; aumento de doenças fatais devido à alimentação e vícios (álcool, fumo, drogas e sexo) usados como fuga da realidade produtiva; aparecimento de consequências finais do processo evolutivo de doenças sociais coletivas que já vem se formando há séculos; ocorrência de "divisionismo" social e religioso; aumento dos guetos sociais; aumento nas casas legislativas dos representantes do crime organizado; aumento do custo de vida nas cidades e fuga para as zonas rurais do município; imensos problemas de energia e mobilidade; surgimento de mais crimes hediondos; mais demonstrações de insanidade em crimes; maior perda de identidade; questionamento das estruturas oficiais e suas bases ideológicas para fazer face aos problemas humanos; volta ao primitivismo animal e domínio escancarado do ego; reações conservadoras e antidemocráticas; reflexos imensos da falta de investimento em educação e ciência; aumento da dependência tecnológica externa; importação de mão de obra estrangeira; surgimento de poderes paralelos ao Estado, fatiando a economia informal; crises orçamentárias sérias, atingindo setores essências; é previsível que o Estado queira aumentar o controle, para não se perder, assim haverá aumento da burocracia e sua característica barroca de uma pátria enrolada, cartorial, estrangulada pelos seus próprios sistemas internos e muita papelada; aumento da truculência policial; aumento do fascismo oficial, escamoteando números e tudo que lhe diminua politicamente; cadeias abarrotadas de jovens; realidades físicas mais cruéis entre as pessoas, resultantes do pragmatismo, racionalismo, utilitarismo radical, individualismo, materialismo, capitalismo selvagem; aumento da exploração do país como campo de teste de alimentos, medicamentos, feirinha de eletrônicos e informática; deterioração do ambiente laboral no mercado de trabalho, gerando absenteísmo e “turn-over” em níveis nunca vistos; deterioração do consumo e tributação; intensificação da corrupção e invasão do Governo por quadrilhas políticas; alienação da população quanto à política e assuntos gerais, face estar a mesma envolvida com seu esforço para suprir necessidades fisiológicas para sobreviver;  excessiva deterioração do relacionamento entre as pessoas esfarrapando o tecido social e aumentando a selvageria dentro e fora das famílias; aumento das religiões evangélicas e diminuição da Igreja católica; aumento de movimentos populares pontuais como sem teto, sem terra, sem alimento, sem água etc.; descontrole do serviço público, gerando bolsões de caos social;  surgimento das consequências fatais referentes ao semianalfabetismo da população como barreira para a inclusão tecnológica baseada na informática; impossibilidade de atendimento dos conflitos pessoais e contratuais pelo Judiciário; surgimento do Nordeste como centro da Indústria e Comércio por estar mais perto da América do Norte, Europa e África com o consequente abandono do Sul e Sudeste, os quais ficarão como fazendas mecanizadas e indústrias fechadas; maior distanciamento entre escola pública e particular; brutal evasão escolar e universitária; fuga de profissionais jovens para o exterior; aumento substancial de doenças gastro-cardiológicas face à qualidade dos alimentos,  uso de produtos químicos e abuso do sal e açúcar em receitas e fórmulas; serviços de saúde ineficientes e insuficientes; desaparecimento da vida noturna nas cidades face ao aumento descontrolado da violência; a noite será controlada pelo império do crime; diminuição do turismo; em algum lugar do futuro, diminuição das importações agrícolas e de matéria prima face o surgimento da África e Rússia como celeiros mundiais; intensificação dos processos de desertificação de parte do Norte do país etc., etc.    
Muito problema, não? O país só se manterá e será viável enquanto o interesse econômico estrangeiro perdurar. O que aconteceria hoje, se as montadoras de carros mudassem para outro Continente? Bastaria, por enquanto, mudarem para o Nordeste. Ainda estamos no colonialismo e poderemos ser abandonados, como foram muitos países no passado, que deixaram de ser interessantes. Os exemplos do passado podem ser repetidos como no caso de Fordlândia e Projeto Jari. 
O meio ambiente e o ambiente inteiro onde vivemos, com a falta de consciência existente, vem sendo devastados. Uma geração consciente preocupa-se em plantar árvores que darão frutos e sombra que só gerações futuras irão desfrutar.  A perdurar a inconsciência, o egoísmo atual, o que será colhido?
Muitas decisões do passado, tomadas porque atendiam conveniências eleitoreiras do momento, mostraram-se erradas em estratégia e estão fazendo a atual realidade. E hoje, também, há decisões sendo tomadas que irão afetar o futuro. Tudo por falta de visão, planejamento de longo prazo, aprofundamento das discussões, projeções de consequências etc., mas sempre para atender ao míope interesse de geração de impostos, propina e coisas de dentro do umbigo da classe política e seus pérfidos acordos eleitoreiros. Tudo sob o efeito hipnótico da TV e mídia, que fazem a versão moderna do circo de arrabalde.  
A corrupção é, antes de ser um mal material, um mal espiritual que assola mentes egocêntricas e individualistas. A União arrecada 3 bilhões por dia de impostos em plena recessão. Toda a corrupção indicada até agora talvez não chegue a um dia de arrecadação. Onde está o problema, senão na mente gerencial do agente público, do prestador de serviços e empreiteiro e do político vindo do coração das massas? A corrupção causa indignação, assusta, mas está longe de ser o centro da causa da má-gestão. Não se surpreendam, se muito do conflito político gerado pela corrupção, não for por ciúme, ganância e inveja de ver certos grupos enricando e enchendo suas burras para a reeleição em detrimento de outros que estão à margem da farra e sentem-se menosprezados bem como excluídos do processo de “Rachid”. Não se esqueça do lema “agora eu vou me fazer “usado amplamente na política. O problema é de alma, de valores, de sistema, de cultura. Itens invisíveis que o mundo pragmático e racional sempre despreza, embora sempre pague pelas consequências em muito terror emocional. Muito ego, vaidade, orgulho, ganância etc. e pouca Essência, Virtude. Extrema obediência ao lema “ganhar sem trabalhar”.
O centro do problema está na educação que é exclusivamente voltada para ajeitamentos científicos do mundo das coisas no sistema de produção, sem qualquer preocupação em proteger o emocional e a melhoria da convivência. O país está doente no seu mundo interior de modo que o mundo exterior é só uma feia consequência. Como dizia um escritor carioca “O Brasil conhecerá a selvageria antes de conhecer a civilização”. É o que já estamos vendo. Cada vez mais o fisiológico, o animal.
O tecido social está esfarrapando-se a passos largos. Há sinais e perspectivas perigosas. Exemplificando, no Acre um menor, após ter sido repreendido pelo professor por ter chegado atrasado, colocou fogo na escola. Isto ocorreu em 21/10/2017. Inúmeros exemplos apontam para o descontrole individual. Recentemente, a fiscalização destruiu equipamentos de garimpagem ilegal em algum local do Amazonas, os garimpeiros atearam fogo na sede e carros dos  órgãos de fiscalização. Ninguém foi preso. Há vários casos de crise de maluquice a ser generalizada. E não são avenidas novas nem prédios lustrosos que irão solucionar isto. Só a educação de base e a família estruturada poderão reverter tais tendências em décadas do porvir.
E assim vai a vida, de bairro em bairro, com o circo mambembe no final de cada rua, com seus espetáculos diários, iludindo o povo. As sessões têm o poder alucinatório, hipnotizante e ninguém vê o que está ocorrendo. O moço da bilheteria desvia recursos, o filho do mestre de cerimônias rouba a fiação dos trailers dos próprios artistas do circo, o tratador de cavalos já vendeu parte da manada para poder desviar a forragem e vendê-la em proveito próprio; o próprio circo está sendo hipotecado.
Com toda esta degradação do ambiente inteiro, certamente haverá revoadas conservadoras para salvar desesperadamente os interesses materiais. É que após o período de democratização, como sistema dentro da globalização, com a característica diluição do patriótico, do nacional em favor do global, chegou-se à avacalhação da identidade de cada país, o que foi fatal para as sociedades dos países emergentes em especial. Infelizmente, o mundo não estava ainda preparado para a implantação da ideia de aldeia global. O ideal de abertura de mercado, o mercado comum e a interdependência voltados inteiramente para atender interesses materiais e financeiros, prevaleceram, todavia, esquecendo o lado humano, sua diversidade e diferenças de evolução. O regime democrático flexibilizou tudo e gastou as reservas financeiras de modo antecipado e irresponsável, trazendo crises econômicas. A festa atraiu os corruptos e avacalhou com a  época inteira.
Agora, depois da festa, da época de difusão, de inclusão, de diluição e de flexibilização de tudo, vem a época do recolhimento, da recuperação da identidade nacional e isto é prato cheio para  o conservadorismo, para o  regime de força, seja de direita seja de esquerda. Não que haja preocupação com o Ser Humano não, é para manter o sistema de produção–consumo e geração de impostos. O interesse é de recuperação de Poder e de caixa, só. Sem dinheiro, não há obras e sem propina, não há reeleição.
Infelizmente, mais uma vez perdemos. Não foi o trem nem o bonde, mas o próprio caminho todo. As consequências serão peculiares, democráticas nas perdas econômicas, na miséria e antidemocráticas na conservação da “Ordem e do Progresso. 
As eleições de 2018 serão de importância histórica. Um erro de escolha e estaremos talvez para sempre sentados no cirquinho de arrabalde vendo tudo ser deteriorado progressivamente. Se a educação jamais for prioridade, avenidas novas continuarão a ser inauguradas, mesmo que por ela só passem pessoas de grande miséria intelectual, mas em carros novos, financiados talvez em 20 anos.     
Fé e Esperança parecem não ser mais a receita suficiente para reverter as perspectivas graves quanto ao futuro. 
 
Odilon Reinhardt 3.11.2017


terça-feira, 3 de outubro de 2017

Um olho no prato e o outro na embalagem.







 3.10.2017


                                            Um olho no prato e o outro na embalagem.



De gostos e sabores, não se pode meter a colher, cada um tem os seus. Se há consciência ou não, aí reside o problema, até que em alguma etapa da vida o médico dê a sentença e o mundo acabe ou mude de vez.
Incrível o que se coloca num prato e num copo. Do arroz com macarrão e batata frita e ainda com feijão por cima, fazendo uma monstruosidade gastronômica, ao filé com legumes, a questão é o que estamos usando como alimentação, não por problema financeiro, mas por cultura e falta de consciência quanto à verdadeira alimentação para o corpo. A proteína é raridade no cardápio. Lipídios e carboidratos de má qualidade fazem a festa.
A indústria continua a atender o interesse do sal, açúcar, carne e leite e induz pessoas a um condicionamento mortal. Ademais, como vai a qualidade dos cursos de química no país? É exceção ao que ocorre nos demais cursos? E a crise atinge a indústria em seus porões de insumos? É mantida a ética e a lista de ingredientes entregue ao órgão competente só para obter a autorização? Quem são os fiscais, qual o grau de independência? É possível fiscalizar esse setor?
Vamos doravante dar uma olhada no que nosso amigo ”Dejair, o bom de garfo”, o qual, já tendo ido ao médico, Dr.Sindisclei, e tendo recebido vários inquéritos, alguns já tendo virado denúncia crime e estão à espera de sentença condenatória de prisão perpétua para o estômago e outros órgãos, ainda segue a vida, sendo sacudido e admoestado por médicos a rever seus hábitos alimentares com urgência.
No primeiro fim de semana, já passou um “carão” ao recusar o churrasco do cunhado Delprair e o bolo de cremes da irmã bem como a caipirinha feita pelo sobrinho Jair. Sentiu-se excluído. Em casa, a esposa e seus três filhos, dão as condições desfavoráveis para uma dieta especial. Nem se pense em falar das nutricionistas e suas astronáuticas listas de boas vontades, pois as propostas são completamente fora da cultura de Dejair.      
Diante de tal realidade, nosso amigo, de 40 anos, decidiu fazer sua própria reformulação de acordo com suas possibilidades. Assim, deixando de lado gorduras, cremes, doces e salgados, montou sua dieta solo.
No café da manhã, às 7 horas da manhã, sentado à mesa, comeu e bebeu em pequena quantidade alguns produtos da indústria: um copo de leite, uma fatia de pão com queijo e presunto, uma fatia de pão com doce de abóbora, um copo de suco de maça e laranja. Uma diminuta refeição para nosso amigo Dejair de 120 quilos e um grande avanço na redução de seu peso. Todavia, Dejair nem sabia que no copo de leite desnatado havia também estabilizantes: trifosfato de sódio, monofosfato monossódico, difosfato dissódico e citrato de sódio. Na fatia de pão, havia farinha de trigo, enriquecida com ferro e ácido fólico, farinha de trigo integral, açúcar mascavo, gordura vegetal de palma, fibra de trigo, sal, farinha de malte torrado, conservador propionato de cálcio, emulsificantes estearoil-2-lactil lactado de sódio, polisorbato 80 e monoglicerídeos e melhorador de farinha ácido ascórbico; podendo conter amendoim, aveia, avelãs, castanha-de-caju, castanha-do-pará, centeio, cevada, espelta, leite, nozes, ovos, soja e triticale. No doce de abóbora havia abóbora, açúcar, coco e conservante sorbato de potássio. Na outra fatia do mesmo pão colocou queijo tipo brie que continha leite desnatado pasteurizado, creme de leite, extrato de levedura, cloreto de sódio, enzima lactase, cloreto de cálcio, fermento lácteo, estabilizantes carragena, goma xantana e goma guar e conservador sorbato de potássio. E mais, o presunto de carne suína ( pernil) continha também : xarope de glicose, sal, proteína isolada de soja, proteína texturizada de soja, temperos  ( sal, óleo essencial de louro e cravo, composto de ácidos orgânicos ( água reguladores de acidez, lacto de sódio ( INS 325) e citrato de potássio ( INS 3328) mais acidulantes: ácido cítrico ( INS 330) , ácido málico ( INS 296) e ácido lático ( INS 2701) , espessante carragena ( INS 407) , estabilizantes : tripolifosfato de sódio( INS 451i) e polifosfato de sódio( INS 4520), antioxidante de sódio ( INS 316), conservadores: nitrato de sódio( INS 251) e nitrito de sódio( INS 250), realçador de sabor glutamato monossódico ( INS 621), antioxidante eritorbato de sódio ( INS 316), corante natural carmim ( INS 1230) e que contém substâncias que estimulam o sabor. No copo de concentrado de maçã e laranja, havia  açúcar, vitamina C, aroma sintético ao natural, reguladores de acidez:ácido cítrico, e citrato de sódio, estabilizantes carbomiximetilcelulose sódica e goma xantana, conservadores: benzoato de sódio e sorbato de potássio, sequestrantes hexametafosfato de sódio e Edta cálcio dissódico, edulcorantes acesulfame de potássio e sucralose e corantes artificiais tartrazina, amarelo crepúsculo FCF e vermelho 40. Tudo isto escrito em rótulos de letras miúdas, ilegíveis por vezes, mas quase sempre incompreensíveis para a população.
Por volta de dez horas da manhã, Dejair, já com fome, continuou sua dieta: lançou mão do “pão tipo caseiro”, comprado no supermercado, feito de trigo com amido de milho, Bacilus thrungensis e/ou Streptomyces viridochromogenes e/ou Agrobacterium tumefaciens e/ou Zeamays, fermantos químicos pirofosfato, ácido de sódio, bicarbonato de sódio, fosfato monocalcico. E a lista imprecisa de ingredientes ainda dizia “Pode conter”: ovos, leite, cevada, aveia, amendoim, avelãs, castanha de caju e castanha do Pará e glúten.  Parece brincadeira de filme de terror na cozinha, não? Na fatia de tal pão, Dejair passou uma camada de margarina que contem óleos vegetais líquidos e interesterificados, água, leite desnatado reconstituído, vitamina A, emulsificantes mono e digliterídeos de ácidos graxos, lecitina de soja e ésteres de poliglicerol de ácidos graxos,conservador sorbate de potássio, acidulante ácido láctico, aromatizantes, antioxidantes edta cálcio dissódico, BHT e ácido cítrico e corante natural de urucum e cúrcuma e óleo de soja geneticamente modificado a partir de agrobacterium SP.  Dejair adicionou ainda queijo minas padrão, contendo leite parcialmente desnatado pasteurizado acompanhado de cloreto de sódio, enzima lactase, cloreto de cálcio, coalho, fermento lácteo e conservador nitrato de sódio. E para tomar, encheu um copo se suco de manga com água, ácido cítrico, estabilizante goma xantana, aroma natural,conservadores benzoato de sódio e metabissulfito de sódio e antiespumante polidimetilsiloxano.  
Dejair, então,  alcança a hora do almoço às 13:00.  Deixa sua mesinha de trabalho, calvário de suas lamentações, na vida sedentária que há anos foi condicionado a viver. O almoço, em casa, longe do Buffet por kilo, foi com macarrão de farinha de arroz, com corante natural de cúrcuma e urucum e emulsificante E471, sem glúten, mas com a informação de que pode conter soja. Com o macarrão, foi usado queijo parmesão com antiaglutinante, dióxido de silício e conservador ácido sórbico. Como sobremesa, Dejair atacou um sorvete de chocolate que contém água, açúcar, gordura vegetal, leite em pó desnatado, xarope de glicose, cacau em pó, soro de leite, estabilizantes goma guar, goma jataí e carragena e emulsificante mono diglicerídeos de ácidos graxos. E para beber, um copo de água gaseificada com açúcar, extrato de noz de cola, cafeína, corante caramelo IV, acidulante ácido fosfórico, aroma natural. Dejair com seus 120 kilos, evidentemente, como estava em casa, não resistiu a mais um pouco do macarrão.
Para o lanche das 16:00, já de volta ao seu local de trabalho, para onde levou seu sanduíche de pão italiano, com queijo tipo camembert, azeitonas e o litro de leite. O pão italiano com farinha de trigo, massa fermentada e sal, conservantes INS 282, estabilizantes INS 433, 432, acidulante Inss 330 e 270, melhorador de farinha INS 300 e 110 e enzimas INS 1100. O queijo com leite, creme de leite em 45%, agente de firmeza cloreto de cálcio, coagulante quimosina e fermento láctico e penicilium candidum. Azeitonas fatiadas em meio de água, sal acidulante INS 270. E o leite semidesnatado, enzima lactase e estabilizantes citrato de sódio, trifosfato de sódio e difosfato de sódio. E havia na gaveta como sobra do lanche da manhã, duas fatias de pão de batata com farinha de trigo, açúcar, gordura vegetal hidrogenada, sal, soro de leite em pó, emulsificante INS 4811, conservador INS 282, melhoradores de farinha INS 300, enzima INS 1100, batatas, estabilizantes INS 4501 e INS 471, antioxidantes INS 330, INSS 220, fermento.
E então Dejair chega à noite. Com muita fome e sentindo-se fraco. Mas fiel a seu regime espera a hora da janta, a qual ocorre às 19:00.
Nada como um bom macarrão, com farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, gordura vegetal, sal, alho em pó, reguladores de acidez carbonato de potássio e carbonato de sódio, estabilizantes tripolifosfato tetrassódico e fosfato de sódio monobásico e corante betacaroteno; temperado com um sachet contendo em concentrata porção: sabor bolonhesa, carne bovina em pó, salasa triturada, alho em pó, manjericão em flocos, noz-moscada em pó, antiumectante dióxido de silício, realçadores de sabor glutamato monossódico, inosinato dissódico, guanilato dissódico, espessante carboximetilcelulosa sódica, corantes naturais páprica e urucum e corante caramelo IV, acidulante ácido cítrico e aromatizantes.  Para beber nada melhor do que uma garrafa de água com sacarose, malto dextrinas, cloreto de sódio, citrato de sódio, fosfato de potássio monobásico, acidulante ácido cítrico, aromatizante e corantes artificiais: tartrazina e amarelo crepúsculo. 
O caso de nosso amigo “ Dejair” é só um exemplo fictício de como a política alimentícia neste país é problemática, tendenciosa e extremamente norteada para gerar empregos, tributos e beneficiar interesses ruralistas e industriais.  Como sempre, o que parece menos importar é a saúde da população. Saúde em dia não gira a economia, não movimenta as farmácias, as clínicas, os postos de saúde e os hospitais, não gera consumo nem impostos. Onde está o amor ao Próximo?
Dejair, após 40 anos de vida cheia de churrascos etc, é um Próximo, doente de já ir para o médico, para o laboratório, para a farmácia, para o Hospital, etc, fazendo seu papel de consumidor dentro do planejado na Economia, gerando tributos para a desencontrada vida política nacional. Em várias consultas médicas, certamente escutou o médico dizer “o Senhor tome estes remédios e pode levar vida normal”.   Afinal, sem toda esta bagaceira química e principalmente a carne vendida de vários modos e para variada finalidade, não haveria gigantesca, farta e gordurosa propina para fazer frente à turma do petróleo? 
Sem muitos comentários. Cada um que use o seu discernimento. O que se pode questionar quanto à alimentação: é seguro toda esta carga de produtos químicos no conteúdo dos alimentos? Estamos comendo veneno? Qual a qualidade desses produtos químicos? A fiscalização é feita? Como pode um produtor colocar no rótulo dados imprecisos? Há alternativas para o consumidor? O desinteresse e inconsciência não faz parte da monstruosa alienação existente?
E mais. Quais os reais números da Saúde no país? Quantas pessoas sofrem de males do aparelho digestivo, quantas faltam ao trabalho por tal motivo, quantas já estão condenadas? Quantas toneladas de digestivos etc. são vendidas por dia?
Nosso amigo Dejair foi com sua dieta de segunda a quinta feira. Na sexta feira não resistiu ao tradicional almoço com os “amigos”. Foi à feijoada de sexta no restaurante Buffet por quilo e refestelou-se. Depois voltou para a mesinha de tarefas sem importância, onde seu lento metabolismo contribuiu para a normal sonolência. Afinal, uma saidinha do regime não vai fazer mal. Ninguém é de ferro. A vida é curta e o que interessa é o aqui-agora. Ademais no sábado seria difícil escapar do passeio com os filhos na loja de sanduíches de “junk food” e no domingo não haveria como recusar o churrasco no dia de aniversário do sogro.  
E o que foi matando Dejair, com mais persistência, foi uma superbactéria: a Crápula industrialis, do gênero canalha dinheirensis, espécie fiscalis corruptis, da família tributária carnívora, cujo habitat é capita brasilis partidária monetarium. O único antídoto seria a isenta justicia moralis e éticas rarum, mas diante de tantas outras prioridades, as questões como a da alimentação ficarão para outros tempos em outras gerações. 
 


Odilon Reinhardt. 3/10/2017.