sábado, 4 de março de 2017

O que querem?


                                                  
 
3.3.2017
 
 
                                                                        O que querem? 

 

 
Com toda esta corrupção que veio à tona, ficou afinal demonstrada a verdadeira identidade de nossa vida política e o caráter de grande parte de nossos políticos, seres egoicos, reunidos numa casta dita por eles “superior”, vivendo à custa dos impostos e que agora mostrou sua alma coletiva destituída de qualquer virtude; ficou demonstrado porque o país desde 1500 cresce lentamente, sem cuidar da educação com seriedade e atrasa investimento em infraestrutura. Espera-se que seja o fim do país da política de favorecimentos pessoais, da prática do “jeitinho brasileiro”, do tráfico de influências, do carteiraço, dos privilégios, das sinecuras altamente remuneradas, da desigualdade em tudo e do nepotismo, das grandes armações secretas e corruptas, o fim de estruturas e procedimentos sem muita racionalidade para garantir o empreguismo; o fim da farra com o dinheiro público. 

Muitas verdades ficaram escancaradas e confirmadas. Uma delas a verdadeira natureza do  interesse pela coisa pública, sempre objeto de tantos discursos de falso e fingido espírito.  O que sempre prevaleceu foi o umbigo, o interesse megalomaníaco, a vaidade, a ganância e a propina. Obra pública tem que render propina. 

Décadas e décadas de governos republicanos que viveram na opulência de suas cortes e palácios, mascarando seu autoritarismo, intolerância, prepotência, abuso de autoridade e alto poder de manipulação através de notícias sistematicamente plantadas na imprensa para dar à população a fascista ideia de estabilidade e a realização de obras fundamentais para o “progresso”, que agora se sabe de quem. Tudo de verdade é escondido, escamoteado e desvirtuado para proteger a imagem do partido e seus políticos com vistas à próxima eleição. É instalada a rede de mentiras.    

Sempre o interesse privado, oficializado como público pelo governo posto, fazendo a realidade e conduzindo as imagens politiqueiras via TV. Sempre a vontade de aniquilar qualquer oposição para manter o governo ideal como uma eterna, próspera e promissora ação entre amigos. A inevitável falta de independência entre os Poderes num entrelaçamento de muita amizade e boa vontade. A Justiça por anos dobrou-se ao Poder até chegar ao descrédito quase total, titubeou com o Mensalão, mas soube reagir e com a Lava Jato ressurgiu como uma instituição digna, reobtendo a confiança da população. Foi uma das mais expressivas representações do ressurgimento da Fênix, em alto estilo e crédito.   

Agora é possível entender melhor os erros enormes da cultura política e crises econômicas, levando a população por anos cinzas e de muita enganação enquanto quadrilhas assaltavam os cofres públicos por um século. O país de obras paradas, abandonadas, mas que foi capaz de em tempo recorde construir Brasília e recentemente os estádios da copa do mundo, mesmo sabendo da realidade econômica e financeira que já existia e crescia nos bastidores. A ganância não tinha mais limites. Não interessava o país, interessava a propina, os grandes alforjes individuais e partidários, numa clara manifestação de interesses pessoais colocados como públicos.

A crise atual mostrou um país de governo à beira do caos. Mais 6 meses sem alterações básicas no governo e na economia, o que ocorreria?  Pergunta que poucos fazem e ninguém escreve sobre o que seria. 

O fato é que se espera que a população acostumada com o governo como Poder Central, forte, dominante, gerador de empregos tenha entendido que o Governo não gera nada, só tem o poder de coordenador e regulador; no mais, tem sido um sugador de impostos e alimentador de inúmeras situações de cargos e salários fora da realidade, burocracia e corrupção enquanto o país vive na miséria do campo e na periferia das grandes e pequenas cidades. 

Agora por falta de consumo, há menos impostos e a população viu o retrato do que é o Brasil de verdade.

A diminuição da máquina pública será a imposição. Menos governo, menos empregos públicos. O Judiciário acordou, cortou os laços com o Executivo que o afogava e mostra-se outro, digno. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal limpando o país.  E quando a receita for normalizada nada voltará a ser como foi. O foco será na criação de empregos via iniciativa privada, espera-se mais livre e protegida dos esquemas de propina. O espírito da operação Lava Jato mantido para sempre como salvação. 

O fim do governo gerador de empregos em seus quadros. Ainda resta fulminar os cargos comissionados em assessorias de coisa alguma, gerando emprego para os que ajudaram em campanha.  

Quantas gerações e talentos foram ceifados por esta época que agora se espera esteja no fim? É a hora das consequências para as gerações de jovens que terão um Brasil mais duro, mais penoso e difícil. Após mais de um século de farra, agora vem a cobrança maior e esta recairá sobre uma juventude despreparada, vítima de governos que não deram o rumo e a estrutura  certa para a educação. Darcy Ribeiro em 1982 alertou e já era tarde “ Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios “. Foi uma das  previsões desse grande brasileiro. Ninguém o escutou. O abandono da escola pública foi a tônica nas décadas subsequentes, diante das crises econômicas até 1994. Colégios públicos de excelência foram deixado à míngua. 

Todo este uso da juventude que tem sido abusada pela indústria da diversão e outras para garantir o consumo, toda esta propaganda enganosa e o tráfico de drogas etc. tem afastado a juventude da visão de futuro e mergulhando os jovens no aqui-agora, fazendo-os pensar que a juventude é eterna, supervalorizando um trecho curto da vida chamado adolescência e juventude. Depois há um longo período de colheita.  

Algumas verdades tem aparecido esparsamente como o abandono escolar, a reprovação em massa, a falta de leitura de livros, a dificuldade na matemática, o abandono nos cursos de engenharia, a falta de mão de obra qualificada para a indústria, o aumento do consumo de drogas nas escolas e universidades etc., etc., a falta de mão de obra qualificada, o altíssimo número de analfabetos.

Se a sociedade cresceu em quantidade e matéria, se o governo não vai ser mais o gerador de empregos direta e indiretamente, se tudo depende dos impostos vindos do consumo, o futuro depende da empresa privada, ela é que sempre esteve fazendo a vida no país mesmo nos anos mais difíceis da ditadura militar, quando se desacreditou o empreendedorismo nacional e uma das únicas vozes a favor da empresa privada era a de Henry Maksoud em São Paulo.  

Há milhares de pequenas empresas e negócios que infestam ruas e calçadas fazendo o comércio do dia à dia. Mas qual a qualidade, a eficiência, a rentabilidade de tais negócios? A maioria sobreviveu às crises. Poderia ser muito melhor, mais promissor.  Não são as indústrias que vivem das exportações, destinando o pior para o mercado interno, que irão garantir a receita e a vida do cidadão, mas sim as milhares de pequenas empresas e negócios espalhados pelas cidades, dando oportunidade a pessoas e famílias para sobreviver e ter salário.   Mas indústria ou comércio sempre necessitam de pessoas com educação formal.  

Como está nossa força de trabalho jovem em plena época da informática? Certamente são campeões em passar mensagens vazias e operacionais, craques em lidar com aplicativos e enviar fotos, em saber de tudo e do nada superficialmente. Mas o jovem quer dinheiro, quer bens, quer aparentar ser, é exigente e cada vez mais egoísta, quer pertencer, aparecer pelo ter. Há enorme pressão sobre ele quanto ao Ter. Quem ensinou a juventude a não se comprometer com nada, quem ensinou que o que vale é o agora, quem lhe inculcou a ideia de que não vale se entregar a nada?  Quem deixou o individualismo e o egocentrismo materialista se instalar no país? Quem fez isso agora verá as consequências.

Agora o país vai precisar das gerações jovens e estas vão precisar de um país melhor. E como estão as gerações? Em grande maioria mal condicionadas, despreparadas, atrasadas, desqualificadas para ter a suficiente persistência e força moral para aguentar o tranco da vida.  Apesar de toda a maquiagem e manipulação da juventude, as etapas da vida continuam as mesmas, cada uma com suas dificuldades e necessidades.  Como este notório despreparo e  desqualificação poderão manter a vida saudável longe da violência ?

As gerações necessárias e úteis viverão com dificuldades extremas. Manifestações e revoltas dos últimos tempos foram a pura expressão de uma incontida insatisfação que não pode ser explicada pelo próprio insatisfeito por falta de consciência. No combate ao aumento de uma passagem de ônibus havia muito mais a ser lido e explicado. O que querem os jovens? Difícil que saibam claramente, tal o poder dos atuais meios de diversão e ilusão. Querem algo pontual que esteja sendo motivo de insatisfação imediata no aqui-agora, já que pela idade e pela inconsciência criada pelo ego dominante na sociedade e pela própria fase incompleta de seus estudos, se os tiverem, não têm a visão do quadro geral no cenário nacional e todos seus itens, inclusive ideológicos. Não sabem que estão sendo usados e manipulados e que o futuro está ameaçado. E as causas das manifestações, ainda não analisadas a contento, revelam uma insatisfação de proporções muito mais sérias; descontentamento que está crescendo em silêncio no dia a dia. Talvez suas pichações, arruaças e quebradeiras gritam em silêncio, exigindo o fim da mentira, da falta de transparência, da falta de diálogo, dos esquemas de propinagem, das obras sem finalidade, das negociatas, da corrupção sem fim, dos arranjos e barganhas no Poder Público em geral, dos desvios, dos superfaturamentos, das manipulações de informações, de simulações e práticas políticas velhas e danosas. Talvez estejam dizendo em silêncio: “chega de danificar o meu futuro !”. Talvez.

Gerações atuais no Poder, a da Coca–Cola e da Xuxa etc., copiam e repetem os modos anteriores de liderança e de gestão; perpetuam o mesmo estilo, o mesmo sistema e não desejam oposição, querem a gestão entre amigos; são autoritárias e corporativistas, são falsamente democráticas. São a minoria e jogam o jogo da minoria. Estão atendendo a conveniências e oportunidades para manter o poder e o salário sem pensar na multidão de jovens das ruas e na causa das manifestações, as quais não deixam de rotular como políticas. As gerações futuras de líderes já estão nas escolas e com mais equipamentos de informação do que qualquer outra geração passada. Mas todas estão hoje mais bem informadas sobre as mazelas do Governo. Jovens a serem líderes ou jovens liderados são parte de uma geração que vem aí e manifestações serão cada vez mais frequentes e violentas, de imprevisível surgimento, todas marcadas pelo celular, sem cara, sem liderança e com a mensagem  “galera, vamos quebrar, vamos invadir !” mesmo que a causa seja pequena e pontual como um aumento de passagem de ônibus. 

À medida que o futuro vai se apresentado à porta de cada jovem, tudo piora, mas o drama sempre é visto de modo individualizado e nunca como um movimento de massa. Nada é tomado como sinal de doença da sociedade. Impera já o caráter frio, calculista, materialista e egocêntrico do umbigo individual. O jovem, cego pelo seu condicionamento, só tem a revolta como arma e apresenta reação pessoal misturada com o espírito de rebeldia de juventude. Todavia, hoje o celular pode facilmente mobilizar estes dramas individualizados para movimentos de rua. Mas a hipocrisia oficial, a negligência, a falta de amor ao Próximo desconsideram o caso isolado e voltam-se para justificativas mais eleitoreiras como: “o problema foi da gestão anterior, faltou investimento em educação ou na área social, estamos fazendo tudo para resolver esta situação, blá-blá-blá.”  Depois tais governantes vão embora, chacoalham seus ternos e ajeitando a gravata dizem: “na minha gestão fiz isto e aquilo”, isentando-se de tudo, geralmente citando estatísticas. Mais de 100 anos neste mesmo modo atrasado e egoico de agir. Anos de direita e anos de esquerda e nada foi para à frente.

O fato é que pode estar surgindo um grande abismo entre o discurso político e as necessidades reais dos jovens. Cabeça sem emprego, sem dinheiro vira oficina do diabo. O jovem quer emprego e onde haverá empregos para todos?

Agora com a perspectiva de um Estado em novos tempos, onde tudo poderá ser lavado a jato, o cidadão terá que cavar seu próprio emprego e certamente não ficará satisfeito em ganhar o salário mínimo. Qual é o mínimo para um indivíduo ou um casal sobrevier na cidade? Onde há emprego, onde há salário? 

Antes um jovem que não dava para os estudos dedicava-se ao comércio ou virava político. E agora, nosso jovem será um empreendedor, abrirá seu próprio negócio? Como todas as más condicionantes que operam sobre a juventude e a falta de estudos qualificantes, certamente o jovem tentará ser um “empresário”, mas sua possibilidade de sucesso é desconhecida.  Um “empreendedor” sem talento, despreparado nos estudos, pensando só em dinheiro, dificilmente vencerá com qualidade nas milhares de oportunidades aparentemente simples de abrir uma pastelaria, padaria, lotérica, bar, auto-peças, borracharia, serralheria, salão de beleza, sapataria, loja de informática, venda de docinhos  etc., etc. em busca de um salário. 

São estes os jovens portadores dos novos tempos, ruins ou bons, mas resultantes do mundo dos adultos de décadas e décadas, afogadas em atraso? Haverá busca de novos modelos? O modelo atual, preocupado em ser aqui-agora politicamente correto, faliu. Vai ter reforma, quem a fará, os próprios a serem reformados?

Todo este desarranjo criado pelo mundo dos adultos, com seu frequente e contumaz “déficit de verdade” mexeu no futuro das gerações em ascensão.

Na década de 1970, o Governo Militar reduziu o curriculum escolar na “Reforma de Ensino” a título de modernizar e democratizar a educação. Éramos só 99 milhões de brasileiros.  Filosofia e tantas outras matérias foram eliminadas para acabar como espírito crítico. O país-quartel não precisava pensar, tinha que seguir. Foi um desastre de mais de 30 anos e uma das raízes do estado de coisas atual. Agora nova alteração curricular para o ensino médio tende a fazer a Escola ajoelhar-se à realidade da miséria nacional. O nivelamento por baixo é evidente. Se o aluno tem dificuldade em aprender algo, elimine-se o algo.  Ora, não há mais modelos dignos e sábios a serem seguidos, o que mostra bem a falta de personalidade e caráter desta época triste. Se daqui 10 anos esta reforma não tiver dado certo porque os jovens encontraram dificuldades, tal a burrice que se estabeleceu, então a próxima reforma será reduzir tudo ao estudo do Português, tentar melhorar um pouco a habilidade de escrever no celular corretamente. Para que mais?   

Hoje, como resultante de um Brasil de décadas de descaso com a educação, qual o nível de nossos atuais comerciantes e industriais? Quantos pertencem aos 96% de semianalfabetos do país e quantos dentro desta porcentagem estão dentro dos 8% de pessoas que podem ler e interpretar um texto?   Como o Governo pode atrelar seu futuro de coletor de impostos a uma realidade instável onde se abre e se fecham negócios aos milhares? Qual a segurança da receita tributária para o futuro? As consequências começam a aparecer.

O cidadão empreendedor sem talento, sem ciência, sem compromisso com nada, a não ser ganhar dinheiro, poderá viver sempre no limiar da falência num abre e fecha de negócios pequenos até não ter mais tempo. Se no passado vimos grandes impérios industriais sucumbirem face à administração dos jovens herdeiros, o que dizer de hoje onde se diz “ avós ricos, filhos nobres, netos pobres” ?  E quando um negócio fecha quantos são diretamente e indiretamente os afetados.  Isto mexe com as famílias no dia a dia. E por que fechou? Alguém se interessa. Alguém atrela o fato à falta de instrução, a educação formal?  Não, é mais fácil dizer que é a crise, o aluguel alto. 

O empreendedorismo exige mais do que pequenos comércios para vender produtos industrializados da China ou de qualquer outro país, já que nossa pequena indústria está comprometida. O jovem empreendedor que hoje deseje realmente empreender com talento e inteligência terá ainda que ter mais do que vontade e necessidade.  Nos tempos atuais, mirando o futuro, terá que vencer desafios para sair da barreira dos negócios primitivos para vencer o “ganhar para o gasto”. E neste aspecto terá que saber escolher o ramo de empresa e venda ou produção, sua legislação, sua carga tributária, o local do estabelecimento e perguntar: “se mudar de lugar o negócio persiste?”, a vizinhança, as políticas governamentais para o setor, as características do setor, as relações sindicais, a natureza da mão de obra, o histórico do setor, o produto em si, sua tecnologia, os fornecedores, a manutenção necessária, o fabricante, o histórico deste, a questão sucessória se depender de aluguel, os fornecedores de embalagens, a fiscalização municipal estadual e municipal, o alvará da Prefeitura, existência de competição, os encargos trabalhistas, possibilidade de exportação, contabilidade, cronograma de impostos, rentabilidade, inovações no produto, segurança conta a violência, necessidade de sócio e todas as questões aí relacionadas, necessidade de capital de giro, seguros, data base da categoria de empregados, despesas diretas e indiretas, reservas para os meses de implantação, características do consumidor, estudo de viabilidade por empresa confiável etc, etc e ainda contar com a sorte de a violência não entrar pela sua porta, cobrando as injustiças sociais e a iniquidade. 

São estes tantos desafios que talvez nem passem pela cabeça do jovem que queira abrir um negócio. Certamente se abrir, será uma aventura e nesta caminhada, geralmente curta, um dos itens acima irá desabar sobre o negócio eliminando-o. Será que dá para enfrentar isto sem ter uma educação formal correta? 

A atividade comercial ou industrial não é campo para aventura, embora milhares sejam forçados a ali entrar. As consequências serão sempre funestas com o endividamento e até a falência e seus efeitos danosos. Abrir uma empresa ou negócio é muito mais do que fazer bela fachada e belas prateleiras e belas vitrines. Está mais para Jurrasic Park do que para Alice no País das Maravilhas.

E toda a trama burocrática acima mencionada atinge não só os jovens despreparados, mas também os que foram demitidos devido à crise econômica, as pessoas que foram demitidas por terem ficado numa empresa com altos salários, os demitidos por causa das privatizações etc, os que decidiram tocar algo por conta própria depois de terem ficado na posição de pássaros de gaiola, habituados à água e comidinha certa no pote. 

Alguém procurará consultoria, o Sebrae etc., antes de abrir um negócio? E se procurar terá estofo suficiente para entender tudo. Depois de fechar as portas acabará procurando emprego no “mundo corporativo”. Mas com que idade? Com que qualificação? Muitos terão que se contentar com pequenos empregos, braçais ou não, de salários pequenos para a vida e suas etapas. O MacDonalds manterá vendedores acima dos 20 anos? Para ser almoxarife não é necessário saber Inglês, talvez Mandarim? E daí como comprar o jeans, o tênis e o boné da moda? E a família como estará, se houver sobrevivido ao nascimento do herdeiro?

Neste país das brincadeiras com o tempo de viver, há verdadeiros inquilinos no setor público que ousam mandar construir escolas, só para ganhar propina, não importando se as obras vão terminar ou não. Estes facínoras brincaram com o futuro dos jovens que agora vão pagar a enorme conta com a própria escravidão da morte de seus sonhos. E a idiotice e o besteirol sobem toda hora ao palanque e dizem: “Jovens, agora o Brasil é para vocês, sejam felizes!”. E ao mesmo tempo um corrupto pergunta ao ser preso “que país é este?”. 

Brincadeira que tem suas consequências tão grandes quanto pregar para um povo inteiro a ideologia de que lucro é pecado, que a atividade comercial é pecaminosa etc., etc. Ideologias e ideologias que não deram em nada de bom e colocaram o país no grau de exposição atual à beira do nada seguro, do pisar à beira do abismo para uma juventude que deverá aqui viver como adulta e nada o que verão parecerá com os jogos de vídeo game e telas coloridas dos celulares. 

Certamente uns poucos ainda continuarão como os líderes capazes de manter as aparências, mas já em número insuficiente para o tamanho do país que vai crescer dependente, cada vez mais, de certa inteligência de alguns grupos externos, capazes de lentamente esmigalhar qualquer cultura de qualquer Nação, no mesmo espírito do mundo colonial.  

A adequação da educação para uma reação seria o ideal, não uma para fazer do cidadão um mero seguidor, um mero tarefeiro, um simples operador, mas um ser pensante e produtivo com liberdade e preparado para ser um empreendedor, se seu talento permitir. Mas como isto daria votos na próxima eleição? Um projeto de tão longo prazo exige desapego e espírito nacional, patriotismo, amor ao Próximo livre. Sua invisibilidade por décadas nada renderia a político algum, mas seria o futuro mais seguro e duradouro para o país.

Mas não, o que querem é seguir o fluxo e adaptar a educação ao que sobrou da antiga reforma de educação dos anos 70. Um cidadão distraído é mais fácil de manipular, fazer votar e conduzir para o consumo. Nada mais. A verdadeira receita da escravidão humana e perpetuação de uma camada de políticos que se tornaram profissionais exploradores fazendo uma “falsa nobreza” em plena República. A continuidade de tal pensar atitude terá efeitos miseráveis e violentos.

Será que estamos na cômoda posição de continuar pensando que “as coisas com o tempo vão se ajeitando, tudo se arranja e os melhores vencerão”? Será mesmo que a seleção natural baseada no sucesso dos melhores será suficiente para o progresso do Brasil no mundo em mudança? Até agora os “melhores” políticos revelaram-se os mais espertos ladrões. Seria um sinal da decadência do processo de seleção natural? E quantos aos “melhores” de hoje no Governo e empresas públicas, verdadeiros reinos livres: não foram eles privilegiados por sistemas salariais feitos por eles mesmos nos três poderes em todos os níveis face à necessidade de manutenção de sistemas de corrupção ou de simples corporativismo e nepotismo? Ali, estar atrelado a algum político é proteção garantida para o exercício do principado.  E os “inside agents” que protegem esquemas milionários dentro das empresas.

Isto também precisa ser lavado a jato. Depois da lavagem a nível federal, deve-se olhar para o que ocorre a nível estadual e municipal, mas aí tudo vai depender do grau de independência do Judiciário e do Ministério Público estadual. Vai levar tempo para mexer na cultura arraigada das mazelas e da corrupção miúda, todavia, a limpeza é necessária para garantir um Brasil melhor para a juventude. Sem isto e sem educação, tudo continuará em lenta mudança, crescendo só quando há interesse político em ganhar alguma vantagem.

Entre políticos, do vereador ao Presidente, há de haver os honestos, os idealistas, que em querendo  melhorar o país,  entendam que a educação com Matemática, Português, História e Geografia não é suficiente para o jovem do futuro empreendedor e nem mesmo para o jovem seguidor. O abandono do ensino enciclopédico aos moldes da escola francesa foi um desastre e a simplificação da educação aos moldes americanos será a continuidade de um erro histórico. Fazer a educação ajoelhar-se à realidade social é um erro. A geração no poder não está plantando árvores cujos frutos não irão colher. Os que colherão os frutos estão nas ruas e vão tornar-se mais violentos conforme a etapa da vida em que sentirem que forem enganados. É um processo em evolução, bruto, irracional e de consequências cada vez piores.  E quanto mais contrariados em seus egos, mais insatisfação, mais cegueira, mais impetuosidade, mais violência.  Enquanto brincamos com a educação aumenta o descompasso entre o Brasil e o mundo industrializado e altamente informatizado.

Ficaremos sempre como um país atrasado com miséria e violência? A educação pode salvar se pelo menos tivermos pessoas para filtrar os modelos fornecidos pelo exterior, para que ao menos adotemos as boas práticas, as boas tecnologias de empresas do exterior de qualidade e responsabilidade e não o lixo de modelos ultrapassados e nocivos para todos e até para o Planeta. Os novos rumos trarão uma realidade mais intensa e serão exigidos líderes isentos que pensem no futuro e não nas próximas eleições. Podemos aprender muito com sociedades mais avançadas que passaram por etapas iguais a nossa há mais de cem anos atrás. Será com a correção de práticas e processos que poderemos humanizar o capitalismo aqui existente em sua versão selvagem. A humanização será a única alternativa, já que não há nenhum outro regime melhor. Mas para isto é necessário o cidadão com educação formal. Caso contrário, Nelson Rodrigues terá razão em ter dito que o Brasil conhecerá a barbárie antes da civilização. Uma realidade já existente em alguns lugares à noite nas cidades. 

Todavia, se não aproveitarmos esta fase de lavagem na política, continuaremos no rumo do futuro certamente indesejável.

A quem aproveita tudo isto? A Nação e a Pátria já estão de luto, antecipando realidades duras e graves que ninguém deseja? Mas Deus é brasileiro e o país vive de fé e esperança; embora no Rio de Janeiro, o Cristo Redentor esteja de costas para o país e aos seus pés a barbárie e a podridão civilizatória aconteça sem parar.

Odilon Reinhardt .