3.3.2017
O que querem?
Com toda esta corrupção que veio à tona, ficou
afinal demonstrada a verdadeira identidade de nossa vida política e o caráter
de grande parte de nossos políticos, seres egoicos, reunidos numa casta dita
por eles “superior”, vivendo à custa dos impostos e que agora mostrou sua alma
coletiva destituída de qualquer virtude; ficou demonstrado porque o país desde
1500 cresce lentamente, sem cuidar da educação com seriedade e atrasa investimento
em infraestrutura. Espera-se que seja o fim do país da política de
favorecimentos pessoais, da prática do “jeitinho brasileiro”, do tráfico de
influências, do carteiraço, dos privilégios, das sinecuras altamente
remuneradas, da desigualdade em tudo e do nepotismo, das grandes armações
secretas e corruptas, o fim de estruturas e procedimentos sem muita
racionalidade para garantir o empreguismo; o fim da farra com o dinheiro
público.
Muitas verdades ficaram escancaradas e
confirmadas. Uma delas a verdadeira natureza do
interesse pela coisa pública, sempre objeto de tantos discursos de falso
e fingido espírito. O que sempre
prevaleceu foi o umbigo, o interesse megalomaníaco, a vaidade, a ganância e a
propina. Obra pública tem que render propina.
Décadas e décadas de governos republicanos que
viveram na opulência de suas cortes e palácios, mascarando seu autoritarismo,
intolerância, prepotência, abuso de autoridade e alto poder de manipulação
através de notícias sistematicamente plantadas na imprensa para dar à população
a fascista ideia de estabilidade e a realização de obras fundamentais para o
“progresso”, que agora se sabe de quem. Tudo de verdade é escondido,
escamoteado e desvirtuado para proteger a imagem do partido e seus políticos
com vistas à próxima eleição. É instalada a rede de mentiras.
Sempre o interesse privado, oficializado como
público pelo governo posto, fazendo a realidade e conduzindo as imagens
politiqueiras via TV. Sempre a vontade de aniquilar qualquer oposição para
manter o governo ideal como uma eterna, próspera e promissora ação entre
amigos. A inevitável falta de independência entre os Poderes num entrelaçamento
de muita amizade e boa vontade. A Justiça por anos dobrou-se ao Poder até
chegar ao descrédito quase total, titubeou com o Mensalão, mas soube reagir e
com a Lava Jato ressurgiu como uma instituição digna, reobtendo a confiança da
população. Foi uma das mais expressivas representações do ressurgimento da Fênix,
em alto estilo e crédito.
Agora é possível entender melhor os erros
enormes da cultura política e crises econômicas, levando a população por anos
cinzas e de muita enganação enquanto quadrilhas assaltavam os cofres públicos
por um século. O país de obras paradas, abandonadas, mas que foi capaz de em
tempo recorde construir Brasília e recentemente os estádios da copa do mundo,
mesmo sabendo da realidade econômica e financeira que já existia e crescia nos
bastidores. A ganância não tinha mais limites. Não interessava o país,
interessava a propina, os grandes alforjes individuais e partidários, numa
clara manifestação de interesses pessoais colocados como públicos.
A crise atual mostrou um país de governo à
beira do caos. Mais 6 meses sem alterações básicas no governo e na economia, o
que ocorreria? Pergunta que poucos fazem
e ninguém escreve sobre o que seria.
O fato é que se espera que a população
acostumada com o governo como Poder Central, forte, dominante, gerador de
empregos tenha entendido que o Governo não gera nada, só tem o poder de
coordenador e regulador; no mais, tem sido um sugador de impostos e alimentador
de inúmeras situações de cargos e salários fora da realidade, burocracia e
corrupção enquanto o país vive na miséria do campo e na periferia das grandes e
pequenas cidades.
Agora por falta de consumo, há menos impostos e
a população viu o retrato do que é o Brasil de verdade.
A diminuição da máquina pública será a
imposição. Menos governo, menos empregos públicos. O Judiciário acordou, cortou
os laços com o Executivo que o afogava e mostra-se outro, digno. O Ministério
Público Federal e a Polícia Federal limpando o país. E quando a receita for normalizada nada
voltará a ser como foi. O foco será na criação de empregos via iniciativa
privada, espera-se mais livre e protegida dos esquemas de propina. O espírito
da operação Lava Jato mantido para sempre como salvação.
O fim do governo gerador de empregos em seus
quadros. Ainda resta fulminar os cargos comissionados em assessorias de coisa
alguma, gerando emprego para os que ajudaram em campanha.
Quantas gerações e talentos foram ceifados por
esta época que agora se espera esteja no fim? É a hora das consequências para
as gerações de jovens que terão um Brasil mais duro, mais penoso e difícil.
Após mais de um século de farra, agora vem a cobrança maior e esta recairá
sobre uma juventude despreparada, vítima de governos que não deram o rumo e a
estrutura certa para a educação. Darcy
Ribeiro em 1982 alertou e já era tarde “ Se
os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para
construir presídios “. Foi uma das
previsões desse grande brasileiro. Ninguém o escutou. O abandono da
escola pública foi a tônica nas décadas subsequentes, diante das crises
econômicas até 1994. Colégios públicos de excelência foram deixado à míngua.
Todo este uso da juventude que tem sido abusada
pela indústria da diversão e outras para garantir o consumo, toda esta
propaganda enganosa e o tráfico de drogas etc. tem afastado a juventude da
visão de futuro e mergulhando os jovens no aqui-agora, fazendo-os pensar que a
juventude é eterna, supervalorizando um trecho curto da vida chamado
adolescência e juventude. Depois há um longo período de colheita.
Algumas verdades tem aparecido esparsamente
como o abandono escolar, a reprovação em massa, a falta de leitura de livros, a
dificuldade na matemática, o abandono nos cursos de engenharia, a falta de mão
de obra qualificada para a indústria, o aumento do consumo de drogas nas
escolas e universidades etc., etc., a falta de mão de obra qualificada, o
altíssimo número de analfabetos.
Se a sociedade cresceu em quantidade e matéria,
se o governo não vai ser mais o gerador de empregos direta e indiretamente, se
tudo depende dos impostos vindos do consumo, o futuro depende da empresa
privada, ela é que sempre esteve fazendo a vida no país mesmo nos anos mais difíceis
da ditadura militar, quando se desacreditou o empreendedorismo nacional e uma
das únicas vozes a favor da empresa privada era a de Henry Maksoud em São
Paulo.
Há milhares de pequenas empresas e negócios que
infestam ruas e calçadas fazendo o comércio do dia à dia. Mas qual a qualidade,
a eficiência, a rentabilidade de tais negócios? A maioria sobreviveu às crises.
Poderia ser muito melhor, mais promissor.
Não são as indústrias que vivem das exportações, destinando o pior para
o mercado interno, que irão garantir a receita e a vida do cidadão, mas sim as milhares
de pequenas empresas e negócios espalhados pelas cidades, dando oportunidade a
pessoas e famílias para sobreviver e ter salário. Mas indústria ou comércio sempre necessitam
de pessoas com educação formal.
Como está nossa força de trabalho jovem em
plena época da informática? Certamente são campeões em passar mensagens vazias
e operacionais, craques em lidar com aplicativos e enviar fotos, em saber de
tudo e do nada superficialmente. Mas o jovem quer dinheiro, quer bens, quer
aparentar ser, é exigente e cada vez mais egoísta, quer pertencer, aparecer
pelo ter. Há enorme pressão sobre ele quanto ao Ter. Quem ensinou a juventude a
não se comprometer com nada, quem ensinou que o que vale é o agora, quem lhe
inculcou a ideia de que não vale se entregar a nada? Quem deixou o individualismo e o egocentrismo
materialista se instalar no país? Quem fez isso agora verá as consequências.
Agora o país vai precisar das gerações jovens e
estas vão precisar de um país melhor. E como estão as gerações? Em grande
maioria mal condicionadas, despreparadas, atrasadas, desqualificadas para ter a
suficiente persistência e força moral para aguentar o tranco da vida. Apesar de toda a maquiagem e manipulação da juventude,
as etapas da vida continuam as mesmas, cada uma com suas dificuldades e
necessidades. Como este notório
despreparo e desqualificação poderão
manter a vida saudável longe da violência ?
As gerações necessárias e úteis viverão com
dificuldades extremas. Manifestações e revoltas dos últimos tempos foram a pura
expressão de uma incontida insatisfação que não pode ser explicada pelo próprio
insatisfeito por falta de consciência. No combate ao aumento de uma passagem de
ônibus havia muito mais a ser lido e explicado. O que querem os jovens? Difícil
que saibam claramente, tal o poder dos atuais meios de diversão e ilusão.
Querem algo pontual que esteja sendo motivo de insatisfação imediata no
aqui-agora, já que pela idade e pela inconsciência criada pelo ego dominante na
sociedade e pela própria fase incompleta de seus estudos, se os tiverem, não
têm a visão do quadro geral no cenário nacional e todos seus itens, inclusive
ideológicos. Não sabem que estão sendo usados e manipulados e que o futuro está
ameaçado. E as causas das manifestações, ainda não analisadas a contento,
revelam uma insatisfação de proporções muito mais sérias; descontentamento que
está crescendo em silêncio no dia a dia. Talvez suas pichações, arruaças e
quebradeiras gritam em silêncio, exigindo o fim da mentira, da falta de
transparência, da falta de diálogo, dos esquemas de propinagem, das obras sem
finalidade, das negociatas, da corrupção sem fim, dos arranjos e barganhas no
Poder Público em geral, dos desvios, dos superfaturamentos, das manipulações de
informações, de simulações e práticas políticas velhas e danosas. Talvez
estejam dizendo em silêncio: “chega de danificar o meu futuro !”. Talvez.
Gerações atuais no Poder, a da Coca–Cola e da
Xuxa etc., copiam e repetem os modos anteriores de liderança e de gestão;
perpetuam o mesmo estilo, o mesmo sistema e não desejam oposição, querem a
gestão entre amigos; são autoritárias e corporativistas, são falsamente
democráticas. São a minoria e jogam o jogo da minoria. Estão atendendo a conveniências
e oportunidades para manter o poder e o salário sem pensar na multidão de
jovens das ruas e na causa das manifestações, as quais não deixam de rotular
como políticas. As gerações futuras de líderes já estão nas escolas e com mais
equipamentos de informação do que qualquer outra geração passada. Mas todas
estão hoje mais bem informadas sobre as mazelas do Governo. Jovens a serem
líderes ou jovens liderados são parte de uma geração que vem aí e manifestações
serão cada vez mais frequentes e violentas, de imprevisível surgimento, todas
marcadas pelo celular, sem cara, sem liderança e com a mensagem “galera, vamos quebrar, vamos invadir !”
mesmo que a causa seja pequena e pontual como um aumento de passagem de
ônibus.
À medida que o futuro vai se apresentado à
porta de cada jovem, tudo piora, mas o drama sempre é visto de modo
individualizado e nunca como um movimento de massa. Nada é tomado como sinal de
doença da sociedade. Impera já o caráter frio, calculista, materialista e
egocêntrico do umbigo individual. O jovem, cego pelo seu condicionamento, só
tem a revolta como arma e apresenta reação pessoal misturada com o espírito de
rebeldia de juventude. Todavia, hoje o celular pode facilmente mobilizar estes
dramas individualizados para movimentos de rua. Mas a hipocrisia oficial, a
negligência, a falta de amor ao Próximo desconsideram o caso isolado e
voltam-se para justificativas mais eleitoreiras como: “o problema foi da gestão
anterior, faltou investimento em educação ou na área social, estamos fazendo
tudo para resolver esta situação, blá-blá-blá.”
Depois tais governantes vão embora, chacoalham seus ternos e ajeitando a
gravata dizem: “na minha gestão fiz isto e aquilo”, isentando-se de tudo,
geralmente citando estatísticas. Mais de 100 anos neste mesmo modo atrasado e
egoico de agir. Anos de direita e anos de esquerda e nada foi para à frente.
O fato é que pode estar surgindo um grande
abismo entre o discurso político e as necessidades reais dos jovens. Cabeça sem
emprego, sem dinheiro vira oficina do diabo. O jovem quer emprego e onde haverá
empregos para todos?
Agora com a perspectiva de um Estado em novos
tempos, onde tudo poderá ser lavado a jato, o cidadão terá que cavar seu
próprio emprego e certamente não ficará satisfeito em ganhar o salário mínimo.
Qual é o mínimo para um indivíduo ou um casal sobrevier na cidade? Onde há
emprego, onde há salário?
Antes um jovem que não dava para os estudos
dedicava-se ao comércio ou virava político. E agora, nosso jovem será um
empreendedor, abrirá seu próprio negócio? Como todas as más condicionantes que
operam sobre a juventude e a falta de estudos qualificantes, certamente o jovem
tentará ser um “empresário”, mas sua possibilidade de sucesso é
desconhecida. Um “empreendedor” sem
talento, despreparado nos estudos, pensando só em dinheiro, dificilmente
vencerá com qualidade nas milhares de oportunidades aparentemente simples de
abrir uma pastelaria, padaria, lotérica, bar, auto-peças, borracharia,
serralheria, salão de beleza, sapataria, loja de informática, venda de
docinhos etc., etc. em busca de um
salário.
São estes os jovens portadores dos novos
tempos, ruins ou bons, mas resultantes do mundo dos adultos de décadas e
décadas, afogadas em atraso? Haverá busca de novos modelos? O modelo atual, preocupado
em ser aqui-agora politicamente correto, faliu. Vai ter reforma, quem a fará,
os próprios a serem reformados?
Todo este desarranjo criado pelo mundo dos
adultos, com seu frequente e contumaz “déficit de verdade” mexeu no futuro das
gerações em ascensão.
Na década de 1970, o Governo Militar reduziu o
curriculum escolar na “Reforma de Ensino” a título de modernizar e democratizar
a educação. Éramos só 99 milhões de brasileiros. Filosofia e tantas outras matérias foram
eliminadas para acabar como espírito crítico. O país-quartel não precisava
pensar, tinha que seguir. Foi um desastre de mais de 30 anos e uma das raízes
do estado de coisas atual. Agora nova alteração curricular para o ensino médio
tende a fazer a Escola ajoelhar-se à realidade da miséria nacional. O
nivelamento por baixo é evidente. Se o aluno tem dificuldade em aprender algo,
elimine-se o algo. Ora, não há mais
modelos dignos e sábios a serem seguidos, o que mostra bem a falta de
personalidade e caráter desta época triste. Se daqui 10 anos esta reforma não
tiver dado certo porque os jovens encontraram dificuldades, tal a burrice que
se estabeleceu, então a próxima reforma será reduzir tudo ao estudo do
Português, tentar melhorar um pouco a habilidade de escrever no celular
corretamente. Para que mais?
Hoje, como resultante de um Brasil de décadas
de descaso com a educação, qual o nível de nossos atuais comerciantes e
industriais? Quantos pertencem aos 96% de semianalfabetos do país e quantos
dentro desta porcentagem estão dentro dos 8% de pessoas que podem ler e
interpretar um texto? Como o Governo
pode atrelar seu futuro de coletor de impostos a uma realidade instável onde se
abre e se fecham negócios aos milhares? Qual a segurança da receita tributária
para o futuro? As consequências começam a aparecer.
O cidadão empreendedor sem talento, sem
ciência, sem compromisso com nada, a não ser ganhar dinheiro, poderá viver
sempre no limiar da falência num abre e fecha de negócios pequenos até não ter
mais tempo. Se no passado vimos grandes impérios industriais sucumbirem face à
administração dos jovens herdeiros, o que dizer de hoje onde se diz “ avós ricos,
filhos nobres, netos pobres” ? E quando
um negócio fecha quantos são diretamente e indiretamente os afetados. Isto mexe com as famílias no dia a dia. E por
que fechou? Alguém se interessa. Alguém atrela o fato à falta de instrução, a
educação formal? Não, é mais fácil dizer
que é a crise, o aluguel alto.
O empreendedorismo exige mais do que pequenos
comércios para vender produtos industrializados da China ou de qualquer outro
país, já que nossa pequena indústria está comprometida. O jovem empreendedor
que hoje deseje realmente empreender com talento e inteligência terá ainda que
ter mais do que vontade e necessidade.
Nos tempos atuais, mirando o futuro, terá que vencer desafios para sair
da barreira dos negócios primitivos para vencer o “ganhar para o gasto”. E
neste aspecto terá que saber escolher o ramo de empresa e venda ou produção,
sua legislação, sua carga tributária, o local do estabelecimento e perguntar:
“se mudar de lugar o negócio persiste?”, a vizinhança, as políticas
governamentais para o setor, as características do setor, as relações
sindicais, a natureza da mão de obra, o histórico do setor, o produto em si,
sua tecnologia, os fornecedores, a manutenção necessária, o fabricante, o
histórico deste, a questão sucessória se depender de aluguel, os fornecedores
de embalagens, a fiscalização municipal estadual e municipal, o alvará da
Prefeitura, existência de competição, os encargos trabalhistas, possibilidade
de exportação, contabilidade, cronograma de impostos, rentabilidade, inovações
no produto, segurança conta a violência, necessidade de sócio e todas as
questões aí relacionadas, necessidade de capital de giro, seguros, data base da
categoria de empregados, despesas diretas e indiretas, reservas para os meses
de implantação, características do consumidor, estudo de viabilidade por
empresa confiável etc, etc e ainda contar com a sorte de a violência não entrar
pela sua porta, cobrando as injustiças sociais e a iniquidade.
São estes tantos desafios que talvez nem passem
pela cabeça do jovem que queira abrir um negócio. Certamente se abrir, será uma
aventura e nesta caminhada, geralmente curta, um dos itens acima irá desabar
sobre o negócio eliminando-o. Será que dá para enfrentar isto sem ter uma
educação formal correta?
A atividade comercial ou industrial não é campo
para aventura, embora milhares sejam forçados a ali entrar. As consequências
serão sempre funestas com o endividamento e até a falência e seus efeitos
danosos. Abrir uma empresa ou negócio é muito mais do que fazer bela fachada e
belas prateleiras e belas vitrines. Está mais para Jurrasic Park do que para
Alice no País das Maravilhas.
E toda a trama burocrática acima mencionada
atinge não só os jovens despreparados, mas também os que foram demitidos devido
à crise econômica, as pessoas que foram demitidas por terem ficado numa empresa
com altos salários, os demitidos por causa das privatizações etc, os que
decidiram tocar algo por conta própria depois de terem ficado na posição de
pássaros de gaiola, habituados à água e comidinha certa no pote.
Alguém procurará consultoria, o Sebrae etc.,
antes de abrir um negócio? E se procurar terá estofo suficiente para entender
tudo. Depois de fechar as portas acabará procurando emprego no “mundo
corporativo”. Mas com que idade? Com que qualificação? Muitos terão que se
contentar com pequenos empregos, braçais ou não, de salários pequenos para a
vida e suas etapas. O MacDonalds manterá vendedores acima dos 20 anos? Para ser
almoxarife não é necessário saber Inglês, talvez Mandarim? E daí como comprar o
jeans, o tênis e o boné da moda? E a família como estará, se houver sobrevivido
ao nascimento do herdeiro?
Neste país das brincadeiras com o tempo de
viver, há verdadeiros inquilinos no setor público que ousam mandar construir
escolas, só para ganhar propina, não importando se as obras vão terminar ou
não. Estes facínoras brincaram com o futuro dos jovens que agora vão pagar a
enorme conta com a própria escravidão da morte de seus sonhos. E a idiotice e o
besteirol sobem toda hora ao palanque e dizem: “Jovens, agora o Brasil é para
vocês, sejam felizes!”. E ao mesmo tempo um corrupto pergunta ao ser preso “que
país é este?”.
Brincadeira que tem suas consequências tão
grandes quanto pregar para um povo inteiro a ideologia de que lucro é pecado,
que a atividade comercial é pecaminosa etc., etc. Ideologias e ideologias que
não deram em nada de bom e colocaram o país no grau de exposição atual à beira
do nada seguro, do pisar à beira do abismo para uma juventude que deverá aqui
viver como adulta e nada o que verão parecerá com os jogos de vídeo game e
telas coloridas dos celulares.
Certamente uns poucos ainda continuarão como os
líderes capazes de manter as aparências, mas já em número insuficiente para o
tamanho do país que vai crescer dependente, cada vez mais, de certa
inteligência de alguns grupos externos, capazes de lentamente esmigalhar
qualquer cultura de qualquer Nação, no mesmo espírito do mundo colonial.
A adequação da educação para uma reação seria o
ideal, não uma para fazer do cidadão um mero seguidor, um mero tarefeiro, um
simples operador, mas um ser pensante e produtivo com liberdade e preparado
para ser um empreendedor, se seu talento permitir. Mas como isto daria votos na
próxima eleição? Um projeto de tão longo prazo exige desapego e espírito
nacional, patriotismo, amor ao Próximo livre. Sua invisibilidade por décadas
nada renderia a político algum, mas seria o futuro mais seguro e duradouro para
o país.
Mas não, o que querem é seguir o fluxo e
adaptar a educação ao que sobrou da antiga reforma de educação dos anos 70. Um
cidadão distraído é mais fácil de manipular, fazer votar e conduzir para o
consumo. Nada mais. A verdadeira receita da escravidão humana e perpetuação de
uma camada de políticos que se tornaram profissionais exploradores fazendo uma
“falsa nobreza” em plena República. A continuidade de tal pensar atitude terá
efeitos miseráveis e violentos.
Será que estamos na cômoda posição de continuar
pensando que “as coisas com o tempo vão se ajeitando, tudo se arranja e os
melhores vencerão”? Será mesmo que a seleção natural baseada no sucesso dos
melhores será suficiente para o progresso do Brasil no mundo em mudança? Até
agora os “melhores” políticos revelaram-se os mais espertos ladrões. Seria um
sinal da decadência do processo de seleção natural? E quantos aos “melhores” de
hoje no Governo e empresas públicas, verdadeiros reinos livres: não foram eles
privilegiados por sistemas salariais feitos por eles mesmos nos três poderes em
todos os níveis face à necessidade de manutenção de sistemas de corrupção ou de
simples corporativismo e nepotismo? Ali, estar atrelado a algum político é
proteção garantida para o exercício do principado. E os “inside agents” que protegem esquemas
milionários dentro das empresas.
Isto também precisa ser lavado a jato. Depois
da lavagem a nível federal, deve-se olhar para o que ocorre a nível estadual e
municipal, mas aí tudo vai depender do grau de independência do Judiciário e do
Ministério Público estadual. Vai levar tempo para mexer na cultura arraigada
das mazelas e da corrupção miúda, todavia, a limpeza é necessária para garantir
um Brasil melhor para a juventude. Sem isto e sem educação, tudo continuará em
lenta mudança, crescendo só quando há interesse político em ganhar alguma vantagem.
Entre políticos, do vereador ao Presidente, há
de haver os honestos, os idealistas, que em querendo melhorar o país, entendam que a educação com Matemática,
Português, História e Geografia não é suficiente para o jovem do futuro
empreendedor e nem mesmo para o jovem seguidor. O abandono do ensino
enciclopédico aos moldes da escola francesa foi um desastre e a simplificação
da educação aos moldes americanos será a continuidade de um erro histórico.
Fazer a educação ajoelhar-se à realidade social é um erro. A geração no poder
não está plantando árvores cujos frutos não irão colher. Os que colherão os
frutos estão nas ruas e vão tornar-se mais violentos conforme a etapa da vida
em que sentirem que forem enganados. É um processo em evolução, bruto, irracional
e de consequências cada vez piores. E
quanto mais contrariados em seus egos, mais insatisfação, mais cegueira, mais
impetuosidade, mais violência. Enquanto
brincamos com a educação aumenta o descompasso entre o Brasil e o mundo
industrializado e altamente informatizado.
Ficaremos sempre como um país atrasado com
miséria e violência? A educação pode salvar se pelo menos tivermos pessoas para
filtrar os modelos fornecidos pelo exterior, para que ao menos adotemos as boas
práticas, as boas tecnologias de empresas do exterior de qualidade e
responsabilidade e não o lixo de modelos ultrapassados e nocivos para todos e
até para o Planeta. Os novos rumos trarão uma realidade mais intensa e serão
exigidos líderes isentos que pensem no futuro e não nas próximas eleições.
Podemos aprender muito com sociedades mais avançadas que passaram por etapas
iguais a nossa há mais de cem anos atrás. Será com a correção de práticas e
processos que poderemos humanizar o capitalismo aqui existente em sua versão
selvagem. A humanização será a única alternativa, já que não há nenhum outro
regime melhor. Mas para isto é necessário o cidadão com educação formal. Caso
contrário, Nelson Rodrigues terá razão em ter dito que o Brasil conhecerá a
barbárie antes da civilização. Uma realidade já existente em alguns lugares à
noite nas cidades.
Todavia, se não aproveitarmos esta fase de
lavagem na política, continuaremos no rumo do futuro certamente indesejável.
A quem aproveita tudo isto? A Nação e a Pátria
já estão de luto, antecipando realidades duras e graves que ninguém deseja? Mas
Deus é brasileiro e o país vive de fé e esperança; embora no Rio de Janeiro, o
Cristo Redentor esteja de costas para o país e aos seus pés a barbárie e a
podridão civilizatória aconteça sem parar.
Odilon Reinhardt .