segunda-feira, 3 de abril de 2017

O curioso espaço entre o não estar e o não ser .


Blog. 3.4.2017

 
           O curioso espaço entre o não estar e o não ser.

 

 
Em certa situação, quem já não se encontrou no estado entre o estar e o ser; uma transição de espera e uma pergunta sobre o ser a atingir? Mas quem em certa situação, todavia, sentiu-se no estado de não estar e de não ser; num vácuo, um espaço diferente?
Uma sensação de não estar e de não ser, pego num intervalo existencial. É bem pior do que ser ou não ser, estar ou não estar. É transitar numa expectativa muito mais grave, colocando-se no limbo do tempo de existência em alguma das fases da vida, que geralmente são bem definidas e bem estigmatizadas.
Que estado seria este que pode afetar uma pessoa ou um país? Primeiramente alguém que não está nem é, navegando pela vida numa expectativa sem entregar-se, mas querendo fazê-lo, pensando talvez  ser eterno e imune ao tempo à vida e suas fases.
Seria o estado de permanente disponibilidade, de total exposição, mas uma probabilidade de estar ou ser sem, no entanto, estar ou ser? Um limbo existencial numa ausência de status, uma alienação quanto à classificação em categorias, mesmo que a sociedade acabe colocando um rótulo para a situação, exigindo ser ou estar?
Apesar da intolerância social quanto à indefinição, já que ela agride o utilitarismo e o pragmatismo de modo grave, a sensação de não estar nem ser pode persistir na mente de uma pessoa que se coloca como mero passante, um eterno passageiro do tempo, sem se entregar a nada e a ninguém, dando à sociedade um sentido de incapacidade de ela interferir na mente individual. Uma vida dissimulada, fingida, que caracteriza o curioso e preocupante estado de não estar e não ser, talvez querendo ou imaginando  ser ou estar ou nunca ser nem estar, apesar de a pessoa, para o mundo formal, ser algo, ocupar um cargo , “representar” um papel etc. 
A questão é investigar quais condicionantes sociais geram e geraram este estado de estar sem estar, de ser sem querer ser e quais os efeitos disso para a sociedade e sua estrutura produtiva. Certamente psicólogos e psiquiatras e filósofos e sociólogos  conhecem o quadro, mas a pergunta é o que suas associações e classe fazem para explicar e resolver tal estado a nível coletivo, já que o país possui talvez milhares de pessoas neste limbo, diminuindo a força de trabalho e a mão de obra especializada.
O humano à deriva. O que estaria produzindo tal realidade camuflada e constante no pano de fundo da vida nacional?
Seria este já o reflexo de terem deixado que “forças superiores”, através de mensagens subliminares e mesmo diretas, brincassem, durante décadas, com os jovens, sob pretexto de “modernizar”, passando-lhes a ideia de que: a vida é curta, curta o aqui e agora; nada é para sempre; não se entregue a modelos princípios que são sejam os seus; o importante é curtir, o futuro a Deus pertence; consuma para ser feliz;  o Próximo é o seu competidor e rival; você vale o que aparenta ser; não acredite em ninguém com mais de 30 anos; a teoria é diferente da prática, etc., etc. conforme até hoje em andamento? Ou seria o arrepio diante dos modelos postos que não deram resultados e a ausência de bons modelos seguros, confiáveis, justos e honestos para o cidadão; a miséria, a instabilidade; a transitoriedade das coisas transportada para as relações humanas; o usar o Próximo? Ou seria também a queima de sonhos e talentos, o fingir ser e o fingir estar para aparentar ser; o descrédito e desconfiança por falta de esclarecimento e educação formal; a impossibilidade de realizar sonhos e projetos colocando a vida à deriva; a reação do ego com violência, fuga e desafogo do dia a dia; a impossibilidade de realizar-se, ficando sem alternativas a não ser a de jogar-se no espaço entre o estar e o ser; a existência desperdiçada numa representação teatral na rotina perigosa de imitação da vida, independentemente se a pessoa tem profissão ou emprego?
Sem adentrar na quadra do bipolar, do fronteiriço, do alienado ou do ausente, mesmo que isto tudo seja semente para tais problemas comuns hoje em dia, as raízes do espaço entre o não estar e o não ser podem derivar de uma constante insatisfação e sua não aceitação, levando a realidades muitas, onde o cidadão com seus sonhos e talentos ficou embaraçado entre o estar e o ser num país de permanente miséria, corrupção e modelos mal interpretados, onde quase tudo aparenta ser, mas não é.   A própria eleição de ladrões para exercer cargos públicos com posse cheia de discursos e promessas, pompas e circunstâncias, que deixam o cidadão comum humilhado em sua ali colocada insignificância, mas depois irado diante da desfiguração dos eleitos e sua corrupção e posterior revelação de envolvimento em esquemas de roubo do dinheiro público. É quase um país de faz de conta, um teatro vigarista para iludir. O próprio país coloca-se num permanente não estar e não ser, em inúmeras situações.
Certamente num país passando por tantas complicações existenciais é quase impossível que a contrariedade não seja quase a regra. Ninguém pode tudo e muitas são as insurgentes impossibilidades na vida normal do rebanho. Há uma persistente pressão sobre o cidadão de todas as idades para que ele consuma, havendo apelos para criação de desejos e sonhos materiais, que acabam não sendo satisfeitos. Há a permanente imposição de modelos e classificações do ser humano pelo critério do ter. Como contribuição para esta realidade há o fato de que hoje a propaganda, a TV etc. aceleram a sensação temporal, gerando uma ideia de obsolescência permanente das coisas, dando a impressão e espalhando a mensagem de que nada vale a pena além do momento. A obsolescência, a realidade passageira do mundo artístico e das coisas materiais é acelerada ao extremo, talvez até pelos limites de tempo, o qual deve ser comprimido para alargar a programação e possibilitar a maior utilização possível do horário e do campo visual do expectador, explorado ao máximo na intenção de ali incutir alguma necessidade. Outro aspecto a ser considerado é que tal realidade virtual e ilusória torna-se problema quando é transportada para o campo das relações humanas e as pessoas querem usar e serem usadas; querem aproveitar ao máximo porque tudo pode acabar logo. A vida é curta, tudo é passageiro, nada dura para sempre passam a ser dogmas. Pode ser verdade senão se souber preencher a vida com algo mais virtuoso. Isto também gera inúmeros problemas de relacionamento e conflitos existenciais de natureza afetiva, gerando insatisfação.
Ora, quantos brasileiros hoje só tem a TV como fonte de tudo? Os meios de comunicação permanecem explorando tal realidade em seus anúncios e propaganda para criar vários ambientes desejados e principalmente para criar desejos para um ambiente consumidor desesperado. É visível que a aceleração exercendo pressão cada vez maior gera o medo de perder ou não ganhar com consequências desastrosas no campo material e afetivo.
Dirigido pelo medo de perder ou não ganhar é evidente que a ansiedade surge de imediato e como o país não atende a toda a expectativa falsamente pregada e repetida, a contrariedade é comum e um visitante permanente na vida do cidadão que, via de regra, desconhece como lidar com seu pensamento, seu ego de vaidade, ganância, ciúme, inveja etc. e acaba em crise existencial, levando-o invariavelmente à revolta contra tudo e todos, na procura por culpados que justifiquem sua permanente insatisfação.
Vulcões ambulantes fazem surgir em cada cidadão a impaciência, a intolerância, a inflexibilidade, a ideia de estar sendo atrapalhado pelo Próximo na rua, no trânsito, na fila, na profissão etc. A vida é conduzida pela agitação mental, a euforia, a confusão, a agonia, a carência afetiva e a insegurança. A ansiedade passa a ser o centro  de problemas . A saúde vai para o lixo e vira problema banalizado, mas caro.
Assim  tudo continua gerando vulcões. Por motivos e necessidades de manter a receita tributária, continua sendo prioridade acelerar o surgimento de necessidades para que o consumo seja garantido. Acelera-se o desejo e a vida das pessoas, as quais viram fáceis vítimas e peças de caça; oprimidas por sua inconsciência, falta de esclarecimento e falta de discernimento. Meras peças de manobra na grande fazenda nacional.
Turbina-se o estado de permanente insatisfação, gerando em muitos a sensação de não estar e não ser, dentro de um espaço de uma vida por vezes sem sentido, difícil de ser preenchida, já que a realização de planos e sonhos pessoais está cada vez mais impossibilitada.
E como não dizer que este estado não é diariamente enfatizado como os hábitos e costumes criados pelos aparelhos da informática? Pessoas uma frente às outras com celular ligado. Não estão ali, pois estão de corpo ali, mas com a mente em outro lugar. Corpos presentes e almas ausentes. Mentes sempre esperando algo, informações, mensagens, sempre não querendo perder nada, sempre ligadas no tititi de suas vidas vazias de conteúdo, permanentemente fora do local onde se encontram, ligadas no virtual fora dali. O querer TER ( válido para ter coisas e pessoas) aqui cria também  o espaço entre o ter e o não ter, exercendo  pressão enorme sobre o homem do dia a dia, submetendo-o ao “segredo” interno de estar em constante ebulição e contrariado em algum ponto. Este estado também joga-o no espaço do não estar e do não ser, já que hoje o Ter supera o Ser em relevância. Como entregar-se a um relacionamento, emprego, situação etc., se existem outras lá fora com possibilidades múltiplas?
O instrumental tecnológico acelera o surgimento de frustrações e contrariedades do ego de modo permanente em situações repetitivas do dia a dia existencial como também nas questões de fundo como afetividade, amor, rejeição, carência afetiva, carreira profissional etc.
 Não estar e não ser, uma sensação que pode pipocar aqui e ali no dia, mas que pode também ser a realidade de muitas pessoas durante uma grande parte da vida. Seria como viver numa dimensão paralela à real sem sair desta. Uma vida dupla produzida pela constante sensação de frustração e insatisfação de não ter conseguido estar, ser e ter. 
Pessoas expostas permanentemente à contrariedade em sua existência não deixam de alimentar e construir sua vida interior dirigida à agressão como válvula de escape. Se a violência for ou não para fora, ela já existe internamente, corroendo o indivíduo impiedosamente. Em qualquer hipótese a grosseria, a rispidez, o sarcasmo, o humor ácido é o mínimo que se pode esperar.
Pessoas aparentemente calmas e controladas podem se tornar, de um minuto para outro, violentas, em palavras ou fisicamente, cometendo atos que podem determinar o futuro a partir de então.“Quem vê cara não vê coração”, com se diz. 
Milhares de pessoas nesta situação compõem um cenário de potencial conflito e violência a qualquer momento. Sem recursos para uma autoanálise,  sem vocabulário , sem uma estrutura formal de lógica pensante, a reação de pessoas,independentemente da classe social, só pode ser tosca, violenta, própria dos brutos até no perigoso silêncio em que se metem para fingir. É a revolução tosca do animalesco, revelada ao mundo em pedradas, pichações, quebradeiras, arruaças, paralisações do trânsito em rodovias, e em todos os demais eventos, onde fica mostrado o não ter nada a perder e a haver com nada .   
É comum que a descompressão vem num tapa, num ato impensado, num tiro, num ato impetuoso qualquer em plena cegueira da ira.  A raiva social aparece na intolerância e na inflexibilidade contra qualquer diferença seja social, econômica, sexual, religiosa, política, racial. Pode também vir através de outros meios pacíficos com a fuga através de viagens, drogas, isolamento, obsessões religiosas ou esotéricas, fanatismo por uma determinada atividade, coletiva ou não, tudo para mascarar a real situação de contrariedade e insatisfação.
Em qualquer caso, qualquer sinal de diferença agride e ressalta o estado em que a pessoa se encontra. A mediocridade é a marca perpétua do incapaz de retirar-se do estado em que se encontra de modo que qualquer um que lembre o indivíduo de sua condição real provoca um estado de agressão. A verdade sempre choca. O que ele não conseguiu, se obtido pelo Próximo, provoca a desigualdade e a sensação de injustiça nos níveis mais variados e diversos da atividade humana. Não é de se descartar que o simples ato de comer alimentos não chegue a ser ostentação e alguém chegue a ser punido por isto. A linha social descendente está cada vez mais medíocre e perigosa.
Inevitavelmente a vida nacional traz contrariedades e o ego individual e coletivo reage. Mas a vida traz compensações e há um certo equilíbrio de modo que quem não estava passa a estar, quem não era passa a ser e quem não tem passa a ter. Há sempre esta transição e solução.
Todavia, há a situação que atinge milhares de pessoas que estão num permanente não estar e não ser e passam a vida nesta insatisfação como barcos à deriva. Não estão no porto e não tem porto para chegar.
Todos estão misturados, ou seja, os contrariados por algum tempo e os para sempre. Ambos podem passar pelo desejo, via de regra, de distribuir seu estado, pois não toleram sofrer sozinhos; vão investir contra o Próximo direta ou indiretamente. A agressividade fica latente. O Próximo é o culpado por existir na frente de tais pessoas. A psicopatia, a sociopatia aumenta e agrava-se, pois para tais pessoas alguém tem que pagar, alguém é o culpado. A criança, a mulher, o idoso ou qualquer outro sofre a violência. Ressaltando que a mulher apresenta-se como a mais forte e séria defensora da família e o ser de maior resistência e persistência na defesa, muitas vezes das mínimas estruturas restantes da instituição de suporte à vida. É a violência física.
E há ainda a violência embutida em projetos de obras, na falsificação de medicamentos, na adulteração de fórmulas químicas de produtos industrializados, na fraude fiscal, na corrupção etc. que nada mais refletem um estado de desconsideração ao Próximo.
O comportamento mais comum é norteado pelo mote “se eu sofro, os outros tem que se sofrer também “, o qual  é  a raiz da violência, da negligência, do descuido, da falta de comprometimento, do desinteresse, do relaxo, do atraso, do descaso, da falta de amor à vida .
Para o medíocre, a vingança, através da agressão, ajuda a desafogar a mente por um instante, mas depois surgem mais consequências sobre ele e mais sufoco; uma roda viva crescente e já banalizada face à contínua repetição de casos divulgados diariamente. Na verdade, é atitude infantil do bruto, do tosco que não sabendo pensar nem expressar-se permanece no nível mais precário do modo de chamar a atenção e compartilhar problemas. Para ele permanece a condição primária de chamar “quero minha mãe”; resquícios do “ quem não chora não mama”, reação, portanto, de grito de socorro.
O desrespeito, a desconsideração, a raiva contra o Próximo é latente, pulsa à flor da pele; uma constante tentativa de dolo eventual. As pessoas se arriscam; é o caso do querer não querendo; no fundo a fonte de tudo está em “ o cara que se dane”. Atitude típica do inconsciente, do imaturo ainda animalesco.
No trânsito, no projeto da obra mal feito, na consulta médica negligente, etc., impera o desrespeito ao Próximo. Por trás de tal falta de consideração, um ser humano perdendo a humanidade, gritando por socorro na multidão, um que quer estar ou ser ou talvez um que já se encontra no estado espacial do não estar e do não ser.
Em todo caso o Próximo é o inimigo. Chegamos a isto. O medo do Próximo. Aumenta a venda de armas, a de alarmes; aumenta a concessão do porte de armas. A segurança vira um excelente e lucrativo negócio, gerando empregos e impostos. Já é verdade que não será de “ interesse público” acabar com a violência para não afetar o setor e gerar perda de receita? A violência é interessante a alguém poderoso como sempre. O absurdo pode estar tornando-se realidade.  Estimular a venda de armas e a sua exportação vira objetivo do Governo.
E o que dizer da geração de jovens que está esperando oportunidade, mas que foram abandonados quanto à boa educação escolar e muito mal orientados quanto à visão de mundo e de vida. Vão engrossar a grande quantidade de contrariados e poderão pertencer ao grupo dos que não estão nem são. Não terão nada a perder. As consequências da falta de perspectiva, da falta de solução, da falta de possibilidade de melhora poderão ser magnificadas socialmente no momento em que explodirem para reagir. Só um cego não observa o poder dos jovens com um celular ou uma pedra na mão, podendo promover reuniões a qualquer momento. Os jovens já notaram que mexeram no futuro que irão enfrentar.
Mais violência, mais problemas advindos do despreparo para conviver, mais desconsideração por tudo e todos, porque quem vive num estado permanente de não ser nem estar não tem mais nada a perder e vive na dimensão ilusória longe da dimensão onde estão as pessoas normais, estas mesmo que momentaneamente contrariadas, mas com perspectivas de ser ou estar. Quem não enxerga mais saídas, já não dará o mínimo para ser aceito, pertencer a algo ou ser reconhecido.  Não tem nada e já nem quer ser , ter ou estar e pode afinal promover um evento de uma “Cidade de Deus “ em cada esquina ou abandonar-se e nada fazer .
O cidadão comum estará e será sempre ameaçado e acuado. Terá medo, como já tem em algumas situações, de mostrar ser ou estar e até mesmo de mostrar ter.  Tendo trabalhado honestamente e conseguido bens não poderá expor nada, não poderá mostrar diferença nem destoar do comum. Estará submetido ao  império do medíocre, do nivelamento por baixo, tudo sob o crivo da supervisão atenta do ego em inveja, ciúme, ganância etc. Não haverá meio termo: mostrou ser, estar ou ter de modo diverso do geral, terá que pagar pelo que a diferença ocasionar na mente da pessoa que o visar. 
Quanto da realidade é feita destes seres em estado intermediário, empurrando-se pelos dias da vida nacional? Quantos estão atrás de jalecos, uniformes ou ternos com gravata? Quantos não sãos mendigos enrustidos e ricos? Um grande empresário, um importante diretor ou gerente não pode ser um mendigo emocional?
Talvez os da rua, aqueles que não querem mais nada, sejam mais transparentes e decididos.   
                                  O mundo da rua.
 
Vidas desviantes,
que se arrastam pela existência,
como complexos navegantes.
 
A realidade de rua,
sem ligações, sem bens,
a realidade ali sua.
 
Vidas das calçadas,
fazendo o miúdo, drogas e medo,
alimento em sacolas furadas.
 
São vidas que vão errantes,
que rolam pelas ruelas e praças
em número bem maior do que antes.
 
Rostos desconhecidos, banidos,
não cabem mais no sistema,
onde foram produzidos.
 
E nem querem mais nada,
só o mundo da rua,
nada mais.
 
E o que dizer
dos pobres e vazios mendigos ricos
que são obrigados a se esconder?
 
Este texto é tão somente um alerta de que algo pior está se instalando. Nada pior do que uma população com alma insatisfeita e seres à deriva. Isto não é garantia de prosperidade e riqueza em nenhum campo. Uma população feita de presos na escuridão de um segredo ou de um estado que nem sabe analisar ou identificar. A grande maioria, considerando as condicionantes existentes e o processo de  robotização e manipulação das massas , nem sabe o motivo–raiz de seu mal-estar constante, de sua pressão arterial elevada, de seu diabetes, de suas dores e de sua insatisfação constante que faz pressão existencial,  pressionando-o  de dentro para fora .
A reação é latente, geralmente negativa, daí a violência que pode surgir inesperadamente em qualquer solução de vida. Uma pessoa afogada em sua vida espiritual acaba achando um meio de desabafar e qualquer um que a cutuque pode provocar uma explosão inconsequente e destrutiva.  Hoje não é difícil ver que à noite já existe uma guerra civil, tornando a noite um período de crimes e caça ao Próximo. Pergunta-se em que porcentagem a noite já não está invadindo o dia, pois de dia ou de noite há batalha nas ruas e estradas; a qualquer momento ocorrem as atrocidades gerenciais e interpessoais no mundo corporativo etc., etc. As exceções estão se alargando.  
Um amontoado de Seres que não realizam seus sonhos sejam eles consumistas sejam profissionais sejam vitais. Uma insatisfação constante. No que vai dar? O fisiologismo mantido em alto grau de contrariedade implica violência interna  e externa e tende a explodir como vulcão maltratando a todos.
Mesmos nos locais de pão e circo, já faz tempo, que a violência surge. Um caso aqui outro ali no país e uma plêiade de casos no final de cada dia. Pessoas presas nestes estados de insatisfação, seja transitória seja permanentemente, em sua demonstração cega de violência, não tem nada a perder, pois estão movidas pela ira; não veem nem valorizam as instituições, as quais, via de regra, nem sabem o que fazem ou o que significam para a estrutura da vida social. A destruição e o dano parecem gratificar seu prazer egoico de se expressar.
Uma multidão neste estado pode, sem dúvida, afetar a qualidade de vida no país, representando um risco permanente à segurança individual, ao direito de ir e vir, à produção e ao livre consumo gerador de impostos. É a mão de obra e o indivíduo economicamente ativo que estão sendo afetados, porque a mente do cidadão está sendo sabotada.
Já é visível o nivelamento por baixo e o que era exceção e continha-se na margem estatística aceitável torna-se preocupante e numa espiral ascendente. Alienação, abandono de si mesmo, desistência, opção por vida alternativa, depressão, revolta, opção por fórmulas e modelos negativos faz parte de um conjunto de atitudes sem qualquer perspectiva de dar certo. Qual é a mais perigosa? Qual causa maiores danos ao país?
Na mente bisonha e vitimada por estes estados de insatisfação sempre a preocupação individualista e a crucial pergunta “por que respeitar Próximo?”. Aumentam os crimes passionais e patrimoniais com requintes de crueldade e direta demonstração de raiva do Próximo.
Mais polícia, mais leis penais, mais penitenciárias, menos escola, menos educação de qualidade. O pior é que podemos estar entrando numa fase em que a escola e a faculdade não fazem mais falta, pois a cabeça do cidadão não comporta mais tais dificuldades e por que não dizer “ aberrações”. 
Mas apesar de tudo isto, o país, a médio prazo, não enfrentará o caos, somente prosseguirá avançando com menos energia, atingindo metas com menos velocidade, mas  numa comprometedora lentidão, que o coloca em descompasso com as imagens mundiais divulgadas pelos instrumentos do mundo da informática e pelo marketing destinado a estimular o consumo, acelerando sonhos e planos individuais.  
A preocupação é com um retardo histórico e uma dependência cada vez maior de tecnologias externas e o afogamento do humano nacional. Uma perda de pessoas qualificadas ou pelo menos com potencial e talento revela a realização da brutal teoria da seleção natural, pela qual só os mais fortes prosseguem, portanto, uma elite natural como resultante da exclusão de milhares. O homem-comum, jovem ou idoso, embora com dificuldades muitas, não deixa de ter seu instinto, seu senso-comum, aspirando sempre por justiça ,igualdade e liberdade possuindo o poder de indignar-se e ,portanto, continuará a protestar por seus direitos, criando confusão e manifestações.  
Necessário ressaltar que a seleção de elite não será suficiente para preencher todas as necessidades da estrutura formal do país. A cada ano “ alea jacta est”  e a soma dos anos a seguir dirão no que tudo isto vai dar.
Afinal, o futuro aqui não é mais aquele que estava para ser. Ou, pior “ a Nação não é mais o que ela pensava ser”.
Pergunte-se a não sei quem: como cada cidadão vem se sentindo, ao invés de saber se tem TV e geladeira?   Como está a mente de cada pessoa, que médicos consulta e que remédios toma? Quais os efeitos disso na vida produtiva? Quantos estão com depressão? Quantos já desistiram ou estão para desistir de tudo? Temos um Brasil a temer? O jogo de luzes existente pode estimular as pessoas a progredir? Reformar o Brasil, seguindo ditames  transitórios para solucionar a  recessão econômica, não é  nivelar por baixo? A recessão econômica já não é ela uma resultante do estado mental população? Não estamos aceitando o pequeno, o nivelar por baixo, o miúdo? Deixaremos de ser o país com síndrome de viralata?
O ministro Teori Zavascki em um de seus discursos perante o STF disse “o país está doente”.  Já a atual presidente do mesmo  Tribunal, em situação posterior, admitiu que “ os brasileiros precisam mudar”.
Ainda há tempo para providências para evitar o agravamento da realidade do cidadão. Não bastam só obras públicas, é necessário tratar a educação de outro modo e com cuidados quanto à mente das pessoas, sempre levando em consideração o fator humano, o fator emocional para o bem estar de todos e a credibilidade de que o país vai efetivamente melhorar. As soluções devem ser de cérebro, para o cérebro e com o cérebro e não com o interesse mesquinho eleitoreiro de umbigo e fígado.
 
Odilon Reinhardt.