sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Florestas e desertos já em degradação.




                                        


 
                                                     
                                                        Florestas e desertos já em degradação.




Muito do que está se passando no país é banalizado, vulgarizado ou negligenciado, seja pela intensidade e frequência da divulgação de problemas nacionais pendentes, para os quais não há aparente solução, seja pela multiplicidade de problemas das cidades, seja pela descrença da população quanto a real intenção do Governo em tentar resolver os eventos problemáticos.
Como num circo mambembe, na zona de subúrbio, numa quarta feira à noite, a plateia está inquieta, no picadeiro a peça até chama a atenção, mas o pano de fundo, destinado a ser parte do cenário do teatro, está descolorido, sendo degradado a cada apresentação. Ninguém nota, que os atores estão esbodegados, que as mulheres têm meias desfiadas, isto porque a euforia é fabricada pelos tocadores de bumbo e cornetas, que prosseguem fazendo as vezes de orquestra de um mundo colorizado num jogo de luzes sem parar, mascarando a realidade e encobrindo o pano de fundo de um circo de lona rasgada, que deixa entrever estrelas que aparecem no céu e com as quais parte da plateia ainda sonha com o amanhã lá fora.  A audiência feita de pessoas, assim hipnotizadas ou entorpecidas pelos espetáculos de cada noite, nada vê e nada sente além do que lhe digam para sentir e ver.
Afora o que acontece no ambiente, tido como humano do Antropoceno, há muito que está acontecendo e que não ocupa nenhum espaço de jornal televisivo, o qual assumiu hodiernamente o papel de escriba moderno ou prestidigitador para as massas, de modo que sem as preleções diárias do âncora do jornal, quase nada é entendido por uma população já farta de tudo sobre a realidade do dia a dia e do mundo político. Qual a isenção das orientações e explicações diárias? Não é oportunidade para manipulação e tendenciosa interpretação dos fatos? 
Há sempre este caleidoscópio fantástico, eufórico e ilusório para desviar a atenção da realidade. Governos e Governos sempre se aproveitam disso e vão minando a Nação, tudo com a justificativa de estar defendendo o “interesse público”, a receita de impostos, o progresso de seus próprios bolsos, a criação de empregos, a estabilidade política etc.
Assim foi que a inconsciência popular nem notou que nas décadas de 40 a 60 acabaram as florestas no Paraná e ninguém deu a mínima importância, pois o mato só era lucrativo para alguns e o que importava era mostrar “progresso”, num modelo atrasado desde o início. Acreditava-se que uma cidade com prédios era o moderno. O caso do Paraná é só um exemplo no contexto nacional, onde o mesmo modelo vai se arrastando para o centro-oeste e noroeste do país.
O gafanhoto humano hoje prossegue. Acabou como o Oeste de Santa Catarina, com o Oeste do Paraná, Mato Grosso e segue para Rondônia, Acre e Amazônia, tudo em nome do progresso num modelo ultrapassado de colônia espoliada. 
Por tudo, a mesma ideologia tributária e o resto que se dane. Recursos para obras e que gerem propina; “negócios” para garantir a reeleição e a soberania partidária.  As gestões do futuro a Deus pertencem e as gentes de Deus que se virem.
O que prevalece é a visão materializada do panorama. Somem as florestas por alguns dólares a mais, diminuem as cidades pequenas, crescem os arrabaldes da grande cidade. Tudo vai mudando de geração para geração, dando a aparência de progresso, enquanto há uma lenta degradação de todas as classes sociais numa imperceptível e irresponsável manobra amalucada.
É funesta a realidade, com danosas consequências para o ambiente inteiro e não só para a porção verde que o compõe. Mas tal quadro não parece ter sido   prioridade nas últimas décadas; sociólogos, na parte humana, e ambientalistas , na parte verde, são ridicularizados em toda parte como obstáculos ao  “progresso” promovido pela gente da propina e do clubinho fechado do “interesse público”. Situação e oposição são ambas tendenciosas, desejam atender seus objetivos eleitoreiros e fazem tudo para agradar quem os financie, enquanto o eleitor é mantido no circo em sessões que se alternam entre o ruim e o medíocre. 
Na parte verde dessa história, tudo é feito para garantir a produção agrícola, abrindo novas fronteiras a todo dia, numa guerra aberta “progresso x mato”. O mato significativo aqui é agora a Amazônia, o pulmão do mundo.  A atitude é de degradação consciente. Má-fé mesmo. Nenhuma preocupação com o futuro.
Sistematicamente, passa-se para o visual da população a ideia de uma Amazônia interminável, um oceano verde, patrimônio nacional, onde populações indígenas vivem ainda isoladas. É imagem da mesma qualidade enganadora de como se mostra o Nordeste, seco, com casas de barro e o jegue na porta. Fabrica-se uma imagem para puxar cada vez mais recursos para a região nordestina onde ainda impera o coronelismo e instituições coloniais do autoritarismo e pobreza cativa, raiz de nossa história política e de alienação social. 
David Nasser, em seu livro “A revolução que se perdeu a si mesma” escreveu que: “ a chuva é o flagelo do Nordeste. Quando chove, falta dinheiro aos políticos. Outros dizem que a seca dos flagelados é o inverno dos ladrões. Seca significando fome. Inverno significando fartura...... “. E quantos nordestes existem, sendo usados para iludir o país?
Não podendo conter a farsa amazônica, de tempos em tempos, a mídia coloca em linhas miúdas que a devastação em tal ano foi equivalente a tantos milhares de campos de futebol. Só neste país, face seu gigantismo, campo de futebol virou unidade de medida.
O fato é que desde os tempos imperiais, com recrudescimento no tempo da última ditadura, a região amazônica nunca foi colocada no contexto de importância mundial quanto ao clima, mas sim como propriedade do Brasil, argumento ufanista  contra a possível invasão estrangeira. Com intenso medo patriótico de perder a região, a política era de ocupação a qualquer custo e modo. 
Seria inteligente dar um fim ao modelo de ocupação através de fazenda de soja e gado e mineração. Talvez não seja o caso de dar aos índios o seu território, criando milhares de parques nacionais na região? Isto como primeira medida para congelar o assunto e não atrair já a atenção do mundo, que vai reagir logo contra a degradação em detrimento da Humanidade.   
Mesmo assim, a Amazônia já tem seu futuro marcado. Será cada vez mais tida como o pulmão do mundo, última reserva de tudo da mais completa selvagem Natureza. Uma mera questão de tempo. A continuar a ocupação predatória, a sua tresloucada degradação, será declarado o fim da brincadeirinha do fazendeiro contra o mato e o índio, porque a questão será objeto de reunião da ONU e certamente em alguma geração futura haverá a declaração de Patrimônio da Humanidade. Por que não será decretada a utilidade pública mundial da região, se o assunto referir-se ao Mundo e à Civilização? Não que isto leve à desapropriação no primeiro momento, mas certamente implicará administração compartilhada da região, defendida por forças internacionais.
Quando se tratar da sobrevivência do próprio Planeta, os estados nacionais terão muito pouco a mandar. Se detectado que a região é fundamental para a atmosfera da Terra, não haverá alternativa. O mundo será administrado pela ONU ou por um grupo de Estados responsáveis pela manutenção da Terra, que estabelecerá limites, permissões e autorizações para a região Amazônia em todos os países que ela envolver.
Se hoje, há países que invadem militarmente outros para defender seus interesses comerciais, por que a ONU ou qualquer outro órgão que vier a substituí-la não fará o mesmo para garantir a segurança do Planeta? Acabarão a autonomia e a soberania dos países para assuntos como energia, saúde, poluição e alimentação, se a espécie humana estiver em risco e isto ameaçar qualquer regime baseado em produção e consumo. Ou vamos continuar acreditando em projetos de colonização da Lua ou Marte? Não estará descartada uma administração de força radical e autoritarismo.
A devastação lenta e progressiva é inevitável quer pela impossibilidade financeira do Estado Nacional, quer pelo interesse ruralista de expansão, quer pelo gigantismo da área, quer pela impossibilidade de ações preventivas e pró-ativas, quer pela insensatez política e falta de visão de futuro. Em algum tempo do futuro, alguma geração vai sofrer as graves consequências do impacto ambiental gerado.
O caso da Amazônia é aqui só um exemplo; é uma vírgula num contexto muito maior feito de muitas interrogações, de muitas frases negativas e afirmativas de cruel realidade.
Esta é a devastação do verde. Mas o que assusta é a devastação humana em andamento. O que hoje ocorre nos bairros do Rio de Janeiro não é o resultado de 500 anos de governo e muitas decisões erradas? Não é a versão mais atual da evolução social e política a que chegamos? Não mostra a impossibilidade de o Governo controlar o movimento social e a humanidade ali colocada? Darci Ribeiro não foi atendido. Agora temos as consequências. Mais de 70 % da população da Cidade Maravilhosa gostaria de abandonar a cidade. Ora, pode-se menosprezar isto? É a falência do tecido social. E não adiantará a polícia, o exército ou qualquer outra força como esforço de solução, pois quem está doente é o cidadão, a comunidade, o bairro inteiro que nada no analfabetismo, na falta de cultura, na falta de emprego, na avacalhação do social. De Cabral a Cabral, tudo está dando errado aos pés do Redentor. Está claro que a civilização ali não está dando certo. Observe-se o que deu do jeitinho brasileiro de ser, deu motivos para a Lava Jato; e assim com o jeitinho carioca, o jeito do Tenório defender seus interesses, o pequeno grupo de jovens que começou a usar boletas vindas do exterior etc., etc. E como evoluiu o estereótipo do carioca bom de papo, malandro, de linguagem descontraída, egoísta e cheio de si, como meio de se autoafirmar contra o anonimato da cidade grande? E o que deu de toda aquela democracia de botequim, aquele orgulho de bêbado falante de verdades absolutas e populistas, aquele inato espírito de vedete, aquela brutalidade nos relacionamentos, sempre camuflada pela pieguice sexualizada do carioca mulherengo e vulgar? Como estão as estatísticas da violência contra a mulher, infância, juventude e idosos? E a violência moral que nunca é registrada até que vire violência física? Tudo é uma
Evolução, que em algum lugar do passado começou como pequenos atos, tidos como modinha passageira e nunca como tendência perigosa, pelo que passou desapercebida, pois a peça no picadeiro era outra, iludia do mesmo modo que qualquer outra, enquanto o pano de fundo já começava a ser deteriorado sem que ninguém notasse.  E isto tudo não foi semente para todo o país, onde hoje as pessoas já estão condicionadas pelo individualismo, pragmatismo e pela selvageria do ego?
Quanto ao humano, usuário do meio ambiente, o campo está cada vez mais complicado, com sinais que indicam que a civilização não está dando certo aqui. Se o Governo não tomar providências, desde já, e que sejam eficazes, se perdurar o mesmo empurra-empurra para gestões futuras, se não houver autocrítica e vontade de reformar todo o Estado brasileiro, se persistir a acomodação e o pensamento de que tudo está bem, as consequências serão funestas, já havendo sinais e perspectivas que indicam que haverá uma evolução para realidades que gravemente marcarão época para as gerações do futuro, se o quadro social não for revertido para melhor. 
Neste sentido, estressando algumas tendências é de se prever que haverá: um aumento dos efeitos danosos do pragmatismo com o consequente vazio existencial e espiritual, provocando maiores conflitos entre as pessoas; insuficiência do materialismo em promover o bem social e o conforto emocional; avanço da violência por insatisfação egoística; envelhecimento da população e redução da taxa de nascimentos; falência do sistema dependente do consumo; enfraquecimento do ser humano como mão de obra; enfraquecimento da democracia e surgimento de regimes extremistas; apodrecimento do tecido social urbano em primeiro lugar; aumento de doenças fatais devido à alimentação e vícios (álcool, fumo, drogas e sexo) usados como fuga da realidade produtiva; aparecimento de consequências finais do processo evolutivo de doenças sociais coletivas que já vem se formando há séculos; ocorrência de "divisionismo" social e religioso; aumento dos guetos sociais; aumento nas casas legislativas dos representantes do crime organizado; aumento do custo de vida nas cidades e fuga para as zonas rurais do município; imensos problemas de energia e mobilidade; surgimento de mais crimes hediondos; mais demonstrações de insanidade em crimes; maior perda de identidade; questionamento das estruturas oficiais e suas bases ideológicas para fazer face aos problemas humanos; volta ao primitivismo animal e domínio escancarado do ego; reações conservadoras e antidemocráticas; reflexos imensos da falta de investimento em educação e ciência; aumento da dependência tecnológica externa; importação de mão de obra estrangeira; surgimento de poderes paralelos ao Estado, fatiando a economia informal; crises orçamentárias sérias, atingindo setores essências; é previsível que o Estado queira aumentar o controle, para não se perder, assim haverá aumento da burocracia e sua característica barroca de uma pátria enrolada, cartorial, estrangulada pelos seus próprios sistemas internos e muita papelada; aumento da truculência policial; aumento do fascismo oficial, escamoteando números e tudo que lhe diminua politicamente; cadeias abarrotadas de jovens; realidades físicas mais cruéis entre as pessoas, resultantes do pragmatismo, racionalismo, utilitarismo radical, individualismo, materialismo, capitalismo selvagem; aumento da exploração do país como campo de teste de alimentos, medicamentos, feirinha de eletrônicos e informática; deterioração do ambiente laboral no mercado de trabalho, gerando absenteísmo e “turn-over” em níveis nunca vistos; deterioração do consumo e tributação; intensificação da corrupção e invasão do Governo por quadrilhas políticas; alienação da população quanto à política e assuntos gerais, face estar a mesma envolvida com seu esforço para suprir necessidades fisiológicas para sobreviver;  excessiva deterioração do relacionamento entre as pessoas esfarrapando o tecido social e aumentando a selvageria dentro e fora das famílias; aumento das religiões evangélicas e diminuição da Igreja católica; aumento de movimentos populares pontuais como sem teto, sem terra, sem alimento, sem água etc.; descontrole do serviço público, gerando bolsões de caos social;  surgimento das consequências fatais referentes ao semianalfabetismo da população como barreira para a inclusão tecnológica baseada na informática; impossibilidade de atendimento dos conflitos pessoais e contratuais pelo Judiciário; surgimento do Nordeste como centro da Indústria e Comércio por estar mais perto da América do Norte, Europa e África com o consequente abandono do Sul e Sudeste, os quais ficarão como fazendas mecanizadas e indústrias fechadas; maior distanciamento entre escola pública e particular; brutal evasão escolar e universitária; fuga de profissionais jovens para o exterior; aumento substancial de doenças gastro-cardiológicas face à qualidade dos alimentos,  uso de produtos químicos e abuso do sal e açúcar em receitas e fórmulas; serviços de saúde ineficientes e insuficientes; desaparecimento da vida noturna nas cidades face ao aumento descontrolado da violência; a noite será controlada pelo império do crime; diminuição do turismo; em algum lugar do futuro, diminuição das importações agrícolas e de matéria prima face o surgimento da África e Rússia como celeiros mundiais; intensificação dos processos de desertificação de parte do Norte do país etc., etc.    
Muito problema, não? O país só se manterá e será viável enquanto o interesse econômico estrangeiro perdurar. O que aconteceria hoje, se as montadoras de carros mudassem para outro Continente? Bastaria, por enquanto, mudarem para o Nordeste. Ainda estamos no colonialismo e poderemos ser abandonados, como foram muitos países no passado, que deixaram de ser interessantes. Os exemplos do passado podem ser repetidos como no caso de Fordlândia e Projeto Jari. 
O meio ambiente e o ambiente inteiro onde vivemos, com a falta de consciência existente, vem sendo devastados. Uma geração consciente preocupa-se em plantar árvores que darão frutos e sombra que só gerações futuras irão desfrutar.  A perdurar a inconsciência, o egoísmo atual, o que será colhido?
Muitas decisões do passado, tomadas porque atendiam conveniências eleitoreiras do momento, mostraram-se erradas em estratégia e estão fazendo a atual realidade. E hoje, também, há decisões sendo tomadas que irão afetar o futuro. Tudo por falta de visão, planejamento de longo prazo, aprofundamento das discussões, projeções de consequências etc., mas sempre para atender ao míope interesse de geração de impostos, propina e coisas de dentro do umbigo da classe política e seus pérfidos acordos eleitoreiros. Tudo sob o efeito hipnótico da TV e mídia, que fazem a versão moderna do circo de arrabalde.  
A corrupção é, antes de ser um mal material, um mal espiritual que assola mentes egocêntricas e individualistas. A União arrecada 3 bilhões por dia de impostos em plena recessão. Toda a corrupção indicada até agora talvez não chegue a um dia de arrecadação. Onde está o problema, senão na mente gerencial do agente público, do prestador de serviços e empreiteiro e do político vindo do coração das massas? A corrupção causa indignação, assusta, mas está longe de ser o centro da causa da má-gestão. Não se surpreendam, se muito do conflito político gerado pela corrupção, não for por ciúme, ganância e inveja de ver certos grupos enricando e enchendo suas burras para a reeleição em detrimento de outros que estão à margem da farra e sentem-se menosprezados bem como excluídos do processo de “Rachid”. Não se esqueça do lema “agora eu vou me fazer “usado amplamente na política. O problema é de alma, de valores, de sistema, de cultura. Itens invisíveis que o mundo pragmático e racional sempre despreza, embora sempre pague pelas consequências em muito terror emocional. Muito ego, vaidade, orgulho, ganância etc. e pouca Essência, Virtude. Extrema obediência ao lema “ganhar sem trabalhar”.
O centro do problema está na educação que é exclusivamente voltada para ajeitamentos científicos do mundo das coisas no sistema de produção, sem qualquer preocupação em proteger o emocional e a melhoria da convivência. O país está doente no seu mundo interior de modo que o mundo exterior é só uma feia consequência. Como dizia um escritor carioca “O Brasil conhecerá a selvageria antes de conhecer a civilização”. É o que já estamos vendo. Cada vez mais o fisiológico, o animal.
O tecido social está esfarrapando-se a passos largos. Há sinais e perspectivas perigosas. Exemplificando, no Acre um menor, após ter sido repreendido pelo professor por ter chegado atrasado, colocou fogo na escola. Isto ocorreu em 21/10/2017. Inúmeros exemplos apontam para o descontrole individual. Recentemente, a fiscalização destruiu equipamentos de garimpagem ilegal em algum local do Amazonas, os garimpeiros atearam fogo na sede e carros dos  órgãos de fiscalização. Ninguém foi preso. Há vários casos de crise de maluquice a ser generalizada. E não são avenidas novas nem prédios lustrosos que irão solucionar isto. Só a educação de base e a família estruturada poderão reverter tais tendências em décadas do porvir.
E assim vai a vida, de bairro em bairro, com o circo mambembe no final de cada rua, com seus espetáculos diários, iludindo o povo. As sessões têm o poder alucinatório, hipnotizante e ninguém vê o que está ocorrendo. O moço da bilheteria desvia recursos, o filho do mestre de cerimônias rouba a fiação dos trailers dos próprios artistas do circo, o tratador de cavalos já vendeu parte da manada para poder desviar a forragem e vendê-la em proveito próprio; o próprio circo está sendo hipotecado.
Com toda esta degradação do ambiente inteiro, certamente haverá revoadas conservadoras para salvar desesperadamente os interesses materiais. É que após o período de democratização, como sistema dentro da globalização, com a característica diluição do patriótico, do nacional em favor do global, chegou-se à avacalhação da identidade de cada país, o que foi fatal para as sociedades dos países emergentes em especial. Infelizmente, o mundo não estava ainda preparado para a implantação da ideia de aldeia global. O ideal de abertura de mercado, o mercado comum e a interdependência voltados inteiramente para atender interesses materiais e financeiros, prevaleceram, todavia, esquecendo o lado humano, sua diversidade e diferenças de evolução. O regime democrático flexibilizou tudo e gastou as reservas financeiras de modo antecipado e irresponsável, trazendo crises econômicas. A festa atraiu os corruptos e avacalhou com a  época inteira.
Agora, depois da festa, da época de difusão, de inclusão, de diluição e de flexibilização de tudo, vem a época do recolhimento, da recuperação da identidade nacional e isto é prato cheio para  o conservadorismo, para o  regime de força, seja de direita seja de esquerda. Não que haja preocupação com o Ser Humano não, é para manter o sistema de produção–consumo e geração de impostos. O interesse é de recuperação de Poder e de caixa, só. Sem dinheiro, não há obras e sem propina, não há reeleição.
Infelizmente, mais uma vez perdemos. Não foi o trem nem o bonde, mas o próprio caminho todo. As consequências serão peculiares, democráticas nas perdas econômicas, na miséria e antidemocráticas na conservação da “Ordem e do Progresso. 
As eleições de 2018 serão de importância histórica. Um erro de escolha e estaremos talvez para sempre sentados no cirquinho de arrabalde vendo tudo ser deteriorado progressivamente. Se a educação jamais for prioridade, avenidas novas continuarão a ser inauguradas, mesmo que por ela só passem pessoas de grande miséria intelectual, mas em carros novos, financiados talvez em 20 anos.     
Fé e Esperança parecem não ser mais a receita suficiente para reverter as perspectivas graves quanto ao futuro. 
 
Odilon Reinhardt 3.11.2017