Muito do que está se passando no país é banalizado,
vulgarizado ou negligenciado, seja pela intensidade e frequência da divulgação
de problemas nacionais pendentes, para os quais não há aparente solução, seja
pela multiplicidade de problemas das cidades, seja pela descrença da população
quanto a real intenção do Governo em tentar resolver os eventos problemáticos.
Como num circo mambembe, na zona de subúrbio, numa quarta
feira à noite, a plateia está inquieta, no picadeiro a peça até chama a
atenção, mas o pano de fundo, destinado a ser parte do cenário do teatro, está
descolorido, sendo degradado a cada apresentação. Ninguém nota, que os atores
estão esbodegados, que as mulheres têm meias desfiadas, isto porque a euforia é
fabricada pelos tocadores de bumbo e cornetas, que prosseguem fazendo as vezes
de orquestra de um mundo colorizado num jogo de luzes sem parar, mascarando a
realidade e encobrindo o pano de fundo de um circo de lona rasgada, que deixa
entrever estrelas que aparecem no céu e com as quais parte da plateia ainda
sonha com o amanhã lá fora. A audiência
feita de pessoas, assim hipnotizadas ou entorpecidas pelos espetáculos de cada
noite, nada vê e nada sente além do que lhe digam para sentir e ver.
Afora o que acontece no ambiente, tido como humano do
Antropoceno, há muito que está acontecendo e que não ocupa nenhum espaço de
jornal televisivo, o qual assumiu hodiernamente o papel de escriba moderno ou
prestidigitador para as massas, de modo que sem as preleções diárias do âncora
do jornal, quase nada é entendido por uma população já farta de tudo sobre a
realidade do dia a dia e do mundo político. Qual a isenção das orientações e
explicações diárias? Não é oportunidade para manipulação e tendenciosa
interpretação dos fatos?
Há sempre este caleidoscópio fantástico, eufórico e ilusório
para desviar a atenção da realidade. Governos e Governos sempre se aproveitam
disso e vão minando a Nação, tudo com a justificativa de estar defendendo o
“interesse público”, a receita de impostos, o progresso de seus próprios
bolsos, a criação de empregos, a estabilidade política etc.
Assim foi que a inconsciência popular nem notou que nas
décadas de 40 a 60 acabaram as florestas no Paraná e ninguém deu a mínima
importância, pois o mato só era lucrativo para alguns e o que importava era
mostrar “progresso”, num modelo atrasado desde o início. Acreditava-se que uma
cidade com prédios era o moderno. O caso do Paraná é só um exemplo no contexto
nacional, onde o mesmo modelo vai se arrastando para o centro-oeste e noroeste
do país.
O gafanhoto humano hoje prossegue. Acabou como o Oeste de
Santa Catarina, com o Oeste do Paraná, Mato Grosso e segue para Rondônia, Acre
e Amazônia, tudo em nome do progresso num modelo ultrapassado de colônia
espoliada.
Por tudo, a mesma ideologia tributária e o resto que se
dane. Recursos para obras e que gerem propina; “negócios” para garantir a
reeleição e a soberania partidária. As
gestões do futuro a Deus pertencem e as gentes de Deus que se virem.
O que prevalece é a visão materializada do panorama. Somem
as florestas por alguns dólares a mais, diminuem as cidades pequenas, crescem
os arrabaldes da grande cidade. Tudo vai mudando de geração para geração, dando
a aparência de progresso, enquanto há uma lenta degradação de todas as classes
sociais numa imperceptível e irresponsável manobra amalucada.
É funesta a realidade, com danosas consequências para o
ambiente inteiro e não só para a porção verde que o compõe. Mas tal quadro não
parece ter sido prioridade nas últimas
décadas; sociólogos, na parte humana, e ambientalistas , na parte verde, são
ridicularizados em toda parte como obstáculos ao “progresso” promovido pela gente da propina e
do clubinho fechado do “interesse público”. Situação e oposição são ambas
tendenciosas, desejam atender seus objetivos eleitoreiros e fazem tudo para
agradar quem os financie, enquanto o eleitor é mantido no circo em sessões que
se alternam entre o ruim e o medíocre.
Na parte verde dessa história, tudo é feito para garantir a
produção agrícola, abrindo novas fronteiras a todo dia, numa guerra aberta
“progresso x mato”. O mato significativo aqui é agora a Amazônia, o pulmão do
mundo. A atitude é de degradação
consciente. Má-fé mesmo. Nenhuma preocupação com o futuro.
Sistematicamente, passa-se para o visual da população a
ideia de uma Amazônia interminável, um oceano verde, patrimônio nacional, onde
populações indígenas vivem ainda isoladas. É imagem da mesma qualidade
enganadora de como se mostra o Nordeste, seco, com casas de barro e o jegue na porta.
Fabrica-se uma imagem para puxar cada vez mais recursos para a região
nordestina onde ainda impera o coronelismo e instituições coloniais do
autoritarismo e pobreza cativa, raiz de nossa história política e de alienação
social.
David Nasser, em seu livro “A revolução que se perdeu a si
mesma” escreveu que: “ a chuva é o flagelo do Nordeste. Quando chove, falta
dinheiro aos políticos. Outros dizem que a seca dos flagelados é o inverno dos
ladrões. Seca significando fome. Inverno significando fartura...... “. E
quantos nordestes existem, sendo usados para iludir o país?
Não podendo conter a farsa amazônica, de tempos em tempos, a
mídia coloca em linhas miúdas que a devastação em tal ano foi equivalente a
tantos milhares de campos de futebol. Só neste país, face seu gigantismo, campo
de futebol virou unidade de medida.
O fato é que desde os tempos imperiais, com recrudescimento
no tempo da última ditadura, a região amazônica nunca foi colocada no contexto
de importância mundial quanto ao clima, mas sim como propriedade do Brasil,
argumento ufanista contra a possível
invasão estrangeira. Com intenso medo patriótico de perder a região, a política
era de ocupação a qualquer custo e modo.
Seria inteligente dar um fim ao modelo de ocupação através
de fazenda de soja e gado e mineração. Talvez não seja o caso de dar aos índios
o seu território, criando milhares de parques nacionais na região? Isto como
primeira medida para congelar o assunto e não atrair já a atenção do mundo, que
vai reagir logo contra a degradação em detrimento da Humanidade.
Mesmo assim, a Amazônia já tem seu futuro marcado. Será cada
vez mais tida como o pulmão do mundo, última reserva de tudo da mais completa
selvagem Natureza. Uma mera questão de tempo. A continuar a ocupação predatória,
a sua tresloucada degradação, será declarado o fim da brincadeirinha do
fazendeiro contra o mato e o índio, porque a questão será objeto de reunião da
ONU e certamente em alguma geração futura haverá a declaração de Patrimônio da
Humanidade. Por que não será decretada a utilidade pública mundial da região,
se o assunto referir-se ao Mundo e à Civilização? Não que isto leve à
desapropriação no primeiro momento, mas certamente implicará administração
compartilhada da região, defendida por forças internacionais.
Quando se tratar da sobrevivência do próprio Planeta, os
estados nacionais terão muito pouco a mandar. Se detectado que a região é
fundamental para a atmosfera da Terra, não haverá alternativa. O mundo será
administrado pela ONU ou por um grupo de Estados responsáveis pela manutenção
da Terra, que estabelecerá limites, permissões e autorizações para a região
Amazônia em todos os países que ela envolver.
Se hoje, há países que invadem militarmente outros para
defender seus interesses comerciais, por que a ONU ou qualquer outro órgão que
vier a substituí-la não fará o mesmo para garantir a segurança do Planeta?
Acabarão a autonomia e a soberania dos países para assuntos como energia,
saúde, poluição e alimentação, se a espécie humana estiver em risco e isto
ameaçar qualquer regime baseado em produção e consumo. Ou vamos continuar
acreditando em projetos de colonização da Lua ou Marte? Não estará descartada
uma administração de força radical e autoritarismo.
A devastação lenta e progressiva é inevitável quer pela
impossibilidade financeira do Estado Nacional, quer pelo interesse ruralista de
expansão, quer pelo gigantismo da área, quer pela impossibilidade de ações
preventivas e pró-ativas, quer pela insensatez política e falta de visão de
futuro. Em algum tempo do futuro, alguma geração vai sofrer as graves
consequências do impacto ambiental gerado.
O caso da Amazônia é aqui só um exemplo; é uma vírgula num
contexto muito maior feito de muitas interrogações, de muitas frases negativas
e afirmativas de cruel realidade.
Esta é a devastação do verde. Mas o que assusta é a
devastação humana em andamento. O que hoje ocorre nos bairros do Rio de Janeiro
não é o resultado de 500 anos de governo e muitas decisões erradas? Não é a
versão mais atual da evolução social e política a que chegamos? Não mostra a
impossibilidade de o Governo controlar o movimento social e a humanidade ali
colocada? Darci Ribeiro não foi atendido. Agora temos as consequências. Mais de
70 % da população da Cidade Maravilhosa gostaria de abandonar a cidade. Ora,
pode-se menosprezar isto? É a falência do tecido social. E não adiantará a
polícia, o exército ou qualquer outra força como esforço de solução, pois quem
está doente é o cidadão, a comunidade, o bairro inteiro que nada no analfabetismo,
na falta de cultura, na falta de emprego, na avacalhação do social. De Cabral a
Cabral, tudo está dando errado aos pés do Redentor. Está claro que a
civilização ali não está dando certo. Observe-se o que deu do jeitinho
brasileiro de ser, deu motivos para a Lava Jato; e assim com o jeitinho
carioca, o jeito do Tenório defender seus interesses, o pequeno grupo de jovens
que começou a usar boletas vindas do exterior etc., etc. E como evoluiu o
estereótipo do carioca bom de papo, malandro, de linguagem descontraída,
egoísta e cheio de si, como meio de se autoafirmar contra o anonimato da cidade
grande? E o que deu de toda aquela democracia de botequim, aquele orgulho de
bêbado falante de verdades absolutas e populistas, aquele inato espírito de
vedete, aquela brutalidade nos relacionamentos, sempre camuflada pela pieguice
sexualizada do carioca mulherengo e vulgar? Como estão as estatísticas da
violência contra a mulher, infância, juventude e idosos? E a violência moral
que nunca é registrada até que vire violência física? Tudo é uma
Evolução, que em algum lugar do passado começou como
pequenos atos, tidos como modinha passageira e nunca como tendência perigosa,
pelo que passou desapercebida, pois a peça no picadeiro era outra, iludia do
mesmo modo que qualquer outra, enquanto o pano de fundo já começava a ser
deteriorado sem que ninguém notasse. E
isto tudo não foi semente para todo o país, onde hoje as pessoas já estão
condicionadas pelo individualismo, pragmatismo e pela selvageria do ego?
Quanto ao humano, usuário do meio ambiente, o campo está
cada vez mais complicado, com sinais que indicam que a civilização não está
dando certo aqui. Se o Governo não tomar providências, desde já, e que sejam
eficazes, se perdurar o mesmo empurra-empurra para gestões futuras, se não
houver autocrítica e vontade de reformar todo o Estado brasileiro, se persistir
a acomodação e o pensamento de que tudo está bem, as consequências serão
funestas, já havendo sinais e perspectivas que indicam que haverá uma evolução
para realidades que gravemente marcarão época para as gerações do futuro, se o
quadro social não for revertido para melhor.
Neste sentido, estressando algumas tendências é de se prever
que haverá: um aumento dos efeitos danosos do pragmatismo com o consequente
vazio existencial e espiritual, provocando maiores conflitos entre as pessoas;
insuficiência do materialismo em promover o bem social e o conforto emocional;
avanço da violência por insatisfação egoística; envelhecimento da população e
redução da taxa de nascimentos; falência do sistema dependente do consumo;
enfraquecimento do ser humano como mão de obra; enfraquecimento da democracia e
surgimento de regimes extremistas; apodrecimento do tecido social urbano em
primeiro lugar; aumento de doenças fatais devido à alimentação e vícios
(álcool, fumo, drogas e sexo) usados como fuga da realidade produtiva;
aparecimento de consequências finais do processo evolutivo de doenças sociais
coletivas que já vem se formando há séculos; ocorrência de "divisionismo" social
e religioso; aumento dos guetos sociais; aumento nas casas legislativas dos
representantes do crime organizado; aumento do custo de vida nas cidades e fuga
para as zonas rurais do município; imensos problemas de energia e mobilidade;
surgimento de mais crimes hediondos; mais demonstrações de insanidade em
crimes; maior perda de identidade; questionamento das estruturas oficiais e
suas bases ideológicas para fazer face aos problemas humanos; volta ao
primitivismo animal e domínio escancarado do ego; reações conservadoras e antidemocráticas;
reflexos imensos da falta de investimento em educação e ciência; aumento da
dependência tecnológica externa; importação de mão de obra estrangeira;
surgimento de poderes paralelos ao Estado, fatiando a economia informal; crises
orçamentárias sérias, atingindo setores essências; é previsível que o Estado
queira aumentar o controle, para não se perder, assim haverá aumento da
burocracia e sua característica barroca de uma pátria enrolada, cartorial,
estrangulada pelos seus próprios sistemas internos e muita papelada; aumento da
truculência policial; aumento do fascismo oficial, escamoteando números e tudo
que lhe diminua politicamente; cadeias abarrotadas de jovens; realidades
físicas mais cruéis entre as pessoas, resultantes do pragmatismo, racionalismo,
utilitarismo radical, individualismo, materialismo, capitalismo selvagem;
aumento da exploração do país como campo de teste de alimentos, medicamentos,
feirinha de eletrônicos e informática; deterioração do ambiente laboral no
mercado de trabalho, gerando absenteísmo e “turn-over” em níveis nunca vistos;
deterioração do consumo e tributação; intensificação da corrupção e invasão do
Governo por quadrilhas políticas; alienação da população quanto à política e
assuntos gerais, face estar a mesma envolvida com seu esforço para suprir
necessidades fisiológicas para sobreviver;
excessiva deterioração do relacionamento entre as pessoas esfarrapando o
tecido social e aumentando a selvageria dentro e fora das famílias; aumento das
religiões evangélicas e diminuição da Igreja católica; aumento de movimentos
populares pontuais como sem teto, sem terra, sem alimento, sem água etc.;
descontrole do serviço público, gerando bolsões de caos social; surgimento das consequências fatais
referentes ao semianalfabetismo da população como barreira para a inclusão
tecnológica baseada na informática; impossibilidade de atendimento dos
conflitos pessoais e contratuais pelo Judiciário; surgimento do Nordeste como
centro da Indústria e Comércio por estar mais perto da América do Norte, Europa
e África com o consequente abandono do Sul e Sudeste, os quais ficarão como fazendas
mecanizadas e indústrias fechadas; maior distanciamento entre escola pública e
particular; brutal evasão escolar e universitária; fuga de profissionais jovens
para o exterior; aumento substancial de doenças gastro-cardiológicas
face à qualidade dos alimentos, uso de
produtos químicos e abuso do sal e açúcar em receitas e fórmulas; serviços de
saúde ineficientes e insuficientes; desaparecimento da vida noturna nas cidades
face ao aumento descontrolado da violência; a noite será controlada pelo
império do crime; diminuição do turismo; em algum lugar do futuro, diminuição
das importações agrícolas e de matéria prima face o surgimento da África e
Rússia como celeiros mundiais; intensificação dos processos de desertificação
de parte do Norte do país etc., etc.
Muito problema, não? O país só se manterá e será viável
enquanto o interesse econômico estrangeiro perdurar. O que aconteceria hoje, se
as montadoras de carros mudassem para outro Continente? Bastaria, por enquanto,
mudarem para o Nordeste. Ainda estamos no colonialismo e poderemos ser
abandonados, como foram muitos países no passado, que deixaram de ser
interessantes. Os exemplos do passado podem ser repetidos como no caso de
Fordlândia e Projeto Jari.
O meio ambiente e o ambiente inteiro onde vivemos, com a
falta de consciência existente, vem sendo devastados. Uma geração consciente
preocupa-se em plantar árvores que darão frutos e sombra que só gerações
futuras irão desfrutar. A perdurar a
inconsciência, o egoísmo atual, o que será colhido?
Muitas decisões do passado, tomadas porque atendiam
conveniências eleitoreiras do momento, mostraram-se erradas em estratégia e
estão fazendo a atual realidade. E hoje, também, há decisões sendo tomadas que
irão afetar o futuro. Tudo por falta de visão, planejamento de longo prazo,
aprofundamento das discussões, projeções de consequências etc., mas sempre para
atender ao míope interesse de geração de impostos, propina e coisas de dentro
do umbigo da classe política e seus pérfidos acordos eleitoreiros. Tudo sob o
efeito hipnótico da TV e mídia, que fazem a versão moderna do circo de
arrabalde.
A corrupção é, antes de ser um mal material, um mal
espiritual que assola mentes egocêntricas e individualistas. A União arrecada 3
bilhões por dia de impostos em plena recessão. Toda a corrupção indicada até
agora talvez não chegue a um dia de arrecadação. Onde está o problema, senão na
mente gerencial do agente público, do prestador de serviços e empreiteiro e do
político vindo do coração das massas? A corrupção causa indignação, assusta,
mas está longe de ser o centro da causa da má-gestão. Não se surpreendam, se
muito do conflito político gerado pela corrupção, não for por ciúme, ganância e
inveja de ver certos grupos enricando e enchendo suas burras para a reeleição
em detrimento de outros que estão à margem da farra e sentem-se menosprezados
bem como excluídos do processo de “Rachid”. Não se esqueça do lema “agora eu
vou me fazer “usado amplamente na política. O problema é de alma, de valores,
de sistema, de cultura. Itens invisíveis que o mundo pragmático e racional
sempre despreza, embora sempre pague pelas consequências em muito terror
emocional. Muito ego, vaidade, orgulho, ganância etc. e pouca Essência,
Virtude. Extrema obediência ao lema “ganhar sem trabalhar”.
O centro do problema está na educação que é exclusivamente
voltada para ajeitamentos científicos do mundo das coisas no sistema de
produção, sem qualquer preocupação em proteger o emocional e a melhoria da
convivência. O país está doente no seu mundo interior de modo que o mundo
exterior é só uma feia consequência. Como dizia um escritor carioca “O Brasil
conhecerá a selvageria antes de conhecer a civilização”. É o que já estamos
vendo. Cada vez mais o fisiológico, o animal.
O tecido social está esfarrapando-se a passos largos. Há
sinais e perspectivas perigosas. Exemplificando, no Acre um menor, após ter
sido repreendido pelo professor por ter chegado atrasado, colocou fogo na
escola. Isto ocorreu em 21/10/2017. Inúmeros exemplos apontam para o
descontrole individual. Recentemente, a fiscalização destruiu equipamentos de
garimpagem ilegal em algum local do Amazonas, os garimpeiros atearam fogo na
sede e carros dos órgãos de
fiscalização. Ninguém foi preso. Há vários casos de crise de maluquice a ser
generalizada. E não são avenidas novas nem prédios lustrosos que irão
solucionar isto. Só a educação de base e a família estruturada poderão reverter
tais tendências em décadas do porvir.
E assim vai a vida, de bairro em bairro, com o circo mambembe
no final de cada rua, com seus espetáculos diários, iludindo o povo. As sessões
têm o poder alucinatório, hipnotizante e ninguém vê o que está ocorrendo. O
moço da bilheteria desvia recursos, o filho do mestre de cerimônias rouba a
fiação dos trailers dos próprios artistas do circo, o tratador de cavalos já
vendeu parte da manada para poder desviar a forragem e vendê-la em proveito
próprio; o próprio circo está sendo hipotecado.
Com toda esta degradação do ambiente inteiro, certamente
haverá revoadas conservadoras para salvar desesperadamente os interesses
materiais. É que após o período de democratização, como sistema dentro da
globalização, com a característica diluição do patriótico, do nacional em favor
do global, chegou-se à avacalhação da identidade de cada país, o que foi fatal
para as sociedades dos países emergentes em especial. Infelizmente, o mundo não
estava ainda preparado para a implantação da ideia de aldeia global. O ideal de
abertura de mercado, o mercado comum e a interdependência voltados inteiramente
para atender interesses materiais e financeiros, prevaleceram, todavia,
esquecendo o lado humano, sua diversidade e diferenças de evolução. O regime
democrático flexibilizou tudo e gastou as reservas financeiras de modo
antecipado e irresponsável, trazendo crises econômicas. A festa atraiu os
corruptos e avacalhou com a época
inteira.
Agora, depois da festa, da época de difusão, de inclusão, de
diluição e de flexibilização de tudo, vem a época do recolhimento, da
recuperação da identidade nacional e isto é prato cheio para o conservadorismo, para o regime de força, seja de direita seja de
esquerda. Não que haja preocupação com o Ser Humano não, é para manter o sistema
de produção–consumo e geração de impostos. O interesse é de recuperação de
Poder e de caixa, só. Sem dinheiro, não há obras e sem propina, não há
reeleição.
Infelizmente, mais uma vez perdemos. Não foi o trem nem o
bonde, mas o próprio caminho todo. As consequências serão peculiares,
democráticas nas perdas econômicas, na miséria e antidemocráticas na
conservação da “Ordem e do Progresso.
As eleições de 2018 serão de importância histórica. Um erro
de escolha e estaremos talvez para sempre sentados no cirquinho de arrabalde
vendo tudo ser deteriorado progressivamente. Se a educação jamais for
prioridade, avenidas novas continuarão a ser inauguradas, mesmo que por ela só
passem pessoas de grande miséria intelectual, mas em carros novos, financiados
talvez em 20 anos.
Fé e Esperança parecem não ser mais a receita suficiente
para reverter as perspectivas graves quanto ao futuro.
Odilon Reinhardt 3.11.2017