segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Nem tanto a terra nem tanto ao mar.










                                             



                                             
                                            Nem tanto a terra nem tanto ao mar.





              No ar, a esperança de novos tempos. Mais limpos, mais honestos, mais transparentes e com objetivos claros e sinceros. O brasileiro é um povo condenado à esperança, dizia Millor Fernandes.

             Reformas e novas ideais do mundo livre, onde o cidadão quer basicamente honestidade e verdade.  Nas últimas décadas , teatro, egoísmo, falsidade e roubalheira atiçaram a sensação de injustiça e deixaram mais longe o ideal de conforto social. Agora um longo caminho para a normalidade.

            A esperança é de mudança no mundo político e na gestão pública. Urge o fim da corrupção e o uso da receita tributária para promover o que o país precisa. Que o interesse público deixe de ser contaminado por segunda intenções.

           O Executivo Federal mostra-se voluntarioso em propor mudança e capitanear a mesma pelo país.  O Presidente eleito apresenta-se com motivação reformista. Espera-se que seja acompanhado pelos Estados e Municípios, nesta mentalidade nova. Mesmo os outros Poderes na União terão que acompanhar a onda saneadora, caso contrário não haverá união para mudar. Se imperar a velha política matreira e corrupta, haverá dificuldades para enfrentar a crise econômica e alcançar os objetivos constitucionais. Se continuar a carcomida mentalidade dos falsos nobres do Poder, só haverá reação e sabotagem.

          A rejeição dos meios errôneos de se fazer política comuns à vida brasileira,  não pode, todavia, afastar a boa política, a manifestação justa da população através dos meios institucionais de representação. Tampouco pode o interesse público ser eleito sem tal participação política.  Sempre se deve preservar o amplo debate, pois este é o coração da democracia.

       O grande desafio histórico será diminuir o Estado, privatizar o necessário, reformar a Previdência, vender patrimônio ocioso, gerenciar os ativos, reduzir o quadro de funcionário e seus benefícios, adotar boa gestão financeira, executar um orçamento factível, fazer a reforma tributária, instituir um sistema de Educação que desenvolva as pessoas no seu todo e desperte talentos, reduzir o analfabetismo de 4% e o semianalfabetismo de 96%, propor legislação de tolerância zero contra o crime organizado e a corrupção, rejeição total às antigas fórmulas da política  para aprovação de projetos e reafirmando a vontade popular de que o Governo não seja uma ação entre amigos, fazer o retorno dos bons valores do humano, estimulando o crescimento e o refinamento, ao contrário de perpetuar sua miséria para efeitos políticos de perpetuação no Poder de grupos  ideológicos, abandonar a diplomacia ideológica para o terceiro mundo e a opção pela miséria, eleger obras de interesse público legítimo, priorizar o social e a infraestrutura sadia e produtiva, aperfeiçoar a fiscalização e o controle sobre esta, fazer voltar a meritologia para o preenchimentos de cargos, estimular as exportações como fonte de captação de recursos, desburocratizar, promover a transparência das contas públicas, eliminar o discurso fascista,as estatísticas manipuladas e mentirosas , fazer voltar a ética e a moral para a sociedade, etc.  ao infinito.   

Como se pode ver a lista de itens de reforma é tão longa a ponto de fazer o retrato do país empobrecido que estávamos vivendo. É um desafio histórico e vai de encontro à cultura de muitos que se habituaram a usar o dinheiro público como direito divino, atuando sem limites em sua megalomania. Nem se pode pensar em admitir que entre os 44 milhões do candidato derrotado, alguém estivesse pensando no continuísmo da realidade acima mencionada. A rota era a “venezualização” do país. Será que isto seria bom para a população? Não. Será que os tais eleitores pensaram nisto? Será que não estavam acreditando numa  falácia perigosa e niilista? A mentira repetida por tantos anos foi fazendo crenças e tornando-se escamoteada verdade. A população estava de adaptando a níveis cada vez mais baixos de realidade.

Agora, a torcida e a esperança é que tais reformas sejam bem feitas e estejam nas mãos de bons políticos, patrióticos e humanos. O imenso grupo para compor o Governo, com figuras pinçadas de carreiras técnicas da atividade pública e da iniciativa privada, eleitas sem eleição, terá o desafio de promover o progresso e alcançar o bem público com qualidade e solidez. Não será possível errar. A História não permite mais. 

De nenhuma das pessoas, alçadas ao poder, espera-se que sirva para caracterizar no teatro público, o papel do “Asinus ad Lyram” ou seja o “burro diante da Lira” , equivalente ao “burro no Palácio do Poder”.  Que usem do seu saber e não esqueçam que de nada adiante termos avenidas novas e iluminadas, se por ela continuar a passar a miséria em suas várias versões. Bons lucros no mercado financeiro e fartos dividendos podem não significar nada em termos dos objetivos constitucionais. Espera-se que estas pessoas não sejam picadas pelas moscas do Poder e não sejam tomadas pela megalomania que costuma atingir tais círculos e circos. 

Que tais pessoas não esqueçam a Educação de qualidade como sólido preparo para a economia no futuro e sua sustentabilidade. Sem o humano qualificado nem o “robot” da fábrica recebe boa manutenção. Sem Educação que faça do estudante descobrir seu talento e procure oportunidades para exercê-lo, nada se sustenta. A esperança, passada a euforia inicial, é que a nova equipe do Governo não caia em erros de “tecnocrata”. Que não se esqueça que os representantes eleitos pelo povo e empresas devem sempre ser ouvidos e consultados para as grandes decisões ou pelo menos bem orientado para elas.  Que não seja verdadeira a frase de um Governador eleito, que ao ser entrevistado pela TV, afirmou com a boca cheia:” Meu Governo será de técnicos, pois não tenho compromisso com ninguém”. Cabe lembrar que a Ordem do Dia estará sendo feita durante cada dia e de acordo com a representatividade. Não somos mais a pátria sindical, mas não somos quartel.  Não somos a nau pirata à deriva, mas não somos nenhum transatlântico.  Há muito a ser feito e tudo com diálogo e debate.  A construção se faz com o esforço e participação de todos. Para tanto não será possível eliminar subitamente o presidencialismo de coalizão, pois no momento não há outro sistema que corresponda à cultura política já instalada. Certamente o Governo eleito não tem um plano pré-fabricado para ser implantado tecnocraticamente. Tem, sim, princípios e sabe o que não vai tolerar. Portanto, dependerá de muito debate e diálogo com os representantes da população.

Entre as mudanças espera-se que o Governo reverta as tendências de fundo no cenário nacional, dosando o pragmatismo, o individualismo, o puro racionalismo, o utilitarismo etc., que vêm condicionando a mentalidade dos mais jovens e produzindo seres calculistas, frios, sem sensibilidade humana. Lembre-se que num edital para contratações de soldados de polícia militar havia uma exigência de que o candidato fosse insensível às manifestações humanas, não se afetasse com histórias humanas de romance e amor etc. Após reclamação a exigência foi excluída, mas foi o suficiente para denunciar a mentalidade que se instala na cabeça das gerações atuais. Evidentemente, a exigência eliminada, havia sido incluída por pessoas de dentro da corporação, foi submetida a apreciação jurídica e o edital aprovado para publicação, denotando a vontade já instalada de obter a contratação de pessoas insensíveis ao humano. Os “ismos” acima mencionados já não são itens de filosofia invisível à medida que aparecem todos os dias como fundo de comportamentos na sociedade e habitam vários vídeos de comerciais na TV. A coisificação do humano e o desamor ao Próximo são banalizados .

A Educação de qualidade tem que ser a humana, a da afetividade, a que desperta talentos, a que dá compreensão da natureza do ser e seus defeitos, e não a educação mecânica para cortar frango e apertar parafuso.

Só através de uma cuidadosa supervisão poder-se-á reverter tais tendências e assim reduzir os conflitos e a violência em todas as classes sociais. Deve-se reforçar o amor ao Próximo e a empatia em tudo e em todos os projetos. Uma rodovia ou avenida projetada sem levar em conta o humano torna-se um caminho da morte. É um cruzamento sem sinaleiro.

Fica a esperança que desta vez o Governo olhe para a Educação como centro de todas as atenções. Que o Presidente e qualquer dos Governadores saibam extirpar de seus quadros qualquer um que venha a ser picado pelo Poder e denunciado por corrupção. Que os eleitos não pensem em reeleição e não norteiem suas decisões para este fim, pois se a gestão for bem sucedida o próprio povo exigirá a reeleição quase com fato natural, um prêmio por mérito.

Só com Educação de qualidade será planada a semente para daqui algumas gerações começarmos a ver os primeiros sinais de uma sociedade de pessoas menos tosca, grosseiras, autoritárias, inflexíveis, tarefeiras, fisiológicas, intolerantes, egoísticas, materialistas, operacionais, pragmáticas, sem refinamento e com cultura geral zero, seguidoras, manipuladas e condicionadas, caso contrário, só haverá má colheita: a crescente violência em tudo, o desrespeito ao Próximo, a grosseria coletiva, ainda fazendo valer Nelson Rodrigues que disse que o Brasil conheceria a selvageria antes de conhecer a civilização e fazendo valer também Darci Ribeiro que antes de morrer disse que uma criança só tem 7 anos uma vez. A falta de investimento na Educação custará milhões na construção de presídios.

Ninguém os escutou. E esta má qualificação pessoal será determinante na qualidade da mão de obra de todas as profissões e funções. Não adianta querer milagre, sem o humano qualificado por dentro e por fora, não haverá progresso sustentável. Leva décadas para preparar uma pessoa e tirá-la da miséria cultural e da falta de esclarecimento.

O país está precisando de seriedade e honestidade no trato da causa pública. Todas as fichas foram apostadas no novo Governo e não haverá tolerância  com erros estratégicos e nem a Histórica perdoará tais erros. Acabou a brincadeira. O teatro de esquerda e direita fazendo do povo ora um palhaço sentado na arquibancada, ora um tigre vendendo pipoca, não tem vez no cenário. Ficamos muito atrasados, não acompanhamos o mundo. Houve opção  pelos pobres, fazendo-os  de coitadinhos e não contribuímos para crescimento de ninguém. Ao invés de ensinar a pescar, promoveu-se a ociosidade com motivos eleitoreiros.  

Então, com a esperada volta da meritologia para preenchimento de cargos, espera-se mais planejamento, racionalidade e um choque de gestão, mas que não se esqueça o elemento humano. O combate à corrupção será um desafio. Manter diálogo e debate com a sociedade e seus representantes exigirá impor novos meios de comunicação e entendimento. Será um desafio dizer não às propostas de corruptos e corruptores, mas é o necessário, pois as investidas corruptas continuarão porque é cultural e resiste à punibilidade.

Todavia, deve-se evitar o excesso de tecnicismo, porque já vimos isto da esquerda e da direita. Nunca deu certo. Sempre deve haver cuidado para que não haja a supervalorização da técnica, pois pode virar tecnocracia. Deve ser lembrado que a técnica é sempre um meio e nunca o objetivo final.

A tecnocracia anda sempre com o autoritarismo, não gosta de debate e diálogo, é pragmática, rude e inflexível ao apelo humano. Pertence ao tempo das cavernas da democracia. Usada pela direita ou pela esquerda sempre se alimenta do descompromisso com a população representada e geralmente é usada por quem está certo de seus planos no Governo; planos quase sempre que envolvem interesses de dinheiro para a política e acúmulo de recursos para partidos e candidatos. Para que e como dar ouvidos à participação popular ao povo diante de tais objetivos?  Em alguns casos, a lei prevê até audiências públicas, mas estas são “só para inglês ver”, dito popular antigo que mascarava a realidade, tentando enganar o fiscal do agente financiador ou do concessionário.  No autoritarismo camuflado, tudo estava envolto em interesses pela propina. A participação popular era escamoteada e iludida com falsos movimentos de inclusão social, dando uma aparência de popularidade participativa enquanto as quadrilhas assaltavam os cofres públicos com uma voracidade jamais vista. No que efetivamente interessava aos esquemas da corrupção, não havia participação alguma, pois o plano tinha que ser realizado tecnocraticamente, sem engano. 

Assim tem sido a tecnocracia usada por Governos para atingir seus objetivos pouco aproveitáveis para o país, todavia altamente rentáveis para seus promotores. A técnica deste modo aplicada é a arma do tecnocrata. Mas outra realidade pior ainda é a falta de técnica boa e experiente. Tal realidade é danosa quando reflete a falta de planejamento e traduz uma avacalhação total e o descuido com a coisa pública. A politicagem aproveita-se facilmente de tal  realidade e redunda em consequências graves para as finanças do país.

Ademais quem são os técnicos desta época? Não são os oriundos de um sistema educacional falido? Não vêm de faculdades e cursos técnicos dessas últimas décadas? Não são defeituosos tanto quanto a sua origem? Podem ser super-homens da “sabedoria”, com doutorado e cursos no exterior, mas podem  ditar regras finais aos humanos?

Já vimos erros dessa gente no passado de décadas. Resultados assustadores estão por aí até hoje e suas consequências já viraram causa. Não eram técnicos e profissionais de diversas áreas os que estruturavam e organizavam as mega operações de corrupção e lavagem de dinheiro?  Não eram deste tipo os que localizam brechas legais e elaboram meios de burlar a fiscalização, fazendo planejamentos para o mal? Técnicos são operacionais a serviço de alguém, mas logo assumem o comando e passam a ditar regras e condicionar políticos. A manipulação de dados e estatísticas etc., é um forte instrumento de enganação. A técnica pela técnica pode conduzir para que haja uma super preferência por números, porcentagens etc., e a coisificação do humano.

Um critério técnico pode levar a raciocínios frios como neste exemplo: numa estrada há uma curva onde todos os meses ocorrem acidentes e mortes. Na estrada há 200 curvas e passam 1 milhão de carros por mês. Só 0,03% dos carros tem acidente com morte na dita curva. Portanto, o que ocorre na curva X não é importante e nem prioridade. A frieza dos números leva o tecnocrata a operar assim.  Aliena-se da realidade, esquece que um dia na mesma curva podem morrer seu pai, mãe e três irmãos ou um importante político. Daí o tecnocrata se mexe.  

O alerta é este. Não se incorra no erro de alijar a boa política das decisões porque isto nunca dará certo. A missão é afrontar a politicagem, os interesses mesquinhos do nosso modo de cuidar de interesses pessoais e partidários.  A missão é reorganizar, mostrar novos meios e métodos de postura pública, mas sempre com debate, adoção da melhor ideia e visando o bem da Pátria e da Nação. 

Que o brasileiro reganhe sua autoestima, seu orgulho pelo país e não tenha vergonha de dizer que é brasileiro, principalmente quando estiver no exterior estudando, mesmo que com bolsa de estudo paga pelo Governo.   Que ninguém tenha vergonha de cantar o hino nacional e homenagear sua bandeira, que deve permanecer verde, amarela, azul e branca para sempre. Que seja uma Pátria a caminho do progresso e não de retorno ao bom-selvagem, vivendo na beira do mato, detestando tudo e todos que não lhe seja igual.  

É necessário reconhecer e aceitar que não há como ter objetivo de querer uma ilha isolada para ser líder do terceiro mundo, de viver a fantasia de uma economia de mentira, de sucumbir à trama da mentira e da corrupção, de agravar o visível empobrecimento da população enquanto o comitê central da direita ou da esquerda enchia as burras de dólares para se perpetuar no Poder, desejando fazer uma má intencionada revolução caipira, que atrasou o país por décadas e nos deixou à beira da estrada da História como pedintes moribundos. Nos últimos 35 anos pouco foi conseguido para nos libertar da miséria material e espiritual com passos fundamentados, sólidos e honestos. Vimos a roubalheira, a corrupção chegar ao máximo de sua consequência, o aprofundamento da crise moral no sistema político e o comprometimento do futuro das novas gerações. O legado é de fazer chorar e lamentar.  Agora nova esperança e mais fé. 

Assim com um pai faz a vida pensando no futuro dos filhos, um país deve ter Governos que pensem nas gerações futuras em termos materiais e com  Educação sólida e sadia para trabalhar com qualidade e com o sentimento de realização pessoal.  Nas últimas décadas  o que se constatou foi políticos pensando em seus umbigos, em sua megalomania, em seu egoísmo e na reeleição como garantia para continuar no Poder.

Odilon Reinhardt. 3.12.2018




sábado, 3 de novembro de 2018

Agora, já é o depois? Ou será tudo como antes?


                                                    










                                     
                                     

                                       Agora, já é o depois? Ou será como antes?  









Acabou mais uma inútil guerra de fosquinhas e fofocas eleitoreiras, de frases soltas e de efeito, de factoides e promessas descabidas, de ataques pessoais características de vizinhança de bairro e estratégias pequenas e pobres, que desmereceram o momento que deveria ter sido tratado com mais seriedade e respeito. Passou uma das maiores demonstrações de menosprezo à importância das eleições na época que se formou: a discussão relevante de mecanismos para a retomada econômica, a questão energética e a educação em 2019. Promessas de mais renúncia fiscal, redução de preços, populismo, aumento da taxação punitiva a setores da economia, exagero no dualismo entre o Bem e Mal e tantas outras ideias pequenas diminuíram ainda mais o país, colocando-o no nível de eleição de condomínio de periferia. O voto foi como aposta de loteria.


Imperou nos Estados e na União o que a nossa política é, o que somos como resultado da lenta evolução neste canto do mundo, onde a idiossincrasia fez um caldo social, espoleta suficiente tóxica e inflamável para a violência doméstica, empresarial e social sempre que haja contrariedade e oposição para pessoas, em geral, ainda egoístas, autoritárias, conservadoras, prepotentes, inflexíveis, antidemocráticas, intolerantes, sem cultura geral, pragmáticas, vazias, operacionais, fisiológicas, desinformadas, de mínima leitura, de limitado recurso vocabular, condicionadas, fazendo características que, entre outras tantas, independem da classe social, profissão e categoria econômica. Ressalta-se o nível educacional: 96% de semianalfabetos, de onde só 8% podem ler e interpretar um texto. Algo compatível como os mais de 40 milhões de votos nulos e em branco. Uma alienação histórica de 28%. Um país oral, superficial, guiado por mexericos e frases curtas e aparência. Todavia, no passado já foi bem pior. Pelo menos vimos que nossas instituições estão firmes e sólidas.  Muitas são as lições do processo eleitoral oficial, muitas mudanças, novas tendências, avanços e necessidades de correção.  


Doravante então, a verdadeira eleição. O preenchimento de milhares de cargos políticos nos três Poderes na União e nos Estados. Pessoas a serem eleitas sem eleição pelo sufrágio popular. Nomes desconhecidos e que com “poder” irão gerenciar o país nos detalhes da vida do dia a dia. Só haverá reforma cultural para adoção da honestidade e em nome da Pátria, se efetivamente neste tocante houver mudança de comportamento de modo quantitativo por parte dessas novas autoridades. Foi eleito um Presidente, muitos Governadores, mas estes dependerão de milhares de subalternos a serem nomeados conforme indicação das coligações. Quem são , de onde vêm, que méritos têm?  

Sem mudança de comportamento, o que depende de mudança no modo de pensamento, tudo continuará igual, queira o Presidente, queira o Governado ou não. As novas autoridades dos escalões inferiores, empossadas em cerimônias internas, é que irão através de resoluções, instruções, portarias etc., interferir em vários setores da sociedade, forçando fatos e criando dificuldades, chamando para o “negócio”. O desafio será não aceitar; mostrar patriotismo e valor ao interesse público, um novo modo de proceder tanto para tradicionais ofertas de corruptores como para os a serem corrompidos, que eufóricos com o Poder pensarão estar num Jardim das Delícias.   Mas estarão os empresários com a mentalidade de mudar, de abdicar de seus interesses em sempre tirar vantagem de seus amigos no Poder e descartar a concorrência para facilitar as coisas? Tudo dependerá da qualidade e ideologia das exigências das coligações. Será necessário deixar de lado interesses pequenos e ajudar a mudar. O desafio é não aceitar o “negócio”; é não continuar com a cultura até hoje usada; é reconstruir o imã da ordem e do progresso. Todavia, é necessário ressaltar que o sistema de financiamento de campanha ainda precisa ser alterado, a reforma política ainda precisa ser aprimorada, eis que são sistemas que geram comportamentos.     


Assim, o eleito estadual ou federal ganhou numa eleição democrática, mas pode não ter levado. Quem manda agora são as coligações, que vão indicar pessoas para milhares de funções. Mostrarão quem manda no formigueiro em termos de prática. É o ônus do partido vencedor que depende de apoio de outros partidos. Vai depender de apoio para tudo e terá que ceder às vontades particulares. No Congresso ou na Assembleia, os eleitos terão que negociar. Qual é o instrumento de troca senão as moedas tradicionais?  Será necessário convencer com bons argumentos em prol de uma nova mentalidade e dentro de uma intenção de fazer o país sair do mato e da mentalidade atrasada e mesquinha. O desafio é não errar na gestão e no diálogo.   


Também será um milagre, preencher cargos sem usar o que existe hoje em termos de recursos humanos disponíveis e sua cultura. Só por milagre, o novo Governo livrar-se-á da realidade humana existente em termos de má-qualificação e cultura política atrasada. Será que os elementos neste meio vão virar “santos” da noite para o dia? Será uma batalha parar com o envolver pessoas, comprometê-las a ponto de lhes amarrar o rabo, formar quadrilhas, fazer acordos duvidosos, fazer ameaças e achaques e extorsões, tramas e esquemas sujos. E o que dizer da inveja, ciúme, ganância, ânsia pelo poder, prestígio e dinheiro que são tradicionais habitantes do mundo da política? E a megalomania dessa gente?


Vimos que as operações e processos judiciais não impediram as quadrilhas de continuar com suas ações corruptas na Administração. Através do uso exacerbado de

“fake news”, etc.,demonstrou-se que a má-fé sempre ronda as atitudes de Poder e conflitos da espécie. Quem promoveu isto? Não é a pura expressão da cultura existente? Ela será exterminada da noite para o dia? Não se espere, que dentre os “nomeados”, deixarão de existir os que seguem o lema “agora eu vou me fazer”; os que de acordo com a capacidade técnica continuarão a “ fazer negócios” usando o nome do eleito e com justificativa de reunir fundos para a reeleição.


A realidade é tão velha quanto a criação do primeiro cargo em volta do soberano. Dante Alighieri na sua Divina Comédia, ao retratar as lutas pelo Poder em Florença e região, relata no Canto XXI o que viu, assim que alcançou com Virgílio a quinta vala do Círculo oitavo do Inferno, onde são punidos os que exercem o tráfico de cargos e influência; são os funcionários corruptos e venais, os prevaricadores e trapaceiros, mergulhados num poço de betume fervente.


Esta época de hoje a um ano é de deixar inebriado, encantado, esperançoso por novos tempos. Equivale ao período desde a festa de casamento até o fim da lua de mel em que só o noivo sabe que depois não haverá fundos, haverá dívidas, só 30 bilhões para investir (equivalente a 10 dias de arrecadação em 365 dias), os problemas herdados serão a contínua realidade, a vida real como ela é, seca, esvaziada, quase horrível em muitos locais. Os eleitos, os estaduais e o federal, atuarão dentro de seus limites constitucionais e na maioria do tempo como negociadores, articuladores, gestores de pessoas. Deverão colocar um novo modo de ser e gerir, um modelo de progresso, ordem, patriotismo, honestidade e tudo num discurso coerente e num ambiente de transparência. Valerá a ação concreta para a Nação.


Nem por mágica os fundamentos da economia e as bases sociais serão rapidamente melhorados. Só por milagre esta base deixará de gerar comportamentos coerentes com a cultura até hoje praticada e afinada com a miséria do estágio da evolução alcançada até agora. Só por passe de fada os fundamentos e base deixarão de apresentar pessoas que deixem de transferir para os locais, onde devam exercer Poder, os seus defeitos pessoais oriundos da cultura em que vivem. Talvez seja um mandato de reconstrução e preparo para mudanças marcantes no futuro de cinco ou mais anos.


Levará algum tempo para que seja demonstrado que democracia é mais do que poder exercer o direito de voto, que a nacionalidade exige esforço conjunto, diálogo, boas decisões e voltadas ao interesse público acima de tudo; que progresso é mais do que aumentar receita e que avanço empresarial não pode ser baseado em sonegação, fraude à licitação, participação em cartéis, corrupção do Poder e obtenção de renúncia fiscal como falso incentivo à produção e consumo; que qualificação profissional e educação é mais do que ensinar matemática e Português;  que uma Pátria não se faz só com braços que cortem frango e carne, mas também com a cabeça, pensando em ideias limpas e produtivas. O grito de muito tempo é “a gente não quer só comida”.


É certo que os olhos se voltam para a União, mas em verdade deveriam se voltar para os Estados e os Municípios, pois é ali que tudo acontece, devendo-se ter em conta  que as eleições municipais foram realizadas há quase dois anos e com pouca preocupação em pensar em mudanças e reformas. Em muitas localidades ainda persistirão os currais de pensamento e práticas da política velha, de tudo que ainda tem para mudar.  


Mesmo diante de um panorama deteriorado e com tantos escândalos, 44 milhões ainda acreditaram na política velha, na desnecessidade de mudar. Procuravam ainda um caudilho que fosse a expressão de nosso atraso; procuravam um salvador que continuasse a fazer a ajuda cair do céu. Foi a manifestação mais atual de nosso atraso intelectual que insiste em nos aproximar do Estado mentiroso, centralizador e autoritário, mandando em um povo esfarrapado, manipulado por frases pequenas e mentirosas usados pelo fascismo. Certamente a volta à aldeia e a repulsa ao progresso era o objetivo. Um niilismo absurdo.


O espólio deixado, de erros e mentiras, por vários governos de décadas passadas desde 1950, deixou um país mais complexo e dividido, quase uma massa falida. Se houver oposição radical que continue pregando ideologias já historicamente defasadas, pouco debate haverá e o confronto marcará a vida política. Sem união para gerar emprego, dar renda e aumentar o consumo, continuaremos sendo vítimas do dualismo existente, que não tem levado a nada. Nem direita, nem esquerda. Nada disso serve. O que faz o progresso é ir em frente.


Não adianta se enganar, quem gera riquezas e empregos, salários e receita tributária é a empresa privada. Combatê-la ideologicamente e tentar dificultar seu caminho só tem produzido a realidade que nos aproxima da miséria ainda mais grave, de episódios como a greve dos caminhoneiros, que se revelou terrorista, marcante e cheio de revelações sobre o potencial de destruição da teia econômica.  


Tampouco se pode continuar vendo os órgãos do Governo como castelos a serem destruídos porque ali está uma parcela da tirania, o moinho de vento ou, seja lá o que for, que mentes preocupadas em reviver teatros revolucionários procuram realizar aqui como sua fantasia política.   


É necessário crer em um novo ar de prosperidade, de trabalho, algo que impulsione as pessoas a irem para o futuro; fazê-las acreditar que nada cai do céu e que cada uma delas é responsável por uma parte na construção do país. O que está em jogo é a vida dos jovens das gerações novas e futuras. Vários governos vêm mexendo no futuro delas com erros estratégicos enormes, principalmente na Educação.


A vitória dos eleitos não é para amassar os derrotados, é para convencê-los através de ações concretas que há uma saída melhor. É necessário focar nesta intenção de melhorar a vida na Nação e provar que as ideias de progresso são para todos. Só através de debate e argumentos sólidos é que serão resolvidas as questões nacionais.A esperança e fé são sempre de mudança para melhor no processo democrático.


Sem mudanças na gestão da coisa pública e sem mudança no comportamento arraigado que vem sendo marcado pelo “agora eu vou me fazer”, só dependeremos da autonomia da Polícia Federal, do Ministério Público, da Justiça e da Imprensa livre para que a população saiba sempre o que está acontecendo e possa discernir corretamente. A corrupção tem histórico sanguíneo.  


Em 2019, ainda teremos a crise financeira fruto de erros estratégicos gigantescos. Bom lembrar que enquanto a indústria etc. e toda a população prosseguia anestesiada, acreditando num modelo econômico fantasioso, críticos como Arnaldo Jabor, diariamente chamavam a atenção para a essência do que vinha acontecendo. Eram vozes no deserto. Fazer o país crescer mais de 2 % ao ano foi uma irresponsável medida que chegou a 7% por motivos eleitoreiros, esgarçando todos os fundamentos da economia. As consequências começaram a aparecer depois de 2010, a partir de quando as medidas para garantir a receita tributária foram inconsequentes, desesperadas e mentirosas. Logo o bolso furou com tanta pressão.


Mesmo com crise grave de recursos, não se pode negar que para o futuro, sem Educação de qualidade, nada mudará. Só com investimento em Educação de qualidade será possível diminuir a mediocridade, a falta de cultura geral; isto para podermos ampliar a visão de qualquer cidadão e que as novas gerações tenham o despertar para a conquista da sabedoria como fonte de qualquer riqueza duradoura. Intolerância, inflexibilidade, extremismo, divisionismo, fanatismo, radicalismo, insensibilidade, descriminação etc., são consequências e sinais de atraso e ocupação da mente por níveis baixos do pensar, sentir e agir, são doenças que podem atingir qualquer pessoa independentemente da classe social e comportamentos típicos dos fisiológicos e egoicos que, não sabendo dialogar, só possuem como argumento a violência, a provocação e o conflito, o que nunca é solução para nada, mas a fonte de pessoas depressivas, frustradas, contrariadas e com grande preferência pela negatividade e suas expressões múltiplas. Com a mente confusa e despreparada, a visão do mundo também é confusa e decadente, daí a adoção de padrões baixos, do nivelamento medíocre e de ideias pequenas, o que não é bom para ninguém.


No mais, o que o cidadão comum espera é mudança no sentido de ver honestidade na gestão pública, coerência, progresso, ordem, respeito à Lei e a Justiça para tocar sua vida de acordo com seu talento e oportunidade sadia e útil para a continuação e prosperidade da vida.  Sem mentiras. O cidadão comum não gosta de politicagem porque ela implica desigualdade e promove injustiça. Todavia, o combate à politicagem, que anda sempre com a corrupção, não deve se converter em ataque à política honesta, meio democrático para se carrear os legítimos interesses de cada comunidade, para se acabar com a miséria. Quem gosta de miséria é intelectual, porque confunde a mesma com pureza, simplicidade, honestidade e outras. A vida é feita de procura pela prosperidade pessoal.


Alea jacta est! Que o leito, a nível federal, possa resistir às pressões da gente que o cerca e das coligações que desejarão usá-lo enquanto no Poder.        



Odilon Reinhardt .  3.11.2018   

     

 






quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Andanças, patranhas, gadunhos e caudilhos.







                                    




                                Andanças, patranhas, gadunhos e caudilhos.

                                Tudo acontece para que nada aconteça.         







E mais uma vez, tudo se repete, tudo igual. Tinha-se a impressão, a vã sensação de que seria renovação; um ar novo a festejar a bandeira da Pátria, mas é sonho passageiro no imaginário popular. Facilmente esquece-se o passado por mais recente que seja e acredita-se em repetir tudo da mesma forma, com as mesmas estruturas e as mesmas mazelas.



O mágico momento ilude a todos, escamoteia a realidade, falsifica as ideais. As promessas vão desde o que caberia a um vereador até a um caudilho. O sistema leva mesmo à sensação de se estar por eleger um super-homem, o salvador, a figura central que terá o monopólio de todas as ideais, de todas as soluções. As instituições ficam diminuídas mesmo que estejam fortes e ainda sejam o sustentáculo de tudo. 

Neste afã, correm os dias em sessões circenses que nos diminuem e aviltam colocando-nos no charco do subdesenvolvimento intelectual. Já foi pior no passado.

E através de frases superficiais e sem nenhum respaldo no cofre público, cada candidato delira em suas andanças. Prevalece o mais falante, o mais berrante, o mais qualquer coisa que possa enganar em aparência, que possa mais uma vez iludir.



Há somente uma variegada exposição de ideias, mas nenhum debate entre os candidatos. Cutucões sobre quizilas da vida política, mas nenhum debate digno do que fazer com sustentabilidade. Frases soltas causam clamor ou pavor sem que se saiba de seus detalhes. Pouco se fala de Educação. Só alguns têm um plano já conhecido: a politização do ensino e o marxismo inconsequente a ser impresso nas crianças.



Só através de uma educação enciclopédica e livre para libertar a criança da ignorância e das armadilhas da ideologia pode haver revelação de talentos e só assim pode nascer um Brasil diferente e de bom e saudável futuro. São os professores das crianças de 1 a 7 anos que têm a oportunidade de dar a oportunidade de dar os primeiros modelos para um futuro pessoal bom para cada criança de hoje e de sempre. Devemos pela Pátria evitar qualquer modelo fechado de Educação que só crie cortadores de frango para a linha de produção. Quem deseja  tal Educação, quer engessar as pessoas na ignorância para sobre elas reinar perpetuamente, negando-lhes a possibilidade e liberdade de mobilidade social.



E a Economia, qual o plano de recuperação do desastre deixado? Só há promessa de redução de ministérios e poucas coisas. A questão é muito mais grave. Estamos no carpete de entrada do FMI. Numa campanha eleitoral que vai se revelando como mais um grande salto no escuro para a Nação, só percebe-se o jogo de palavras entre os candidatos. Devido à grave situação econômica o eleitor mergulha numa ilusão. Não se espere nada de mel e leite, mas a dura rapadura racionada.



As verdadeiras pretensões dos candidatos, as ideais de gestão e negócios e seus planos ficam escondidos por trás de planos de governo perfunctórios e discursos para agradar a população. Tudo favorece a superficialidade, a aparência do imaginário ditador, do salvador. Algo bem afinado com nossa simplicidade tosca, alienação negligente e desconhecimento das instituições e suas atribuições na máquina de governar.



Pouco se ressalta a importância de um candidato que deva ter poder de maestro na grande orquestra democrática que é a gestão do Governo e interesses da população. O poder de articulador porque é esta habilidade que irá ser necessária.  Nenhum eleito será ditador e terá poder supremo no Estado de Direito e Democracia. A falha nesta habilidade transformará o eleito em um boneco na mão das coligações e tudo poderá se perder em curto prazo.



O eleito terá que enfrentar muito de trabalho para manter coligações. Um eleito sem habilidade de gestor de pessoas, que moeda usará senão a do preenchimento de cargos, isenções e reduções fiscais, promessa de projetos e decretos para beneficiar interesses privados? Fará o mesmo de sempre, comerá na mão do sistema corruptor.

Os interesseiros e manipuladores de situações engolirão o eleito em seu trabalho interno, o “interna corporis” que via de regra se perde na burocracia, no controle do controle do controle.... para que ninguém “descaminhe”, mas que revelou-se ser inócuo. Divisões, subdivisões, coordenadorias, subcoordenadorias, regionais, superintendências, etc. ,etc. numa estrutura gigantesca , que se perde no enrolo, mas serve para preencher cargos e dar salários, com os quais o Governo se afunda e vive para si mesmo. E mais, milhares de sinecuras para acolher a “trupe” das coligações ,onde os “negócios” são feitos.



Conforme a qualidade do séquito que acompanhará o eleito de todos os níveis de Poder, poderemos ter algo equiparado à Invasão de Atila e seus Hunos, a invasão dos porcos magros no Jardim das Delícias, para em 1460 dias engordarem à vontade. E assim logo começa o festival de patranhas e gadunhos para proteger a imagem, encobrindo com falsas estatísticas os defeitos de mais uma gestão. Empoderados falastrões e seguidores satânicos colocar-se-ão no exército de Brancaleone em defesa de suas posições junto à panela de leite e mel.



Não é, em regra, o pessoal da repartição pública e o funcionário de carreira que é o responsável pelo que estará ocorrendo, pois é pessoal constantemente vigiado; há regras rígidas para o servidor e há controle para tudo, afora o que sofrem no ambiente demoníaco nos  meios do serviço público. Todavia, exceções existem e contaminam. 



Só haverá mudança cultural efetiva, se o erro maior do eleito não continuar a ser o permitir a intromissão politiqueira na gestão pública. Pelo que se pode fartamente deduzir da divulgação sucessiva de escândalos, assessores e assistentes de fora é que têm vindo para fazer “negócios”. O ordem de todos os dias é “temos que garantir a reeleição” e nisto não há ética nem moral, só safadeza e ego.

 

Nem Deus sabe o que se passa nas entranhas das repartições, dos gabinetes ou fora deles, nas economias mistas e empresas públicas e fundações bem como nos outros Poderes. Ali o diabo bebe e come todos os dias, o ego caminha a passadas largas, folgadas e contentes. E muitos dessas “eminências pardas”, “autoridades não eleitas” entram no Governo “como cobra, atavam como tigre e saem como águia”. A impunidade os abençoa e protege e nada lhes faltará. A missão está cumprida, as metas atingidas; o dano feito, mas bem escondido. Sacodem o terno e vão para outra. Assim operam estas figuras subalternas, “reizinhos” de ocasião. E os funcionários da repartição, empresa ou fundação lesionada ficam usados e abusados, esperando o sucessor que os pise, mas que pelo menos prometa aumentar o salário.



Otto Von Bismarck disse ” Quanto menos as pessoas souberem como são feitas as leis e as salsichas, melhor elas dormirão.” Hoje impossível manter isto longe do público graças aos meios de comunicação livre e à informática. Todavia, a frase é verdadeira e denuncia a natureza das negociatas nas entranhas do Poder e não evita o prosseguimento da prática, a qual só é denunciada, se alguém deixar de receber a sua parte. Mas a essa altura muito já foi feito e, via de regra, o cofre já foi arrombado.



Só chegamos a ter conhecimento, graças à TV,  do que já ocorreu; só temos a chance de presumir o que possa estar acontecendo. Mas escândalos sucessivos mostram que há uma trama “para que tudo aconteça para que nada aconteça”, a não ser o que diga respeito aos projetos pessoais e partidários de encher as burras.

Erros de gestão são encobertos, desperdícios e falsas necessidades são camufladas, gastanças são fantasiadas em reuniões “estratégicas” e treinamentos espúrios. Assim parte da gestão é consumida por essa realidade.



O que há de novo depois de toda a população ter sonhado em reformas e mudanças?

Haverá mudança se funcionários de carreira não tiverem que aguentar mais uma rodada de reposição de assessores e assistentes, de gerentes de fora, de pessoal que só vem atormentar. São, repita-se, reizinhos de fora, de ocasião, com suas neuroses, inexperiências, inseguranças; todos são temporários “nobres”, escolhidos pelos Poderosos, e com carta branca para acabar com a carreira de muitas pessoas e glorificar incompetentes que na posição de “traíras” despontaram na caça às bruxas, quando ninguém tem direito nem proteção e o assédio moral e sexual são banalizados como espólio de guerra.Bons técnicos são transferidos, bons projetos são arquivados, obras são paralisadas, porque são do regime anterior e sua motivadora negociação já se esgotou. É a politização indevida com caras consequências para o objeto da companhia ou do serviço público. Entre os empregados e funcionários, assume a turma da rádio peão; saem os antigos traíras dando lugar aos novos. É o controle dos controlados, mas seja lá como seja, nunca nada dá em nada “interna corporis”, porque o Governo atua rápido com várias patranhas para não denegrir a gestão e em alguns casos não se pode impactar os acionistas e o mercado.



E assim vai a gestão, a nova com cara e doenças das velhas, numa cascata burocrática e inócua, mas suficiente para gerar funções e dar empregos, onde até o Tempo se perde em corredores de mil olhos e cansado da mesmice resolve se aposentar. Deixa a aventura mais uma vez correr dentro da receita do passado.



Fato é que comprovadamente é necessário repensar o Estado e atualizá-lo em termos de invasão ideológica e gestão, porque o Estado não aguenta mais a posição antiga de “principal empregador de pessoas e contratante de serviços”. Mas com tanta cupidez, ganância e megalomania, quem se dedicará a repensar a estrutura? Quem acabará com as folhas de pagamento suplementares, todas infestadas de “comissionados” , elementos que incham a despesa, sugando recursos e indignando o servidor de carreira, o mísero concursado. Comissionados ganham mais, fazem menos para o serviço, mas fazem muito para o partido e seus candidatos.  São seres “especiais”, eleitos pelos temporários deuses em plena democracia. Sugam as verbas do órgão, da economia mista, da fundação etc. acabam com a receita da União etc. Entre eles pessoas boas ou ruins, mas certamente com missão certa dentro de um exército de carregadores.



Espera-se que os meios de comunicação, passada a euforia inicial e o tempo de “ dar uma chance”, não aceitem pagamento de publicidade para proteger tudo que venha a novamente acontecer, porque a velha e carcomida cultura de “negociatas” já estará novamente em andamento. Veja-se que nem as operações da Polícia Federal e Ministério Público intimidaram a corrupção, especialmente a estadual e municipal.



É assim que com a vida voltando ao normal, banalizadas suas atrocidades, o candidato eleito já terá sido envolvido pela trama das coligações no jogo do Poder, a classe política já terá se recolhido a seus castelos, esquecendo das promessa feitas ao povo e este já terá esquecido em quem votou. Tudo será igual no quartel de Abrantes, tudo igual ao passado. Nada de novo, nada de reformas no castelo, cuja gestão será no castelo, para o castelo e pelo castelo. E o povo, cada vez mais longe,continuará sua vida sendo violento, inflexível, autoritário, conservador, fisiológico, sem saber interpretar um texto, egoico ao extremo, impulsivo, forçosamente tarefeiro, seguidor, tosco no trato com o Próximo, o qual vê como potencial rival e agressor, etc.   

E por que seria diferente? Não é essa a resultante da cultura acumulada há 518 anos? Não é essa a resultante de terem deixado alguns “ismos” importados terem migrado da linha da produção para a vida das pessoas e seus lares? Como esperar que seja diferente?



Isso tudo, no fundo, não advém da questão de dinheiro, mas de ausência de boa educação familiar e escolar e de uma gritante falha da orientação religiosa ou mesmo exotérica.  Só um “cego” não vê o que está ocorrendo e acredita que mais vale uma avenida asfaltada e iluminada do que uma escola. Certamente, tal “cego” acreditará que presídios maiores também são prioridade em relação à escola. Mas faz parte da evolução. É a fase de transição. Muitas gerações serão consumidas, mas o progresso está andando, com altos e baixos, lento, mas andando, um pouco sem ordem, mas andando.



E permeando a tudo, há a crise de identidade da Nação, cujos modelos adotados até agora são criticados, havendo, assim, uma procura por novos modelos. Difícil crise da adolescência coletiva da Nação, mas superável com o tempo, numa visão otimista. Pelo menos há sinais de aproximação da Idade Média no horizonte. Há tempos já se identifica muito bem o momento:

   

“Nas noites de frio é melhor nem nascer. Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer E assim nos tornamos brasileiros... A tua piscina tá cheia de ratos. Tuas ideias não correspondem aos fatos. O tempo não pára. Eu vejo o futuro repetir o passado...” Cazuza. “



“Meu partido. É um coração partido. E as ilusões estão todas perdidas. Os meus sonhos foram todos vendidos. Tão barato que eu nem acredito. Eu nem acredito. Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo). Frequenta agora as festas do "Grand Monde". Meus heróis morreram de overdose.  Meus inimigos estão no poder Ideologia. Eu quero uma pra viver. Ideologia. Eu quero uma pra viver... “Cazuza”.



É não foi desta vez. Fica a esperança e fé para 2022. 





Odilon Reinhardt  3/10/2018.


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Quem serão os "eleitos", depois das eleições?












                                              






                                            Quem serão os “eleitos” depois da eleição?









A gestão não pode continuar a ser um conjunto de atos, só para evitar a falência das contas públicas. Mas os números indicam que tal realidade vai continuar e o Jardim das Delícias continuará a atrair o umbigo de pessoas dirigidas pelas mesmas intenções predatórias que podem estar exterminando o bom futuro. 



Muitos políticos que só vivem para seu clubinho político; políticos honestos que possam ser idealistas patrióticos, mas pecam pela qualidade de seus ajudantes e coligações; políticos que se habituaram a viver do Tesouro; políticos que não pensam na Nação, só na reeleição e seu financiamento; políticos idealistas e honestos, mas sem recursos e apoio; políticos de primeira vez que serão tragados por realidades cruéis; políticos e políticos gerados pelo sistema eleitoral existente e que reflete a história de nosso sistema de representação, em evolução, e adaptando-se aos novos tempos e deixando o eleitor sem escolha. 



É sabido que quem desejar ser político ou continuar nela tem que seguir o jogo e suas regras. Há muitas batalhas dentro do partido, para o candidato nascer e ser exposto ao público. Nessas batalhas, o candidato dificilmente garante a integridade de suas ideais e planos e deixa de se comprometer com planos outros. Frequentemente a essa altura, uma vez vitorioso e na posição de ser candidato, já não ele o mesmo, mas um arquétipo, pronto a representar um papel no teatro.



Organizar-se e adotar sistemas para ganhar faz parte da liberdade humana e nada poderia ser criticado sem que se desrespeitasse o aspecto livre do humano, se tudo isto estivesse dando certo, se a vida privada não estivesse comprometida, se os serviços básicos estivessem garantidos e de boa qualidade, se o Brasil não estivesse às portas do FMI.  Infelizmente, há uma ínfima quantidade de políticos que fazem as exceções, todavia sufocadas pela realidade adversa. O atuar de muitos políticos eleitos perde-se na promiscuidade do entrelaçamento dos interesses, cumprimento das amarrações de campanha e na necessidade de financiamento. A honestidade e o interesse público são esmagados pelos jogos partidários e pelos desajeitamentos políticos diários.



Processos e procedimentos dentro desse sistema seguem as etapas de qualquer coisa criada pelo humano: há o começo, meio e fim. Entre nós os esquemas falharam e a população de todas as classes está esgotada; a reação fica por conta do futuro. No entanto, lentamente, sinais e perspectivas nos contam do futuro e diariamente fatos e fotos nos levam a acreditar que fiapos do mesmo já estão à amostra e nada é bom.



Há a cada dia mais consequências que são tratadas como causas. Mais exigências, mais necessidades são impingidas à população consumidora, mas a estrutura do Estado permanece a mesma, carente e atrasada. Mesmo assim, certas camadas de funcionários, agentes públicos e ocupantes de cargos de confiança, cegos quanto à realidade, imaginam ser uma classe de iluminados, escolhidos por Deus, para tripudiar a situação de quem lhes garante o salário espetacular em funções bem ultravalorizadas, onde podem viver dias de umbigo dourado à revelia da crise, do país, da realidade tributária, da vida do dia a dia, pouco importando o que ocorre nas aldeias em torno do castelo. Impera em muitos a megalomania, a ganância, a comparação e a feroz competição “interna corporis”, um incompreensível padrão de moralidade e honestidade, tudo vivido num, ainda mais incompreensível, ambiente infernal de mexericos e traições palacianas. São insaciáveis quanto ao Poder e seus benefícios.  



Se virou necessidade falar do novo, para mudar, reformar, substituir, o campo primeiro seria o da mentalidade acima mencionada. O ranço de alguns maus aspectos da estrutura formal remanescente da Monarquia é que deve sumir para que se construa um Estado atualizado em modernidade estrutural, que não gere a mente de nobreza, a qual não pode subsistir, quando o contribuinte é que passa fome, não tem saúde, não tem segurança e ao se aposentar tem no desejar morrer a melhor opção.



Quem aceitaria desafiar tal mentalidade? Quem mudaria pelo menos um dos aspectos da mente atrasada do país? Que candidato eleito seria tão poderoso para reformar o Estado, apagando milhares de leis de privilégios sem enfrentar uma greve nacional de consequências graves? Quem arriscaria mexer no Jardim dos Prazeres das empresas estatais, econômicas mistas e fundações, pretensamente locais, onde se faz de tudo que a estrutural estatal não comporta nem tem orçamento para fazer?   Na campanha nada se comenta sobre a realidade dentro do serviço público nos três Poderes; ninguém quer perder votos e possivelmente nenhuma reforma será aprovada posteriormente mudando o “establishment”, a nobreza no Jardim das Delícias, local de reinos ocultos, protegidos pela falta de transparência e um corporativismo eternizado.  Aparentemente, mesmo que a enorme despesa com a folha de pagamentos represente grande porcentagem da despesa do Governo, ninguém parece estar muito preocupado. A população civil foca em pontos fisiológicos e não tem conhecimento para criticar as entranhas do Estado. E tais pontos, a maioria de sofrimento e dor existencial, fornece a matéria suficiente para os candidatos demagogicamente abordarem o que o eleitor quer escutar e o populismo campeia livre.



No teatro das eleições, são muitas as promessas ligeiras, as que são direcionadas a curar problemas pontuais; os candidatos se confundem quanto a sua futura posição de modo que para contentar eleitores prometem o que competiria a um vereador, prefeito, deputado ou até presidente propor. Quanto a propostas efetivamente fundamentais, candidatos jogam frases de efeito para o povo se impressionar e engolir. Vale tudo.



Alguém está falando em fundamentos da Educação de qualidade? Alguém apresentou um plano para a Educação que não seja o ensino pobre e suficiente para a linha da produção?  Qual a proposta para despertar e valorizar o cidadão em sua totalidade como humano? Não é a falta de Educação a fonte de tudo que temos hoje em termos de violência, etc.?



Alguém está falando em deter as tendências perversas de certos “ismos” que estão contaminando as gerações e mexendo no futuro delas de modo “utterly barbaric”? Alguém está falando em conter os lados negativos do paraíso informático prometido? E a preservação da Amazônia? E a química nos produtos em geral? E a contaminação agrícola? E as drogas como centro da violência? E as causas das doenças mentais existentes e as causas geradoras de depressão, etc.? “O Brasil está doente”, palavras de pelo menos dois grandes magistrados no STF.  As soluções meramente materiais já não adiantam mais, é necessário cuidar do humano. .



Certamente ninguém ira propor ideais contra a ideologia e o negócio de seus próprios financiadores. Tampouco irá combater ou mudar o que afete a receita tributária, seja ou não ilegal, seja contra a saúde ou não. A sociedade e sua vida econômica estão estruturadas de um modo que qualquer alteração atinge a receita e agrava a crise. Como prometer mudanças de base? Nenhum candidato poderá mudar uma sociedade que se acostumou à má-fé, a tirar vantagens, a não pagar impostos, à corrupção como jeitinho, ao ganhar-ganhar, ao abuso de poder, ao “carteiraço”, outras brejeirices, etc. como costume de vida. Talvez uma árvore que se entortou desde pequena. Resta, portanto, aos Governos eleitos, nos estreitos limites orçamentários, continuar a  fazer obras, investir na cosmética, e tirar seu proveito; o resto, a própria sociedade irá ao longo das décadas se depurando ou envergando até o chão sujo. Perde-se a cada ano a oportunidade de refinar o sistema capitalista e vai-se favorecendo as ideologias de esquerda que nunca deram certo e são contra o humano livre e seus ideais de determinação. Acuada, a população vê a violência descambando para o terrorismo. Não dá para banalizar, pois é puro sinal de descompromisso com o Próximo e com a democracia. Não é só revolta individual decorrente de problemas individuais e frustrações pessoais, há uma ideologia do mal se expressando. Não é caso de polícia, é algo mais perigoso: a desobediência civil, o desrespeito, o desamor a tudo e todos.

O fato é que no momento da campanha, cada candidato apresentado parece ter a receita para “mudar o Brasil”. E nessa posição cada um deles parece despir-se de seu passado político para vestir uma capa de “santidade” com adereços de intocabilidade. Todos melhoram o Português com frases de estadista, seres puros, prestes a entregar a alma pelo Brasil. O jacaré vira cordeiro, o boitatá vira ilusório coroinha. Só a velha raposa, já conhecida, enfrenta tudo com a cara dura, certa que abocanhará sua parte do Tesouro mais uma vez. E todos prometem soluções sem olhar a realidade econômica e os cofres.  



A construção e a desconstrução da imagem de cada candidato cabe ao discernimento de cada eleitor. A continuidade da “ilusão” depende dos marqueteiros e seus truques eleitoreiros. Uma boa propaganda elege até uma pedra. Num país onde remédios e até leite são falsificados, onde produtos não correspondem à lista de seus ingredientes, onde quase tudo é golpe ou serviço em “defaut”, por que não vender a imagem de um candidato que corresponda a essa realidade? Afinal, num país de semianalfabetos, vale sempre o ataque ao inconsciente e os critérios de escolha variam. Ainda em 2018 será eleito o candidato: o de direita; o de esquerda; homem; mulher; bom de rede social; o que “roubou”, mas fez; o que fala firme, alto e seguro;  o bonito e de boa aparência; o de boa situação financeira ( pretensa garantia de que não precisa “roubar”); a religião, o de nome já conhecido; o amigo da família; o que, se presidente, disse que vai asfaltar a rua do bairro; o menos pior do que o outro; o deputado que disse que vai acabar com a violência. Qualquer outro que mostre ser tão fisiológico quanto a maioria? Tudo igual, superficial deixando tudo no estado de “Alea jacta est.” Continuam os temerários pensamentos de :“ vamos lá , para ver como é que fica”, “ depois a gente dá um jeito” etc. 



Seja lá como for, é o que a nossa sociedade produziu em 518 anos que está exposto na gôndola da eleição. Os candidatos estão todos visíveis e expostos. Suas palavras são o que há para se escutar. É tradicional saber que promessas em época de eleição dificilmente são concretizadas e que um mês depois das eleições, o eleitor não se lembra mais em quem votou. Os debates e apresentações isoladas nadam no lago das superficialidades de palavras e frases bem estudadas, conforme a receita dos marqueteiros. Receitas estudadas para Governos e população de cidades onde há furto de cabos de eletricidade do serviço de luz, água e esgoto; depredação de equipamentos públicos e escolas, pichações de locais turísticos, incêndio de ônibus de transporte público, falsificações de alimentos, destruição de telefones públicos etc., indicando um estágio anterior ao da civilização de modo que as eleições dificilmente são entendidas como um valor democrático. Aliás, temos aqui uma “democracia tentada”, uma tentativa imposta para uma população autocrática, intolerante, inflexível, autoritária, conservadora, eis que dirigida pelo ego selvagem que aparece diariamente nas intransigências do relacionamento pessoal em qualquer lugar do país seja na escola, no balcão, no trabalho, no telefone e nos lares da Nação.  Aqui o Próximo é inimigo latente.      



Tudo e todos iguais na realidade prolongada, esfolando a esperança e a fé em mudanças que não acontecerão no Brasil que queremos. Os candidatos pregam o novo, as reformas, a mudança, mas não terão força para mudar nada, a não ser cosméticas reformas no Executivo, eis que os demais poderes permanecem intocados e sendo geridos por antiga e atrasada mentalidade. Ninguém ousa falar em Constituinte. E a reforma do sistema político e do financiamento de campanha? Repensar o sistema todo é urgente. Mas quem poderá fazer isto com a mente desprendida, pensando só na Nação e seu futuro? É de se esperar que não se acumulem tantas consequências ruins antes da atitude de repensar o Governo, suas estruturas e relacionamentos com o setor privado. Isto para evitar um descontrole que leve as periferias a se revoltarem numa baderna caótica de violência fundada em raiva social , sendo desnecessário dizer contra qual parte do rebanho.



E mais, neste momento ninguém é continuação de ninguém, todos são independentes, autônomos, livres de tudo; cada um é o esperado “salvador”. Seus antigos parceiros são colocados de lado e as autoridades para as quais se ajoelhavam eram só imaginação. A mentira e o fascismo escondem a realidade. A esmagadora maioria é farinha do mesmo saco, todos são sócios do mesmo clube, todos têm na mente ideias da mesma natureza e dos mesmos objetivos: ganhar dinheiro, fazer grandes negócios, reeleger-se. E se assim não for, vai ser, pois o eleito terá que cumprir promessas para a coligação e para o partido.  E assim segue a vida em 2018 e seguintes.  90% da energia de qualquer Governo será para proveito próprio do eleito e seu grupo, o restante poderá talvez ser acrescido à evolução lenta e morna da sociedade em bens e estrutura material, mas sem dúvida para sua sanidade.  



Na vã tarefa de mudar, é certo que o Governo não é o único gerador de todas as ideias. Responsável por funções bem claras e previstas em lei, o Governo atua nas funções básicas e com verbas bem controladas, todavia, deixa-se assediar, é cediço a todo tipo de interesse privado porque seus integrantes veem ali uma grande oportunidade de negócio. A iniciativa privada gera e vive de ideais, negócios, empreendimentos e não gosta de concorrência. Encontrando interlocutor oficial, seus bons ou maus projetos só são aceitos e passam a ser objeto de grandes esquemas, se o empresário souber responder às perguntas básicas: “E o que levamos disso?”, “ E o dinheiro para a reeleição?”. Sem uma resposta agradável para todos,o empresário não terá como ver aprovada sua ideia, seu projeto.



Muitas destas perguntas já são feitas bem antes da eleição também. Depois do candidato eleito é só cobrança e realização. A casa é nossa, pensa o corruptor. E há corruptores de sempre, que dominam a geração de “ideais”, fazem candidatos e partidos e mantém-se no Poder. O descumprimento desses compromissos acionará o esquema para destruir o eleito e seu governo. Muitas vezes nem a TV identifica tal processo de imediato. 



Não é de hoje que esta prática une ambos os lados; há a fome junto da vontade de comer. Do lado dos eleitos, as “equipes” próprias, com seus “negócios” já em mente e as fornecidas pelas coligações que estão sedentas pelos negócios a fazer, pois entrarão no Governo sem eleição e terão o passaporte para todas as diversões No Jardim das Delícias e no Jardim dos Prazeres. O candidato eleito com seus assistentes e assessores tem um exército inteiro de pessoas a nomear em todos os escalões do “Poder”. São os chamados” cargos de confiança” que vão fazer o Governo do dia a dia em inúmeros setores numa total invisibilidade. São cargos a serem preenchidos por pessoas de confiança, que só geram desconfiança para a Nação e para o funcionário público de carreira. O custo é enorme, os resultados, os que os jornais nem sempre mostram, pois denúncia só existe se alguém não recebeu a sua parte prometida.   



E colocada em andamento a máquina pública, ninguém pergunta: “De onde vêm estas pessoas, qual sua qualificação, qual seu histórico, qual sua intenção?. O candidato eleito muitas vezes nunca os viu, não sabem quem são e tem que colocá-los em posição importante. Muitos têm, em dia de posse, cerimônias políticas majestosas, cheias de discursos e presenças importantes, que fazem o cidadão da calçada, o eleitor, sentir-se um mero piolho ou pertencente à casta dos intocáveis. Mas com o tempo o suado e humilhado cidadão verá na TV que aquela era só uma das festas entre a turma da futura delação premiada. 



São muitos os cavalos de Tróia que o candidato eleito terá que recepcionar e que invadirão o Governo para fazer os negócios junto aos empresários presentes e futuros, fazendo tremular as portas do Tesouro. Muitos serão os bagrinhos, os inocentes úteis, usados para a operacionalização de esquemas tidos como o “melhor jogo da história”, os almejados “golpes perfeitos”. Não é incomum que logo o bagrinho saia da lama e se transforme em piranha e traíra, endeusado e “empoderado” ao ser valorizado por seus patrões cheios de malas para viagem. Certamente, candidato a entrar para o clube dos que perguntam “Que país é esse?“ou a exclamar:“ É tudo coisa da oposição!”, “ É o imaginário acusatório “, “ Não é dinheiro público”.



O Brasil vem mostrando a cara na Operação Lava Jato, mas ainda não a lavou. Vem mostrando em verdade a qualidade do cérebro de uma cultura daninha.  A cada escândalo e operação contra a corrupção é feita a revelação de como “as coisas“ funcionam. Não é de agora, é prática de décadas e décadas de impunidade e compadrio. O Governo sempre foi uma ação entre amigos. Amigos de todos os Poderes, de todos os lugares e inclusive de falsas oposições. O fato novo é a punibilidade, as sentenças condenatórias de poderosos e as penas efetivamente executadas.  Mas nem se ouse pensar que a engenharia de corrupção e lavagem é made in Brazil; retirando-se evidentemente a parte de criatividade nacional, ela é de origem internacional do mesmo modo que a corrupção, ressalvados o exagero, a ganância e a intensidade que no Brasil foi revelada, é praticada e refinada no mundo onde houver Governo. Sistemas sofisticados que devem ter recebido muita engenharia de advogados, contadores, administradores, internautas, doleiros e bancários etc. reunidos em hotéis de grande luxo e viagens inesquecíveis.



Novamente as esperanças e a fé são que algo em 2019 mude. Que algo novo inspire os governantes e empresários. Senão tudo será igual e com dois ou três meses de Governo, o candidato eleito já terá perdido o controle sobre os nomeados, que correm na raia miúda, fazendo “negócios” para si e seus partidos, mas tudo em nome do candidato eleito. A autoridade eleita passa ao papel de inocente útil, usado pelas malhas de poder subalternos, todos assegurados pelas ameaças de não votar a favor dos projetos do Governo. Já é conhecida a qualidade e a tralha humana que envolve as campanhas. Arrisca-se a dizer que o candidato eleito é o menos culpado, pois na maioria do tempo está na mão de terceiros que o controlam e dirigem.



O problema não é a existência de coligações em si, enquanto elas atendem, dentro de um conceito democrático, a intenção de evitar a concentração de Poder, a autocracia e uma ditadura branca, mas o que com elas se faz no Brasil, a qualidade do que os coligados desejam, o que fazem e as pessoas que indicam bem como a cultura de pedidos de recompensas no cenário de preenchimento de cargos como troca de apoio a projetos.



Na prática, aproveitando-se do gigantismo estatal, as coligações governam em paralelo, fazendo seus “negócios”, usando o nome dos eleitos e usando o propósito de reunir recursos para a reeleição, sem a qual as firmas privadas sabem que os contratos estarão ameaçados pela concorrência. É esse modo de governar, advogando administrativamente interesses privados e tirando a devida comissão pecuniária que deve ser exterminado. É o jeito tradicional que foi sendo construído ao longo dos séculos para ser o centro da política e sua doença principal.  Nesse contexto, não há cultura de debate e discussão, mas imposição. Como ser democrático, se há uma missão a ser cumprida para satisfazer compromissos “políticos”?  



E então, é através de certos candidatos que ficam abertas as portas para a volta de certos grupos que derrotados nas eleições ou que delas nem participaram, adentram o Governo pelas portas dos fundos, para fornecer mão de obra para o preenchimento dos cargos onde o “negócio“ é bom. Principalmente nas bordas do Jardim das Delícias onde ficam os Jardins dos Prazeres. Assim, há muito mais a temer do que o grupo do Vice, que só recentemente chamou a atenção e pouco foi analisado.  



Se o eleito é obrigado a atender às bases de apoio, deve preencher os cargos com a tralha social que existe; velhas raposas, bandidos do passado, voltam ao Governo, tudo à revelia do eleitor, até que a Polícia Federal e o Ministério Público atuem. Mas no momento da eleição raramente os candidatos adiantam quem será o “cara” do planejamento, das finanças, da administração, da segurança, da saúde, da educação. Jamais. Não sabem ainda, pois depende das coligações. A surpresa fica para depois, quando o eleitorado já estiver dormindo novamente. Sono de dois ou quatro anos, enquanto no Jardim das Delícias tudo vai se multiplicando e reproduzindo no bolso dos eleitos e de sua trupe que enchem as burras, triplicando o patrimônio pessoal.  O Sésamo da política enche-se de riquezas e o povo dorme acuado na miséria de seus lares ou na rua.   



É o “oba–oba” da euforia das eleições. Depois é depois. É como tudo no país da Educação estropiada, dos alimentos de quinta qualidade, na saúde comprometedora, da segurança inexistente. O depois a Deus pertence. Por enquanto ele fica de costas, olhando o mar de janeiro, não notando nem o que ocorre de degradação a seus pés.   

          

“ Perguntaram um dia a Álvaro Moreyra se ele gostava de burros.

Ele respondeu: dos substantivos, sim. Dos adjetivos, não”

Pois é aos burros adjetivos do Brasil que envio o meu apelo. Para que mudem de trote enquanto é tempo. “  ( Janeiro de 1963. David Nasser.).



Com o agravamento da crise em 2019 e prolongamento para 2020, muito mais pode se perder e até mesmo anular boas intenções do Governo originalmente eleito e suas boas obras, as quais serão menosprezadas em meio à realidade adversa. Mais uma vez a gestão será afogada no dia a dia de crises políticas e pouco tempo sobrará para cumprir os preceitos constitucionais de preservar a dignidade humana numa sociedade livre, justa e solidária, erradicando a pobreza, a marginalização e reduzindo as desigualdades sociais e regionais e promovendo o bem estar de todos. Verifique-se que em 2019, a União continuará a receber a média de 3 bilhões de reais de tributos em cada dia dos 365 dias. Do total só sobrarão 30 bilhões para investir, o que representa 10 dias da receita. Como fazer mudanças, como sobreviver?  E mais, há um déficit de 139 bilhões, portanto, 46 dias de tributos fora do calendário anual. A solução seria fácil, Odorico Paraguassu, certamente, em seus lampejos de sapiência brejeira, acrescentaria 46 dias ao calendário anual e tudo ficaria resolvido. Não seria fantástico?  E o mundo teria uma nova era, a do Calendário Odoriciano. 



Necessário alertar que o nivelamento por baixo nunca foi progresso e nunca preservou a ordem, embora esteja crescendo no imaginário popular. Promessas populistas nesta hora satisfazem o eleitor incauto e são um perigo para a democracia. Em um país de tanta miséria resultante da descura e da negligência material e intelectual, alguns continuam achando por bem criar seus reinos egoicos de ganância e megalomania; imperdoável descuido de fazer um castelo de areia à beira do oceano. Mas na época das eleições são do povo, andam por onde o povo anda, prometem o que o povo quer, dizem o que o povo quer. Depois vão promove o que o povo não quer. 



Irresponsável, inconsequente, temerária e eivada de burrice será a atitude dos eleitos, se garantirem a continuação do modo de jogo político que vem condenando o país a dias de previsível baderna e descrédito generalizados.  Se não houver mudança radical, todavia, por consenso de que não é possível mais manter tal jeito de pensar e administrar, certamente a Educação continuará a ser menosprezada e as consequências serão determinantes em todos os setores. Sem Educação de qualidade, tudo estará comprometido.



Aliás, a falta de Educação de qualidade, que ajude cada estudante a se abrir para o conhecimento universal em toda sua pluralidade é hoje o maior inimigo da sociedade, dos jovens de hoje, e, portanto, do futuro. Roupas de moda, celulares, sonhos mirabolantes que lhes são incutidos, habilidades completas para dominar o celular, destreza nas redes sociais e informática, “selfies e memes” de vaidade e egocentrismo etc. vestem os jovens de hoje quase como uniforme; mas o preparo para pensar e para trabalhar? Parece que tudo é mesmo uma grande enganação, uma distração consumista fatal. E assim é que aqui “2+2=6” e os “mano tão no barato, meu!”



Nestas linhas de tanta platitude, pelo menos fica registrada a motivação para um voto, o de repúdio, de pena, de indignação, talvez inútil para mudanças, como os demais milhões de votos.



   

Odilon Reinhardt . 3.9.2018.