Tudo
como antes no quartel de Abrantes.
Em 2018 uma esquina do tempo para o Brasil,
mas ainda nada mudará.
Patacoadas oficiais e
privadas à parte, o que vemos também em 2018, é o resultado de nossa
tumultuada, controversa e pouco fiável evolução humana, permeada por um
progresso material discutível, duvidoso em sustentabilidade e igualmente
questionável quanto à verdadeira natureza do interesse público que o tem
motivado.
O cenário é da repetida crise
econômica; aumento da violência urbana, já se alastrando para as regiões rurais;
minguados resultados industriais; pífias exportações como geradoras de divisas
e um Estado excessivamente caro, atrasado, burocrático, por isso corruptível e
viciado, que deteriora a saúde e a educação, dois sustentáculos do tecido
social, da força de trabalho etc.
E mais, é cobrado o alcance
de meta fabulosa: restabelecer o nível de empregos falsamente criado por uma
economia de castelo de areia, com bases feitas com propina e fundamentos longes
do clássico e do ortodoxo. 14 milhões de empregos soam, para o mundo real, como
um marco inatingível diante dos fundamentos econômicos que efetivamente temos,
os quais não tem a energia para criar mais de 2,5 milhões de empregos por anos.
Nada mais é do que paradigma
de falsidade mirabolante com que a TV faz sonhar a população, no afã de tentar
criar um clima de retomada econômica, através do estabelecimento de um “moto”
nacional positivo, igual ao do simples cidadão apostador da loteria que ao
jogar, já sonha, imaginando-se como possível ganhador a fim de livrar-se de
seus sofridos e parcos empreendimentos de vender docinhos para festas, massas
prontas, assar churrasco, ser motorista de aplicativo etc. para assim tentar
conseguir pagar as contas no fim de cada mês. A crise é grave e vai até 2020,
segundo analista americano do norte, cujo estudo foi publicado há 4 anos , ou
seja, em janeiro de 2014.
A colheita das plantações
feitas por décadas de governos, que vem ocupando o Executivo, é agora cruel e real.
Um campo estropiado, como o que fica depois de um garimpo. A festa dessa roça chegou ao fim. Décadas de
assaltos bem enrustidos, resultaram em colheitas que iam minguando sem que se
notasse sua qualidade, tal o fascismo do discurso oficial, viciado e
manipulador da opinião pública. A grandiosidade dos eventos, no teatro simulado,
enganava a plateia, que não via nem podia entender o pano de fundo, onde resultados já vinham apresentando sinais do
destino certo em caminho errôneo, tomado pela trupe que se revezava em cenas
contínuas assaltando o caixa.
Agora o desafio. Verdadeiro,
árido, seco, triste, desolador, cruel no desemprego, trazendo em seu bojo muito
a temer, diante de reformas que estão sendo empurradas boca a baixo, como se
fossem verdadeiras panaceias no remediar de problemas que são de raiz e não de
bolso furado em consequência de gerenciamento esculhambado e negligente. Neste
sentido, é o mesmo que garantir dinheiro ao alcoólatra, sem lhe curar o
alcoolismo, equivale a garantir mais dias e noites de bebedeira e o relaxo com
o mundo em que vive.
Educação e saúde em cacos,
corrupção desenfreada, crescente violência civil em descontrole, inexplicável
falta de prioridade na aplicação de recursos e desconsideração política
epidêmica quanto à população são ervas daninhas que tomam o local das plantas
boas no campo da colheita. São Paulo e Rio, primeira e segunda economia do
país, são a amostra de um modelo estatal que resultou em caos humano e
apresentam-se como cidades, onde as pessoas
decaem rapidamente em meio ao bem propinado “progresso” material de
aparência. É o exemplo de futuro no qual as demais cidades tendem a chegar. Por
hora, uma São Paulo agonizando e um Cristo Redentor, vendo a seus pés um Rio
derretendo, talvez um Brasil que ninguém quer mais nem visitar. Nem o Exército
Nacional pode ajudar a endireitar a caótica situação social. Na lista do “The Guardian” sobre os 10 melhores
lugares do mundo para visitar no verão de 2018, não entra o Brasil. Quantas cidades do país já estão no rumo de
se tornarem o Rio, a São Paulo?
Os desencontros promovidos
por vários governos feitos por enrustidas quadrilhas de refinados assaltantes
produziram tal realidade. Em 2018, em meio a festivais de pão e circo, haverá
eleições que serão marcadas pelo continuísmo do mesmo modelo, das mesmas
práticas, das mesmas mentes, das mesmas pessoas que compõem a denominada
“classe política”, de onde muitos dos políticos profissionais vestirão roupas
de nova aparência, de palavras de ocasião, de justiceiros, reformadores e
salvadores. Mas a cultura será a mesma, buscando preservar os mesmos
pensamentos, originários de uma cultura autoritária, machista, excludente,
antidemocrática e que privilegia um clube fechado, norteado por privilégios com
no mínimo 100 anos de atraso, cartilha de mesa de cabeceira dos oportunistas,
dos salteadores e dos espertalhões. Sem mudança estrutural, sem nova concepção
para o Estado, tudo será igual e funcionará às sombras do populismo, do
caudilhismo, da nossa tendência de termos um pai, que salve a Pátria. Os males
estão no sangue como o ideal de “ agora
eu vou me fazer”; de “o Governo ser uma ação entre amigos”; de “para tudo se dá
um jeitinho”, “ a troca de favores com o chapéu alheio, o do contribuinte” etc.
Continuarão a existir as
atitudes deploráveis: o balcão de negócios, o ato de criar dificuldades para
vender facilidades, a negociação baseada em liberação de verbas e distribuição
de cargos, a venda de informações privilegiadas, a venda de emendas, medidas
provisórias e ressalvas em textos de projetos de lei e a complexa relação entre
os financiadores de campanha e o governo eleito de qualquer nível.
Políticos, os mesmos, ou
suas crias, todos norteados pelo umbigo de ganância, vaidade, ciúme, inveja,
caçando prestígio e holofote, com seus discursos falaciosos e sempre
assessorados por equipes de seguidores, técnicos e diplomados de várias
profissões, os verdadeiros arquitetos das estruturas de manutenção do poder
contra as equipes adversárias. Os chamados “bagrinhos”, que sobrevivem na
sombra do peixe grande. São os seguidores, os muitas vezes inocentes úteis, a
serem esquecidos por quem os mandou fazer. O político negará envolvimento até o
fim, querendo esquecer que mandou executar a proposta de tais serviçais.
A questão é saber que há um
sistema que origina comportamentos de tal ordem e que, se não alterado,
continuará a gerar as mesmas atitudes. A cultura política nasce e é gerada em
função da qualidade do sistema adotado. Se a acharmos que tudo está certo e que
a vida é assim mesmo, então nada mudará e as atuais e históricas operações
policiais de caça a corruptos e corruptores serão só um episódio a ser
esquecido.
Por mais que haja vontade
popular e propalado anseio de mudança, tudo permanecerá na mesma situação,
seguindo a mesma cartilha. Poderão ser novas as caras, os nomes, mas as ideais
continuarão as mesmas, com a consequente mesmice e o progressivo agravamento
dos problemas sociais. A situação é já tão decadente que há dúvida quanto aos
políticos realmente pensarem: no “povo”, nos interesses realmente públicos e
por um segundo poderem deixar de lado seus interesses pessoais ou de seus
financiadores. Tudo leva a confirmar que muitos só pensam no próprio umbigo e
tem raiva do povo. E nem se fale dos inúmeros cargos, preenchidos por indicação
de tais políticos, o que leva pessoas sem qualquer qualidade ou compromisso com
o povo a exercer cargos muito importantes em empresas públicas e de economia
mista, hoje verdadeiros paraísos com remunerações enormes e onde tais pessoas
devem desempenhar missões, com a licença “oficial” de negociar tudo.
Não importam os desejos da
população, o senso comum quanto ao Brasil desejável. As cartas do baralho já
estão na mesa para um “poker” de cartas
marcadas em todos os níveis da República.
Após o fim do jogo, tudo
será igual. Aumentará a distância do setor privado em relação ao atraso dos
órgãos públicos em termos de modernização administrativa. De um lado as
empresas geradoras do progresso, da receita tributária, do PIB e de outro lado
o Governo, tomado por políticos atrasados, fazendo a festa burocrática, num
castelo virtual, onde habita uma nobreza de questionável qualidade e que segue
seus manuais em sistemas desatualizados.
Se a vida nacional é o
resultado da soma da defesa de interesses individuais, isto até hoje pode ter
resultado em claras, graves e bisonhas realidades que ampliam para a esfera
nacional o pensamento ainda provinciano. É preciso pensar mais amplamente, ter
um senso patriótico, que eleve a Nação. O pensamento de feirinha de barracas
individuais não cabe quando se pensa em um país continental. A República hoje,
mesmo com a arrecadação tributária de mais de 1 trilhão e trezentos bilhões ao
ano, o equivalente a mais de 3 bilhões por dia, não pode continuar se debatendo
com despesas de cozinha, interação com vizinhos, o caráter duvidoso dos
investimentos no quintal.
Toda a evolução, quer seja
de uma pessoa quer seja de um país, obedece fases, como um processo, tem
começo, meio e fim. Uma Nação pode estar
doente, pode estar em declínio humano e material. Basta um erro estratégico e o
futuro fica ameaçado gravemente. Ao longo de décadas quantos foram os erros que
agora nos levam à beira do colapso material e humano? Deparamo-nos há décadas
com brigas egoicas, de umbigo contra umbigo e agora o que temos? A violência
vai aumentar geometricamente. Não é questão de crise material, é pura e grave
crise humana, defeito de qualificação, despreparo para pensar coletivamente e
atender necessidades de um mercado de trabalho novo, excludente porque
exigente.
Até um cego, que tenha
suficiente interesse no país, percebe que a deterioração humana supera o
interesse que uma nova obra, devidamente superfaturada e “propinada”, pode
acarretar na população. De nada adianta a grande avenida iluminada, se quem vai
passar por ela, é a população em péssimas condições de tudo.
É comodismo pensar que está
tudo certo, que a fórmula de progresso adotada tem dado bons resultados e que
tudo depende de recursos financeiros. Não estamos dando certo, não cumprimos a
Constituição, não atingimos objetivos para o Brasil e sua população e estamos
acomodados. Porque muitos e muitos estão com os umbigos gordos e ricos enquanto
a população sofre e é submetida cada vez mais à mentira, enganação e
manipulação de dados, tal situação comodista pode estar escondendo sinais
graves de um futuro ameaçador. Somos o país em que as leis não pegam ou pegam
só para algumas regiões e algumas
pessoas.
O progresso, falsificado na
infraestrutura, revela cada vez mais sua natureza casca de ovo. É precário, mal
distribuído, cheio de obras questionáveis. Temos construído avenidas e etc.
para gerar oportunidade de propina, sem se importar com quem vai utilizar a
obra. Os projetos não levam em consideração o Amor ao Próximo. Rodovias dividem cidades, isolam bairros etc.
A beleza da avenida raramente muda a vida do povo, o qual continua no mesmo
rumo de 100 anos atrás.
A evolução que conseguimos
até agora continua pautada pelo autoritarismo, é saldo do colonialismo, ainda
excludente; seguimos modelados pelas filosofias da linha de produção, tomadas
como referência para o comportamento fora da fábrica e do escritório. Falta a
orientação mais humana, direcionando o material para o real progresso da
sociedade humana. Somos e nutrimos o espírito de terra de fazenda e produção. A
orientação espiritual deixada para o setor religioso não parece ter sido
suficiente para conter os efeitos da contrariedade do ego explorado pela
sociedade de consumo e produção.
Vivemos em estado latente de violência, como os bárbaros, os brutos,
sempre no limite, numa camuflada “guerra civil” onde o cidadão é caçado, usado
como refém etc. E a violência não é só através do ato físico, eis que aparece no campo moral , ético e espiritual,
deixando a todos atônitos e ameaçados, enquanto o Governo de todos os níveis só
fala em recursos e sua falta, justifica as falhas com estatísticas e promessa
de já estar fazendo licitação etc. O enfoque materialista está decadente,
ultrapassado, não engana mais ninguém.
Se queremos algo, é um
Brasil do futuro, forte, soberano, com uma estrutura de serviços públicos que
não funcione só para dentro, tragada pela burocracia e controle. Um Brasil, onde ninguém diante da câmara de
filmagem para a TV diga soluçando: “ eu
sou só mais um Silva; trabalho o dia inteiro para poder sobreviver, chegar em
casa e dar comida à crianças, respirar, suspirar, comer e dar um sorriso pelo
menos, mas hoje nem isso” . Declaração feita por um pai, enquanto o filho,
assassinado ao defender a esposa num assalto em ponto de ônibus, jazia no
asfalto, no meio da rua de um bairro de periferia. A entrevista foi feita ali
no asfalto mesmo, no meio da rua, bloqueada em um trecho, onde o cadáver ficou
sendo velado no chão por mais de 13 horas, porque a polícia criminal não tinha
transporte para a remoção ao Instituto de Criminalística. Velório ali mesmo, com pai, mãe, familiares,
vizinhos, a imprensa e a televisão e várias equipes da mídia, todos
estarrecidos. Que país é este?
Muito infelizmente, diante
do continuísmo que se antevê, com toda a certeza, teremos que jogar todas as cartas a favor da
Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público para combater a corrupção,
desvio de verbas e as tendências da violência ainda aumentando. A violência que
até aqui conhecemos é só o começo, já é grave e vem sendo banalizada.
Infelizmente, aumentará a níveis de descontrole, demonstrando a ineficácia do
Governo em combatê-la na causa e na consequência. Estamos concretizando
lentamente o dito de um famoso escritor carioca ”o Brasil conhecerá a barbárie
antes de conhecer a civilização”.
Sem investimento maciço e
quantitativo em Educação, o continuísmo no Governo estará assegurado por
décadas e todo o progresso material não passará de alegoria fantasiosa,
passageira e descartável. É o país, onde bandidos saqueiam escolas; pessoas furtam
cabos de energia, deixando regiões sem água e luz; bandidos furtam de pessoas caídas na rua depois de acidentadas;
furtam postes de luz na via pública; trocam tiros na rua com a gang rival ou a
polícia; explodem bancos de dia ou à noite etc.; alteram o leite com
substâncias cancerígenas; vendem remédios falsificados; assaltam através de
golpes a Fazenda Pública; num país onde escândalos financeiros só são revelados
porque alguém foi deixado de fora.
Mas apesar de tudo, não
deixamos de ter futuro, basta fazê-lo com boas ideais e menos umbigo. Menos
cópia, mais criação a favor da Pátria. Menos Lavoisier, mais Einstein. Menos
culto ao negativo, mais esperança livre, criativa e positiva em especial na
área pública. Mais oportunidade e crédito às novas gerações que viverão o Brasil .
Ideais há, o que não há é o
encorajamento para expor, para participar, eis que uma ideia, que possa ser de
interesse público, tem que passar por um cipoal de análises de compatibilidade
com os interesses da política dominante, a qual está minada por interesses bem diferentes do
interesse público. É esta pretensa e fingida “harmonização“ que barra a
participação de pessoas idealistas. Cansado, o cidadão afasta-se, aliena-se e
resolve cuidar de sua rotina de sobrevivência e pagamento de impostos. Disto se
aproveita a classe política em seu fantasioso reinado em castelo de areia, onde
consegue fazer a nobreza da República, cara, abusiva, ineficiente e apátrida.
Por muita sorte, apesar de
toda a barafunda que virou a coisa pública e a gestão de recursos, os Poderes
da República guardaram sua independência e mostraram que governar não é mais
uma ação entre amigos e deixaram de ser um do outro um capacho. A Justiça acordou,
deixou de ser um consultório jurídico a favor dos demais. Acordou braba, consciente quanto ao seu dever
e posição de ultima fortaleza para o cidadão e sua Pátria.
Se não houver um esforço
conjunto de todos os seres bem pensantes e patrióticos em repensar a
organização do Estado, continuaremos a gastar energia produtiva enquanto o
mundo exterior avança. Um Estado gerador de empregos e principal comprador de
coisas e serviços não é mais a salvação, é coisa do passado. Não deu certo. Não
é o caminho para o futuro. Continuar colocando a empresa privada e o
empreendedorismo de lado é a receita para um bloqueio já conhecido no passado. O
Estado precisa ser readaptado aos novos tempos e demandas e ser forte e
eficiente na funções que efetivamente lhe couberem.
Mas boas ideais não podem
ficar só no domínio da informática e no ajeitamento ou melhor concepção de
coisas materiais. A Informática é somente um belo meio de gerenciamento. O
Estado não pode ficar refém de sistemas de informática e este não é o
gerenciador do país. É necessário que se pense no sistema de organização do
Estado como um todo, desde o Município até a União.
Novas concepções da
estrutura do Estado e funções para a máquina pública só serão possíveis
colocando-se o Estado numa “start-up” de interesse realmente público. Talvez
uma nova Constituinte. Ao contrário tudo permanecerá como está e em rumo de uma
situação cada vez mais grave de consequências previsíveis e doentias.
Odilon Reinhardt