sábado, 3 de fevereiro de 2018

Tudo como antes no quartel de Abrantes?












Tudo como antes no quartel de Abrantes. 
Em 2018 uma esquina do tempo para o Brasil, 
mas ainda nada mudará.  
                       


Patacoadas oficiais e privadas à parte, o que vemos também em 2018, é o resultado de nossa tumultuada, controversa e pouco fiável evolução humana, permeada por um progresso material discutível, duvidoso em sustentabilidade e igualmente questionável quanto à verdadeira natureza do interesse público que o tem motivado.
O cenário é da repetida crise econômica; aumento da violência urbana, já se alastrando para as regiões rurais; minguados resultados industriais; pífias exportações como geradoras de divisas e um Estado excessivamente caro, atrasado, burocrático, por isso corruptível e viciado, que deteriora a saúde e a educação, dois sustentáculos do tecido social, da força de trabalho etc.  
E mais, é cobrado o alcance de meta fabulosa: restabelecer o nível de empregos falsamente criado por uma economia de castelo de areia, com bases feitas com propina e fundamentos longes do clássico e do ortodoxo. 14 milhões de empregos soam, para o mundo real, como um marco inatingível diante dos  fundamentos econômicos que efetivamente temos, os quais não tem a energia para criar mais de 2,5 milhões de empregos por anos.
Nada mais é do que paradigma de falsidade mirabolante com que a TV faz sonhar a população, no afã de tentar criar um clima de retomada econômica, através do estabelecimento de um “moto” nacional positivo, igual ao do simples cidadão apostador da loteria que ao jogar, já sonha, imaginando-se como possível ganhador a fim de livrar-se de seus sofridos e parcos empreendimentos de vender docinhos para festas, massas prontas, assar churrasco, ser motorista de aplicativo etc. para assim tentar conseguir pagar as contas no fim de cada mês. A crise é grave e vai até 2020, segundo analista americano do norte, cujo estudo foi publicado há 4 anos , ou seja, em janeiro de 2014.
A colheita das plantações feitas por décadas de governos, que vem ocupando o Executivo, é agora cruel e real. Um campo estropiado, como o que fica depois de um garimpo.  A festa dessa roça chegou ao fim. Décadas de assaltos bem enrustidos, resultaram em colheitas que iam minguando sem que se notasse sua qualidade, tal o fascismo do discurso oficial, viciado e manipulador da opinião pública. A grandiosidade dos eventos, no teatro simulado, enganava a plateia, que não via nem podia entender o pano de fundo, onde  resultados já vinham apresentando sinais do destino certo em caminho errôneo, tomado pela trupe que se revezava em cenas contínuas assaltando o caixa.  
Agora o desafio. Verdadeiro, árido, seco, triste, desolador, cruel no desemprego, trazendo em seu bojo muito a temer, diante de reformas que estão sendo empurradas boca a baixo, como se fossem verdadeiras panaceias no remediar de problemas que são de raiz e não de bolso furado em consequência de gerenciamento esculhambado e negligente. Neste sentido, é o mesmo que garantir dinheiro ao alcoólatra, sem lhe curar o alcoolismo, equivale a garantir mais dias e noites de bebedeira e o relaxo com o mundo em que vive.
Educação e saúde em cacos, corrupção desenfreada, crescente violência civil em descontrole, inexplicável falta de prioridade na aplicação de recursos e desconsideração política epidêmica quanto à população são ervas daninhas que tomam o local das plantas boas no campo da colheita. São Paulo e Rio, primeira e segunda economia do país, são a amostra de um modelo estatal que resultou em caos humano e apresentam-se como cidades, onde as pessoas  decaem rapidamente em meio ao bem propinado “progresso” material de aparência. É o exemplo de futuro no qual as demais cidades tendem a chegar. Por hora, uma São Paulo agonizando e um Cristo Redentor, vendo a seus pés um Rio derretendo, talvez um Brasil que ninguém quer mais nem visitar. Nem o Exército Nacional pode ajudar a endireitar a caótica situação social.  Na lista do “The Guardian” sobre os 10 melhores lugares do mundo para visitar no verão de 2018, não entra o Brasil.  Quantas cidades do país já estão no rumo de se tornarem o Rio, a São Paulo?
Os desencontros promovidos por vários governos feitos por enrustidas quadrilhas de refinados assaltantes produziram tal realidade. Em 2018, em meio a festivais de pão e circo, haverá eleições que serão marcadas pelo continuísmo do mesmo modelo, das mesmas práticas, das mesmas mentes, das mesmas pessoas que compõem a denominada “classe política”, de onde muitos dos políticos profissionais vestirão roupas de nova aparência, de palavras de ocasião, de justiceiros, reformadores e salvadores. Mas a cultura será a mesma, buscando preservar os mesmos pensamentos, originários de uma cultura autoritária, machista, excludente, antidemocrática e que privilegia um clube fechado, norteado por privilégios com no mínimo 100 anos de atraso, cartilha de mesa de cabeceira dos oportunistas, dos salteadores e dos espertalhões. Sem mudança estrutural, sem nova concepção para o Estado, tudo será igual e funcionará às sombras do populismo, do caudilhismo, da nossa tendência de termos um pai, que salve a Pátria. Os males estão no  sangue como o ideal de “ agora eu vou me fazer”; de “o Governo ser uma ação entre amigos”; de “para tudo se dá um jeitinho”, “ a troca de favores com o chapéu alheio, o do contribuinte” etc.
Continuarão a existir as atitudes deploráveis: o balcão de negócios, o ato de criar dificuldades para vender facilidades, a negociação baseada em liberação de verbas e distribuição de cargos, a venda de informações privilegiadas, a venda de emendas, medidas provisórias e ressalvas em textos de projetos de lei e a complexa relação entre os financiadores de campanha e o governo eleito de qualquer nível.
Políticos, os mesmos, ou suas crias, todos norteados pelo umbigo de ganância, vaidade, ciúme, inveja, caçando prestígio e holofote, com seus discursos falaciosos e sempre assessorados por equipes de seguidores, técnicos e diplomados de várias profissões, os verdadeiros arquitetos das estruturas de manutenção do poder contra as equipes adversárias. Os chamados “bagrinhos”, que sobrevivem na sombra do peixe grande. São os seguidores, os muitas vezes inocentes úteis, a serem esquecidos por quem os mandou fazer. O político negará envolvimento até o fim, querendo esquecer que mandou executar a proposta de tais serviçais.
A questão é saber que há um sistema que origina comportamentos de tal ordem e que, se não alterado, continuará a gerar as mesmas atitudes. A cultura política nasce e é gerada em função da qualidade do sistema adotado. Se a acharmos que tudo está certo e que a vida é assim mesmo, então nada mudará e as atuais e históricas operações policiais de caça a corruptos e corruptores serão só um episódio a ser esquecido.
Por mais que haja vontade popular e propalado anseio de mudança, tudo permanecerá na mesma situação, seguindo a mesma cartilha. Poderão ser novas as caras, os nomes, mas as ideais continuarão as mesmas, com a consequente mesmice e o progressivo agravamento dos problemas sociais. A situação é já tão decadente que há dúvida quanto aos políticos realmente pensarem: no “povo”, nos interesses realmente públicos e por um segundo poderem deixar de lado seus interesses pessoais ou de seus financiadores. Tudo leva a confirmar que muitos só pensam no próprio umbigo e tem raiva do povo. E nem se fale dos inúmeros cargos, preenchidos por indicação de tais políticos, o que leva pessoas sem qualquer qualidade ou compromisso com o povo a exercer cargos muito importantes em empresas públicas e de economia mista, hoje verdadeiros paraísos com remunerações enormes e onde tais pessoas devem desempenhar missões, com a licença “oficial” de negociar tudo.
Não importam os desejos da população, o senso comum quanto ao Brasil desejável. As cartas do baralho já estão na mesa para um “poker” de cartas  marcadas em todos os níveis da República.
Após o fim do jogo, tudo será igual. Aumentará a distância do setor privado em relação ao atraso dos órgãos públicos em termos de modernização administrativa. De um lado as empresas geradoras do progresso, da receita tributária, do PIB e de outro lado o Governo, tomado por políticos atrasados, fazendo a festa burocrática, num castelo virtual, onde habita uma nobreza de questionável qualidade e que segue seus manuais em sistemas desatualizados.
Se a vida nacional é o resultado da soma da defesa de interesses individuais, isto até hoje pode ter resultado em claras, graves e bisonhas realidades que ampliam para a esfera nacional o pensamento ainda provinciano. É preciso pensar mais amplamente, ter um senso patriótico, que eleve a Nação. O pensamento de feirinha de barracas individuais não cabe quando se pensa em um país continental. A República hoje, mesmo com a arrecadação tributária de mais de 1 trilhão e trezentos bilhões ao ano, o equivalente a mais de 3 bilhões por dia, não pode continuar se debatendo com despesas de cozinha, interação com vizinhos, o caráter duvidoso dos investimentos no quintal.
Toda a evolução, quer seja de uma pessoa quer seja de um país, obedece fases, como um processo, tem começo, meio e fim.  Uma Nação pode estar doente, pode estar em declínio humano e material. Basta um erro estratégico e o futuro fica ameaçado gravemente. Ao longo de décadas quantos foram os erros que agora nos levam à beira do colapso material e humano? Deparamo-nos há décadas com brigas egoicas, de umbigo contra umbigo e agora o que temos? A violência vai aumentar geometricamente. Não é questão de crise material, é pura e grave crise humana, defeito de qualificação, despreparo para pensar coletivamente e atender necessidades de um mercado de trabalho novo, excludente porque exigente. 
Até um cego, que tenha suficiente interesse no país, percebe que a deterioração humana supera o interesse que uma nova obra, devidamente superfaturada e “propinada”, pode acarretar na população. De nada adianta a grande avenida iluminada, se quem vai passar por ela, é a população em péssimas condições de tudo.
É comodismo pensar que está tudo certo, que a fórmula de progresso adotada tem dado bons resultados e que tudo depende de recursos financeiros. Não estamos dando certo, não cumprimos a Constituição, não atingimos objetivos para o Brasil e sua população e estamos acomodados. Porque muitos e muitos estão com os umbigos gordos e ricos enquanto a população sofre e é submetida cada vez mais à mentira, enganação e manipulação de dados, tal situação comodista pode estar escondendo sinais graves de um futuro ameaçador. Somos o país em que as leis não pegam ou pegam só para  algumas regiões e algumas pessoas.  

O progresso, falsificado na infraestrutura, revela cada vez mais sua natureza casca de ovo. É precário, mal distribuído, cheio de obras questionáveis. Temos construído avenidas e etc. para gerar oportunidade de propina, sem se importar com quem vai utilizar a obra. Os projetos não levam em consideração o Amor ao Próximo.  Rodovias dividem cidades, isolam bairros etc. A beleza da avenida raramente muda a vida do povo, o qual continua no mesmo rumo de 100 anos atrás.
A evolução que conseguimos até agora continua pautada pelo autoritarismo, é saldo do colonialismo, ainda excludente; seguimos modelados pelas filosofias da linha de produção, tomadas como referência para o comportamento fora da fábrica e do escritório. Falta a orientação mais humana, direcionando o material para o real progresso da sociedade humana. Somos e nutrimos o espírito de terra de fazenda e produção. A orientação espiritual deixada para o setor religioso não parece ter sido suficiente para conter os efeitos da contrariedade do ego explorado pela sociedade de consumo e produção.   Vivemos em estado latente de violência, como os bárbaros, os brutos, sempre no limite, numa camuflada “guerra civil” onde o cidadão é caçado, usado como refém etc. E a violência não é só através do ato físico, eis que  aparece no campo moral , ético e espiritual, deixando a todos atônitos e ameaçados, enquanto o Governo de todos os níveis só fala em recursos e sua falta, justifica as falhas com estatísticas e promessa de já estar fazendo licitação etc. O enfoque materialista está decadente, ultrapassado, não engana mais ninguém.   
Se queremos algo, é um Brasil do futuro, forte, soberano, com uma estrutura de serviços públicos que não funcione só para dentro, tragada pela burocracia e controle.  Um Brasil, onde ninguém diante da câmara de filmagem para a TV  diga soluçando: “ eu sou só mais um Silva; trabalho o dia inteiro para poder sobreviver, chegar em casa e dar comida à crianças, respirar, suspirar, comer e dar um sorriso pelo menos, mas hoje nem isso” . Declaração feita por um pai, enquanto o filho, assassinado ao defender a esposa num assalto em ponto de ônibus, jazia no asfalto, no meio da rua de um bairro de periferia. A entrevista foi feita ali no asfalto mesmo, no meio da rua, bloqueada em um trecho, onde o cadáver ficou sendo velado no chão por mais de 13 horas, porque a polícia criminal não tinha transporte para a remoção ao Instituto de Criminalística.  Velório ali mesmo, com pai, mãe, familiares, vizinhos, a imprensa e a televisão e várias equipes da mídia, todos estarrecidos.  Que país é este?
Muito infelizmente, diante do continuísmo que se antevê, com toda a certeza,  teremos que jogar todas as cartas a favor da Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público para combater a corrupção, desvio de verbas e as tendências da violência ainda aumentando. A violência que até aqui conhecemos é só o começo, já é grave e vem sendo banalizada. Infelizmente, aumentará a níveis de descontrole, demonstrando a ineficácia do Governo em combatê-la na causa e na consequência. Estamos concretizando lentamente o dito de um famoso escritor carioca ”o Brasil conhecerá a barbárie antes de conhecer a civilização”.
Sem investimento maciço e quantitativo em Educação, o continuísmo no Governo estará assegurado por décadas e todo o progresso material não passará de alegoria fantasiosa, passageira e descartável. É o país, onde bandidos saqueiam escolas; pessoas furtam cabos de energia, deixando regiões sem água e luz; bandidos furtam de  pessoas caídas na rua depois de acidentadas; furtam postes de luz na via pública; trocam tiros na rua com a gang rival ou a polícia; explodem bancos de dia ou à noite etc.; alteram o leite com substâncias cancerígenas; vendem remédios falsificados; assaltam através de golpes a Fazenda Pública; num país onde escândalos financeiros só são revelados porque alguém foi deixado de fora.     
Mas apesar de tudo, não deixamos de ter futuro, basta fazê-lo com boas ideais e menos umbigo. Menos cópia, mais criação a favor da Pátria. Menos Lavoisier, mais Einstein. Menos culto ao negativo, mais esperança livre, criativa e positiva em especial na área pública. Mais oportunidade e crédito às novas  gerações que viverão o Brasil .
Ideais há, o que não há é o encorajamento para expor, para participar, eis que uma ideia, que possa ser de interesse público, tem que passar por um cipoal de análises de compatibilidade com os interesses da política dominante, a qual  está minada por interesses bem diferentes do interesse público. É esta pretensa e fingida “harmonização“ que barra a participação de pessoas idealistas. Cansado, o cidadão afasta-se, aliena-se e resolve cuidar de sua rotina de sobrevivência e pagamento de impostos. Disto se aproveita a classe política em seu fantasioso reinado em castelo de areia, onde consegue fazer a nobreza da República, cara, abusiva, ineficiente e apátrida. 
Por muita sorte, apesar de toda a barafunda que virou a coisa pública e a gestão de recursos, os Poderes da República guardaram sua independência e mostraram que governar não é mais uma ação entre amigos e deixaram de ser um do outro um capacho. A Justiça acordou, deixou de ser um consultório jurídico a favor dos demais.  Acordou braba, consciente quanto ao seu dever e posição de ultima fortaleza para o cidadão e sua Pátria.
Se não houver um esforço conjunto de todos os seres bem pensantes e patrióticos em repensar a organização do Estado, continuaremos a gastar energia produtiva enquanto o mundo exterior avança. Um Estado gerador de empregos e principal comprador de coisas e serviços não é mais a salvação, é coisa do passado. Não deu certo. Não é o caminho para o futuro. Continuar colocando a empresa privada e o empreendedorismo de lado é a receita para um bloqueio já conhecido no passado. O Estado precisa ser readaptado aos novos tempos e demandas e ser forte e eficiente na funções que efetivamente lhe couberem. 
Mas boas ideais não podem ficar só no domínio da informática e no ajeitamento ou melhor concepção de coisas materiais. A Informática é somente um belo meio de gerenciamento. O Estado não pode ficar refém de sistemas de informática e este não é o gerenciador do país. É necessário que se pense no sistema de organização do Estado como um todo, desde o Município até a União.
Novas concepções da estrutura do Estado e funções para a máquina pública só serão possíveis colocando-se o Estado numa “start-up” de interesse realmente público. Talvez uma nova Constituinte. Ao contrário tudo permanecerá como está e em rumo de uma situação cada vez mais grave de consequências previsíveis e doentias.
Odilon Reinhardt