Até os bananais exigem ideias novas, para sobreviver.
Com seculares problemas no
acesso à seriedade; afundando-se cada vez mais no jogo de informações e
desinformações sobre o que é realmente prioritário para a Pátria; protegendo
sua imagem através de mentiras, públicas e privadas, na constante manipulação
de dados estatísticos determinantes; aproveitando-se da alienação planejada da população, métodos
cada vez mais explícitos de permanência no Poder; enrolando-se cada vez mais na
burocracia a níveis paranoicos; gerando uma proveitosa corrupção; mantendo um
sistema de fiscalização de duvidosa natureza; vendo o Governo como ação entre
amigos do partido; promovendo gestões como negócio de balcão; preservando a
visão de um Estado como o Sésamo a ser espoliado; permitindo a ação de
quadrilhas políticas de ataque ao interesse realmente público; montando
sistemas de centralização administrativa onerosos e cheios de grandes salários;
preservando a sensação de quase nenhum medo da impunidade, já está evidente que
continuaremos como um gigante mundo, adormecido do Sul, curtindo um sono
atrapalhado por barulhentos pesadelos que se abastecem nas paradas da mesmice,
da violência e da miséria física e intelectual com alarmantes índices.
Sem Educação, não há como obter
esclarecimento, não há como entender a estrutura formal do Estado e das
instituições sociais, não há contrato entre partes, só imposição, adesão
truculenta. Não há respeito à lei, as autoridades e ao próprio Governo. Cresce
a ignorância, o fisiológico, a violência. Nem o medo de morrer é a lei. O
Estado perde a voz, a polícia mesmo insuficiente, assume o executivo das ruas e
vilas. Os programas estatais, mesmos os de conscientização para algo público
honesto, não atingem nem criam sensibilidade na população. Os Governos só falam
através da TV que o aceite. A população sem saber entender a linguagem estatal
se distancia do Governo e vive cada vez mais par ao fisiológico.
Do cenário miserável,
aproveitam-se os que desejam a mesmice, a vida como ela ficou, a população
açodada por estúpidos números da estatística, devendo-se destacar que só 8% dos
alfabetizados tem possibilidade de ler e interpretar um texto. Não é esta a semente, a raiz da árvore que
está com problemas?
Se a sociedade civil vê e
tolera silenciosamente esta festa irresponsável, esta esculhambação perigosa,
promovida por partidos e políticos, e os resultados sociais vão de mal a pior,
o óbvio está nascendo: a reação conservadora, inerente a qualquer agrupamento
humano. A persistirem as doenças nacionais, logo estaremos no Estado Policial
ou Militar como expressão máxima da incapacidade civil de se organizar
honestamente e manter a ordem e o progresso.
Diante da realidade do
tecido social, derretendo a olho nu, qual tecido esfarrapado, talvez só
organizações baseadas em disciplina, hierarquia e racionalidade possam colocar
a casa em ordem. Desta vez com amplo apoio popular, sem nenhuma chance para
choro vindo dos políticos.
Podemos estar infelizmente
presenciando os últimos momentos de um ciclo político, durante o qual a
sociedade civil não soube aproveitar a oportunidade de promover o progresso com
ordem. Não se entra aqui em especulação sobre as condições das forças militares
assumirem o comando do país, pois terão que fazê-lo, se as tendências de
deterioração persistirem. Ocorrendo tal hipótese indesejável, desta vez não
haverá comunistas, nem extremistas, nem subversivos, só uma população ansiosa
por: trabalho honesto; remuneração justa; serviço público que retorne em
qualidade o que a receita tributária retira diariamente da população ( algo
como 3,5 bilhões ao dia); Justiça e
combate à violência e organizações criminosas; moralidade na gestão pública;
empresas da iniciativa privada honestas, limpas e que produzam alimentos e
produtos de qualidade etc., etc. Os “etcs”, certamente compõem uma lista enorme
e que reflete o quão doente estamos. Que sociedade é esta que gera tanto
defeito? Que comportamentos e que pessoas surgem de tal contexto?
Por enquanto, continua
valendo o discurso barato, eleitoreiro, projetos de vereador para o ambiente
nacional, fisiologismo político, propinagem, corrupção sem medo da
punibilidade, estratégias para impressionar, visão populista para atrair votos
nos dia da eleição.
É o Brasil oral que resulta
da falta de Educação. Somos um país que lê e escreve o mínimo. Vale o que se
escuta, não o que se pode ler, vale a demagogia orquestrada pelas empresas de
marketing eleitoral, cheias de psicólogos, sociólogos, filósofos que sabem
muito bem usar as fraquezas da população, explorando-a sem limites, manipulando
a ignorância e o obscurantismo, duas bases fortes para o negativismo e revolta
com viés de atraso social, tudo com o endosso da TV. Persiste a promoção a
custos do poder econômico do candidato bem falante, charmoso etc. Certamente em
2018, a tônica será tornar cada candidato o astro salvador da Pátria, com
discurso de honesto e contra a corrupção, aquele que veio do Além para limpar a
casa e apresentar novo horizonte na Terra de Mel e Leite. Não sobrarão palavras
de crítica a tudo e todos a fim de atrair simpatizantes, em perfeita sintonia
com o que o povo pensa, mas não tem vocabulário para expressar. Nada de novos
projetos, porque a população não os entenderia e mesmo porque a grande maioria
de candidatos nem sabe o que projetar
para um país tão grande e com realidades que vão desde as barrancas do
Amazonas, a miséria litorânea de alguns Estados, à Bolsa de Valores. Expor projetos e entrar
em debates complexos seria um grande desafio para o alquebrado senso comum e
discernimento da população. Não seria campo nem mesmo para a figura do Burro de
Buridan, figura criada na Filosofia, o qual deveria escolher entre o Bem e o
Mal, mas morreu de fome diante de duas espigas de milho de igual qualidade.
Valerá a retórica, o filme
bonito, a maquiagem, a aparência, o sofisma, a meia verdade para apresentar-se
como o candidato salvador da Pátria, o que gerará empregos de sucesso, mesmo sabendo que após
as eleições tudo continuará igual e nada mudará o estado como grande corruptor,
o grande chupa–cabra do progresso e que o Estado é a grande caixa de Pandora e
está à mercê de uma mentalidade política egoica.
Partimos assim para as
eleições de 2018. Nos apresentamos como somos, com o que construímos em 518
anos, com os péssimos “ismos” que nos fizeram e ainda estão aí .
David Nasser, em 1963,
escreveu” : “Não vamos deixar que se repita com o Brasil a história daquele
homem que morava num edifício de apartamentos e quando a mulher ficou grávida,
tantos eram os amigos, tantos eram os sócios, tantos eram os responsáveis, que
se sugeriu a convocação de uma assembleia do condomínio, para saber de quem era
o filho. Este Brasil que aí está não é
filho de nada........ Não é comunista, não é democrática, não é sindicalista,
não é capitalista, é apenas um país com fome, esperando nas filas, .....este
Brasil é apenas uma pátria envergonhada. ....o mendigo que é esta Nação aguarda
à porta da igreja.”
Diante do panorama
existente, a esperança e o anseio por alguém que traga disciplina, um senso de
ordem, a preferência popular pode se deslocar para um candidato mais firme,
mais sincero, mais honesto ou um radical de direita ou de esquerda fabricado
pelo marketing eleitoreiro, hipótese que servirá de testemunho da doença social
de não aceitar debate, de odiar a democracia, de privilegiar o sargento ao
invés do tenente, de amar o autoritarismo, de repudiar a oposição, de rejeitar
a contestação.
Por trás do cenário
eleitoreiro e que em 2018 coloca o Brasil numa esquina do tempo, corremos o risco
de tudo continuar igual pelo menos no setor público, inchado, hiper valorizado
em suas funções e salários, com estruturas administrativas arcaicas e que
funcionam mais para dentro e onde sempre há algo escondido, negociatas,
esquemas, falsos interesses etc. Evidentemente
quem está comendo bem, não tolera participação nem intromissão;
acoberta-se de um autoritarismo, de uma falsa democracia , de uma diálogo de
fachada que nada muda .
Nenhuma mudança será feita,
se não se repensar o sistema público como um todo. Atitudes, comportamentos no
setor público derivam de um sistema decadente e afastado das exigências atuais.
Chegou a hora de repensar e montar um novo setor público, despojado do atual
ranço, da mortalha costurada aos séculos, impregnada do sistema monárquico,
onde o agente público sente-se um nobre, titular de direitos infindáveis no
Executivo, Legislativo e Judiciário, que andam de boca cheia, defendendo seus
benefícios acumulados e pretensamente hereditários, tudo idealizado para que se
sintam ricos e não sejam tentados a prevaricar, corromper-se. Discurso falso e
que nunca funcionou.
Só uma nova constituinte com
ampla participação popular poderá mudar o sistema público e sua decadente
mentalidade. Quando? Difícil quando os próprios interessados na preservação do
sistema serão os reformadores. Enquanto isto, a Nação perde energia em seu
caminho e é entregue às crescentes mazelas sociais que contaminam e enfraquecem
a mão de obra. Logo em 15 anos, uma Nação de velhos, que consumirão menos, que
colocarão todo o sistema baseado no consumo em cheque. Nosso PIB é fracassado e
geramos divisas mínimas com exportação. Como está a nosso investimento em
tecnologia, em inovação, em qualidade para fazer frente ao mundo exportador e
obtermos um status que nos diferencie de países africanos , digamos Angola e
Moçambique? Não temos medo do futuro e
de uma venezuelização? Sem investimento em Educação, nada sairá do mesmo. A
miopia continuará criando dependência em tudo. Dá uma sensação de ter perdido o
trem da História, não ?
Mesmo assim, em médio prazo,
estaremos preparados para a possível queda da globalização? E se ela persistir,
estaremos prontos e fortes para fazer frente à tentativa de acabar como
Estado-Nação, já que os setores de capital e finanças é que está impondo o modo
de condução dos sistemas internos de produção e trabalho, fazendo com que o
sistema político interno se curve às necessidades e interesses do capital em
detrimento da mão de obra, qualidade de emprego e remuneração? Poderá ser
falado em soberania nacional?
As identidades nacionais continuarão a ser
fragmentadas, para não dizer, esmigalhadas em nome da preservação do global.
Mas a queda do sistema globalizado poderá trazer um individualismo sem
precedentes, onde só sobreviverão os países com força institucional e reservas
monetárias para entrar em acordos comerciais bilaterais ao invés de
multilaterais. Poderíamos sobreviver em 2019, se a China e Japão pararem de
comprar? Alguém já perguntou por que
compram aqui e não de países seus vizinhos que possuem reservas minerais muito
maiores e baratas?
Nosso modo de governar, nossa
corrupção, nosso autoritarismo dos broncos, nossa falta de visão está nos
enfraquecendo de modo perigoso. Até nossos bananais precisam de nova tecnologia
administrativa e operacional, uma gestão honesta, pessoas que tenham ânimo e
possam ser livres para progredir até mesmo no setor público.
Odilon Reinhardt. 3.3.2018