Vamos
lá, aberta a caça ao pote sagrado no
Jardim das Delícias , mas...
E no silêncio dos dias do povo, muitos partidos
fazem suas reuniões para escolherem os mesmos de sempre, os que irão ser
expostos para a escolha pela população, a qual, em mais um ímpeto inconsciente,
pensará estar votando e alçando ao Poder, seus salvadores, seus “Robin Hoods”,
com espadas de renovação e flechas de justiça e mudança. “Pari passu”, setores
da vida econômica ficam de olho nos escolhidos, para ali depositarem seus
dinheiros, visando a defesa de seus múltiplos e variados interesses de momento.
Afinal, trata-se de representação popular.
Mas num ano tão importante como o de
2018, com eleições majoritárias, que assumem o papel de possibilidade de porta
de saída para a crise gerada por anos de fantasioso e inconsistente crescimento
econômico, o que se avizinha é a eleição de figuras conhecidas e ainda pior,
todos imbuídos da mesma mentalidade perniciosa : “agora eu e meu grupo de
empresas irão se fazer”, “agora irei me perpetuar e colocar os meus no Poder”,
“ agora os negócios irão bem e a favor “ etc. etc., mas certamente nada de “ eu
farei minha Pátria melhor “.
É o que a evolução do modo de fazer
política e negócios neste canto do mundo produziu até o momento. Nada de
diferente e inédito, só o que a própria vida brasileira produziu. E a imprensa,
canal especial de publicidade e de entrada diária franqueada na casa de cada
cidadão, espera com olhos ávidos quem vai montar ou desmontar. No passado
elegeu a trupe que quase tornou o Brasil, um lugar escuro do “bas-fond” no
Terceiro Mundo, mas também soube se redimir ao reportar e escancarar todos os
eventos pecaminosos de grupos políticos que assaltaram a Pátria. Seja lá como
for, com altos e baixos, sem imprensa livre não saberíamos de nada que ocorre
no Governo, não teríamos como responder à pergunta “Que país é este?” nem
contestar a frase de que “tudo não passa de uma imaginário popular”.
No entanto o momento que se formou é
sempre amenizado pela clássica e cultuada esperança e fé em renovações e
mudanças, base da mente do povo crédulo, sem o que o país mergulharia em algo
pior. Todavia, é esperança mesclada com
certo ar de desconfiança, já que nenhum dos falhos modelos de desenvolvimento,
tentados nas últimas décadas, era de fundo honesto e dirigido à estabilidade e
progresso, pelo que o crescimento e geração de empregos fantasiosos era
disfarçada estratégia para negócios bilionários que só aproveitariam a poucos.
Não há, portanto, clima para se
acreditar em salvador algum que trará modelos puros e patriotas, de interesse
para o futuro do país. Não. Haverá sim, ao contrário, continuidade de modelos simplistas e de
impacto na mídia, os modelos de faz de conta; persistirá a vida de ajeitamentos
politiqueiros, a vida de negociatas de oportunidades e conveniência pessoal,
deixando o país à mercê de “negócios”, mas de grande interesse econômico,
promovidos por cegos interessados, que não observam o país indo aos poucos para
o brejo. São pessoas e grupos de umbigo maior que o Brasil, que pouco se
importam com o geral, sabendo que o interesse é encher as burras, suficiente
para o sustento em terras estrangeiras, quando todas as pontas da mortalha se
encontrarem, empacotando a estropiada mão de obra com sua vida de consumidora,
sustentáculo do Governo com a palavra mágica: receita tributária.
A continuar a mentalidade atual, muitos
dos candidatos vão se preocupar em prometer corte de despesas, diminuição da
máquina do Executivo, e medidas para estraçalhar ainda mais o funcionário
público de carreira ao passo que continuarão a privilegiar os milhares de
cargos em comissão, preenchidos livremente por protegidos políticos,
carregadores de caixa nas campanhas, todos indicados por seus aliados da
base. A gestão continuará mambembe,
cara, ineficaz, ineficiente. Cada candidato fará o máximo para iludir o eleitor
com promessas populistas e simplórias, muitas delas cheirando ao caudilhismo.
Eleito, terá como prioridade a reeleição e seu financiamento. A preocupação
será dar cargo aos seus carregadores de caixa. Via de regra, o eleito é
acompanhado por uma tralha de apoiadores, os quais formam uma quadrilha de
“negócios”. Quem são, de onde vem? Qual sua qualificação? Entram para a “ vida
pública” pela porta dos fundos e ocupam espaço e tem passaporte para o “abuso
do poder” e o franco exercício de suas segundas intenções. Não é incomum que
montem esquemas próprios à revelia do candidato, pois é comum que pessoas se
aproveitem e usem o nome da autoridade para em seu nome fazer “negócios”.
Muitas vezes os chamados bagrinhos aprontam mesmo e o peixe grande é que vai
responder por tudo.
E mais uma vez, valerá o candidato que
falar mais agressivamente, mostrando pulso forte, aparentando ser o honesto, o
sério e indignado como se isto não fosse um já desgastado jargão, um clichê
desde os momentos mais autoritários da Humanidade. Todavia, a realidade de
nossos 96% de semianalfabetos comprará estas mensagens totalmente, porque se
encaixam perfeitamente no seu grau de autoritarismo, intolerância, prepotência,
típico do egoísmo do fisiológico e grosseiro conservadorismo das massas. Mais
uma vez não haverá debate de ideais e projetos, só a superfície de questões
mais populares.
Nenhum candidato fará discurso
referindo-se a “ Industriais do Brasil.....” ou “ Trabalhadores do
Brasil.....”, mas , sim, “ Eu vou...”, Eu farei....” , deixando por mais uma
vez promessas no ar e soltas em seu plano de Governo, incompleto, superficial e
seguramente e apartado de qualquer coisa factível. Não pode ser diferente ,
pois não conhece a fundo as realidades do Governo, pois a transparência é um
grande problema. Poucos dizem de suas ideias e projetos por causa desse
desconhecimento. Na prática, se o candidato for eleito fará mudanças
cosméticas, portanto, mais uma vez, a gestão será capenga e ilusória. Seja lá
quem for, seja lá quantos forem, ninguém mexerá no Executivo, com medo de
greves, da resistência e do desgaste político; não mexerá como Legislativo, com medo de perder apoio e
tampouco mexerá no Judiciário, com medo mórbido de ser punido. Apresentar-se
prometendo falácias populistas é fácil. Uma vez no Poder o que vale é o jogo
intrincado do Poder, dos três Poderes e dos poder dos setores organizados.
Nada será feito porque quase ninguém
neste país tem hoje a crença de que poderá dar de si e deixar de lado algum
privilégio ou interesse pessoal em prol
da Pátria, face o clima de desconfiança quanto aos “projetos” dos eleitos, que
hoje são políticos que fazem a vida política e que são os mesmos das últimas
décadas, espaço de tempo em que o Brasil perdeu o imã do progresso sustentável
e honesto.
Quer por razões políticas, quer por
razões constitucionais, quer por falta de visão, quer por falta de adesão por
parte dos defensores de interesses particulares, as medidas serão pequenas e
serão tomadas para dar satisfação ao desejo popular, mas logo tudo voltará ao
normal e a gestão será novamente engolida por problemas do dia a dia, de modo
que o programa partidário de reformas, se existente, será deixado de lado,
dando espaço para a administração por crise.
Certamente, pouco lugar haverá para
fazer reformas profundas na gestão da coisa pública com a finalidade de acabar
com realidades como a de termos um Estado que até hoje tem sido um provedor,
empregador, centralizador, dominador, operador, financiador, corruptor,
construtor e empreendedor etc., em detrimento da iniciativa privada. Com tantas
atividades, o Estado permanece imperial, o centro de tudo; gasta grande parte
do dia com ajeitamentos e menospreza sua figura de regulador, fiscalizador,
legislador e provedor de Justiça; querendo fazer e ser tudo, falha em quase
tudo, pois é caro, burocrático, amarrado e não deixa a iniciativa privada
fluir; quer gerar empregos, mas faz de tudo para atrapalhar e dificultar a
gestão privada; em muitos casos gosta de criar dificuldades para vender
facilidades. Perde-se na fiscalização.
Em 518 anos de gestão pública, o
elefante foi ficando mais caro e guloso; seu dono não se adaptou às realidades
do caixa, cultua a mentalidade burocrática, com restos do nababesco em seus
altos escalões, onde há sinecuras, mamatas típicas de pessoas que se tomam por
“nobres”, os escolhidos financiados pelo povo. Tomam o Tesouro como uma galinha
dos ovos de ouro e de vida eterna em folgado espaço de marajás.
Como fazer mudanças sem ferir a
estrutura dos negócios e interesses do “establisment”? Quem teria a força autêntica e
descompromissada de pensar na Pátria, na Nação e seu futuro? Quem teria força
para propor e implantar um “New Deal”? Uma pessoa de tal calibre parece não se
achar facilmente em 2018. De certo modo, não se pensa em um Roosevelt ou um
Vargas, bastaria que houvesse um
entendimento partidário para um pacto nacional e o presidente eleito
fosse um mero gestor do momento, para talvez uma revisão constitucional ou
mostrar pelo menos patriotismo sincero e honesto. Mas com este clima político que foi formado e
com o Estado sendo um Sésamo para qualquer Ali Babá, fica cada vez mais difícil
um entendimento patriótico e o surgimento de uma pessoa de união nacional para
liderar o processo de repensar o país.
Repensar o país, mas quem e como? Quem
deixaria seus mesquinhos interesses locais para uma reforma geral nesse clima
de defesa de umbigos e interesses escusos? Talvez seja até um equivoco pensar
que será possível montar uma reforma geral e que possa dar início de solução
para as grandes questões nacionais de uma só vez. Talvez seja o Brasil um trem fumegante que
vai se modernizando aos poucos sem
precisar parar, a não ser de tempos em tempos, em estações aleatórias onde algo
o faz ser acrescido de novos vagões. Uma evolução cara e que desperdiça energia
enquanto a diferença em relação a trens de terras estrangeiras aumenta a cada
dia. Somos facilmente sufocados por consequências de causas negligenciadas.
Qualquer novo Governo, passada a euforia da posse, afoga-se em questões
pendentes, consequências da realidade e dedica-se a soluções corriqueiras
abandonando suas ideias de renovação. Tantos são os interesses privados de
tantos setores, que a vida nacional aparenta-se a uma colcha de retalhos
perambulando nas costas de um mendigo na avenida do Tempo.
Apesar de tal reforma, com altos e
baixos, implicar democracia brasileira forjada com autoritarismo, traições e
mentiras, o fato é que de 4 em 4 anos a máquina pública é entregue a grupos
cujo “projeto de governo” é perfunctoriamente conhecido, cujos ministros e
assessores são desconhecidos e muitas vezes visivelmente desqualificados,
enquanto portadores de missões exclusivamente predatórias para o interesse
público. Para os novos ocupantes, o Governo é um excelente balcão de negócios e
só. São os “brasileiros espertos”, mas cegos quanto ao impacto de seus atos
para o país. Um trem que está em risco na sua viagem futura e que cada vez mais
chega em cada estação com menos produtos para vender e menos pessoas
capacitadas.
E quanto às questões fundamentais, quem
está falando em Educação, ciência , pesquisa? É! Mais uma vez a descura já está
anunciada. E sem Educação de qualidade, todas as estruturas do país, públicas e
privadas, não têm condição de ter boa qualidade e resultados aceitáveis. É a
mão de obra capenga que promove a produção defeituosa e a comercialização sem
ética e moral. A falta de Educação de qualidade já há muito tempo apresenta
reflexo negativo em todos os setores da vida nacional. Ética, moral e amor ao
Próximo ficam em terceiro plano no tal “capitalismo selvagem”, tocado à base de
golpes e safadezas pessoais e institucionais.
Sem produção de qualidade, sem ter o
que vender para o exterior, sem recursos no caixa, o qual é corroído por gastos
com pessoal, corrupção, desperdício e problemas de falta de distribuição
honesta de verbas, o Governo eleito em 2018 terá a missão de transformar a
depressão em medidas concretas de progresso. Mas sem entendimento nacional, o
Governo já desde o início poderá viver o clima de fim de festa, da terra devastada,
mas sempre com o ar do “malandro agulha”, o refinado falido, que vive na
euforia ilusória. Não é de se descartar que o FMI já deve estar por aí.
Certamente toda a verdade sobre a
economia será evidenciada já no início de 2019.O resultado do desentendimento
nacional será novamente posto na mesa e no bolso dos brasileiros e a Pátria
poderá mais uma vez ser conduzida ao curral das nações arrebanhadas, onde
curtirá a síndrome dos anos de cão vira lata. A quem aproveita tudo isto?
Tanta luta entre direita e esquerda e
tudo que vemos no horizonte é um pálido futuro mergulhado em procrastinações,
enquanto a violência, bruta e cada vez mais inédita, mina o tecido social; a
direita, desejando mais produção e infraestrutura com menos impostos, mas cega
quanto à esbugalhada mão de obra; a esquerda sonhando e pretendendo vender
sonhos de seu defasado socialismo, num país sem caixa; um prometendo que se
deve fazer o bolo para depois reparti-lo; o outro querendo comer o bolo antes
da hora. De direita e esquerda, não fomos a lugar algum, só demos tímidos
passos para frente, como esforço para
sair da estagnação.
Que “startup” gigantesca poderia
aceitar o desafio de solucionar tal Nação?
Enfim, 2018, o ano estranho em que
perdemos a chance de mudar, enquanto algumas hordas dos mesmos planejam suas
estratégias para atrair eleitores e ganhar a permissão para adentrar os limites
dos cofres dos Estados e União. Eleitos ou não, o que encontrarão em 2019?
Odilon Reinhardt. 3/8/2018.