segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Quem serão os "eleitos", depois das eleições?












                                              






                                            Quem serão os “eleitos” depois da eleição?









A gestão não pode continuar a ser um conjunto de atos, só para evitar a falência das contas públicas. Mas os números indicam que tal realidade vai continuar e o Jardim das Delícias continuará a atrair o umbigo de pessoas dirigidas pelas mesmas intenções predatórias que podem estar exterminando o bom futuro. 



Muitos políticos que só vivem para seu clubinho político; políticos honestos que possam ser idealistas patrióticos, mas pecam pela qualidade de seus ajudantes e coligações; políticos que se habituaram a viver do Tesouro; políticos que não pensam na Nação, só na reeleição e seu financiamento; políticos idealistas e honestos, mas sem recursos e apoio; políticos de primeira vez que serão tragados por realidades cruéis; políticos e políticos gerados pelo sistema eleitoral existente e que reflete a história de nosso sistema de representação, em evolução, e adaptando-se aos novos tempos e deixando o eleitor sem escolha. 



É sabido que quem desejar ser político ou continuar nela tem que seguir o jogo e suas regras. Há muitas batalhas dentro do partido, para o candidato nascer e ser exposto ao público. Nessas batalhas, o candidato dificilmente garante a integridade de suas ideais e planos e deixa de se comprometer com planos outros. Frequentemente a essa altura, uma vez vitorioso e na posição de ser candidato, já não ele o mesmo, mas um arquétipo, pronto a representar um papel no teatro.



Organizar-se e adotar sistemas para ganhar faz parte da liberdade humana e nada poderia ser criticado sem que se desrespeitasse o aspecto livre do humano, se tudo isto estivesse dando certo, se a vida privada não estivesse comprometida, se os serviços básicos estivessem garantidos e de boa qualidade, se o Brasil não estivesse às portas do FMI.  Infelizmente, há uma ínfima quantidade de políticos que fazem as exceções, todavia sufocadas pela realidade adversa. O atuar de muitos políticos eleitos perde-se na promiscuidade do entrelaçamento dos interesses, cumprimento das amarrações de campanha e na necessidade de financiamento. A honestidade e o interesse público são esmagados pelos jogos partidários e pelos desajeitamentos políticos diários.



Processos e procedimentos dentro desse sistema seguem as etapas de qualquer coisa criada pelo humano: há o começo, meio e fim. Entre nós os esquemas falharam e a população de todas as classes está esgotada; a reação fica por conta do futuro. No entanto, lentamente, sinais e perspectivas nos contam do futuro e diariamente fatos e fotos nos levam a acreditar que fiapos do mesmo já estão à amostra e nada é bom.



Há a cada dia mais consequências que são tratadas como causas. Mais exigências, mais necessidades são impingidas à população consumidora, mas a estrutura do Estado permanece a mesma, carente e atrasada. Mesmo assim, certas camadas de funcionários, agentes públicos e ocupantes de cargos de confiança, cegos quanto à realidade, imaginam ser uma classe de iluminados, escolhidos por Deus, para tripudiar a situação de quem lhes garante o salário espetacular em funções bem ultravalorizadas, onde podem viver dias de umbigo dourado à revelia da crise, do país, da realidade tributária, da vida do dia a dia, pouco importando o que ocorre nas aldeias em torno do castelo. Impera em muitos a megalomania, a ganância, a comparação e a feroz competição “interna corporis”, um incompreensível padrão de moralidade e honestidade, tudo vivido num, ainda mais incompreensível, ambiente infernal de mexericos e traições palacianas. São insaciáveis quanto ao Poder e seus benefícios.  



Se virou necessidade falar do novo, para mudar, reformar, substituir, o campo primeiro seria o da mentalidade acima mencionada. O ranço de alguns maus aspectos da estrutura formal remanescente da Monarquia é que deve sumir para que se construa um Estado atualizado em modernidade estrutural, que não gere a mente de nobreza, a qual não pode subsistir, quando o contribuinte é que passa fome, não tem saúde, não tem segurança e ao se aposentar tem no desejar morrer a melhor opção.



Quem aceitaria desafiar tal mentalidade? Quem mudaria pelo menos um dos aspectos da mente atrasada do país? Que candidato eleito seria tão poderoso para reformar o Estado, apagando milhares de leis de privilégios sem enfrentar uma greve nacional de consequências graves? Quem arriscaria mexer no Jardim dos Prazeres das empresas estatais, econômicas mistas e fundações, pretensamente locais, onde se faz de tudo que a estrutural estatal não comporta nem tem orçamento para fazer?   Na campanha nada se comenta sobre a realidade dentro do serviço público nos três Poderes; ninguém quer perder votos e possivelmente nenhuma reforma será aprovada posteriormente mudando o “establishment”, a nobreza no Jardim das Delícias, local de reinos ocultos, protegidos pela falta de transparência e um corporativismo eternizado.  Aparentemente, mesmo que a enorme despesa com a folha de pagamentos represente grande porcentagem da despesa do Governo, ninguém parece estar muito preocupado. A população civil foca em pontos fisiológicos e não tem conhecimento para criticar as entranhas do Estado. E tais pontos, a maioria de sofrimento e dor existencial, fornece a matéria suficiente para os candidatos demagogicamente abordarem o que o eleitor quer escutar e o populismo campeia livre.



No teatro das eleições, são muitas as promessas ligeiras, as que são direcionadas a curar problemas pontuais; os candidatos se confundem quanto a sua futura posição de modo que para contentar eleitores prometem o que competiria a um vereador, prefeito, deputado ou até presidente propor. Quanto a propostas efetivamente fundamentais, candidatos jogam frases de efeito para o povo se impressionar e engolir. Vale tudo.



Alguém está falando em fundamentos da Educação de qualidade? Alguém apresentou um plano para a Educação que não seja o ensino pobre e suficiente para a linha da produção?  Qual a proposta para despertar e valorizar o cidadão em sua totalidade como humano? Não é a falta de Educação a fonte de tudo que temos hoje em termos de violência, etc.?



Alguém está falando em deter as tendências perversas de certos “ismos” que estão contaminando as gerações e mexendo no futuro delas de modo “utterly barbaric”? Alguém está falando em conter os lados negativos do paraíso informático prometido? E a preservação da Amazônia? E a química nos produtos em geral? E a contaminação agrícola? E as drogas como centro da violência? E as causas das doenças mentais existentes e as causas geradoras de depressão, etc.? “O Brasil está doente”, palavras de pelo menos dois grandes magistrados no STF.  As soluções meramente materiais já não adiantam mais, é necessário cuidar do humano. .



Certamente ninguém ira propor ideais contra a ideologia e o negócio de seus próprios financiadores. Tampouco irá combater ou mudar o que afete a receita tributária, seja ou não ilegal, seja contra a saúde ou não. A sociedade e sua vida econômica estão estruturadas de um modo que qualquer alteração atinge a receita e agrava a crise. Como prometer mudanças de base? Nenhum candidato poderá mudar uma sociedade que se acostumou à má-fé, a tirar vantagens, a não pagar impostos, à corrupção como jeitinho, ao ganhar-ganhar, ao abuso de poder, ao “carteiraço”, outras brejeirices, etc. como costume de vida. Talvez uma árvore que se entortou desde pequena. Resta, portanto, aos Governos eleitos, nos estreitos limites orçamentários, continuar a  fazer obras, investir na cosmética, e tirar seu proveito; o resto, a própria sociedade irá ao longo das décadas se depurando ou envergando até o chão sujo. Perde-se a cada ano a oportunidade de refinar o sistema capitalista e vai-se favorecendo as ideologias de esquerda que nunca deram certo e são contra o humano livre e seus ideais de determinação. Acuada, a população vê a violência descambando para o terrorismo. Não dá para banalizar, pois é puro sinal de descompromisso com o Próximo e com a democracia. Não é só revolta individual decorrente de problemas individuais e frustrações pessoais, há uma ideologia do mal se expressando. Não é caso de polícia, é algo mais perigoso: a desobediência civil, o desrespeito, o desamor a tudo e todos.

O fato é que no momento da campanha, cada candidato apresentado parece ter a receita para “mudar o Brasil”. E nessa posição cada um deles parece despir-se de seu passado político para vestir uma capa de “santidade” com adereços de intocabilidade. Todos melhoram o Português com frases de estadista, seres puros, prestes a entregar a alma pelo Brasil. O jacaré vira cordeiro, o boitatá vira ilusório coroinha. Só a velha raposa, já conhecida, enfrenta tudo com a cara dura, certa que abocanhará sua parte do Tesouro mais uma vez. E todos prometem soluções sem olhar a realidade econômica e os cofres.  



A construção e a desconstrução da imagem de cada candidato cabe ao discernimento de cada eleitor. A continuidade da “ilusão” depende dos marqueteiros e seus truques eleitoreiros. Uma boa propaganda elege até uma pedra. Num país onde remédios e até leite são falsificados, onde produtos não correspondem à lista de seus ingredientes, onde quase tudo é golpe ou serviço em “defaut”, por que não vender a imagem de um candidato que corresponda a essa realidade? Afinal, num país de semianalfabetos, vale sempre o ataque ao inconsciente e os critérios de escolha variam. Ainda em 2018 será eleito o candidato: o de direita; o de esquerda; homem; mulher; bom de rede social; o que “roubou”, mas fez; o que fala firme, alto e seguro;  o bonito e de boa aparência; o de boa situação financeira ( pretensa garantia de que não precisa “roubar”); a religião, o de nome já conhecido; o amigo da família; o que, se presidente, disse que vai asfaltar a rua do bairro; o menos pior do que o outro; o deputado que disse que vai acabar com a violência. Qualquer outro que mostre ser tão fisiológico quanto a maioria? Tudo igual, superficial deixando tudo no estado de “Alea jacta est.” Continuam os temerários pensamentos de :“ vamos lá , para ver como é que fica”, “ depois a gente dá um jeito” etc. 



Seja lá como for, é o que a nossa sociedade produziu em 518 anos que está exposto na gôndola da eleição. Os candidatos estão todos visíveis e expostos. Suas palavras são o que há para se escutar. É tradicional saber que promessas em época de eleição dificilmente são concretizadas e que um mês depois das eleições, o eleitor não se lembra mais em quem votou. Os debates e apresentações isoladas nadam no lago das superficialidades de palavras e frases bem estudadas, conforme a receita dos marqueteiros. Receitas estudadas para Governos e população de cidades onde há furto de cabos de eletricidade do serviço de luz, água e esgoto; depredação de equipamentos públicos e escolas, pichações de locais turísticos, incêndio de ônibus de transporte público, falsificações de alimentos, destruição de telefones públicos etc., indicando um estágio anterior ao da civilização de modo que as eleições dificilmente são entendidas como um valor democrático. Aliás, temos aqui uma “democracia tentada”, uma tentativa imposta para uma população autocrática, intolerante, inflexível, autoritária, conservadora, eis que dirigida pelo ego selvagem que aparece diariamente nas intransigências do relacionamento pessoal em qualquer lugar do país seja na escola, no balcão, no trabalho, no telefone e nos lares da Nação.  Aqui o Próximo é inimigo latente.      



Tudo e todos iguais na realidade prolongada, esfolando a esperança e a fé em mudanças que não acontecerão no Brasil que queremos. Os candidatos pregam o novo, as reformas, a mudança, mas não terão força para mudar nada, a não ser cosméticas reformas no Executivo, eis que os demais poderes permanecem intocados e sendo geridos por antiga e atrasada mentalidade. Ninguém ousa falar em Constituinte. E a reforma do sistema político e do financiamento de campanha? Repensar o sistema todo é urgente. Mas quem poderá fazer isto com a mente desprendida, pensando só na Nação e seu futuro? É de se esperar que não se acumulem tantas consequências ruins antes da atitude de repensar o Governo, suas estruturas e relacionamentos com o setor privado. Isto para evitar um descontrole que leve as periferias a se revoltarem numa baderna caótica de violência fundada em raiva social , sendo desnecessário dizer contra qual parte do rebanho.



E mais, neste momento ninguém é continuação de ninguém, todos são independentes, autônomos, livres de tudo; cada um é o esperado “salvador”. Seus antigos parceiros são colocados de lado e as autoridades para as quais se ajoelhavam eram só imaginação. A mentira e o fascismo escondem a realidade. A esmagadora maioria é farinha do mesmo saco, todos são sócios do mesmo clube, todos têm na mente ideias da mesma natureza e dos mesmos objetivos: ganhar dinheiro, fazer grandes negócios, reeleger-se. E se assim não for, vai ser, pois o eleito terá que cumprir promessas para a coligação e para o partido.  E assim segue a vida em 2018 e seguintes.  90% da energia de qualquer Governo será para proveito próprio do eleito e seu grupo, o restante poderá talvez ser acrescido à evolução lenta e morna da sociedade em bens e estrutura material, mas sem dúvida para sua sanidade.  



Na vã tarefa de mudar, é certo que o Governo não é o único gerador de todas as ideias. Responsável por funções bem claras e previstas em lei, o Governo atua nas funções básicas e com verbas bem controladas, todavia, deixa-se assediar, é cediço a todo tipo de interesse privado porque seus integrantes veem ali uma grande oportunidade de negócio. A iniciativa privada gera e vive de ideais, negócios, empreendimentos e não gosta de concorrência. Encontrando interlocutor oficial, seus bons ou maus projetos só são aceitos e passam a ser objeto de grandes esquemas, se o empresário souber responder às perguntas básicas: “E o que levamos disso?”, “ E o dinheiro para a reeleição?”. Sem uma resposta agradável para todos,o empresário não terá como ver aprovada sua ideia, seu projeto.



Muitas destas perguntas já são feitas bem antes da eleição também. Depois do candidato eleito é só cobrança e realização. A casa é nossa, pensa o corruptor. E há corruptores de sempre, que dominam a geração de “ideais”, fazem candidatos e partidos e mantém-se no Poder. O descumprimento desses compromissos acionará o esquema para destruir o eleito e seu governo. Muitas vezes nem a TV identifica tal processo de imediato. 



Não é de hoje que esta prática une ambos os lados; há a fome junto da vontade de comer. Do lado dos eleitos, as “equipes” próprias, com seus “negócios” já em mente e as fornecidas pelas coligações que estão sedentas pelos negócios a fazer, pois entrarão no Governo sem eleição e terão o passaporte para todas as diversões No Jardim das Delícias e no Jardim dos Prazeres. O candidato eleito com seus assistentes e assessores tem um exército inteiro de pessoas a nomear em todos os escalões do “Poder”. São os chamados” cargos de confiança” que vão fazer o Governo do dia a dia em inúmeros setores numa total invisibilidade. São cargos a serem preenchidos por pessoas de confiança, que só geram desconfiança para a Nação e para o funcionário público de carreira. O custo é enorme, os resultados, os que os jornais nem sempre mostram, pois denúncia só existe se alguém não recebeu a sua parte prometida.   



E colocada em andamento a máquina pública, ninguém pergunta: “De onde vêm estas pessoas, qual sua qualificação, qual seu histórico, qual sua intenção?. O candidato eleito muitas vezes nunca os viu, não sabem quem são e tem que colocá-los em posição importante. Muitos têm, em dia de posse, cerimônias políticas majestosas, cheias de discursos e presenças importantes, que fazem o cidadão da calçada, o eleitor, sentir-se um mero piolho ou pertencente à casta dos intocáveis. Mas com o tempo o suado e humilhado cidadão verá na TV que aquela era só uma das festas entre a turma da futura delação premiada. 



São muitos os cavalos de Tróia que o candidato eleito terá que recepcionar e que invadirão o Governo para fazer os negócios junto aos empresários presentes e futuros, fazendo tremular as portas do Tesouro. Muitos serão os bagrinhos, os inocentes úteis, usados para a operacionalização de esquemas tidos como o “melhor jogo da história”, os almejados “golpes perfeitos”. Não é incomum que logo o bagrinho saia da lama e se transforme em piranha e traíra, endeusado e “empoderado” ao ser valorizado por seus patrões cheios de malas para viagem. Certamente, candidato a entrar para o clube dos que perguntam “Que país é esse?“ou a exclamar:“ É tudo coisa da oposição!”, “ É o imaginário acusatório “, “ Não é dinheiro público”.



O Brasil vem mostrando a cara na Operação Lava Jato, mas ainda não a lavou. Vem mostrando em verdade a qualidade do cérebro de uma cultura daninha.  A cada escândalo e operação contra a corrupção é feita a revelação de como “as coisas“ funcionam. Não é de agora, é prática de décadas e décadas de impunidade e compadrio. O Governo sempre foi uma ação entre amigos. Amigos de todos os Poderes, de todos os lugares e inclusive de falsas oposições. O fato novo é a punibilidade, as sentenças condenatórias de poderosos e as penas efetivamente executadas.  Mas nem se ouse pensar que a engenharia de corrupção e lavagem é made in Brazil; retirando-se evidentemente a parte de criatividade nacional, ela é de origem internacional do mesmo modo que a corrupção, ressalvados o exagero, a ganância e a intensidade que no Brasil foi revelada, é praticada e refinada no mundo onde houver Governo. Sistemas sofisticados que devem ter recebido muita engenharia de advogados, contadores, administradores, internautas, doleiros e bancários etc. reunidos em hotéis de grande luxo e viagens inesquecíveis.



Novamente as esperanças e a fé são que algo em 2019 mude. Que algo novo inspire os governantes e empresários. Senão tudo será igual e com dois ou três meses de Governo, o candidato eleito já terá perdido o controle sobre os nomeados, que correm na raia miúda, fazendo “negócios” para si e seus partidos, mas tudo em nome do candidato eleito. A autoridade eleita passa ao papel de inocente útil, usado pelas malhas de poder subalternos, todos assegurados pelas ameaças de não votar a favor dos projetos do Governo. Já é conhecida a qualidade e a tralha humana que envolve as campanhas. Arrisca-se a dizer que o candidato eleito é o menos culpado, pois na maioria do tempo está na mão de terceiros que o controlam e dirigem.



O problema não é a existência de coligações em si, enquanto elas atendem, dentro de um conceito democrático, a intenção de evitar a concentração de Poder, a autocracia e uma ditadura branca, mas o que com elas se faz no Brasil, a qualidade do que os coligados desejam, o que fazem e as pessoas que indicam bem como a cultura de pedidos de recompensas no cenário de preenchimento de cargos como troca de apoio a projetos.



Na prática, aproveitando-se do gigantismo estatal, as coligações governam em paralelo, fazendo seus “negócios”, usando o nome dos eleitos e usando o propósito de reunir recursos para a reeleição, sem a qual as firmas privadas sabem que os contratos estarão ameaçados pela concorrência. É esse modo de governar, advogando administrativamente interesses privados e tirando a devida comissão pecuniária que deve ser exterminado. É o jeito tradicional que foi sendo construído ao longo dos séculos para ser o centro da política e sua doença principal.  Nesse contexto, não há cultura de debate e discussão, mas imposição. Como ser democrático, se há uma missão a ser cumprida para satisfazer compromissos “políticos”?  



E então, é através de certos candidatos que ficam abertas as portas para a volta de certos grupos que derrotados nas eleições ou que delas nem participaram, adentram o Governo pelas portas dos fundos, para fornecer mão de obra para o preenchimento dos cargos onde o “negócio“ é bom. Principalmente nas bordas do Jardim das Delícias onde ficam os Jardins dos Prazeres. Assim, há muito mais a temer do que o grupo do Vice, que só recentemente chamou a atenção e pouco foi analisado.  



Se o eleito é obrigado a atender às bases de apoio, deve preencher os cargos com a tralha social que existe; velhas raposas, bandidos do passado, voltam ao Governo, tudo à revelia do eleitor, até que a Polícia Federal e o Ministério Público atuem. Mas no momento da eleição raramente os candidatos adiantam quem será o “cara” do planejamento, das finanças, da administração, da segurança, da saúde, da educação. Jamais. Não sabem ainda, pois depende das coligações. A surpresa fica para depois, quando o eleitorado já estiver dormindo novamente. Sono de dois ou quatro anos, enquanto no Jardim das Delícias tudo vai se multiplicando e reproduzindo no bolso dos eleitos e de sua trupe que enchem as burras, triplicando o patrimônio pessoal.  O Sésamo da política enche-se de riquezas e o povo dorme acuado na miséria de seus lares ou na rua.   



É o “oba–oba” da euforia das eleições. Depois é depois. É como tudo no país da Educação estropiada, dos alimentos de quinta qualidade, na saúde comprometedora, da segurança inexistente. O depois a Deus pertence. Por enquanto ele fica de costas, olhando o mar de janeiro, não notando nem o que ocorre de degradação a seus pés.   

          

“ Perguntaram um dia a Álvaro Moreyra se ele gostava de burros.

Ele respondeu: dos substantivos, sim. Dos adjetivos, não”

Pois é aos burros adjetivos do Brasil que envio o meu apelo. Para que mudem de trote enquanto é tempo. “  ( Janeiro de 1963. David Nasser.).



Com o agravamento da crise em 2019 e prolongamento para 2020, muito mais pode se perder e até mesmo anular boas intenções do Governo originalmente eleito e suas boas obras, as quais serão menosprezadas em meio à realidade adversa. Mais uma vez a gestão será afogada no dia a dia de crises políticas e pouco tempo sobrará para cumprir os preceitos constitucionais de preservar a dignidade humana numa sociedade livre, justa e solidária, erradicando a pobreza, a marginalização e reduzindo as desigualdades sociais e regionais e promovendo o bem estar de todos. Verifique-se que em 2019, a União continuará a receber a média de 3 bilhões de reais de tributos em cada dia dos 365 dias. Do total só sobrarão 30 bilhões para investir, o que representa 10 dias da receita. Como fazer mudanças, como sobreviver?  E mais, há um déficit de 139 bilhões, portanto, 46 dias de tributos fora do calendário anual. A solução seria fácil, Odorico Paraguassu, certamente, em seus lampejos de sapiência brejeira, acrescentaria 46 dias ao calendário anual e tudo ficaria resolvido. Não seria fantástico?  E o mundo teria uma nova era, a do Calendário Odoriciano. 



Necessário alertar que o nivelamento por baixo nunca foi progresso e nunca preservou a ordem, embora esteja crescendo no imaginário popular. Promessas populistas nesta hora satisfazem o eleitor incauto e são um perigo para a democracia. Em um país de tanta miséria resultante da descura e da negligência material e intelectual, alguns continuam achando por bem criar seus reinos egoicos de ganância e megalomania; imperdoável descuido de fazer um castelo de areia à beira do oceano. Mas na época das eleições são do povo, andam por onde o povo anda, prometem o que o povo quer, dizem o que o povo quer. Depois vão promove o que o povo não quer. 



Irresponsável, inconsequente, temerária e eivada de burrice será a atitude dos eleitos, se garantirem a continuação do modo de jogo político que vem condenando o país a dias de previsível baderna e descrédito generalizados.  Se não houver mudança radical, todavia, por consenso de que não é possível mais manter tal jeito de pensar e administrar, certamente a Educação continuará a ser menosprezada e as consequências serão determinantes em todos os setores. Sem Educação de qualidade, tudo estará comprometido.



Aliás, a falta de Educação de qualidade, que ajude cada estudante a se abrir para o conhecimento universal em toda sua pluralidade é hoje o maior inimigo da sociedade, dos jovens de hoje, e, portanto, do futuro. Roupas de moda, celulares, sonhos mirabolantes que lhes são incutidos, habilidades completas para dominar o celular, destreza nas redes sociais e informática, “selfies e memes” de vaidade e egocentrismo etc. vestem os jovens de hoje quase como uniforme; mas o preparo para pensar e para trabalhar? Parece que tudo é mesmo uma grande enganação, uma distração consumista fatal. E assim é que aqui “2+2=6” e os “mano tão no barato, meu!”



Nestas linhas de tanta platitude, pelo menos fica registrada a motivação para um voto, o de repúdio, de pena, de indignação, talvez inútil para mudanças, como os demais milhões de votos.



   

Odilon Reinhardt . 3.9.2018.