Quem serão os “eleitos” depois da eleição?
A gestão não pode continuar a ser um conjunto de atos, só para evitar a
falência das contas públicas. Mas os números indicam que tal realidade vai
continuar e o Jardim das Delícias continuará a atrair o umbigo de pessoas
dirigidas pelas mesmas intenções predatórias que podem estar exterminando o bom
futuro.
Muitos políticos que só vivem para seu clubinho político; políticos
honestos que possam ser idealistas patrióticos, mas pecam pela qualidade de
seus ajudantes e coligações; políticos que se habituaram a viver do Tesouro;
políticos que não pensam na Nação, só na reeleição e seu financiamento;
políticos idealistas e honestos, mas sem recursos e apoio; políticos de
primeira vez que serão tragados por realidades cruéis; políticos e políticos
gerados pelo sistema eleitoral existente e que reflete a história de nosso
sistema de representação, em evolução, e adaptando-se aos novos tempos e
deixando o eleitor sem escolha.
É sabido que quem desejar ser político ou continuar nela tem que seguir
o jogo e suas regras. Há muitas batalhas dentro do partido, para o candidato
nascer e ser exposto ao público. Nessas batalhas, o candidato dificilmente
garante a integridade de suas ideais e planos e deixa de se comprometer com
planos outros. Frequentemente a essa altura, uma vez vitorioso e na posição de
ser candidato, já não ele o mesmo, mas um arquétipo, pronto a representar um
papel no teatro.
Organizar-se e adotar sistemas para ganhar faz parte da liberdade humana
e nada poderia ser criticado sem que se desrespeitasse o aspecto livre do
humano, se tudo isto estivesse dando certo, se a vida privada não estivesse
comprometida, se os serviços básicos estivessem garantidos e de boa qualidade,
se o Brasil não estivesse às portas do FMI.
Infelizmente, há uma ínfima quantidade de políticos que fazem as
exceções, todavia sufocadas pela realidade adversa. O atuar de muitos políticos
eleitos perde-se na promiscuidade do entrelaçamento dos interesses, cumprimento
das amarrações de campanha e na necessidade de financiamento. A honestidade e o
interesse público são esmagados pelos jogos partidários e pelos desajeitamentos
políticos diários.
Processos e procedimentos dentro desse sistema seguem as etapas de
qualquer coisa criada pelo humano: há o começo, meio e fim. Entre nós os esquemas
falharam e a população de todas as classes está esgotada; a reação fica por
conta do futuro. No entanto, lentamente, sinais e perspectivas nos contam do
futuro e diariamente fatos e fotos nos levam a acreditar que fiapos do mesmo já
estão à amostra e nada é bom.
Há a cada dia mais consequências que são tratadas como causas. Mais
exigências, mais necessidades são impingidas à população consumidora, mas a
estrutura do Estado permanece a mesma, carente e atrasada. Mesmo assim, certas
camadas de funcionários, agentes públicos e ocupantes de cargos de confiança,
cegos quanto à realidade, imaginam ser uma classe de iluminados, escolhidos por
Deus, para tripudiar a situação de quem lhes garante o salário espetacular em
funções bem ultravalorizadas, onde podem viver dias de umbigo dourado à revelia
da crise, do país, da realidade tributária, da vida do dia a dia, pouco
importando o que ocorre nas aldeias em torno do castelo. Impera em muitos a
megalomania, a ganância, a comparação e a feroz competição “interna corporis”,
um incompreensível padrão de moralidade e honestidade, tudo vivido num, ainda
mais incompreensível, ambiente infernal de mexericos e traições palacianas. São
insaciáveis quanto ao Poder e seus benefícios.
Se virou necessidade falar do novo, para mudar, reformar, substituir, o
campo primeiro seria o da mentalidade acima mencionada. O ranço de alguns maus
aspectos da estrutura formal remanescente da Monarquia é que deve sumir para
que se construa um Estado atualizado em modernidade estrutural, que não gere a
mente de nobreza, a qual não pode subsistir, quando o contribuinte é que passa
fome, não tem saúde, não tem segurança e ao se aposentar tem no desejar morrer
a melhor opção.
Quem aceitaria desafiar tal mentalidade? Quem mudaria pelo menos um dos
aspectos da mente atrasada do país? Que candidato eleito seria tão poderoso
para reformar o Estado, apagando milhares de leis de privilégios sem enfrentar
uma greve nacional de consequências graves? Quem arriscaria mexer no Jardim dos
Prazeres das empresas estatais, econômicas mistas e fundações, pretensamente
locais, onde se faz de tudo que a estrutural estatal não comporta nem tem
orçamento para fazer? Na campanha nada
se comenta sobre a realidade dentro do serviço público nos três Poderes;
ninguém quer perder votos e possivelmente nenhuma reforma será aprovada
posteriormente mudando o “establishment”, a nobreza no Jardim das Delícias,
local de reinos ocultos, protegidos pela falta de transparência e um
corporativismo eternizado. Aparentemente,
mesmo que a enorme despesa com a folha de pagamentos represente grande
porcentagem da despesa do Governo, ninguém parece estar muito preocupado. A
população civil foca em pontos fisiológicos e não tem conhecimento para
criticar as entranhas do Estado. E tais pontos, a maioria de sofrimento e dor
existencial, fornece a matéria suficiente para os candidatos demagogicamente
abordarem o que o eleitor quer escutar e o populismo campeia livre.
No teatro das eleições, são muitas as promessas ligeiras, as que são
direcionadas a curar problemas pontuais; os candidatos se confundem quanto a
sua futura posição de modo que para contentar eleitores prometem o que
competiria a um vereador, prefeito, deputado ou até presidente propor. Quanto a
propostas efetivamente fundamentais, candidatos jogam frases de efeito para o
povo se impressionar e engolir. Vale tudo.
Alguém está falando em fundamentos da Educação de qualidade? Alguém
apresentou um plano para a Educação que não seja o ensino pobre e suficiente
para a linha da produção? Qual a
proposta para despertar e valorizar o cidadão em sua totalidade como humano? Não
é a falta de Educação a fonte de tudo que temos hoje em termos de violência,
etc.?
Alguém está falando em deter as tendências perversas de certos “ismos”
que estão contaminando as gerações e mexendo no futuro delas de modo “utterly
barbaric”? Alguém está falando em conter os lados negativos do paraíso
informático prometido? E a preservação da Amazônia? E a química nos produtos em
geral? E a contaminação agrícola? E as drogas como centro da violência? E as
causas das doenças mentais existentes e as causas geradoras de depressão, etc.?
“O Brasil está doente”, palavras de pelo menos dois grandes magistrados no
STF. As soluções meramente materiais já
não adiantam mais, é necessário cuidar do humano. .
Certamente ninguém ira propor ideais
contra a ideologia e o negócio de seus próprios financiadores. Tampouco irá
combater ou mudar o que afete a receita tributária, seja ou não ilegal, seja
contra a saúde ou não. A sociedade e sua vida econômica estão estruturadas de
um modo que qualquer alteração atinge a receita e agrava a crise. Como prometer
mudanças de base? Nenhum candidato poderá mudar uma sociedade que se acostumou
à má-fé, a tirar vantagens, a não pagar impostos, à corrupção como jeitinho, ao
ganhar-ganhar, ao abuso de poder, ao “carteiraço”, outras brejeirices, etc.
como costume de vida. Talvez uma árvore que se entortou desde pequena. Resta,
portanto, aos Governos eleitos, nos estreitos limites orçamentários, continuar
a fazer obras, investir na cosmética, e
tirar seu proveito; o resto, a própria sociedade irá ao longo das décadas se
depurando ou envergando até o chão sujo. Perde-se a cada ano a oportunidade de
refinar o sistema capitalista e vai-se favorecendo as ideologias de esquerda
que nunca deram certo e são contra o humano livre e seus ideais de
determinação. Acuada, a população vê a violência descambando para o terrorismo.
Não dá para banalizar, pois é puro sinal de descompromisso com o Próximo e com
a democracia. Não é só revolta individual decorrente de problemas individuais e
frustrações pessoais, há uma ideologia do mal se expressando. Não é caso de
polícia, é algo mais perigoso: a desobediência civil, o desrespeito, o desamor
a tudo e todos.
O fato é que no momento da campanha, cada candidato apresentado parece
ter a receita para “mudar o Brasil”. E nessa posição cada um deles parece
despir-se de seu passado político para vestir uma capa de “santidade” com
adereços de intocabilidade. Todos melhoram o Português com frases de estadista,
seres puros, prestes a entregar a alma pelo Brasil. O jacaré vira cordeiro, o
boitatá vira ilusório coroinha. Só a velha raposa, já conhecida, enfrenta tudo
com a cara dura, certa que abocanhará sua parte do Tesouro mais uma vez. E
todos prometem soluções sem olhar a realidade econômica e os cofres.
A construção e a desconstrução da imagem de cada candidato cabe ao
discernimento de cada eleitor. A continuidade da “ilusão” depende dos
marqueteiros e seus truques eleitoreiros. Uma boa propaganda elege até uma
pedra. Num país onde remédios e até leite são falsificados, onde produtos não
correspondem à lista de seus ingredientes, onde quase tudo é golpe ou serviço
em “defaut”, por que não vender a imagem de um candidato que corresponda a essa
realidade? Afinal, num país de semianalfabetos, vale sempre o ataque ao
inconsciente e os critérios de escolha variam. Ainda em 2018 será eleito o
candidato: o de direita; o de esquerda; homem; mulher; bom de rede social; o
que “roubou”, mas fez; o que fala firme, alto e seguro; o bonito e de boa aparência; o de boa situação
financeira ( pretensa garantia de que não precisa “roubar”); a religião, o de
nome já conhecido; o amigo da família; o que, se presidente, disse que vai
asfaltar a rua do bairro; o menos pior do que o outro; o deputado que disse que
vai acabar com a violência. Qualquer outro que mostre ser tão fisiológico
quanto a maioria? Tudo igual, superficial deixando tudo no estado de “Alea
jacta est.” Continuam os temerários pensamentos de :“ vamos lá , para ver como
é que fica”, “ depois a gente dá um jeito” etc.
Seja lá como for, é o que a nossa sociedade produziu em 518 anos que
está exposto na gôndola da eleição. Os candidatos estão todos visíveis e
expostos. Suas palavras são o que há para se escutar. É tradicional saber que
promessas em época de eleição dificilmente são concretizadas e que um mês
depois das eleições, o eleitor não se lembra mais em quem votou. Os debates e
apresentações isoladas nadam no lago das superficialidades de palavras e frases
bem estudadas, conforme a receita dos marqueteiros. Receitas estudadas para
Governos e população de cidades onde há furto de cabos de eletricidade do
serviço de luz, água e esgoto; depredação de equipamentos públicos e escolas,
pichações de locais turísticos, incêndio de ônibus de transporte público,
falsificações de alimentos, destruição de telefones públicos etc., indicando um
estágio anterior ao da civilização de modo que as eleições dificilmente são
entendidas como um valor democrático. Aliás, temos aqui uma “democracia
tentada”, uma tentativa imposta para uma população autocrática, intolerante,
inflexível, autoritária, conservadora, eis que dirigida pelo ego selvagem que
aparece diariamente nas intransigências do relacionamento pessoal em qualquer
lugar do país seja na escola, no balcão, no trabalho, no telefone e nos lares
da Nação. Aqui o Próximo é inimigo
latente.
Tudo e todos iguais na realidade prolongada, esfolando a esperança e a
fé em mudanças que não acontecerão no Brasil que queremos. Os candidatos pregam
o novo, as reformas, a mudança, mas não terão força para mudar nada, a não ser
cosméticas reformas no Executivo, eis que os demais poderes permanecem
intocados e sendo geridos por antiga e atrasada mentalidade. Ninguém ousa falar
em Constituinte. E a reforma do sistema político e do financiamento de
campanha? Repensar o sistema todo é urgente. Mas quem poderá fazer isto com a
mente desprendida, pensando só na Nação e seu futuro? É de se esperar que não
se acumulem tantas consequências ruins antes da atitude de repensar o Governo,
suas estruturas e relacionamentos com o setor privado. Isto para evitar um
descontrole que leve as periferias a se revoltarem numa baderna caótica de
violência fundada em raiva social , sendo desnecessário dizer contra qual parte
do rebanho.
E mais, neste momento ninguém é continuação de ninguém, todos são
independentes, autônomos, livres de tudo; cada um é o esperado “salvador”. Seus
antigos parceiros são colocados de lado e as autoridades para as quais se
ajoelhavam eram só imaginação. A mentira e o fascismo escondem a realidade. A
esmagadora maioria é farinha do mesmo saco, todos são sócios do mesmo clube,
todos têm na mente ideias da mesma natureza e dos mesmos objetivos: ganhar
dinheiro, fazer grandes negócios, reeleger-se. E se assim não for, vai ser,
pois o eleito terá que cumprir promessas para a coligação e para o
partido. E assim segue a vida em 2018 e
seguintes. 90% da energia de qualquer
Governo será para proveito próprio do eleito e seu grupo, o restante poderá
talvez ser acrescido à evolução lenta e morna da sociedade em bens e estrutura
material, mas sem dúvida para sua sanidade.
Na vã tarefa de mudar, é certo que o Governo não é o único gerador de
todas as ideias. Responsável por funções bem claras e previstas em lei, o Governo
atua nas funções básicas e com verbas bem controladas, todavia, deixa-se
assediar, é cediço a todo tipo de interesse privado porque seus integrantes
veem ali uma grande oportunidade de negócio. A iniciativa privada gera e vive
de ideais, negócios, empreendimentos e não gosta de concorrência. Encontrando
interlocutor oficial, seus bons ou maus projetos só são aceitos e passam a ser
objeto de grandes esquemas, se o empresário souber responder às perguntas
básicas: “E o que levamos disso?”, “ E o dinheiro para a reeleição?”. Sem uma
resposta agradável para todos,o empresário não terá como ver aprovada sua
ideia, seu projeto.
Muitas destas perguntas já são feitas bem antes da eleição também.
Depois do candidato eleito é só cobrança e realização. A casa é nossa, pensa o
corruptor. E há corruptores de sempre, que dominam a geração de “ideais”, fazem
candidatos e partidos e mantém-se no Poder. O descumprimento desses
compromissos acionará o esquema para destruir o eleito e seu governo. Muitas
vezes nem a TV identifica tal processo de imediato.
Não é de hoje que esta prática une ambos os lados; há a fome junto da
vontade de comer. Do lado dos eleitos, as “equipes” próprias, com seus
“negócios” já em mente e as fornecidas pelas coligações que estão sedentas pelos
negócios a fazer, pois entrarão no Governo sem eleição e terão o passaporte
para todas as diversões No Jardim das Delícias e no Jardim dos Prazeres. O
candidato eleito com seus assistentes e assessores tem um exército inteiro de
pessoas a nomear em todos os escalões do “Poder”. São os chamados” cargos de
confiança” que vão fazer o Governo do dia a dia em inúmeros setores numa total
invisibilidade. São cargos a serem preenchidos por pessoas de confiança, que só
geram desconfiança para a Nação e para o funcionário público de carreira. O
custo é enorme, os resultados, os que os jornais nem sempre mostram, pois
denúncia só existe se alguém não recebeu a sua parte prometida.
E colocada em andamento a máquina pública, ninguém pergunta: “De onde
vêm estas pessoas, qual sua qualificação, qual seu histórico, qual sua
intenção?. O candidato eleito muitas vezes nunca os viu, não sabem quem são e
tem que colocá-los em posição importante. Muitos têm, em dia de posse,
cerimônias políticas majestosas, cheias de discursos e presenças importantes,
que fazem o cidadão da calçada, o eleitor, sentir-se um mero piolho ou
pertencente à casta dos intocáveis. Mas com o tempo o suado e humilhado cidadão
verá na TV que aquela era só uma das festas entre a turma da futura delação
premiada.
São muitos os cavalos de Tróia que o candidato eleito terá que
recepcionar e que invadirão o Governo para fazer os negócios junto aos
empresários presentes e futuros, fazendo tremular as portas do Tesouro. Muitos
serão os bagrinhos, os inocentes úteis, usados para a operacionalização de
esquemas tidos como o “melhor jogo da história”, os almejados “golpes
perfeitos”. Não é incomum que logo o bagrinho saia da lama e se transforme em
piranha e traíra, endeusado e “empoderado” ao ser valorizado por seus patrões
cheios de malas para viagem. Certamente, candidato a entrar para o clube dos
que perguntam “Que país é esse?“ou a exclamar:“ É tudo coisa da oposição!”, “ É
o imaginário acusatório “, “ Não é dinheiro público”.
O Brasil vem mostrando a cara na Operação Lava Jato, mas ainda não a
lavou. Vem mostrando em verdade a qualidade do cérebro de uma cultura
daninha. A cada escândalo e operação
contra a corrupção é feita a revelação de como “as coisas“ funcionam. Não é de agora,
é prática de décadas e décadas de impunidade e compadrio. O Governo sempre foi
uma ação entre amigos. Amigos de todos os Poderes, de todos os lugares e
inclusive de falsas oposições. O fato novo é a punibilidade, as sentenças
condenatórias de poderosos e as penas efetivamente executadas. Mas nem se ouse pensar que a engenharia de
corrupção e lavagem é made in Brazil; retirando-se evidentemente a parte de
criatividade nacional, ela é de origem internacional do mesmo modo que a
corrupção, ressalvados o exagero, a ganância e a intensidade que no Brasil foi
revelada, é praticada e refinada no mundo onde houver Governo. Sistemas
sofisticados que devem ter recebido muita engenharia de advogados, contadores,
administradores, internautas, doleiros e bancários etc. reunidos em hotéis de
grande luxo e viagens inesquecíveis.
Novamente as esperanças e a fé são que algo em 2019 mude. Que algo novo
inspire os governantes e empresários. Senão tudo será igual e com dois ou três
meses de Governo, o candidato eleito já terá perdido o controle sobre os
nomeados, que correm na raia miúda, fazendo “negócios” para si e seus partidos,
mas tudo em nome do candidato eleito. A autoridade eleita passa ao papel de
inocente útil, usado pelas malhas de poder subalternos, todos assegurados pelas
ameaças de não votar a favor dos projetos do Governo. Já é conhecida a
qualidade e a tralha humana que envolve as campanhas. Arrisca-se a dizer que o
candidato eleito é o menos culpado, pois na maioria do tempo está na mão de
terceiros que o controlam e dirigem.
O problema não é a existência de coligações em si, enquanto elas
atendem, dentro de um conceito democrático, a intenção de evitar a concentração
de Poder, a autocracia e uma ditadura branca, mas o que com elas se faz no
Brasil, a qualidade do que os coligados desejam, o que fazem e as pessoas que
indicam bem como a cultura de pedidos de recompensas no cenário de
preenchimento de cargos como troca de apoio a projetos.
Na prática, aproveitando-se do gigantismo estatal, as coligações governam
em paralelo, fazendo seus “negócios”, usando o nome dos eleitos e usando o
propósito de reunir recursos para a reeleição, sem a qual as firmas privadas
sabem que os contratos estarão ameaçados pela concorrência. É esse modo de
governar, advogando administrativamente interesses privados e tirando a devida
comissão pecuniária que deve ser exterminado. É o jeito tradicional que foi
sendo construído ao longo dos séculos para ser o centro da política e sua
doença principal. Nesse contexto, não há
cultura de debate e discussão, mas imposição. Como ser democrático, se há uma
missão a ser cumprida para satisfazer compromissos “políticos”?
E então, é através de certos candidatos que ficam abertas as portas para
a volta de certos grupos que derrotados nas eleições ou que delas nem
participaram, adentram o Governo pelas portas dos fundos, para fornecer mão de
obra para o preenchimento dos cargos onde o “negócio“ é bom. Principalmente nas
bordas do Jardim das Delícias onde ficam os Jardins dos Prazeres. Assim, há
muito mais a temer do que o grupo do Vice, que só recentemente chamou a atenção
e pouco foi analisado.
Se o eleito é obrigado a atender às bases de apoio, deve preencher os
cargos com a tralha social que existe; velhas raposas, bandidos do passado,
voltam ao Governo, tudo à revelia do eleitor, até que a Polícia Federal e o
Ministério Público atuem. Mas no momento da eleição raramente os candidatos
adiantam quem será o “cara” do planejamento, das finanças, da administração, da
segurança, da saúde, da educação. Jamais. Não sabem ainda, pois depende das
coligações. A surpresa fica para depois, quando o eleitorado já estiver
dormindo novamente. Sono de dois ou quatro anos, enquanto no Jardim das
Delícias tudo vai se multiplicando e reproduzindo no bolso dos eleitos e de sua
trupe que enchem as burras, triplicando o patrimônio pessoal. O Sésamo da política enche-se de riquezas e o
povo dorme acuado na miséria de seus lares ou na rua.
É o “oba–oba” da euforia das eleições. Depois é depois. É como tudo no
país da Educação estropiada, dos alimentos de quinta qualidade, na saúde
comprometedora, da segurança inexistente. O depois a Deus pertence. Por
enquanto ele fica de costas, olhando o mar de janeiro, não notando nem o que
ocorre de degradação a seus pés.
“ Perguntaram um dia a Álvaro Moreyra se ele gostava de burros.
Ele respondeu: dos substantivos, sim. Dos adjetivos, não”
Pois é aos burros adjetivos do Brasil que envio o meu apelo. Para que
mudem de trote enquanto é tempo. “ (
Janeiro de 1963. David Nasser.).
Com o agravamento da crise em 2019 e prolongamento para 2020, muito mais
pode se perder e até mesmo anular boas intenções do Governo originalmente
eleito e suas boas obras, as quais serão menosprezadas em meio à realidade adversa.
Mais uma vez a gestão será afogada no dia a dia de crises políticas e pouco
tempo sobrará para cumprir os preceitos constitucionais de preservar a
dignidade humana numa sociedade livre, justa e solidária, erradicando a
pobreza, a marginalização e reduzindo as desigualdades sociais e regionais e
promovendo o bem estar de todos. Verifique-se que em 2019, a União continuará a
receber a média de 3 bilhões de reais de tributos em cada dia dos 365 dias. Do
total só sobrarão 30 bilhões para investir, o que representa 10 dias da
receita. Como fazer mudanças, como sobreviver?
E mais, há um déficit de 139 bilhões, portanto, 46 dias de tributos fora
do calendário anual. A solução seria fácil, Odorico Paraguassu, certamente, em
seus lampejos de sapiência brejeira, acrescentaria 46 dias ao calendário anual
e tudo ficaria resolvido. Não seria fantástico?
E o mundo teria uma nova era, a do Calendário Odoriciano.
Necessário alertar que o nivelamento por baixo nunca foi progresso e
nunca preservou a ordem, embora esteja crescendo no imaginário popular.
Promessas populistas nesta hora satisfazem o eleitor incauto e são um perigo
para a democracia. Em um país de tanta miséria resultante da descura e da
negligência material e intelectual, alguns continuam achando por bem criar seus
reinos egoicos de ganância e megalomania; imperdoável descuido de fazer um
castelo de areia à beira do oceano. Mas na época das eleições são do povo,
andam por onde o povo anda, prometem o que o povo quer, dizem o que o povo
quer. Depois vão promove o que o povo não quer.
Irresponsável, inconsequente, temerária e eivada de burrice será a
atitude dos eleitos, se garantirem a continuação do modo de jogo político que
vem condenando o país a dias de previsível baderna e descrédito generalizados. Se não houver mudança radical, todavia, por
consenso de que não é possível mais manter tal jeito de pensar e administrar,
certamente a Educação continuará a ser menosprezada e as consequências serão
determinantes em todos os setores. Sem Educação de qualidade, tudo estará
comprometido.
Aliás, a falta de Educação de qualidade, que ajude cada estudante a se
abrir para o conhecimento universal em toda sua pluralidade é hoje o maior
inimigo da sociedade, dos jovens de hoje, e, portanto, do futuro. Roupas de
moda, celulares, sonhos mirabolantes que lhes são incutidos, habilidades
completas para dominar o celular, destreza nas redes sociais e informática,
“selfies e memes” de vaidade e egocentrismo etc. vestem os jovens de hoje quase
como uniforme; mas o preparo para pensar e para trabalhar? Parece que tudo é
mesmo uma grande enganação, uma distração consumista fatal. E assim é que aqui
“2+2=6” e os “mano tão no barato, meu!”
Nestas linhas de tanta platitude, pelo menos fica registrada a motivação
para um voto, o de repúdio, de pena, de indignação, talvez inútil para
mudanças, como os demais milhões de votos.
Odilon Reinhardt . 3.9.2018.