Andanças,
patranhas, gadunhos e caudilhos.
Tudo acontece
para que nada aconteça.
E mais uma vez, tudo se repete, tudo igual. Tinha-se a impressão, a vã
sensação de que seria renovação; um ar novo a festejar a bandeira da Pátria,
mas é sonho passageiro no imaginário popular. Facilmente esquece-se o passado
por mais recente que seja e acredita-se em repetir tudo da mesma forma, com as
mesmas estruturas e as mesmas mazelas.
O mágico momento ilude a todos, escamoteia a realidade, falsifica as
ideais. As promessas vão desde o que caberia a um vereador até a um caudilho. O
sistema leva mesmo à sensação de se estar por eleger um super-homem, o
salvador, a figura central que terá o monopólio de todas as ideais, de todas as
soluções. As instituições ficam diminuídas mesmo que estejam fortes e ainda
sejam o sustentáculo de tudo.
Neste afã, correm os dias em sessões circenses que nos diminuem e
aviltam colocando-nos no charco do subdesenvolvimento intelectual. Já foi pior
no passado.
E através de frases superficiais e sem nenhum respaldo no cofre público,
cada candidato delira em suas andanças. Prevalece o mais falante, o mais
berrante, o mais qualquer coisa que possa enganar em aparência, que possa mais
uma vez iludir.
Há somente uma variegada exposição de ideias, mas nenhum debate entre os
candidatos. Cutucões sobre quizilas da vida política, mas nenhum debate digno
do que fazer com sustentabilidade. Frases soltas causam clamor ou pavor sem que
se saiba de seus detalhes. Pouco se fala de Educação. Só alguns têm um plano já
conhecido: a politização do ensino e o marxismo inconsequente a ser impresso
nas crianças.
Só através de uma educação enciclopédica e livre para libertar a criança
da ignorância e das armadilhas da ideologia pode haver revelação de talentos e
só assim pode nascer um Brasil diferente e de bom e saudável futuro. São os
professores das crianças de 1 a 7 anos que têm a oportunidade de dar a
oportunidade de dar os primeiros modelos para um futuro pessoal bom para cada
criança de hoje e de sempre. Devemos pela Pátria evitar qualquer modelo fechado
de Educação que só crie cortadores de frango para a linha de produção. Quem
deseja tal Educação, quer engessar as
pessoas na ignorância para sobre elas reinar perpetuamente, negando-lhes a
possibilidade e liberdade de mobilidade social.
E a Economia, qual o plano de recuperação do desastre deixado? Só há
promessa de redução de ministérios e poucas coisas. A questão é muito mais
grave. Estamos no carpete de entrada do FMI. Numa campanha eleitoral que vai se
revelando como mais um grande salto no escuro para a Nação, só percebe-se o jogo
de palavras entre os candidatos. Devido à grave situação econômica o eleitor
mergulha numa ilusão. Não se espere nada de mel e leite, mas a dura rapadura
racionada.
As verdadeiras pretensões dos candidatos, as ideais de gestão e negócios
e seus planos ficam escondidos por trás de planos de governo perfunctórios e
discursos para agradar a população. Tudo favorece a superficialidade, a
aparência do imaginário ditador, do salvador. Algo bem afinado com nossa
simplicidade tosca, alienação negligente e desconhecimento das instituições e
suas atribuições na máquina de governar.
Pouco se ressalta a importância de um candidato que deva ter poder de
maestro na grande orquestra democrática que é a gestão do Governo e interesses
da população. O poder de articulador porque é esta habilidade que irá ser
necessária. Nenhum eleito será ditador e
terá poder supremo no Estado de Direito e Democracia. A falha nesta habilidade
transformará o eleito em um boneco na mão das coligações e tudo poderá se
perder em curto prazo.
O eleito terá que enfrentar muito de trabalho para manter coligações. Um
eleito sem habilidade de gestor de pessoas, que moeda usará senão a do
preenchimento de cargos, isenções e reduções fiscais, promessa de projetos e
decretos para beneficiar interesses privados? Fará o mesmo de sempre, comerá na
mão do sistema corruptor.
Os interesseiros e manipuladores de situações engolirão o eleito em seu
trabalho interno, o “interna corporis” que via de regra se perde na burocracia,
no controle do controle do controle.... para que ninguém “descaminhe”, mas que
revelou-se ser inócuo. Divisões, subdivisões, coordenadorias,
subcoordenadorias, regionais, superintendências, etc. ,etc. numa estrutura
gigantesca , que se perde no enrolo, mas serve para preencher cargos e dar
salários, com os quais o Governo se afunda e vive para si mesmo. E mais,
milhares de sinecuras para acolher a “trupe” das coligações ,onde os “negócios”
são feitos.
Conforme a qualidade do séquito que acompanhará o eleito de todos os
níveis de Poder, poderemos ter algo equiparado à Invasão de Atila e seus Hunos,
a invasão dos porcos magros no Jardim das Delícias, para em 1460 dias
engordarem à vontade. E assim logo começa o festival de patranhas e gadunhos
para proteger a imagem, encobrindo com falsas estatísticas os defeitos de mais
uma gestão. Empoderados falastrões e seguidores satânicos colocar-se-ão no
exército de Brancaleone em defesa de suas posições junto à panela de leite e
mel.
Não é, em regra, o pessoal da repartição pública e o funcionário de
carreira que é o responsável pelo que estará ocorrendo, pois é pessoal
constantemente vigiado; há regras rígidas para o servidor e há controle para
tudo, afora o que sofrem no ambiente demoníaco nos meios do serviço público. Todavia, exceções
existem e contaminam.
Só haverá mudança cultural efetiva, se o erro maior do eleito não
continuar a ser o permitir a intromissão politiqueira na gestão pública. Pelo
que se pode fartamente deduzir da divulgação sucessiva de escândalos,
assessores e assistentes de fora é que têm vindo para fazer “negócios”. O ordem
de todos os dias é “temos que garantir a reeleição” e nisto não há ética nem
moral, só safadeza e ego.
Nem Deus sabe o que se passa nas entranhas das repartições, dos
gabinetes ou fora deles, nas economias mistas e empresas públicas e fundações
bem como nos outros Poderes. Ali o diabo bebe e come todos os dias, o ego
caminha a passadas largas, folgadas e contentes. E muitos dessas “eminências
pardas”, “autoridades não eleitas” entram no Governo “como cobra, atavam como
tigre e saem como águia”. A impunidade os abençoa e protege e nada lhes
faltará. A missão está cumprida, as metas atingidas; o dano feito, mas bem
escondido. Sacodem o terno e vão para outra. Assim operam estas figuras
subalternas, “reizinhos” de ocasião. E os funcionários da repartição, empresa
ou fundação lesionada ficam usados e abusados, esperando o sucessor que os
pise, mas que pelo menos prometa aumentar o salário.
Otto Von Bismarck disse ” Quanto menos as pessoas souberem como são
feitas as leis e as salsichas, melhor elas dormirão.” Hoje impossível manter
isto longe do público graças aos meios de comunicação livre e à informática.
Todavia, a frase é verdadeira e denuncia a natureza das negociatas nas
entranhas do Poder e não evita o prosseguimento da prática, a qual só é
denunciada, se alguém deixar de receber a sua parte. Mas a essa altura muito já
foi feito e, via de regra, o cofre já foi arrombado.
Só chegamos a ter conhecimento, graças à TV, do que já ocorreu; só temos a chance de
presumir o que possa estar acontecendo. Mas escândalos sucessivos mostram que
há uma trama “para que tudo aconteça para que nada aconteça”, a não ser o que
diga respeito aos projetos pessoais e partidários de encher as burras.
Erros de gestão são encobertos, desperdícios e falsas necessidades são
camufladas, gastanças são fantasiadas em reuniões “estratégicas” e treinamentos
espúrios. Assim parte da gestão é consumida por essa realidade.
O que há de novo depois de toda a população ter sonhado em reformas e
mudanças?
Haverá mudança se funcionários de carreira não tiverem que aguentar mais
uma rodada de reposição de assessores e assistentes, de gerentes de fora, de
pessoal que só vem atormentar. São, repita-se, reizinhos de fora, de ocasião,
com suas neuroses, inexperiências, inseguranças; todos são temporários
“nobres”, escolhidos pelos Poderosos, e com carta branca para acabar com a
carreira de muitas pessoas e glorificar incompetentes que na posição de
“traíras” despontaram na caça às bruxas, quando ninguém tem direito nem
proteção e o assédio moral e sexual são banalizados como espólio de guerra.Bons
técnicos são transferidos, bons projetos são arquivados, obras são paralisadas,
porque são do regime anterior e sua motivadora negociação já se esgotou. É a
politização indevida com caras consequências para o objeto da companhia ou do
serviço público. Entre os empregados e funcionários, assume a turma da rádio
peão; saem os antigos traíras dando lugar aos novos. É o controle dos
controlados, mas seja lá como seja, nunca nada dá em nada “interna corporis”,
porque o Governo atua rápido com várias patranhas para não denegrir a gestão e
em alguns casos não se pode impactar os acionistas e o mercado.
E assim vai a gestão, a nova com cara e doenças das velhas, numa cascata
burocrática e inócua, mas suficiente para gerar funções e dar empregos, onde
até o Tempo se perde em corredores de mil olhos e cansado da mesmice resolve se
aposentar. Deixa a aventura mais uma vez correr dentro da receita do passado.
Fato é que comprovadamente é necessário repensar o Estado e atualizá-lo
em termos de invasão ideológica e gestão, porque o Estado não aguenta mais a
posição antiga de “principal empregador de pessoas e contratante de serviços”.
Mas com tanta cupidez, ganância e megalomania, quem se dedicará a repensar a
estrutura? Quem acabará com as folhas de pagamento suplementares, todas
infestadas de “comissionados” , elementos que incham a despesa, sugando
recursos e indignando o servidor de carreira, o mísero concursado.
Comissionados ganham mais, fazem menos para o serviço, mas fazem muito para o
partido e seus candidatos. São seres
“especiais”, eleitos pelos temporários deuses em plena democracia. Sugam as
verbas do órgão, da economia mista, da fundação etc. acabam com a receita da
União etc. Entre eles pessoas boas ou ruins, mas certamente com missão certa
dentro de um exército de carregadores.
Espera-se que os meios de comunicação, passada a euforia inicial e o
tempo de “ dar uma chance”, não aceitem pagamento de publicidade para proteger
tudo que venha a novamente acontecer, porque a velha e carcomida cultura de
“negociatas” já estará novamente em andamento. Veja-se que nem as operações da
Polícia Federal e Ministério Público intimidaram a corrupção, especialmente a
estadual e municipal.
É assim que com a vida voltando ao normal, banalizadas suas atrocidades,
o candidato eleito já terá sido envolvido pela trama das coligações no jogo do
Poder, a classe política já terá se recolhido a seus castelos, esquecendo das
promessa feitas ao povo e este já terá esquecido em quem votou. Tudo será igual
no quartel de Abrantes, tudo igual ao passado. Nada de novo, nada de reformas
no castelo, cuja gestão será no castelo, para o castelo e pelo castelo. E o
povo, cada vez mais longe,continuará sua vida sendo violento, inflexível,
autoritário, conservador, fisiológico, sem saber interpretar um texto, egoico
ao extremo, impulsivo, forçosamente tarefeiro, seguidor, tosco no trato com o
Próximo, o qual vê como potencial rival e agressor, etc.
E por que seria diferente? Não é essa a resultante da cultura acumulada
há 518 anos? Não é essa a resultante de terem deixado alguns “ismos” importados
terem migrado da linha da produção para a vida das pessoas e seus lares? Como
esperar que seja diferente?
Isso tudo, no fundo, não advém da questão de dinheiro, mas de ausência
de boa educação familiar e escolar e de uma gritante falha da orientação
religiosa ou mesmo exotérica. Só um
“cego” não vê o que está ocorrendo e acredita que mais vale uma avenida
asfaltada e iluminada do que uma escola. Certamente, tal “cego” acreditará que
presídios maiores também são prioridade em relação à escola. Mas faz parte da
evolução. É a fase de transição. Muitas gerações serão consumidas, mas o
progresso está andando, com altos e baixos, lento, mas andando, um pouco sem
ordem, mas andando.
E permeando a tudo, há a crise de identidade da Nação, cujos modelos
adotados até agora são criticados, havendo, assim, uma procura por novos
modelos. Difícil crise da adolescência coletiva da Nação, mas superável com o
tempo, numa visão otimista. Pelo menos há sinais de aproximação da Idade Média
no horizonte. Há tempos já se identifica muito bem o momento:
“Nas noites de
frio é melhor nem nascer. Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer E assim
nos tornamos brasileiros... A tua piscina tá cheia de ratos. Tuas ideias não
correspondem aos fatos. O tempo não pára. Eu vejo o futuro repetir o
passado...” Cazuza. “
“Meu
partido. É um coração partido. E as ilusões estão todas perdidas. Os meus
sonhos foram todos vendidos. Tão barato que eu nem acredito. Eu nem acredito.
Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo). Frequenta agora as
festas do "Grand Monde". Meus heróis morreram de overdose. Meus inimigos estão no poder Ideologia. Eu
quero uma pra viver. Ideologia. Eu quero uma pra viver... “Cazuza”.
É
não foi desta vez. Fica a esperança e fé para 2022.
Odilon
Reinhardt 3/10/2018.