sábado, 3 de novembro de 2018

Agora, já é o depois? Ou será tudo como antes?


                                                    










                                     
                                     

                                       Agora, já é o depois? Ou será como antes?  









Acabou mais uma inútil guerra de fosquinhas e fofocas eleitoreiras, de frases soltas e de efeito, de factoides e promessas descabidas, de ataques pessoais características de vizinhança de bairro e estratégias pequenas e pobres, que desmereceram o momento que deveria ter sido tratado com mais seriedade e respeito. Passou uma das maiores demonstrações de menosprezo à importância das eleições na época que se formou: a discussão relevante de mecanismos para a retomada econômica, a questão energética e a educação em 2019. Promessas de mais renúncia fiscal, redução de preços, populismo, aumento da taxação punitiva a setores da economia, exagero no dualismo entre o Bem e Mal e tantas outras ideias pequenas diminuíram ainda mais o país, colocando-o no nível de eleição de condomínio de periferia. O voto foi como aposta de loteria.


Imperou nos Estados e na União o que a nossa política é, o que somos como resultado da lenta evolução neste canto do mundo, onde a idiossincrasia fez um caldo social, espoleta suficiente tóxica e inflamável para a violência doméstica, empresarial e social sempre que haja contrariedade e oposição para pessoas, em geral, ainda egoístas, autoritárias, conservadoras, prepotentes, inflexíveis, antidemocráticas, intolerantes, sem cultura geral, pragmáticas, vazias, operacionais, fisiológicas, desinformadas, de mínima leitura, de limitado recurso vocabular, condicionadas, fazendo características que, entre outras tantas, independem da classe social, profissão e categoria econômica. Ressalta-se o nível educacional: 96% de semianalfabetos, de onde só 8% podem ler e interpretar um texto. Algo compatível como os mais de 40 milhões de votos nulos e em branco. Uma alienação histórica de 28%. Um país oral, superficial, guiado por mexericos e frases curtas e aparência. Todavia, no passado já foi bem pior. Pelo menos vimos que nossas instituições estão firmes e sólidas.  Muitas são as lições do processo eleitoral oficial, muitas mudanças, novas tendências, avanços e necessidades de correção.  


Doravante então, a verdadeira eleição. O preenchimento de milhares de cargos políticos nos três Poderes na União e nos Estados. Pessoas a serem eleitas sem eleição pelo sufrágio popular. Nomes desconhecidos e que com “poder” irão gerenciar o país nos detalhes da vida do dia a dia. Só haverá reforma cultural para adoção da honestidade e em nome da Pátria, se efetivamente neste tocante houver mudança de comportamento de modo quantitativo por parte dessas novas autoridades. Foi eleito um Presidente, muitos Governadores, mas estes dependerão de milhares de subalternos a serem nomeados conforme indicação das coligações. Quem são , de onde vêm, que méritos têm?  

Sem mudança de comportamento, o que depende de mudança no modo de pensamento, tudo continuará igual, queira o Presidente, queira o Governado ou não. As novas autoridades dos escalões inferiores, empossadas em cerimônias internas, é que irão através de resoluções, instruções, portarias etc., interferir em vários setores da sociedade, forçando fatos e criando dificuldades, chamando para o “negócio”. O desafio será não aceitar; mostrar patriotismo e valor ao interesse público, um novo modo de proceder tanto para tradicionais ofertas de corruptores como para os a serem corrompidos, que eufóricos com o Poder pensarão estar num Jardim das Delícias.   Mas estarão os empresários com a mentalidade de mudar, de abdicar de seus interesses em sempre tirar vantagem de seus amigos no Poder e descartar a concorrência para facilitar as coisas? Tudo dependerá da qualidade e ideologia das exigências das coligações. Será necessário deixar de lado interesses pequenos e ajudar a mudar. O desafio é não aceitar o “negócio”; é não continuar com a cultura até hoje usada; é reconstruir o imã da ordem e do progresso. Todavia, é necessário ressaltar que o sistema de financiamento de campanha ainda precisa ser alterado, a reforma política ainda precisa ser aprimorada, eis que são sistemas que geram comportamentos.     


Assim, o eleito estadual ou federal ganhou numa eleição democrática, mas pode não ter levado. Quem manda agora são as coligações, que vão indicar pessoas para milhares de funções. Mostrarão quem manda no formigueiro em termos de prática. É o ônus do partido vencedor que depende de apoio de outros partidos. Vai depender de apoio para tudo e terá que ceder às vontades particulares. No Congresso ou na Assembleia, os eleitos terão que negociar. Qual é o instrumento de troca senão as moedas tradicionais?  Será necessário convencer com bons argumentos em prol de uma nova mentalidade e dentro de uma intenção de fazer o país sair do mato e da mentalidade atrasada e mesquinha. O desafio é não errar na gestão e no diálogo.   


Também será um milagre, preencher cargos sem usar o que existe hoje em termos de recursos humanos disponíveis e sua cultura. Só por milagre, o novo Governo livrar-se-á da realidade humana existente em termos de má-qualificação e cultura política atrasada. Será que os elementos neste meio vão virar “santos” da noite para o dia? Será uma batalha parar com o envolver pessoas, comprometê-las a ponto de lhes amarrar o rabo, formar quadrilhas, fazer acordos duvidosos, fazer ameaças e achaques e extorsões, tramas e esquemas sujos. E o que dizer da inveja, ciúme, ganância, ânsia pelo poder, prestígio e dinheiro que são tradicionais habitantes do mundo da política? E a megalomania dessa gente?


Vimos que as operações e processos judiciais não impediram as quadrilhas de continuar com suas ações corruptas na Administração. Através do uso exacerbado de

“fake news”, etc.,demonstrou-se que a má-fé sempre ronda as atitudes de Poder e conflitos da espécie. Quem promoveu isto? Não é a pura expressão da cultura existente? Ela será exterminada da noite para o dia? Não se espere, que dentre os “nomeados”, deixarão de existir os que seguem o lema “agora eu vou me fazer”; os que de acordo com a capacidade técnica continuarão a “ fazer negócios” usando o nome do eleito e com justificativa de reunir fundos para a reeleição.


A realidade é tão velha quanto a criação do primeiro cargo em volta do soberano. Dante Alighieri na sua Divina Comédia, ao retratar as lutas pelo Poder em Florença e região, relata no Canto XXI o que viu, assim que alcançou com Virgílio a quinta vala do Círculo oitavo do Inferno, onde são punidos os que exercem o tráfico de cargos e influência; são os funcionários corruptos e venais, os prevaricadores e trapaceiros, mergulhados num poço de betume fervente.


Esta época de hoje a um ano é de deixar inebriado, encantado, esperançoso por novos tempos. Equivale ao período desde a festa de casamento até o fim da lua de mel em que só o noivo sabe que depois não haverá fundos, haverá dívidas, só 30 bilhões para investir (equivalente a 10 dias de arrecadação em 365 dias), os problemas herdados serão a contínua realidade, a vida real como ela é, seca, esvaziada, quase horrível em muitos locais. Os eleitos, os estaduais e o federal, atuarão dentro de seus limites constitucionais e na maioria do tempo como negociadores, articuladores, gestores de pessoas. Deverão colocar um novo modo de ser e gerir, um modelo de progresso, ordem, patriotismo, honestidade e tudo num discurso coerente e num ambiente de transparência. Valerá a ação concreta para a Nação.


Nem por mágica os fundamentos da economia e as bases sociais serão rapidamente melhorados. Só por milagre esta base deixará de gerar comportamentos coerentes com a cultura até hoje praticada e afinada com a miséria do estágio da evolução alcançada até agora. Só por passe de fada os fundamentos e base deixarão de apresentar pessoas que deixem de transferir para os locais, onde devam exercer Poder, os seus defeitos pessoais oriundos da cultura em que vivem. Talvez seja um mandato de reconstrução e preparo para mudanças marcantes no futuro de cinco ou mais anos.


Levará algum tempo para que seja demonstrado que democracia é mais do que poder exercer o direito de voto, que a nacionalidade exige esforço conjunto, diálogo, boas decisões e voltadas ao interesse público acima de tudo; que progresso é mais do que aumentar receita e que avanço empresarial não pode ser baseado em sonegação, fraude à licitação, participação em cartéis, corrupção do Poder e obtenção de renúncia fiscal como falso incentivo à produção e consumo; que qualificação profissional e educação é mais do que ensinar matemática e Português;  que uma Pátria não se faz só com braços que cortem frango e carne, mas também com a cabeça, pensando em ideias limpas e produtivas. O grito de muito tempo é “a gente não quer só comida”.


É certo que os olhos se voltam para a União, mas em verdade deveriam se voltar para os Estados e os Municípios, pois é ali que tudo acontece, devendo-se ter em conta  que as eleições municipais foram realizadas há quase dois anos e com pouca preocupação em pensar em mudanças e reformas. Em muitas localidades ainda persistirão os currais de pensamento e práticas da política velha, de tudo que ainda tem para mudar.  


Mesmo diante de um panorama deteriorado e com tantos escândalos, 44 milhões ainda acreditaram na política velha, na desnecessidade de mudar. Procuravam ainda um caudilho que fosse a expressão de nosso atraso; procuravam um salvador que continuasse a fazer a ajuda cair do céu. Foi a manifestação mais atual de nosso atraso intelectual que insiste em nos aproximar do Estado mentiroso, centralizador e autoritário, mandando em um povo esfarrapado, manipulado por frases pequenas e mentirosas usados pelo fascismo. Certamente a volta à aldeia e a repulsa ao progresso era o objetivo. Um niilismo absurdo.


O espólio deixado, de erros e mentiras, por vários governos de décadas passadas desde 1950, deixou um país mais complexo e dividido, quase uma massa falida. Se houver oposição radical que continue pregando ideologias já historicamente defasadas, pouco debate haverá e o confronto marcará a vida política. Sem união para gerar emprego, dar renda e aumentar o consumo, continuaremos sendo vítimas do dualismo existente, que não tem levado a nada. Nem direita, nem esquerda. Nada disso serve. O que faz o progresso é ir em frente.


Não adianta se enganar, quem gera riquezas e empregos, salários e receita tributária é a empresa privada. Combatê-la ideologicamente e tentar dificultar seu caminho só tem produzido a realidade que nos aproxima da miséria ainda mais grave, de episódios como a greve dos caminhoneiros, que se revelou terrorista, marcante e cheio de revelações sobre o potencial de destruição da teia econômica.  


Tampouco se pode continuar vendo os órgãos do Governo como castelos a serem destruídos porque ali está uma parcela da tirania, o moinho de vento ou, seja lá o que for, que mentes preocupadas em reviver teatros revolucionários procuram realizar aqui como sua fantasia política.   


É necessário crer em um novo ar de prosperidade, de trabalho, algo que impulsione as pessoas a irem para o futuro; fazê-las acreditar que nada cai do céu e que cada uma delas é responsável por uma parte na construção do país. O que está em jogo é a vida dos jovens das gerações novas e futuras. Vários governos vêm mexendo no futuro delas com erros estratégicos enormes, principalmente na Educação.


A vitória dos eleitos não é para amassar os derrotados, é para convencê-los através de ações concretas que há uma saída melhor. É necessário focar nesta intenção de melhorar a vida na Nação e provar que as ideias de progresso são para todos. Só através de debate e argumentos sólidos é que serão resolvidas as questões nacionais.A esperança e fé são sempre de mudança para melhor no processo democrático.


Sem mudanças na gestão da coisa pública e sem mudança no comportamento arraigado que vem sendo marcado pelo “agora eu vou me fazer”, só dependeremos da autonomia da Polícia Federal, do Ministério Público, da Justiça e da Imprensa livre para que a população saiba sempre o que está acontecendo e possa discernir corretamente. A corrupção tem histórico sanguíneo.  


Em 2019, ainda teremos a crise financeira fruto de erros estratégicos gigantescos. Bom lembrar que enquanto a indústria etc. e toda a população prosseguia anestesiada, acreditando num modelo econômico fantasioso, críticos como Arnaldo Jabor, diariamente chamavam a atenção para a essência do que vinha acontecendo. Eram vozes no deserto. Fazer o país crescer mais de 2 % ao ano foi uma irresponsável medida que chegou a 7% por motivos eleitoreiros, esgarçando todos os fundamentos da economia. As consequências começaram a aparecer depois de 2010, a partir de quando as medidas para garantir a receita tributária foram inconsequentes, desesperadas e mentirosas. Logo o bolso furou com tanta pressão.


Mesmo com crise grave de recursos, não se pode negar que para o futuro, sem Educação de qualidade, nada mudará. Só com investimento em Educação de qualidade será possível diminuir a mediocridade, a falta de cultura geral; isto para podermos ampliar a visão de qualquer cidadão e que as novas gerações tenham o despertar para a conquista da sabedoria como fonte de qualquer riqueza duradoura. Intolerância, inflexibilidade, extremismo, divisionismo, fanatismo, radicalismo, insensibilidade, descriminação etc., são consequências e sinais de atraso e ocupação da mente por níveis baixos do pensar, sentir e agir, são doenças que podem atingir qualquer pessoa independentemente da classe social e comportamentos típicos dos fisiológicos e egoicos que, não sabendo dialogar, só possuem como argumento a violência, a provocação e o conflito, o que nunca é solução para nada, mas a fonte de pessoas depressivas, frustradas, contrariadas e com grande preferência pela negatividade e suas expressões múltiplas. Com a mente confusa e despreparada, a visão do mundo também é confusa e decadente, daí a adoção de padrões baixos, do nivelamento medíocre e de ideias pequenas, o que não é bom para ninguém.


No mais, o que o cidadão comum espera é mudança no sentido de ver honestidade na gestão pública, coerência, progresso, ordem, respeito à Lei e a Justiça para tocar sua vida de acordo com seu talento e oportunidade sadia e útil para a continuação e prosperidade da vida.  Sem mentiras. O cidadão comum não gosta de politicagem porque ela implica desigualdade e promove injustiça. Todavia, o combate à politicagem, que anda sempre com a corrupção, não deve se converter em ataque à política honesta, meio democrático para se carrear os legítimos interesses de cada comunidade, para se acabar com a miséria. Quem gosta de miséria é intelectual, porque confunde a mesma com pureza, simplicidade, honestidade e outras. A vida é feita de procura pela prosperidade pessoal.


Alea jacta est! Que o leito, a nível federal, possa resistir às pressões da gente que o cerca e das coligações que desejarão usá-lo enquanto no Poder.        



Odilon Reinhardt .  3.11.2018