segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Nem tanto a terra nem tanto ao mar.










                                             



                                             
                                            Nem tanto a terra nem tanto ao mar.





              No ar, a esperança de novos tempos. Mais limpos, mais honestos, mais transparentes e com objetivos claros e sinceros. O brasileiro é um povo condenado à esperança, dizia Millor Fernandes.

             Reformas e novas ideais do mundo livre, onde o cidadão quer basicamente honestidade e verdade.  Nas últimas décadas , teatro, egoísmo, falsidade e roubalheira atiçaram a sensação de injustiça e deixaram mais longe o ideal de conforto social. Agora um longo caminho para a normalidade.

            A esperança é de mudança no mundo político e na gestão pública. Urge o fim da corrupção e o uso da receita tributária para promover o que o país precisa. Que o interesse público deixe de ser contaminado por segunda intenções.

           O Executivo Federal mostra-se voluntarioso em propor mudança e capitanear a mesma pelo país.  O Presidente eleito apresenta-se com motivação reformista. Espera-se que seja acompanhado pelos Estados e Municípios, nesta mentalidade nova. Mesmo os outros Poderes na União terão que acompanhar a onda saneadora, caso contrário não haverá união para mudar. Se imperar a velha política matreira e corrupta, haverá dificuldades para enfrentar a crise econômica e alcançar os objetivos constitucionais. Se continuar a carcomida mentalidade dos falsos nobres do Poder, só haverá reação e sabotagem.

          A rejeição dos meios errôneos de se fazer política comuns à vida brasileira,  não pode, todavia, afastar a boa política, a manifestação justa da população através dos meios institucionais de representação. Tampouco pode o interesse público ser eleito sem tal participação política.  Sempre se deve preservar o amplo debate, pois este é o coração da democracia.

       O grande desafio histórico será diminuir o Estado, privatizar o necessário, reformar a Previdência, vender patrimônio ocioso, gerenciar os ativos, reduzir o quadro de funcionário e seus benefícios, adotar boa gestão financeira, executar um orçamento factível, fazer a reforma tributária, instituir um sistema de Educação que desenvolva as pessoas no seu todo e desperte talentos, reduzir o analfabetismo de 4% e o semianalfabetismo de 96%, propor legislação de tolerância zero contra o crime organizado e a corrupção, rejeição total às antigas fórmulas da política  para aprovação de projetos e reafirmando a vontade popular de que o Governo não seja uma ação entre amigos, fazer o retorno dos bons valores do humano, estimulando o crescimento e o refinamento, ao contrário de perpetuar sua miséria para efeitos políticos de perpetuação no Poder de grupos  ideológicos, abandonar a diplomacia ideológica para o terceiro mundo e a opção pela miséria, eleger obras de interesse público legítimo, priorizar o social e a infraestrutura sadia e produtiva, aperfeiçoar a fiscalização e o controle sobre esta, fazer voltar a meritologia para o preenchimentos de cargos, estimular as exportações como fonte de captação de recursos, desburocratizar, promover a transparência das contas públicas, eliminar o discurso fascista,as estatísticas manipuladas e mentirosas , fazer voltar a ética e a moral para a sociedade, etc.  ao infinito.   

Como se pode ver a lista de itens de reforma é tão longa a ponto de fazer o retrato do país empobrecido que estávamos vivendo. É um desafio histórico e vai de encontro à cultura de muitos que se habituaram a usar o dinheiro público como direito divino, atuando sem limites em sua megalomania. Nem se pode pensar em admitir que entre os 44 milhões do candidato derrotado, alguém estivesse pensando no continuísmo da realidade acima mencionada. A rota era a “venezualização” do país. Será que isto seria bom para a população? Não. Será que os tais eleitores pensaram nisto? Será que não estavam acreditando numa  falácia perigosa e niilista? A mentira repetida por tantos anos foi fazendo crenças e tornando-se escamoteada verdade. A população estava de adaptando a níveis cada vez mais baixos de realidade.

Agora, a torcida e a esperança é que tais reformas sejam bem feitas e estejam nas mãos de bons políticos, patrióticos e humanos. O imenso grupo para compor o Governo, com figuras pinçadas de carreiras técnicas da atividade pública e da iniciativa privada, eleitas sem eleição, terá o desafio de promover o progresso e alcançar o bem público com qualidade e solidez. Não será possível errar. A História não permite mais. 

De nenhuma das pessoas, alçadas ao poder, espera-se que sirva para caracterizar no teatro público, o papel do “Asinus ad Lyram” ou seja o “burro diante da Lira” , equivalente ao “burro no Palácio do Poder”.  Que usem do seu saber e não esqueçam que de nada adiante termos avenidas novas e iluminadas, se por ela continuar a passar a miséria em suas várias versões. Bons lucros no mercado financeiro e fartos dividendos podem não significar nada em termos dos objetivos constitucionais. Espera-se que estas pessoas não sejam picadas pelas moscas do Poder e não sejam tomadas pela megalomania que costuma atingir tais círculos e circos. 

Que tais pessoas não esqueçam a Educação de qualidade como sólido preparo para a economia no futuro e sua sustentabilidade. Sem o humano qualificado nem o “robot” da fábrica recebe boa manutenção. Sem Educação que faça do estudante descobrir seu talento e procure oportunidades para exercê-lo, nada se sustenta. A esperança, passada a euforia inicial, é que a nova equipe do Governo não caia em erros de “tecnocrata”. Que não se esqueça que os representantes eleitos pelo povo e empresas devem sempre ser ouvidos e consultados para as grandes decisões ou pelo menos bem orientado para elas.  Que não seja verdadeira a frase de um Governador eleito, que ao ser entrevistado pela TV, afirmou com a boca cheia:” Meu Governo será de técnicos, pois não tenho compromisso com ninguém”. Cabe lembrar que a Ordem do Dia estará sendo feita durante cada dia e de acordo com a representatividade. Não somos mais a pátria sindical, mas não somos quartel.  Não somos a nau pirata à deriva, mas não somos nenhum transatlântico.  Há muito a ser feito e tudo com diálogo e debate.  A construção se faz com o esforço e participação de todos. Para tanto não será possível eliminar subitamente o presidencialismo de coalizão, pois no momento não há outro sistema que corresponda à cultura política já instalada. Certamente o Governo eleito não tem um plano pré-fabricado para ser implantado tecnocraticamente. Tem, sim, princípios e sabe o que não vai tolerar. Portanto, dependerá de muito debate e diálogo com os representantes da população.

Entre as mudanças espera-se que o Governo reverta as tendências de fundo no cenário nacional, dosando o pragmatismo, o individualismo, o puro racionalismo, o utilitarismo etc., que vêm condicionando a mentalidade dos mais jovens e produzindo seres calculistas, frios, sem sensibilidade humana. Lembre-se que num edital para contratações de soldados de polícia militar havia uma exigência de que o candidato fosse insensível às manifestações humanas, não se afetasse com histórias humanas de romance e amor etc. Após reclamação a exigência foi excluída, mas foi o suficiente para denunciar a mentalidade que se instala na cabeça das gerações atuais. Evidentemente, a exigência eliminada, havia sido incluída por pessoas de dentro da corporação, foi submetida a apreciação jurídica e o edital aprovado para publicação, denotando a vontade já instalada de obter a contratação de pessoas insensíveis ao humano. Os “ismos” acima mencionados já não são itens de filosofia invisível à medida que aparecem todos os dias como fundo de comportamentos na sociedade e habitam vários vídeos de comerciais na TV. A coisificação do humano e o desamor ao Próximo são banalizados .

A Educação de qualidade tem que ser a humana, a da afetividade, a que desperta talentos, a que dá compreensão da natureza do ser e seus defeitos, e não a educação mecânica para cortar frango e apertar parafuso.

Só através de uma cuidadosa supervisão poder-se-á reverter tais tendências e assim reduzir os conflitos e a violência em todas as classes sociais. Deve-se reforçar o amor ao Próximo e a empatia em tudo e em todos os projetos. Uma rodovia ou avenida projetada sem levar em conta o humano torna-se um caminho da morte. É um cruzamento sem sinaleiro.

Fica a esperança que desta vez o Governo olhe para a Educação como centro de todas as atenções. Que o Presidente e qualquer dos Governadores saibam extirpar de seus quadros qualquer um que venha a ser picado pelo Poder e denunciado por corrupção. Que os eleitos não pensem em reeleição e não norteiem suas decisões para este fim, pois se a gestão for bem sucedida o próprio povo exigirá a reeleição quase com fato natural, um prêmio por mérito.

Só com Educação de qualidade será planada a semente para daqui algumas gerações começarmos a ver os primeiros sinais de uma sociedade de pessoas menos tosca, grosseiras, autoritárias, inflexíveis, tarefeiras, fisiológicas, intolerantes, egoísticas, materialistas, operacionais, pragmáticas, sem refinamento e com cultura geral zero, seguidoras, manipuladas e condicionadas, caso contrário, só haverá má colheita: a crescente violência em tudo, o desrespeito ao Próximo, a grosseria coletiva, ainda fazendo valer Nelson Rodrigues que disse que o Brasil conheceria a selvageria antes de conhecer a civilização e fazendo valer também Darci Ribeiro que antes de morrer disse que uma criança só tem 7 anos uma vez. A falta de investimento na Educação custará milhões na construção de presídios.

Ninguém os escutou. E esta má qualificação pessoal será determinante na qualidade da mão de obra de todas as profissões e funções. Não adianta querer milagre, sem o humano qualificado por dentro e por fora, não haverá progresso sustentável. Leva décadas para preparar uma pessoa e tirá-la da miséria cultural e da falta de esclarecimento.

O país está precisando de seriedade e honestidade no trato da causa pública. Todas as fichas foram apostadas no novo Governo e não haverá tolerância  com erros estratégicos e nem a Histórica perdoará tais erros. Acabou a brincadeira. O teatro de esquerda e direita fazendo do povo ora um palhaço sentado na arquibancada, ora um tigre vendendo pipoca, não tem vez no cenário. Ficamos muito atrasados, não acompanhamos o mundo. Houve opção  pelos pobres, fazendo-os  de coitadinhos e não contribuímos para crescimento de ninguém. Ao invés de ensinar a pescar, promoveu-se a ociosidade com motivos eleitoreiros.  

Então, com a esperada volta da meritologia para preenchimento de cargos, espera-se mais planejamento, racionalidade e um choque de gestão, mas que não se esqueça o elemento humano. O combate à corrupção será um desafio. Manter diálogo e debate com a sociedade e seus representantes exigirá impor novos meios de comunicação e entendimento. Será um desafio dizer não às propostas de corruptos e corruptores, mas é o necessário, pois as investidas corruptas continuarão porque é cultural e resiste à punibilidade.

Todavia, deve-se evitar o excesso de tecnicismo, porque já vimos isto da esquerda e da direita. Nunca deu certo. Sempre deve haver cuidado para que não haja a supervalorização da técnica, pois pode virar tecnocracia. Deve ser lembrado que a técnica é sempre um meio e nunca o objetivo final.

A tecnocracia anda sempre com o autoritarismo, não gosta de debate e diálogo, é pragmática, rude e inflexível ao apelo humano. Pertence ao tempo das cavernas da democracia. Usada pela direita ou pela esquerda sempre se alimenta do descompromisso com a população representada e geralmente é usada por quem está certo de seus planos no Governo; planos quase sempre que envolvem interesses de dinheiro para a política e acúmulo de recursos para partidos e candidatos. Para que e como dar ouvidos à participação popular ao povo diante de tais objetivos?  Em alguns casos, a lei prevê até audiências públicas, mas estas são “só para inglês ver”, dito popular antigo que mascarava a realidade, tentando enganar o fiscal do agente financiador ou do concessionário.  No autoritarismo camuflado, tudo estava envolto em interesses pela propina. A participação popular era escamoteada e iludida com falsos movimentos de inclusão social, dando uma aparência de popularidade participativa enquanto as quadrilhas assaltavam os cofres públicos com uma voracidade jamais vista. No que efetivamente interessava aos esquemas da corrupção, não havia participação alguma, pois o plano tinha que ser realizado tecnocraticamente, sem engano. 

Assim tem sido a tecnocracia usada por Governos para atingir seus objetivos pouco aproveitáveis para o país, todavia altamente rentáveis para seus promotores. A técnica deste modo aplicada é a arma do tecnocrata. Mas outra realidade pior ainda é a falta de técnica boa e experiente. Tal realidade é danosa quando reflete a falta de planejamento e traduz uma avacalhação total e o descuido com a coisa pública. A politicagem aproveita-se facilmente de tal  realidade e redunda em consequências graves para as finanças do país.

Ademais quem são os técnicos desta época? Não são os oriundos de um sistema educacional falido? Não vêm de faculdades e cursos técnicos dessas últimas décadas? Não são defeituosos tanto quanto a sua origem? Podem ser super-homens da “sabedoria”, com doutorado e cursos no exterior, mas podem  ditar regras finais aos humanos?

Já vimos erros dessa gente no passado de décadas. Resultados assustadores estão por aí até hoje e suas consequências já viraram causa. Não eram técnicos e profissionais de diversas áreas os que estruturavam e organizavam as mega operações de corrupção e lavagem de dinheiro?  Não eram deste tipo os que localizam brechas legais e elaboram meios de burlar a fiscalização, fazendo planejamentos para o mal? Técnicos são operacionais a serviço de alguém, mas logo assumem o comando e passam a ditar regras e condicionar políticos. A manipulação de dados e estatísticas etc., é um forte instrumento de enganação. A técnica pela técnica pode conduzir para que haja uma super preferência por números, porcentagens etc., e a coisificação do humano.

Um critério técnico pode levar a raciocínios frios como neste exemplo: numa estrada há uma curva onde todos os meses ocorrem acidentes e mortes. Na estrada há 200 curvas e passam 1 milhão de carros por mês. Só 0,03% dos carros tem acidente com morte na dita curva. Portanto, o que ocorre na curva X não é importante e nem prioridade. A frieza dos números leva o tecnocrata a operar assim.  Aliena-se da realidade, esquece que um dia na mesma curva podem morrer seu pai, mãe e três irmãos ou um importante político. Daí o tecnocrata se mexe.  

O alerta é este. Não se incorra no erro de alijar a boa política das decisões porque isto nunca dará certo. A missão é afrontar a politicagem, os interesses mesquinhos do nosso modo de cuidar de interesses pessoais e partidários.  A missão é reorganizar, mostrar novos meios e métodos de postura pública, mas sempre com debate, adoção da melhor ideia e visando o bem da Pátria e da Nação. 

Que o brasileiro reganhe sua autoestima, seu orgulho pelo país e não tenha vergonha de dizer que é brasileiro, principalmente quando estiver no exterior estudando, mesmo que com bolsa de estudo paga pelo Governo.   Que ninguém tenha vergonha de cantar o hino nacional e homenagear sua bandeira, que deve permanecer verde, amarela, azul e branca para sempre. Que seja uma Pátria a caminho do progresso e não de retorno ao bom-selvagem, vivendo na beira do mato, detestando tudo e todos que não lhe seja igual.  

É necessário reconhecer e aceitar que não há como ter objetivo de querer uma ilha isolada para ser líder do terceiro mundo, de viver a fantasia de uma economia de mentira, de sucumbir à trama da mentira e da corrupção, de agravar o visível empobrecimento da população enquanto o comitê central da direita ou da esquerda enchia as burras de dólares para se perpetuar no Poder, desejando fazer uma má intencionada revolução caipira, que atrasou o país por décadas e nos deixou à beira da estrada da História como pedintes moribundos. Nos últimos 35 anos pouco foi conseguido para nos libertar da miséria material e espiritual com passos fundamentados, sólidos e honestos. Vimos a roubalheira, a corrupção chegar ao máximo de sua consequência, o aprofundamento da crise moral no sistema político e o comprometimento do futuro das novas gerações. O legado é de fazer chorar e lamentar.  Agora nova esperança e mais fé. 

Assim com um pai faz a vida pensando no futuro dos filhos, um país deve ter Governos que pensem nas gerações futuras em termos materiais e com  Educação sólida e sadia para trabalhar com qualidade e com o sentimento de realização pessoal.  Nas últimas décadas  o que se constatou foi políticos pensando em seus umbigos, em sua megalomania, em seu egoísmo e na reeleição como garantia para continuar no Poder.

Odilon Reinhardt. 3.12.2018