No ar, a esperança de novos
tempos. Mais limpos, mais honestos, mais transparentes e com objetivos claros e
sinceros. O brasileiro é um povo condenado à esperança, dizia Millor Fernandes.
Reformas e novas ideais do mundo
livre, onde o cidadão quer basicamente honestidade e verdade. Nas últimas décadas , teatro, egoísmo, falsidade
e roubalheira atiçaram a sensação de injustiça e deixaram mais longe o ideal de
conforto social. Agora um longo caminho para a normalidade.
A esperança é de mudança no mundo político e
na gestão pública. Urge o fim da corrupção e o uso da receita tributária para
promover o que o país precisa. Que o interesse público deixe de ser contaminado
por segunda intenções.
O Executivo Federal mostra-se
voluntarioso em propor mudança e capitanear a mesma pelo país. O Presidente eleito apresenta-se com
motivação reformista. Espera-se que seja acompanhado pelos Estados e
Municípios, nesta mentalidade nova. Mesmo os outros Poderes na União terão que
acompanhar a onda saneadora, caso contrário não haverá união para mudar. Se
imperar a velha política matreira e corrupta, haverá dificuldades para
enfrentar a crise econômica e alcançar os objetivos constitucionais. Se
continuar a carcomida mentalidade dos falsos nobres do Poder, só haverá reação
e sabotagem.
A rejeição dos meios errôneos de se
fazer política comuns à vida brasileira,
não pode, todavia, afastar a boa política, a manifestação justa da
população através dos meios institucionais de representação. Tampouco pode o
interesse público ser eleito sem tal participação política. Sempre se deve preservar o amplo debate, pois
este é o coração da democracia.
O grande desafio histórico será diminuir
o Estado, privatizar o necessário, reformar a Previdência, vender patrimônio
ocioso, gerenciar os ativos, reduzir o quadro de funcionário e seus benefícios,
adotar boa gestão financeira, executar um orçamento factível, fazer a reforma
tributária, instituir um sistema de Educação que desenvolva as pessoas no seu
todo e desperte talentos, reduzir o analfabetismo de 4% e o semianalfabetismo
de 96%, propor legislação de tolerância zero contra o crime organizado e a
corrupção, rejeição total às antigas fórmulas da política para aprovação de projetos e reafirmando a
vontade popular de que o Governo não seja uma ação entre amigos, fazer o
retorno dos bons valores do humano, estimulando o crescimento e o refinamento,
ao contrário de perpetuar sua miséria para efeitos políticos de perpetuação no
Poder de grupos ideológicos, abandonar a
diplomacia ideológica para o terceiro mundo e a opção pela miséria, eleger
obras de interesse público legítimo, priorizar o social e a infraestrutura
sadia e produtiva, aperfeiçoar a fiscalização e o controle sobre esta, fazer
voltar a meritologia para o preenchimentos de cargos, estimular as exportações
como fonte de captação de recursos, desburocratizar, promover a transparência
das contas públicas, eliminar o discurso fascista,as estatísticas manipuladas e
mentirosas , fazer voltar a ética e a moral para a sociedade, etc. ao infinito.
Como se pode ver a lista de
itens de reforma é tão longa a ponto de fazer o retrato do país empobrecido que
estávamos vivendo. É um desafio histórico e vai de encontro à cultura de muitos
que se habituaram a usar o dinheiro público como direito divino, atuando sem
limites em sua megalomania. Nem se pode pensar em admitir que entre os 44
milhões do candidato derrotado, alguém estivesse pensando no continuísmo da
realidade acima mencionada. A rota era a “venezualização” do país. Será que
isto seria bom para a população? Não. Será que os tais eleitores pensaram
nisto? Será que não estavam acreditando numa
falácia perigosa e niilista? A mentira repetida por tantos anos foi fazendo
crenças e tornando-se escamoteada verdade. A população estava de adaptando a
níveis cada vez mais baixos de realidade.
Agora, a torcida e a
esperança é que tais reformas sejam bem feitas e estejam nas mãos de bons
políticos, patrióticos e humanos. O imenso grupo para compor o Governo, com
figuras pinçadas de carreiras técnicas da atividade pública e da iniciativa
privada, eleitas sem eleição, terá o desafio de promover o progresso e alcançar
o bem público com qualidade e solidez. Não será possível errar. A História não
permite mais.
De nenhuma das pessoas,
alçadas ao poder, espera-se que sirva para caracterizar no teatro público, o
papel do “Asinus ad Lyram” ou seja o “burro diante da Lira” , equivalente ao
“burro no Palácio do Poder”. Que usem do
seu saber e não esqueçam que de nada adiante termos avenidas novas e
iluminadas, se por ela continuar a passar a miséria em suas várias versões.
Bons lucros no mercado financeiro e fartos dividendos podem não significar nada
em termos dos objetivos constitucionais. Espera-se que estas pessoas não sejam
picadas pelas moscas do Poder e não sejam tomadas pela megalomania que costuma atingir
tais círculos e circos.
Que tais pessoas não
esqueçam a Educação de qualidade como sólido preparo para a economia no futuro
e sua sustentabilidade. Sem o humano qualificado nem o “robot” da fábrica
recebe boa manutenção. Sem Educação que faça do estudante descobrir seu talento
e procure oportunidades para exercê-lo, nada se sustenta. A esperança, passada
a euforia inicial, é que a nova equipe do Governo não caia em erros de
“tecnocrata”. Que não se esqueça que os representantes eleitos pelo povo e
empresas devem sempre ser ouvidos e consultados para as grandes decisões ou
pelo menos bem orientado para elas. Que
não seja verdadeira a frase de um Governador eleito, que ao ser entrevistado
pela TV, afirmou com a boca cheia:” Meu Governo será de técnicos, pois não
tenho compromisso com ninguém”. Cabe lembrar que a Ordem do Dia estará sendo
feita durante cada dia e de acordo com a representatividade. Não somos mais a
pátria sindical, mas não somos quartel. Não
somos a nau pirata à deriva, mas não somos nenhum transatlântico. Há muito a ser feito e tudo com diálogo e
debate. A construção se faz com o
esforço e participação de todos. Para tanto não será possível eliminar
subitamente o presidencialismo de coalizão, pois no momento não há outro
sistema que corresponda à cultura política já instalada. Certamente o Governo
eleito não tem um plano pré-fabricado para ser implantado tecnocraticamente.
Tem, sim, princípios e sabe o que não vai tolerar. Portanto, dependerá de muito
debate e diálogo com os representantes da população.
Entre as mudanças espera-se
que o Governo reverta as tendências de fundo no cenário nacional, dosando o
pragmatismo, o individualismo, o puro racionalismo, o utilitarismo etc., que vêm
condicionando a mentalidade dos mais jovens e produzindo seres calculistas,
frios, sem sensibilidade humana. Lembre-se que num edital para contratações de
soldados de polícia militar havia uma exigência de que o candidato fosse
insensível às manifestações humanas, não se afetasse com histórias humanas de
romance e amor etc. Após reclamação a exigência foi excluída, mas foi o suficiente
para denunciar a mentalidade que se instala na cabeça das gerações atuais.
Evidentemente, a exigência eliminada, havia sido incluída por pessoas de dentro
da corporação, foi submetida a apreciação jurídica e o edital aprovado para
publicação, denotando a vontade já instalada de obter a contratação de pessoas
insensíveis ao humano. Os “ismos” acima mencionados já não são itens de
filosofia invisível à medida que aparecem todos os dias como fundo de
comportamentos na sociedade e habitam vários vídeos de comerciais na TV. A
coisificação do humano e o desamor ao Próximo são banalizados .
A Educação de qualidade tem
que ser a humana, a da afetividade, a que desperta talentos, a que dá compreensão
da natureza do ser e seus defeitos, e não a educação mecânica para cortar
frango e apertar parafuso.
Só através de uma cuidadosa
supervisão poder-se-á reverter tais tendências e assim reduzir os conflitos e a
violência em todas as classes sociais. Deve-se reforçar o amor ao Próximo e a
empatia em tudo e em todos os projetos. Uma rodovia ou avenida projetada sem
levar em conta o humano torna-se um caminho da morte. É um cruzamento sem
sinaleiro.
Fica a esperança que desta
vez o Governo olhe para a Educação como centro de todas as atenções. Que o
Presidente e qualquer dos Governadores saibam extirpar de seus quadros qualquer
um que venha a ser picado pelo Poder e denunciado por corrupção. Que os eleitos
não pensem em reeleição e não norteiem suas decisões para este fim, pois se a
gestão for bem sucedida o próprio povo exigirá a reeleição quase com fato
natural, um prêmio por mérito.
Só com Educação de qualidade
será planada a semente para daqui algumas gerações começarmos a ver os
primeiros sinais de uma sociedade de pessoas menos tosca, grosseiras,
autoritárias, inflexíveis, tarefeiras, fisiológicas, intolerantes, egoísticas,
materialistas, operacionais, pragmáticas, sem refinamento e com cultura geral
zero, seguidoras, manipuladas e condicionadas, caso contrário, só haverá má colheita:
a crescente violência em tudo, o desrespeito ao Próximo, a grosseria coletiva,
ainda fazendo valer Nelson Rodrigues que disse que o Brasil conheceria a
selvageria antes de conhecer a civilização e fazendo valer também Darci Ribeiro
que antes de morrer disse que uma criança só tem 7 anos uma vez. A falta de
investimento na Educação custará milhões na construção de presídios.
Ninguém os escutou. E esta
má qualificação pessoal será determinante na qualidade da mão de obra de todas
as profissões e funções. Não adianta querer milagre, sem o humano qualificado
por dentro e por fora, não haverá progresso sustentável. Leva décadas para
preparar uma pessoa e tirá-la da miséria cultural e da falta de esclarecimento.
O país está precisando de
seriedade e honestidade no trato da causa pública. Todas as fichas foram
apostadas no novo Governo e não haverá tolerância com erros estratégicos e nem a Histórica
perdoará tais erros. Acabou a brincadeira. O teatro de esquerda e direita
fazendo do povo ora um palhaço sentado na arquibancada, ora um tigre vendendo
pipoca, não tem vez no cenário. Ficamos muito atrasados, não acompanhamos o
mundo. Houve opção pelos pobres, fazendo-os de coitadinhos e não contribuímos para
crescimento de ninguém. Ao invés de ensinar a pescar, promoveu-se a ociosidade
com motivos eleitoreiros.
Então, com a esperada volta
da meritologia para preenchimento de cargos, espera-se mais planejamento,
racionalidade e um choque de gestão, mas que não se esqueça o elemento humano.
O combate à corrupção será um desafio. Manter diálogo e debate com a sociedade
e seus representantes exigirá impor novos meios de comunicação e entendimento.
Será um desafio dizer não às propostas de corruptos e corruptores, mas é o necessário,
pois as investidas corruptas continuarão porque é cultural e resiste à
punibilidade.
Todavia, deve-se evitar o
excesso de tecnicismo, porque já vimos isto da esquerda e da direita. Nunca deu
certo. Sempre deve haver cuidado para que não haja a supervalorização da
técnica, pois pode virar tecnocracia. Deve ser lembrado que a técnica é sempre
um meio e nunca o objetivo final.
A tecnocracia anda sempre
com o autoritarismo, não gosta de debate e diálogo, é pragmática, rude e
inflexível ao apelo humano. Pertence ao tempo das cavernas da democracia. Usada
pela direita ou pela esquerda sempre se alimenta do descompromisso com a
população representada e geralmente é usada por quem está certo de seus planos
no Governo; planos quase sempre que envolvem interesses de dinheiro para a
política e acúmulo de recursos para partidos e candidatos. Para que e como dar
ouvidos à participação popular ao povo diante de tais objetivos? Em alguns casos, a lei prevê até audiências
públicas, mas estas são “só para inglês ver”, dito popular antigo que mascarava
a realidade, tentando enganar o fiscal do agente financiador ou do
concessionário. No autoritarismo
camuflado, tudo estava envolto em interesses pela propina. A participação
popular era escamoteada e iludida com falsos movimentos de inclusão social,
dando uma aparência de popularidade participativa enquanto as quadrilhas
assaltavam os cofres públicos com uma voracidade jamais vista. No que
efetivamente interessava aos esquemas da corrupção, não havia participação alguma,
pois o plano tinha que ser realizado tecnocraticamente, sem engano.
Assim tem sido a tecnocracia
usada por Governos para atingir seus objetivos pouco aproveitáveis para o país,
todavia altamente rentáveis para seus promotores. A técnica deste modo aplicada
é a arma do tecnocrata. Mas outra realidade pior ainda é a falta de técnica boa
e experiente. Tal realidade é danosa quando reflete a falta de planejamento e
traduz uma avacalhação total e o descuido com a coisa pública. A politicagem
aproveita-se facilmente de tal realidade
e redunda em consequências graves para as finanças do país.
Ademais quem são os técnicos
desta época? Não são os oriundos de um sistema educacional falido? Não vêm de
faculdades e cursos técnicos dessas últimas décadas? Não são defeituosos tanto
quanto a sua origem? Podem ser super-homens da “sabedoria”, com doutorado e
cursos no exterior, mas podem ditar
regras finais aos humanos?
Já vimos erros dessa gente
no passado de décadas. Resultados assustadores estão por aí até hoje e suas
consequências já viraram causa. Não eram técnicos e profissionais de diversas
áreas os que estruturavam e organizavam as mega operações de corrupção e
lavagem de dinheiro? Não eram deste tipo
os que localizam brechas legais e elaboram meios de burlar a fiscalização,
fazendo planejamentos para o mal? Técnicos são operacionais a serviço de
alguém, mas logo assumem o comando e passam a ditar regras e condicionar
políticos. A manipulação de dados e estatísticas etc., é um forte instrumento
de enganação. A técnica pela técnica pode conduzir para que haja uma super
preferência por números, porcentagens etc., e a coisificação do humano.
Um critério técnico pode
levar a raciocínios frios como neste exemplo: numa estrada há uma curva onde
todos os meses ocorrem acidentes e mortes. Na estrada há 200 curvas e passam 1
milhão de carros por mês. Só 0,03% dos carros tem acidente com morte na dita
curva. Portanto, o que ocorre na curva X não é importante e nem prioridade. A
frieza dos números leva o tecnocrata a operar assim. Aliena-se da realidade, esquece que um dia na
mesma curva podem morrer seu pai, mãe e três irmãos ou um importante político.
Daí o tecnocrata se mexe.
O alerta é este. Não se
incorra no erro de alijar a boa política das decisões porque isto nunca dará
certo. A missão é afrontar a politicagem, os interesses mesquinhos do nosso
modo de cuidar de interesses pessoais e partidários. A missão é reorganizar, mostrar novos meios e
métodos de postura pública, mas sempre com debate, adoção da melhor ideia e
visando o bem da Pátria e da Nação.
Que o brasileiro reganhe sua
autoestima, seu orgulho pelo país e não tenha vergonha de dizer que é
brasileiro, principalmente quando estiver no exterior estudando, mesmo que com
bolsa de estudo paga pelo Governo. Que
ninguém tenha vergonha de cantar o hino nacional e homenagear sua bandeira, que
deve permanecer verde, amarela, azul e branca para sempre. Que seja uma Pátria
a caminho do progresso e não de retorno ao bom-selvagem, vivendo na beira do
mato, detestando tudo e todos que não lhe seja igual.
É necessário reconhecer e
aceitar que não há como ter objetivo de querer uma ilha isolada para ser líder
do terceiro mundo, de viver a fantasia de uma economia de mentira, de sucumbir
à trama da mentira e da corrupção, de agravar o visível empobrecimento da
população enquanto o comitê central da direita ou da esquerda enchia as burras
de dólares para se perpetuar no Poder, desejando fazer uma má intencionada
revolução caipira, que atrasou o país por décadas e nos deixou à beira da
estrada da História como pedintes moribundos. Nos últimos 35 anos pouco foi
conseguido para nos libertar da miséria material e espiritual com passos
fundamentados, sólidos e honestos. Vimos a roubalheira, a corrupção chegar ao
máximo de sua consequência, o aprofundamento da crise moral no sistema político
e o comprometimento do futuro das novas gerações. O legado é de fazer chorar e
lamentar. Agora nova esperança e mais
fé.
Assim com um pai faz a vida
pensando no futuro dos filhos, um país deve ter Governos que pensem nas
gerações futuras em termos materiais e com
Educação sólida e sadia para trabalhar com qualidade e com o sentimento
de realização pessoal. Nas últimas
décadas o que se constatou foi políticos
pensando em seus umbigos, em sua megalomania, em seu egoísmo e na reeleição
como garantia para continuar no Poder.
Odilon Reinhardt. 3.12.2018