terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Natal 2019






                                               










                                                            
                                                                    Natal de 2019.



Indo para um país, onde não conhecemos a língua e não temos ocupação alguma, somo classificados como turistas ou refugiados ou qualquer outra categoria, como justificativa, por não estarmos encaixados no mundo da produção local ali existente.
Neste contexto, até o mendigo na calçada está mais qualificado do que nós, pois pelo menos possui ali uma vida particular com histórico, domina a língua  e seja ,talvez, um abandonado pai de família/comerciante/fazendeiro, uma vítima do fogo, da inundação, da crise econômica, da guerra contra si mesmo, da depressão, desnutrição, de qualquer evento humano que lhe fez perder tudo, sem chances de um recomeço. Sabe-se lá, tal é a adversidade e quantidade de situações pessoais que podem afetar cada um em qualquer fase da vida.
A única segurança emocional que temos é que há um espírito superior que iguala todos os seres humanos, ou seja, o espírito de humanidade, expresso na fraternidade, união, solidariedade e compaixão.  
Em qualquer lugar da Terra, sabe-se o que é um sorriso de gratidão, um abraço de afeto, um grito de socorro, uma palavra de boa orientação, uma mão estendida para o Próximo, um simples bom dia ou qualquer outro gesto que diga que a pessoa esta sendo percebida independentemente de sua situação.     
E é este espírito humano que ressurge um pouco desgastado, puído, de tanto lutar para sobreviver no meio do estresse de prazos, iniquidades e compromissos do mundo de trabalho, para, no teatro do final de ano, fazer-se presente e lembrado num abraço, num presente, numa palavra de conforto e estímulo. É o curto tempo de pausa para reflexão sobre os passos que vem sendo dados e o rumo a tomar.
Muitos de tão esgotados, esmagados pelo pragmatismo da rotina que seguem, nem condição possuem de pensar, tal seu estado miserável, seu cansaço, seu estresse, sua mente invadida, ansiosa e confusa de sua posição como objeto da vida, que o faz até mesmo desprezar o fim do ano e seus eventos.  E você? Como chegou à época de Natal de 2019?
Passada a pausa, a época do final de ano, presentes comprados e distribuídos, continua a vida, tocada e empurrada por ditames e condicionamentos pouco debatidos, que levam a mais um ano de estresse e esgotamento. Esperanças renovadas, planos feitos que logo se revelam como impossíveis quando confrontados com a necessidade de mudança do dia a dia e do modo de agir e pensar. Há alguém satisfeito aí? Isto tudo esta dando bom resultado pessoal? Por que tantos problemas e violência se tudo está como dizem, “ok”?
E o espírito de humanidade, tão anunciado e propalado pelo comércio e mídia, deve ser recolhido ao íntimo de cada um para só reviver um ano depois? Será que serve só para ser usado nas festas de fim de ano ou deve ser praticado todo dia a qualquer tempo em todos os lugares do mundo?
Muito já melhorou, pessoas estão despertando e o mundo está mudando. Não se deve perder a esperança diante da lentidão evolutiva. O ego deve ser dominado e o medo de perder e a contrariedade devem ser domados.
O esforço é pessoal, contamina o grupo e avança para a coletividade. É o caminho que não deve ser abandonado. Não podendo mudar o mundo subitamente, mude o seu interior e seja exemplo. Exemplos de humanidade constroem pensamento positivo, harmonia, sinergia. Garanta-se, chegue ao próximo Natal descansado, amando a vida, fazendo planos de prosperidade e de elevação da humanidade. É o único caminho longe do negativismo, do conflito e da confusão interna e externa.  Aproveite o Natal, não há nada igual.


                                                É natal, tempo especial.

A cidade  se enche de luz.
já está no ar,
o Natal , tudo tão especial.

Já é Natal,
seduz os corações,
cria eternas emoções,
não há nada igual.

Ruas e árvores em cores,
o amor invade os sorrisos e lares,
tudo brilha neste tempo ,
tudo é luz e não na nada igual.

Brilham os pinheiros,
brilha em paz e suavidade a flor do passeio,
a criança sorri com seus brinquedos,
brilham os olhos com esperança e amor. 

É Natal,
não há nada igual
em Curitiba tudo é especial. 

 
Odilon Reinhardt.
( poesia utilizada por Reinaldo Godinho para
compor sua poesia e música Tempo de Natal).

domingo, 3 de novembro de 2019

Vox clamantis in deserto. Sinais menosprezados?









                                                            “ Vox clamantis in deserto”.
                                                              Sinais menosprezados?



    
A realidade, em sua rápida e plural diversificação de interesses, ocupa e ao mesmo distrai a capacidade humana em focar o essencial, o invisível. Há sempre tantos eventos diários com prazos, fotos e fatos que o pano de fundo do teatro bem como a imagem do caleidoscópio em si é menosprezada. No entanto, tudo que vai acontecendo decorre de ideais, de causas a longo tempo existentes, que acabam deixadas de lado. Neste sentido, há muitos sinais que estão sendo dados e operam livremente, desde há muito tempo na realidade, originando causas que se misturam as consequências, acabando por montar uma complexidade difícil de cativar a atenção das pessoas que deveriam melhor considerá-las para tomar atitudes práticas.
Não é do mundo quadradinho das pessoas da produção, já condicionadas e estreitadas a seus currais de trabalho, onde a liberdade é formatada pelos ditames do salário e do emprego, que estão vindo os sinais, mas sim da camada ainda livre, a juventude, cujas ações e reações, de há muito, vem avisando de mudanças no pensamento e que expressam o olhar o mundo e a vida diferentemente dos tradicionais ensinamentos de pai para filho, muito embora, a vida tenha fases bem definidas e a idade avance sobre todos, o que vem sendo desconsiderado visivelmente. 
Ao longo das últimas 5 décadas, um conjunto de filosofias deitou-se sobre a civilização e ao serem utilizadas por forças da produção e da comercialização, favoreceram mudanças do pensar e do atuar da juventude, colocando contra a parede os padrões normais da estrutura para o viver, conviver e sobreviver. Agora tendo recebido o avanço e tendo sido turbinada pela tecnologia e seus inúmeros aparelhos de comunicação, os novos pensamentos e uma nova concepção de vida é amplamente divulgada e marca atualmente o cisma do jovem em relação ao comportamento até então comum e de preparo, nos moldes como costumava ser formatado para a participação no mundo do comércio e da indústria do modo que os adultos vinham  conduzindo.
O jovem de hoje não é mais o elemento que o sistema clássico projetou. Ao longo do percurso, embora os múltiplos condicionamentos tentados, o produto está saindo da forma de modo diverso do esperado e a juventude tem emitido sinais bem mais contundentes para a sociedade. Mais uma vez, a sociedade e seus olheiros falham em localizar tais sinais ou quando o fazem falham em considerá-los como mutantes e capazes de mudar o “establishment”.
A mesma atitude foi a que levou a imprensa, a mídia e toda a sociedade adulta a não enxergar a chegada dos abalos sociais de 1968 no mundo, revoltas de comportamento, fruto das décadas anteriores, sem envolvimento com questões econômicas. Na época a reação foi rápida, a indústria e o comércio aproveitaram para aumentar a produção e as vendas utilizando o espírito de mudança e de revolta, investindo na moda e música; a bandidagem estruturou o mercado da droga, como meio de fuga para os jovens insatisfeitos. O mundo se acomodou e se ajustou como se fosse moda passageira. Todavia, a semente do movimento continuou e hoje já está arraigada no pensamento da juventude, de um modo muito mais consolidado e duradouro. Não é só a consciência crescente quanto à alimentação (sal, açúcar, carne, refrigerantes etc.), saúde, educação clima, meio ambiente que revela e se faz de porta-bandeira  de um novo entendimento sobre o mundo e o modo de viver, mas também a intolerância, a insatisfação quanto a visão de futuro, quanto as  incoerências do aparelhamento da sociedade em relação aos necessários  preparos para os novos meios de vida pretendidos, quanto aos sistemas e meios de governo, aos sistemas políticos, que visivelmente pouco resultado têm apresentado para a sociedade e seu futuro. Pode-se até questionar se muitos dos políticos e autoridades atuais que estão na cadeia por corrupção não foram jovens rebeldes dos anos 50 e 60, que por ideologia contrária optaram por encher as burras de dinheiro para seu próprio umbigo egoísta, deixando os interesses do país à míngua; uma espécie de sabotagem ao sistema, com visíveis proveitos próprios e um abraço aos demais. Até que ponto não são legítima expressão dos defeitos da sociedade que os gerou?  Há muitos modos de expressar revolta contra o “establisment”.
Fato é que a juventude de hoje, unida como nunca no mundo, está, ao seu modo e com grande parcela de inconsciência, preparando-se para rebelar-se contra tudo e todos de um modo mais agressivo. O jovem humilde, temeroso e reverente quanto aos adultos, ricos ou pobres, bem como aos demais deixou de existir. Uma pedra jogada contra a polícia ou contra uma loja,tem razões muitas vezes distintas e um endereço diverso das que a mídia lhe quer emprestar.  Nem o atirador da pedra sabe muito bem porque jogou, mas o ato cabe na ideologia, na visão de quem vê a vidraça quebrada e se coloca como apoiador.  É esta insatisfação anônima, sem clareza, sem muita coerência que está sufocada e faz o barulho no silêncio das pessoas. Como todo processo, há um começo, meio e fim, basta o “start”, que pode ser o mais insignificante em termos econômicos, mas que pode dar vazão a uma descontrolada manifestação de resultados que representam um fato importante para a ideologia em formação e avança contra a cultura, o poder, o “establisment” que vem resistindo.  
E diante de fatos, que se repetem aqui e ali no mundo, a mídia, sempre focada nos assuntos do dia a dia, mormente na política, preocupada como o ”Poder”,  perde a visão geral e é sempre surpreendida perante  eventos populares, para os quais se preocupa em por bandeiras de acordo com sua visão e interesse.
As mensagens são, todavia, cada vez mais recorrentes de que as futuras gerações, que ocuparão o mundo em termos de decisão e controle, e não desejam seguir os mesmos modelos e padrões, embora a racionalidade produtiva siga passos que dificilmente são de grande variação. Produzir-vender –consumir é um triângulo de duração eterna e condiciona o mundo e mantém a paz ou faz a guerra. Se há mudanças neste triângulo de existência, é o comportamento humano que interfere e faz mudanças de tempos em tempos, conforme as forças manipuladoras existentes a cada época com seus meios de operação. 
Há décadas, o marketing de propaganda e a mídia mundial tem espalhado mensagens impregnadas de valores e princípios, muitos deles negativos, que atingem a juventude, fazendo assim uma mentalidade diferente que redunda hoje em não seguir modelos, não adotar padrões e não respeitar autoridade e instituições; isto vem sendo pregado sistematicamente em dissintonia com o comportamento exigido pelos órgãos de controle e governo. Ao par desta realidade, o mundo informatizado vem criando novo modo de ser e dotando  os jovens de hábitos e necessidades que antes não existiam. Nasce uma nova lógica, sem paradigmas.
A juventude das últimas décadas tem e foi levada à oportunidade existencial única de criar seu próprio modo de pensar, desconectada dos pais e do “establisment”. Será que quando ocupantes de cargos públicos etc, não refletem tal sentimento e ideologia, priorizando o umbigo em detrimento dos interesses do país. Não seria uma repetição do já visto em termos de descompromisso com a estrutura formal da produção e governo. De certo modo uma nova versão da anticultura.  Mesmo em países orientais mais conservadores e onde a juventude recebe educação de qualidade, os jovens  mostram-se diferentes e indiferentes e possuem nas mãos instrumentos para mostrar a qualquer instante sua força de unidade e ação. Já nos países menos favorecidos, meio à crescente falta de Educação de qualidade e problemas econômicos de difícil solução, o despreparo da juventude é visível e a ignorância impulsiona as forças contrárias ao respeito ao padrão tradicional usado pela democracia, para debate e discussão e demais instrumentos da sociedade formal para resolver seus problemas. Surge com muito mais manchas de tinta de impaciência, o jovem ansioso, frio, calculista, pragmático e intolerante, fisiológico, pronto para resolver tudo no ímpeto das atitudes violentas.
E com a renovação das gerações, os padrões antigos vão cedendo e sendo enfraquecidos sob a justificativa de serem resquícios do autoritarismo, muito embora a atitude que se observa é de um autoritarismo jovem renovado e muito mais violento, eis que nascido da contrariedade ao ego muito mais forte . O caldo desta vez não será resultante da adoção de mensagens de desobediência civil, de beatniks, de filosofias orientais de amor e paz, de músicas de Beatles e Rolling Stones, de moda descontraída; os sinais apontam para algo mais contundente, pois os jovens estão mais exigentes, e como a sociedade demora ou não os satisfaz, há mais focos de ansiedade, contrariedade e insatisfação. O estouro dependerá da força do estímulo que for causado a nível pessoal ou coletivo.  Enquanto a juventude fica contida, a revolta fica no silêncio ensurdecedor e nos atos pequenos da vida particular.      
Quem instigou o estabelecimento de maus valores e princípios através de meios subliminares nas décadas do pós–guerra, com a justificativa de necessidade de democratização e liberdade deveria monitorar os resultados e estar atento aos sinais que vem da manada. Mas não o faz, porque está sistematicamente focado no Poder e nas movimentações políticas. Por tal motivo, não antevê nada; nem a previsão do tempo com precisão. Se tem plena ciência do que está acontecendo, deixa solto e nada fala porque talvez ideologicamente lhe beneficiará. Quem está e sempre esteve por trás de tudo isto? Ou tudo isto foi se formando por si só? Tudo leva a crer que grupo de arquitetos criadores perdeu o controle de seus filhotes e capacidade de crítica, pelo que se surpreende a cada manifestação como qualquer um .
 Assim é que na década de 60, a mídia achava tudo bonito e entrava na onda, pois garantia o seu caixa gordo e o comércio. Ninguém deu muita atenção à chegada da droga no país, o começo com boletas de anfetaminas parecia algo divertido e para poucos e o que temos hoje? Ninguém viu as consequências do tabaco e álcool a longo prazo e no que deu isto?   Em 1971 não previram as colossais revoltas contra a Guerra do Vietnã; não previram a primavera árabe, iniciada por uma jovem e seu celular, do mesmo modo que são e foram incapazes de antecipar movimentos em vários países nos quais a juventude tem se mostrado mais revoltada e poderosa. Há uma crescente de manifestações populares jovens em todo o mundo, todavia ainda sufocadas pela polícia, a qual se mostra cada vez mais insuficiente. As simples pichações de muros e casas já mandavam mensagens de uma nova mentalidade e de tendências que não foram lidas. Será que pichações com “Vamos invadir tudo!” não queriam dizer nada. A questão é quando, como e onde as manifestações vão se tornar incontroláveis. Já se viu acontecer que a elevação de centavos em algum serviço público foi capaz de desencadear revoltas desproporcionais como ocorreu em 2013 a partir de São Paulo, num movimento que acordou as massas hipnotizadas e culminou com a queda de um regime inteiro anos após. 
Por hora, o que se observa é que os movimentos levam para a rua jovens revoltados com situações pessoais, uma revolução silenciosa que em parte só pode ser dissipada com o aumento da idade e as respostas positivas que a sociedade possa dar em termos de emprego e melhorias econômicas, mas a tendência é de revolta. A motivação é em grande maioria alheia à motivação política de esquerda ou direita, porque o jovem está pouco ligando para isto, já que sua cabeça está mais voltada a ver a realização no mundo de sua nova mentalidade, dos desejos e vontades que lhes incutiram, dos resultados dos valores e princípios que o construíram internamente e para os quais não conseguem identificar possibilidades nos padrões e modelos formais do chamado “sistema”. Considerando que a juventude foi estendida até os 30 anos e a entrada no mercado de trabalho postergada, temos um reforço no número de jovens potencialmente revoltosos para engrossar manifestações, as quais têm surgido com mais frequência, diante de eventos de contrariedade, promovidas contra seus sonhos e projetos de vida.
O fato é que as gerações de jovens que usufruirão do mundo são diferentes e possuem objetivos diferentes pelo que os modelos e padrões até agora vigentes passam a ser vistos por elas como incompetentes para o mundo idealizado. A renovação já está em andamento e veremos, por enquanto, crescentes reações à medida que o “Poder” não venha a atender os padrões e modelos dos jovens; haverá manifestações coletivas cada vez mais contundentes e de certo modo cínicas e ignorantes quando desprendidas da racionalidade mínima. Antes era: quanto menos Educação, mais manipulação; hoje e amanhã , quanto menos Educação, mais confusão.
Seja lá como for, em 20, 30 anos, as novas gerações estarão no comando com suas decisões e mentalidade. E esta que começou a ser montada no pós-guerra foi turbinada a partir dos anos 80 pela tecnologia virtual.  Nunca a juventude teve a seu dispor tantos elementos de mudança e união como atualmente. E aparentemente os meios de comunicação, analistas etc., não estão lendo o ruído do silêncio existente. Uma nova “generation gap” está em andamento e os políticos, a imprensa etc. não estão lendo os sinais porque continuam anestesiados e estão sempre cuidando de seus umbigos, esquecendo da gestação que está em curso. A imprensa e o governo ainda serão  tomados de surpresa por muitas reações populares.
O fato é que esta juventude é diferente em tempos diferentes. Produto de novos tempos, ela parece não ser filha de seus pais, mas produto de si mesma, com princípios e valores adquiridos do mundo virtual que a captou. Como em tudo, há o lado positivo e o negativo, mas a Educação formal continua falha e o papel da família não é o mesmo. Como em todas épocas, há desafios e nem tudo será caos e desastre, mas dependendo das particularidades de cada país, ainda veremos muito no campo da transição, pois a contrariedade é forte e persistente e a ignorância e a falta de esclarecimento são espoletas perigosas. 
No caldo em que isto se desenvolve, há uma diversidade muito grande de novas realidades, que se entrelaçam formando causas jamais vistas pela humanidade. De mais grave, repita-se que se identificam sinais de revolta pessoal, devido à inconsciência permeada por lampejos de consciência, quanto às impossibilidades existenciais de concretizar sonhos e projetos pessoais; demanda reprimida por chances e oportunidades; limitação educacional; benefícios e malefícios do contato,via informática, com países do primeiro mundo e o crescente sentimento de distanciamento, diferenças e atraso em quase tudo face ao processo histórico de evolução social; sensação de dependência presente e futura; contato com pensamentos e estágios mais avançados da humanidade, o que cria exigências e sonhos, que o país demorará a atender face o seu estágio atrasado de desenvolvimento; efeito de ter Paris na cabeça, para pensar, e o Brasil nos pés, para andar; recorrente  desconfiança quanto às autoridades e Justiça, com crescente desinteresse pela participação na política como meio democrático, contrastando com a ansiedade , agitação mental e expectativa por ações que o Brasil não irá dar na mesma intensidade desejada,o que é reflexo da ideia passada de esperar soluções de cima; desvio e distração do mundo real, protelando cada vez mais o enfrentamento da realidade; recusa de participar em subemprego e ambientes de trabalho sem dignidade;quem pode e tem preparo está deixando o país; falta de persistência; impaciência para percorrer carreiras profissionais de longo prazo; tendência a procurar dinheiro rápido; quem fica, recusa repetir padrões e modelos que aos poucos se revelam como ineficientes para fazer face ao futuro, o que leva à alienação e repugnância quanto aos assuntos da política e Governo, vistos como algo impuro e desonesto, e que fizeram o atraso e danos para o futuro; abandono do patrimonialismo; exposição ao negativismo, etc; nunca se pode esquecer a pressão econômica e as demandas reprimidas em cada jovem como fatores de motivação para o bom ou mal  uso dos meios de informática.  Certamente, o mais provável é que não haja um estímulo suficiente para criar uma convulsão generalizada de fundo, pelo que o país continuará no seu tranco rotineiro. O país sempre continuou como sempre, arrastando-se, perdendo oportunidades, energia; o progresso material que foi sendo alcançado nunca foi o que deveria ser. Com pensamento negativo, sempre haverá desarmonia e mediocridade; as consequências ficam diluídas pela inconsciência, derrotismo, falta de esclarecimento e pelo gigantismo territorial.    
Muitos são os aspectos da realidade que indicam que o jovem de hoje tem mais motivos e mais recursos para provocar mobilização em defesa de seus sonhos para o mundo. Uma juventude mais ansiosa, impaciente, intolerante com um alto de grau de autoritarismo recolhido, pode, a qualquer momento, sair às ruas atendendo a um chamado do “twitter” e logo forma-se uma multidão que vai desabafar,contra a polícia, mil razões pessoais e coletivas.
Começa-se a sentir no dia a dia os efeitos dos “mestres invisíveis”. Diante do arcabouço ideológico impingido ou não, surgiu uma nova mentalidade nos jovens e eles vão à luta para fazer a realidade de acordo com seus sonhos, sejam eles quais forem.
Em síntese, se o Governo se preocupa tanto com meios materiais, que passe a interpretar a nova mentalidade, pois ela forçará a mudança radical dos modos de produzir-vender e consumir, tudo de acordo com o novo modo de sentir-pensar e agir.  Antigas estruturas privadas ou públicas começam a se tornar ineficientes e nenhum poder conservador irá ter sucesso. Meios e modos da política já se revelam obsoletos e atiçam a raiva popular. Muitos são os sinais, poucos são os que estão identificando e interpretando as mensagens que estão vindo da juventude.  A falta de Educação formal de qualidade e o correto esclarecimento formam um caldo errado para a democracia e para os ímpetos de liberdade. Dependendo do evento, a selvageria é a expressão única de união possível.
Para muitos distraídos pela vida do dia a dia político e econômico, nada está ocorrendo, pelo que a juventude segue clamando no deserto e seu silêncio está cada vez mais barulhento.      
A realidade dos erros passados e a manutenção de meios e sistemas sem atualização não aparece claramente porque o país é mantido pequeno. Não é uma sociedade para todos.  Somente num ambiente de progresso econômico e demanda por mão de obra é que verdades virão à tona claramente. Como o país não costuma dedicar-se ao invisível; padece; não pensa a longo prazo. Se sinais são dados, são menosprezados e o país come com farofa o futuro, já de mau gosto, isto já não passa tão desapercebido como antes pelos jovens.   

Odilon Reinhardt. 3.11.2019.                                  


quinta-feira, 3 de outubro de 2019

E assim vai...






                                  
                                             E assim vai ...um tropeço aqui, outro ali.


Subemprego, emprego com tarefas pobres, desemprego. Nenhum destes equipara-se ao perigo da acomodação pessoal. O país não é um grande reduto de pessoas sábias, livres intelectuais; mas a cada dia, forçosamente tornou-se,  sim, um canto de tarefeiros, seguidores, acomodados, voluntária ou necessariamente.
Enquanto a Educação pública bem como a familiar é falha e pobre em despertar e garantir talentos e segue mal em preparar indivíduos para os empregos do mero fazer, um grupo reduzido recebe educação mais qualificada ou até ultraqualificada para a realidade, todavia em ambos os casos, revela-se incapaz de melhorar o comportamento egoístico. No entanto, não é este o tema, mas sim, o que no "emprego" em si, o indivíduo em sua “carreira” pode causar para si mesmo.
No ambiente, muitas vezes conquistado depois de muita entrevista, seleção, exames de "curriculum-vitae", o indivíduo encontra-se no chamado e sonhado “emprego”. E nesta condição humana, já no local de trabalho, interno ou externo, deverá fazer ou continuar fazendo seus meios de sobrevivência.
No local de produção, material ou intelectual, o indivíduo encontra a fase de interação, adaptação, domínio e depois a pior de todas, a de acomodação. Acomodação quase forçada, pois o empregador tem o limite da necessidade de seu negócio, ou seja, a da empresa, e a grande maioria delas não preenche nem estimula o aproveitamento da capacidade do ser humano.  De fato, o emprego é feito para o desempenho de uma gama limitada de atos para produzir algo, de modo que a ocupação do cérebro, formalmente qualificado ou não, raramente ocupa mais de 20% da capacidade e do potencial. Tal fato gera ociosidade cerebral inevitável, muito embora o empregado, com diploma ou não, possa encontrar-se fisicamente ocupado em 100% do tempo funcional, imiscuído em tarefas repetitivas, de pouco ou nenhum desafio intelectual, mesmo nos mais altos empregos de um país, que se tornou sofrível, eis que mergulhado no vazio existencial de sua classe social, independentemente da condição econômica. Isto tem reflexos graves na atividade econômica, na tomada de decisão, na qualidade da produção diária, pois o Governo pode criar todas as medidas positivas para impulsionar a economia, mas não poderá decidir pelo cidadão, seja ele empresário ou empregado, já que ambos reproduzem no dia a dia a cultura que os fez e pela qual vivem.  
Certamente, a ociosidade mental e a decorrente acomodação não são sentidas de imediato, mas sim, como tempo de emprego, lenta e pausadamente, podendo a frustração surgir e ser turbinada pela realidade do baixo salário ou escamoteada pela alta remuneração.
Seja lá como for, a empresa e sua realidade terá influência marcante no destino da pessoa e exercerá o poder determinante na possibilidade ou impossibilidade de substituir a ociosidade por algo mais aproveitável: o desenvolvimento da pessoa pela inteligência emocional, pois uma empresa ou um conjunto de empresas na vida de uma pessoa será o pano de fundo do cidadão durante sua jornada pelas fases da vida e o seu inevitável envelhecimento intelectualmente medíocre ou até mesmo negativo. Nesta jornada perde o país, continuando a ser país pequeno e para poucos. Claro  que no famoso debate entre T. Jefferson e Hamilton, quanto ao destino a ser dado aos EUA, Hamilton defendendo a produção, a indústria e o comércio impôs derrota na dialética com Jefferson, o qual defendia uma pátria de intelectuais. E assim é que até hoje a intelectualidade pertence a um grupo minoritário, principalmente em países em fase ainda de construção com muito a fazer, sob a orientação de poucos que lhes dão a ideia e o que fazer.
O Brasil segue o mesmo caminho, sem, em sua História, ter conhecido qualquer debate neste sentido, já que a intelectualidade aqui é atrasada e reduzida a limites mínimos, o que representa um atraso humano com inegáveis repercussões.
Numa seara de milhares de empresas privadas e outras públicas ou de economia mista, é óbvio que só alguns podem garantir excelência em termos  de sucesso em combater a ocorrência, a curto prazo, da ociosidade e diante desta ofertar soluções através de seu plano de carreira interna, pelo que a frustração e acomodação do indivíduo é quase uma regra.  Portanto, a grande maioria de empresas vive no pobre histórico de seus ocupantes, vivendo de segunda a sábado, por anos a fio, numa rotina hipnotizante.  Embora a produção continue a preencher caminhões ao longo do tempo, até mesmo os resultados começam a mudar em função da decadência intelectual e já física, do humano empregado e muitos casos do próprio empregador.  A este ponto começam os infindáveis cursos de motivação, de conteúdo ineficiente para robotizados  seguidores já na vida de natureza morta.   
Mas tal realidade vai se formando ao longo do emprego e inclui fatos mais degradantes do que estimulantes. Condicionantes internas e necessidades  pessoais acabam gerando realidades que modelam o empregado ao longo das fases da vida, acabando  com sua determinação, criatividade, competitividade, intelectualidade e até mesmo sua identidade. Os efeitos são perversos e tendem a reduzir o indivíduo a um mero seguidor do dia a dia, mergulhado numa maçante rotina de abandono inconsciente. Diante do computador, da máquina ou da mesa, fenecem as mulheres como flores secas num ambiente seco e brutalizado por homens já desacorçoados com a realidade que fazem com muita acomodação.    
Evidentemente, a realidade empresarial, constantemente açodada e  submetida às atrocidades governamentais, à competição do mercado, à limitação da margem de lucro, à flutuação da realidade, é conduzida pelo racionalismo material, pelo pragmatismo etc. em busca da sobrevivência, o que limita drasticamente a visão que o empresário e seus delegados podem dispensar ao empregado, dentro da perspectiva de qualidade de vida e desenvolvimento humano. No frigir dos ovos, não há espaço para que seja diferente, num país de tão variadas realidades, quase todas ruins, pobres e subdesenvolvidas variando do índio ao mais alto posto em qualquer empresa.  
De fato, a mesmice, a repetição de tarefas sem desafio e o ambiente geralmente ruim feito pelos próprios humanos reunidos no emprego, fazem com que na média a empresa seja um fator de empobrecimento intelectual. O fato é que a pessoa é contratada e começa a participar de um ambiente de condicionamentos de várias faces, o que com o tempo acabam lhe moldando o modo de agir e pensar, eis que submetido à mini sociedade ali reinante, a qual está permanentemente controlada pelo estilo de chefia praticada ao longo do tempo e aos efeitos do racionalismo, pragmatismo e utilitarismo, filosofias próprias do mundo da produção.  A isto junta-se o controle exercido pelos próprios colegas numa espécie de constante caça as bruxas, perseguições, mexericos, típico do patrulhamento ideológico do comunismo e da enganosa ideologia de que ali todos são iguais.   
Numa função, onde deve desempenhar tarefas limitadas, inseridas numa rotina, a qualificação do indivíduo tem que se amoldar às exigências da prática. Quanto mais pobre as tarefas de uma função, menos esforço intelectual é exigido. Se altamente qualificado, entrou sabendo e preparado para fazer 1000, acaba fazendo 10, porque é disto que a empresa precisa.  Se pouco ou nada  qualificado, é treinado até poder fazer  os mesmos 10, porque este é o limite da empresa. É o inevitável ajuste às necessidades do trabalho. Qualquer excesso é podado pelo gerente, responsável por manter as formas e seus ocupantes, com o menor desperdício possível. Não há espaço para diletantismo, para liberdade ou qualquer divagação. Inevitavelmente, o humano internado no ambiente de trabalho submete-se ao pragmatismo, utilitarismo,racionalismo da produção e toma tais filosofias como regra de comportamento, e inconscientemente acaba levando tudo para casa onde o relacionamento pessoal é contaminado. O “bitolamento” é assim inevitável e com ele a cruel limitação da atividade intelectual pelo fazer, realidade que ocorre em qualquer  atividade humana independentemente da Educação recebida. Mesmo o mais alto profissional autônomo da medicina ou engenharia acaba  bitolado pela demanda dos clientes que possui. O mesmo e com muito mais intensidade ocorre numa empresa. Cruel platitude para milhares. Mesmo diante do esgotamento e da falta de tempo, alguns , em ato de heroísmo, não se rendem e estudam a noite, na tentativa de mudar.
Cabe a cada um reagir contra a tendência de acomodação e empobrecimento intelectual/profissional, porque sendo dependente de emprego, nunca se sabe em qual fase da vida haverá o momento de enfrentar a seleção no mercado novamente. Uma reação inicial é tirar benefício do plano de carreira que possa existir na empresa; é um estímulo e gera crescimento, cria competição interna mesmo que conviva com os solavancos provocados por mudanças de chefia, de direção, de tecnologia, de investimentos, de crises do mercado, de disputas internas recheadas por muito ego, com constante ataques de controle e do já mencionado patrulhamento comportamental, que funcionam como redutores da sonhada liberdade. No entanto, um mínimo de empresas possui plano de carreira. Portanto, a regra é cada um cuidar-se para não ser morto e ficar na ilusão de estar vivo.       
Contrariando o costume de esperar tudo de cima e dos outros, não se deve esperar estímulo da empresa; o estímulo deve ser da própria pessoa em manter-se alerta. Todavia, as forças contrárias são poderosas, pois o ser humano se dá bem com a acomodação e a estabilidade, adaptando-se ao meio em que vive. Vivendo numa empresa, acaba esquecendo o mundo, a vida, o futuro e as fases da vida; mantido hipnotizado por eventos internos, torna-se cego; a análise crítica e opinião sobre eventos externos baixa a níveis de escassez.  A pessoa deixa isto ocorrer mesmo porque depois de sequências de dia, semanas, meses, anos e décadas de concentração, retorna a sua cada no final de cada dia, atordoado, com a cabeça cheia devido a tanta monotonia, frustração, falta de realização pessoal etc., não lhe cabendo mais nada senão tentar descansar. Não tem cabeça para mais nada. Vive o mundinho da firma numa imitação da vida.  Quantos talentos afogados ou nunca despertados?
O fato é que nos limites da realidade do país, o salário acaba sendo a compensação por tudo. Seu efeito mantém o indivíduo anestesiado. Assim, na mesa de trabalho, o calvário de todos os dias, a liberdade é somente a física  a ser exercida nos fins de semana e feriados, mediante o uso da força da vida e da sobrevivência. O indivíduo é levado a se abandonar e deixar tudo por contado que vier, já como objeto dos eventos e não como sujeito. Foi vencido pelo desalento, pelo desânimo e pela falta de motivação.  Que forças levam a isto? Não é um assunto que mereceria melhor análise por parte de todas as empresas? Não é de interesse da Nação?  
O que deveria  assustar os acomodados e hipnotizados é a progressiva desqualificação num processo lento e imperceptível na medida em que a pessoa se entrega e foca somente as tarefas existentes. A empresa com suas tarefas limitadas é um fator de desqualificação e empobrecimento. Somente diante da ameaça de desemprego,  privatizações  e  incorporações e fusões é que alguns podem acordar, mas talvez já seja muito tarde.
O local de trabalho é um assunto de responsabilidade de todos os seus ocupantes; é assunto que deveria ser tratado com cuidado, para que as pessoas ali se sentissem bem entre seus pares, o que certamente teria repercussão na qualidade de vida do país como um todo. O emprego deveria ser oportunidade de desenvolvimento pessoal e coletivo, fonte de enriquecimento da vida. Raramente tem sido. O que se observa é um desgaste e uma tendência de cair em desuso, pois diante da inabilidade de lidar com esta faceta da nacionalidade, as empresas querem mais é  livrar-se do humano e colocar mais máquinas para funcionar.  Humanos vivem em conflito, ficam doentes, contaminam o ambiente, adoram atestado médico  e o não-trabalhar.  Falharam todas as técnicas, todos os sistemas do sistema da produção para reduzir o comportamento humano a ser automático.  
Os jovens da atualidade, estando em contato com a realidade do mundo globalizado, são  mais bem formados e estão sendo condicionados a sonhar mais alto  do que a realidade existente.Dificilmente aceitam viver sob a tortura da mediocridade e apertada mentalidade administrativa da praxe gerencial. Se não houver mudança positiva, a empresa continuará a apagar a criatividade, a esperança de melhorar, o talento de muitos; continuará a ser o centro do atraso, da mediocridade e do atraso cultural, da obsolescência pessoal, da pobreza intelectual e profissional, produzindo naturezas mortas. Certamente isto não atrairá os jovens. Quantos já desistiram de procurar emprego? Qual o "turn-over" motivado por isto?
Difícil imaginar que haja solução para este aspecto tão vital. Solução coletiva jamais. Cada um é que estar consciente de seu caminho e evitar a acomodação e a desqualificação. Hoje arrisca-se dizer que  50% das tarefas numa empresa pública ou privada seria facilmente suprimida em qualquer ação de reengenharia de processo e os ocupantes, profissionais ou não, seriam reposicionados ou demitidos, sem chance de encontrar função idêntica no mercado. Se ficaram de 5 a 30 anos fazendo as mesmas tarefas, terão que sobreviver de outra maneira, achando outra profissão.
Há uma ilusão de progresso e desenvolvimento pessoal com sérios reflexos na realização do serviço etc. É o que a pessoa deixou fazer consigo mesma. É o que fez, mas neste estágio de "evolução" do país, a necessidade nas últimas décadas tem sido a de sobreviver ( portanto , qualquer outra visão é  fricote e frescura,não?) .
No entanto, tudo faz parte de uma Nação que tropeça em si mesma. É o país que está entrando numa realidade, a da imprevisibilidade quanto a muitos aspectos, um deles é a qualidade da população, a qual ocupa desde a função de pipoqueiro até os mais altos cargos do Governo.  Há algo de decadente no ar das últimas décadas. Neste contexto nem se ouse falar em qualidade dos locais de trabalho e empresas, cenários mutantes e que enfrentarão ainda mudanças inseguras, contribuindo para muitas doenças e violência.
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Odilon Reinhardt 3.10.2019.





terça-feira, 3 de setembro de 2019

Mais um centro esquecido III?









                                              Mais um centro esquecido III?


Banalizado quanto ao seu papel para a produção de qualidade, esquecido quanto ao seu status na qualidade da vida, o local de trabalho de milhões de pessoas vem, no entanto,  sofrendo as eventuais melhorias que os delegados de cada empreendedor decidem implantar,obedecendo sempre a racionalidade e o pragmatismo imposto do custo benefício. 
Não há uniformidade quanto ao que fazer para reduzir a agrura da realidade dos resultados frente à redução da produtividade ou do seu aumento mediante altos custos para a empresa e para todos que ali convivem, com reflexos para  o país. As soluções são individuais, submetidas a regras trabalhistas existentes, quase todas de natureza protecionista-paternalista, basicamente impregnadas do fundamento de que o empregado é uma nulidade e o empregador um explorador e sempre limitadas aos limites da lucratividade num ambiente de total insegurança e instabilidade, onde os Governos têm tido  sua participação sempre desastrada.  
O empreendedor, aquele que arriscou, endividou-se para criar empregos, para gerar renda e impostos, é visto como um explorador capitalista. Que ideologia leva a isto e fez a realidade retrógrada por tantas gerações? Que ideologia contribuiu para que o país permanecesse pequeno no seu pensar? 
O assunto é de interesse social, mas as iniciativas de melhoria e progresso serão sempre particulares na medida que o tema é visto como fator diferencial entre as empresas, cada uma com seus segredos na disputa  pelo sucesso no mercado. As práticas internas, com seus sucessos e insucessos, são assunto interno. Boas práticas no setor só são divulgadas até o limite que não revelem detalhes do segredo de cada empresa.  
Considerando a enorme quantidade de empreendimentos privados  e sua diversidade de organização e composição, uma crise econômica atiça a competição, mas não altera a visão errônea de que o local de trabalho em seus aspectos físicos e humanos é menos importante para os resultados da empresa, tanto assim é, que ,diante de qualquer financeira crise, o setor de treinamento é o primeiro a ser vitimado com cortes bruscos, bem como qualquer benefício para o humano.
E na crise permanente  do país, com o desemprego e seus efeitos, quem tem o privilégio de manter o emprego ou de conseguir um local de trabalho aceita qualquer condição, sujeita-se a tudo pelo salário salvador; aceita o local, suas mazelas e sua cultura, feita por pessoas que ali habitam e por tradicionais erros de organização, planejamento e um sistema de recursos humanos voltado ao cumprimento de rotinas trabalhistas e não verdadeiramente voltado aos humanos e sua inteligência.
Nem se ouse falar em correta motivação e sua sustentabilidade para tornar a empresa um centro de aprimoramento do ser humano. Evidentemente,  não se pode deixar de pensar nos  erros e intenções em prol da uniformidade e padronização, abarcando a todos como se iguais fossem, menosprezando suas diferenças. O que se pode objetivar no campo do ideal é que tantos erros contribuam para o surgimento de idéias que criem condições melhores a fim de possibilitar no local de trabalho, ou melhor dizendo, no "local de vida", a implantação progressiva de estímulos ao pensamento de prosperidade e libertação das ideologias erradas que até agora têm sido a estrutura da vida de miséria intelectual.
Gerentes e diretores administrativos, de variada educação e gama, tendem , de acordo com seu estilo gerencial, implantar sistemas e rotinas de pessoal, visando o treinamento, folha de pagamento, recrutamento e seleção etc., mas raramente têm sucesso no sistema de motivação e inteligência emocional. Isto ocorre, porque num ambiente altamente estressado, pragmático e racional, os aspectos humanos acabam sendo relevados e deixados em segundo plano, quer por desamor ao Próximo apesar de 519 anos de pregação católica, quer pela desorganização administrativa, a qual vive no sistema de gerenciamento de crise e eliminação e fogueiras, quer pelo conjunto da empresa e seus ocupantes que nunca deixam de espelhar os defeitos da própria sociedade a que pertencem.  
Não é incomum que o despreparo gerencial  adote técnicas erradas e estas venham a descambar para o estágio em que o recurso usado é manter o pessoal ameaçado, com mensagens de fusão empresarial, venda da empresa ( no setor público, a privatização), tudo para que as pessoas não reclamem, fiquem sempre acuadas e trabalhem mais, não tenham pretensões salariais maiores nos momentos de acordo coletivo etc., aceitem a administração como ela se apresenta, pois, tudo torna-se um esforço para salvar a empresa, o salário. É o ponto maquiavélico mais agressivo. O objetivo é manter a realidade sempre em perigo, em instabilidade.  Outra estratégia comum é pregar que lá fora no mercado tudo é muito pior. O pior é que do próprio pessoal,  são escolhidos pela gerência os formadores de opinião que devem plantar tais mensagens na rádio peão. Notícia ruim espalha-se com rapidez e quase nunca é negada.  
A maioria das empresas vive assim, ilhas de amargura, mas a produção continua sendo feita e vendida pelo que as nuances humanas são engolidas com farofa seca e relegadas ao drama do universo pessoal de cada pessoa. Mas quase sempre a evolução do problema recorrente leva a um ponto de estrangulamento e a organização adoece e exige,portanto, tratamento.
O empreendedor, diante dos números acusando queda de qualidade e das vendas, pergunta a si mesmo qual foi o erro.  É esta a mão de obra que o Governo prepara com seu danado sistema de Educação? São estes os cidadãos e o que fazem quando reunidos? Diante da margem de lucro comprometida, o que fazer para mudar a realidade? Este recurso é o fator negativo imutável que deve ser considerado  como constante no risco do negócio e do custo que o país apresenta?
No miudinho, foi falha do setor de admissão? Falhou a seleção? Geralmente, os problemas de pessoal e seu desenvolvimento são tidos como resposta às questões acima. Como  nenhum administrador é psicólogo ou psicanalista para fazer tratamento de pessoal, porque o caso é de grupo ou de massa, até uma análise organizacional raramente, apesar de propor, consegue resolver o problema instalado. O que se consegue é uma reengenharia de unidade, mas quase nunca melhorias para o "pessoal", um problema que se gera e se basta.
E com o passar do tempo, mesmo que algo novo tenha sido instalado,  tudo volta à estaca zero e nova análise é necessária, a preço de ouro, porque a produção está sendo afetada e o desempenho da empresa comprometida, mas a culpa é colocada no sistema utilizado, defasado, e nunca no pessoal, com se o material, as máquinas,etc., tivessem vida e a propriedade de gerar o mundo por si só. Esta visão puramente material cega a todos e impede soluções de fundo.
Diante da impossibilidade de resolver, em definitivo, o problema humano no local de trabalho, as empresas que possuem recursos, de tempos em tempos, continuam a sobreviver com ajustes, mas pecam nos fundamentos. As demais empresas vão sendo estranguladas até perder o mercado e fechar as portas, geralmente na falência. Perde o Brasil, perde o consumo-receita, perde o empresário, e muitos perdem o emprego. A questão é material?
Na cadência de aberturas e fechamentos de empresas, quanta energia é gasta? Quanto perde o país, quanto sofre a qualidade de vida? No que pese a tragédia decorrente da perda de tal energia e seus danos para a receita pública e para o  índice de qualidade de vida, o empreendedorismo não sofre abalo; empresários com seu espírito de sobrevivência continuam a montar empresas, o que coloca o empreendedor como um herói incansável. Num país tão rico em Natureza, as perdas de energia fazem parte do conjunto de desperdícios em todos os setores. Até mesmo os maus empresários, os que cedem à corrupção , às tentações de burlar a competição, à mania de quere beneficiar-se do Poder , certamente pensam, no fundo,  na preservação de seu negócio.
E assim vai o nosso país, como um caminhão lotado, perdendo carga até chegar ao porto; dá pequenos saltos e avanços; parece brincar com o futuro; parece reserva-se para algo maior talvez, mas sempre que se prepara para ajustes sérios, os mesmos, quando realizados,  só servem para enfrentar mais uma crise . 
O "local de trabalho, como visto, assunto de cada empresa,vai sendo relegado para o segundo plano, pode até receber inovações materiais, mas continua a ser o local onde o brasileiro tem a sua vida em primeiro lugar: um local de passagem, de 8 a 10 horas por dia? Se a casa do cidadão é sua fortaleza, porque ele volta do trabalho, todo dia, tão cansado, tão derrotado? Após tantas horas de contrariedades, fazendo e vivendo num ambiente adverso, a pessoa não leva para casa maus sentimentos que irão influenciar relacionamentos?     
E é no local de trabalho que coabitam os tipos humanos com seus comportamentos, onde o ego é atiçado como meio de defesa para sobrevivência do bruto, o intolerante, o radical, o inexperiente, o extremista, o inflexível durante as fases da vida, o que por si só já é suficiente para fazer o clima de permanente conflito,mas que quando submetido à pressão advinda da incompetência,  ineficiência, prejuízo financeiro etc., facilmente vira o inferno diário, vindo a constituir o laboratório infalível em geração de doenças, da  violência doméstica e de rua, da contrariedade, instigadora do ego animal; é o germe do conflito certo contra o Próximo, fator de redução da  vida.
Tudo contribui para menos qualidade, menos produção, menos impostos, mais doenças, mais reclamações trabalhistas, mais prejuízos. É ou não é um aspecto essencial para a Economia?
Todo o escrito acima não passa de uma platitude, mas o intuito é alertar sobre mais um dos centros de onde surgem problemas graves, que são determinantes para o  crescimento material e espiritual. Na sua pior fase, o local de trabalho é autocrático, pragmático, frio, calculista, racional, individualista, utilitário, inflexível, nada democrático quanto à produção e é também o meio onde o ego faz sua dança entre os viventes, com muita disputa, competição, intolerância, truculência, inflexibilidade, brutalidade, grosseria, quase nenhuma empatia, características do egocentrismo, tudo circundado por muita mediocridade, desorganização pessoal e coletiva, nivelamento por baixo, uma exigência de todo mundo ser igual numa vontade de uniformização material e espiritual. É o caldo para a sujeira humana diante de permanente  contrariedade; ali o dia é tocado à base de fofoca, maltrato,  assédio, traições, injustiças,  tudo para inervar a pessoa e mantê-la em estado de sofrimento, retirando-lhe a boa energia. É o campo dos seguidores, sem opção de crescimento intelectual. No meio surgem eventualmente criadores e idealizadores, mas que logo  são  sufocados em seus talentos. Ninguém se preocupa com a fuga de estudantes para o exterior, como alto índice de turn-over, com uma juventude que simplesmente não se interessa pelo trabalho em empresas? 
Mas o  campo é fértil para o conserto, mesmo que lento e individualizado, através do trabalho do treinamento, programas de inteligência emocional, meditação grupal, constelação empresarial, criatividade de consultores, até ginástica de descompressão.   Um bom local de trabalho ajuda a melhorar a vida das pessoas e do país.
Eis aqui mais um ponto que deve ser levado em consideração como item dos fundamentos da Economia e seu crescimento sustentável. O local de trabalho é em verdade, pelo número de horas ali passadas, a casa do cidadão, embora quase ninguém o entenda como tal.  Sua qualidade tem efeitos pessoais e coletivos. Todos devem trabalhar para chegar a um nível melhor, a um local que não seja tão agressivo.  Não é questão de dinheiro, de pleitear compensações materiais pela insegurança, instabilidade, sofrimento e agonia; é questão de saúde e de vida. Só mentes despreparadas pensam que por dinheiro vale vender a vida. O esforço tem que ser de todos os humanos em construir o local onde não seja exigido tanto ego, umbigo. Com o esforço de todos poder-se-á chegar a  mais diálogo, estudo, esclarecimento, luz.

Odilon Reinhardt . 3.9.2019