quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Agora vai...? Tem que ir.










                                                                                            
                                                       Agora vai...? Tem que ir.





O desafio está diante de todos. Vencer forças internas de grande calado negativo. Agora não são as forças externas, alegadas por Jânio Quadros, como justificativa para sua inesperada renúncia. São forças internas que não são de hoje, ao contrário, são ervas daninhas, brotos do subdesenvolvimento, cancros da cultura, do social e da política, que caracterizam o modo de ser e do fazer predominante e cuja eliminação agora se apresenta como desafio para o futuro, são pedras no caminho que devem ser eliminadas.

Certo que as eleições recentes não possuem o condão de purificar os eleitos, ungindo-os com a santificação e colocando-os, como que por passo de mágica,  na galeria dos honestos, dos puros, dos justos, virtuosos patriotas, mas há uma vontade popular, pelo menos de 50 % da população, de  lavar o país , de mostrar novos tempos, novo norte. 

As manifestações do eleito para a União, honesto em seu propósito, patriota em sua missão, demonstram determinação em mudar, reformar. A questão é saber se os governadores eleitos, alguns adotando o mesmo discurso reformista, também poderão implantar uma gestão administrativa que altere substancialmente o modo de agir que sempre contaminou e corroeu as bases  de qualquer governo. Espera-se que não tenha sido um mero e comum oportunismo demagógico eleitoreiro ter adotado o mesmo discurso do candidato para a União. Os eleitos, mesmo os mais idealistas e bem intencionados, conseguirão vencer ou controlar a natureza de seus colaboradores? Conseguirão evitar a continuidade das práticas do ”toma lá-dá cá”, do“ fazer negócio”? Terão sucesso em mostrar um caminho melhor para estas pessoas tão contaminadas pela cultura onde nasceram e cresceram?

Eis o desafio, talvez o maior da História. Uma verdadeira revolução cultural, que mexerá com interesses muito grandes de grupos que atuam na legalidade e na ilegalidade. Equivale a reformar o carro com ele em movimento.

Que os eleitos fiquem de olho em seus assessores e equipe de governo. Lembre-se que a vida de assessores e conselheiros mereceu na Divina Comédia o canto XXVII, onde na oitava vala do Círculo oitavo do Inferno eram jogados os conselheiros fraudulentos e ocultos.  E no Canto XXVIII, na nona vala do mesmo Círculo, estavam os semeadores de ódios, divisões e discórdias entre pessoas e povos. Isto demonstra que a gestão pública e a vida dos corredores palacianos sempre foi objeto de espanto e indignação por parte da intelectualidade. Deve-se agora quebrar esta continuidade e usar a tolerância zero para a corrupção.

Será uma ação permanente de contrariar interesses e colocar sobre tudo o interesse público pelo bem do Brasil. Que sejam interesses públicos, efetivamente públicos. Que se acabe com a continuidade de se fazer da gestão pública uma ação entre amigos com esquemas privados de intenção duvidosa e que se tornam oficiais. Chega desse sistema, chega desse Brasil.

Certamente a mentalidade e o comportamento, que informam o modo de se fazer negócios na sociedade, decorrem de um sistema legal e de suas lacunas. O Governo tem o poder de aprimorar a lei, pois, é ela que gera e orienta, as ações no Brasil formal; é a chamada ordem jurídica, cabendo à Justiça aplicar a lei e corrigir o comportamento ilegal, decidindo com isenção e distanciamento do interesse político que possa existir. Polícia Federal, Ministério Público e Justiça devem ser órgãos orientados pela independência absoluta a nível estadual e federal. Sem tais órgãos, mesmo como hoje estão, seria impossível chegar onde estamos. Status atual para o qual colaborou também a imprensa livre, sem a qual a população não saberia de nada.    

A revolução é acabar com a pátria dos “expertos”, dos que acham lacunas legislativas, dos que se aproveitam da impunidade. Sem alteração da legislação, seja constitucional, seja infraconstitucional, conviveremos com comportamentos predatórios que aos poucos vão exterminando o bom futuro.

Por uma série de fatores, a sociedade foi construindo um modo corrupto de fazer negócios, onde a falta de ética, a imoralidade e a sordidez humana sobressaíram e tornaram-se banalizadas. Vários itens egoísticos ficaram livres e formaram uma “cultura“, um “modus faciendi”, que existe em todos os países, onde a educação é mínima. Um oba-oba da miséria, um trem da euforia tropical inconsequente e promovida pelas gerações que passavam pelo Poder, menosprezando as gerações futuras.  Prevaleceu o umbigo, a megalomania , a loucura existencial , a ideia libertária do vazio dos decaídos.  Um verdadeiro carnaval dos aloprados. 

Ninguém pensou em Educação de qualidade. Prevaleceram as coisas ruins, mantidas pelo elemento humano subdesenvolvido neste local do mundo e nesta quadra da existência, onde tem prevalecido o vazio intelectual e onde a selvageria egoística anda livre.

Neste campo há tantos itens de reforma que o desafio fica amplificado e chega a tocar os muros da própria impossibilidade de se alterar alguma realidade. Mas há uma consciência de que algo deve ser feito e a esperança e a fé, informando a vontade de mudar para não morrer, deve atacar pelo menos alguns pontos como o nepotismo camuflado, o corporativismo, a burocracia, o empreguismo na gestão, o gigantismo do Estado, o egoísmo oficial, a mediocridade nas decisões, o horror dos políticos ao planejamento, o conservadorismo caipira, o analfabetismo e a falta de esclarecimento quanto à estrutura formal do Estado e dos órgãos públicos, a falta de transparência, o fascismo na comunicação oficial, o negativismo religioso, o paternalismo, a corrupção, o academicismo atrasado, a impunidade, o uso da mentira estatística, a falsa nobreza do alto funcionalismo, o Governo como principal empregador...etc. vezes muito mais.

O Brasil continuará devorando o Brasil a cada mês, se não houver mudança. 

O novo governo Federal estará lidando com forças grandes que possuem interesses umbilicais enormes.  Haverá contrariedade e muitos conflitos, esperando-se que o diálogo seja uma prática paciente e determinante para convencer pela melhor ideia. Será necessária muita cautela e ações inteligentes para impedir a continuidade do que temos visto. E ainda terá o Governo que lidar com restos dos governos anteriores, cargos em abundância e de plena inocuidade, a crise econômica de 2008, cujas marolinhas viraram um vagalhão que abateu a economia dos Estados e Municípios etc. De males o paciente está cheio. 

Pelo menos dois anos serão gastos em tentativas para dar à sociedade uma nova orientação, mesmo que o ar já seja outro. Não somos um país desenvolvido, pouco saímos do status de ex-colônia mercantilista e adentramos no capitalismo e na era da informática sem qualquer preparo físico e emocional; fomos pegos na transição entre o rural e o urbano sem termos a necessária Educação; a incompleta formação religiosa,colocou-nos num estágio onde se perdeu a noção do certo e do errado e o analfabetismo geral contribui em muito para a falta de espírito de crítica e o passo necessário e certo para o progresso humanista.  

É decisivo para as novas gerações mudar para um mundo de mentalidade superior ou viver à beira da estrada do progresso, vivendo de migalhas jogadas nas telas dos aparelhinhos de comunicação.

Em 20 anos, muitos dos líderes atuais da política estarão mortos por idade ou inválidos. O que terão feito para as novas gerações em termos de mudanças neste estilo de gestão que a cada ano levou o Brasil para a fronteira da Venezuela? O que as gerações terão aprendido e feito para seu próprio futuro?

Fizemos a opção pelos pobres e ficamos miseráveis. Desejamos brincar de ricos socialistas, distribuindo sem ensinar a gerar riqueza e acabamos pedindo dinheiro. Desejamos recuperar nossa identidade e descobrimos nosso atraso e quase impossibilidade de competir para sobreviver no mundo moderno. Toleramos políticas de manutenção da pobreza para assegurar votos e vimos o caos social aproximando-se em violência, avanço da criminalidade e miséria. Erramos ao deixar, por falta de crescimento intelectual e espiritual, que o individualismo, o pragmatismo, o utilitarismo etc., saíssem da linha de produção para nortear o relacionamento pessoal e social tornando-nos grosseiros, intolerantes, fisiológicos, egoístas etc., tudo dos brutos e violentos. Desejamos progredir, mas desvalorizamos a indústria nacional, vendemos nossa produção em troca de produtos de quinta qualidade e tornamo-nos uma feirinha de eletrônicos e campo de teste de agrotóxicos e remédios. Detonamos a diplomacia e isto ficou claro recentemente. Desejamos modernizar e adotamos modelos decaídos e impregnados de negativismo e de conceitos ultrapassados.  Desejamos abrir as Universidades Federais para a liberdade e elas se tornaram uma fonte de empreguismo e centros de ideais recalcadas e negativas, etc. Não é hora de mudar?  Precisamos acabar com a era da escuridão, das ameaças ideológicas, das mentiras, do teatro ilusionista  e do fascismo.  Precisamos chegar ao fim deste túnel. Fazer voltar a meritologia, o bom planejamento e especialmente acabar com as ações para contentar o eleitor porque o populismo e todas as mentiras teatrais é que geraram o que estamos vivendo.  O estrago foi grande e sem precedentes. 

“Que país é este?”. Pergunta que traduz a indignação de alguns hoje. Todas as esperanças estão voltadas para que no futuro se possa perguntar “Que país era este?“.  Já houve tentativa de fazer do país uma igreja, um quartel, um circo. E agora? Esperança e fé fazem o ar novamente. Cada cidadão que contribua com a melhora do país.

Metemo-nos numa esquina da História e esta estará de olho em cada linha que será doravante escrita. Um erro estratégico agora e o futuro trará  consequências graves.  Vencer desafios não amedronta ninguém, se o objetivo é para a o bem da Nação. Para tal, deve-se por vezes inovar, contrariar o comum e avançar. Arriscar o que se é pelo que se pode vir a ser.

Robert Frost finaliza um de seus poemas com as seguintes linhas:



“Two roads diverged in a wood, and I took the one less traveled by, and that has made all the difference.”



              

Odilon Reinhardt . 3.1.2019