O dia a dia que a tudo pode engolir.
A
mesmice ameaçadora na Terra do Mais uma Vez.
Cedo para cobrar, cedo para desesperar. Dar tempo ao tempo, mesmo
sabendo que o Brasil devora o Brasil a cada dia. Gargântua e Pantacruel sugam a
vida nacional, mesmo que os tempos prometam ser outros, pelo menos em ar novo e
esperança de que reformas modelares possam acabar com a cultura política e
social que tem sido praticada com altos danos para a Nação. Créditos são dados
ao combate tanto à velha política quanto aos velhos hábitos de barganha e de
fazer do Governo o tradicional balcão de negócios dourados e cobertos de até
agora iludida impunidade. Ilusão que já vai se desfazendo e espera-se esteja
sendo desmotivada a cada ação da Polícia Federal e do Ministério Público.
Desacreditar os velhos hábitos é o desafio do dia a dia para o Governo.
O vício cultural quer ser mantido por grupos de interesses, sectários,
autoritários e arrogantes, corporativistas, que não querem largar o osso. Até
agora não ficou bem claro, se na raiz das denúncias contra a corrupção, não há
ou havia, no íntimo, uma sensação de injustiça pessoal no sentido de que o
denunciante sentia-se deixado de lado enquanto a roubalheira privilegiava só
alguns grupos. Afinal, num país onde se diz que todo mundo “rouba”, porque só
alguns ficam de fora? Não seria um tipo de injustiça a motivar a vingança e a
denúncia? .
Num país onde as eleições mostraram que quase 50% dos eleitores acha que
a monstruosa corrupção revelada era ato normal e sua eliminação não era
prioridade de reforma, não é de se estranhar que a resistência seja grande.
Assim, a continuidade do modo de ser corrupto, veladamente defendida por certos
grupos, reflete parte do comportamento social comum, muito preocupado com seu
umbigo, suas frustrações pessoais e suas revoltas contra o sistema que creem
seja o causador de tudo. Pouco se pensa no futuro da Nação ou qualquer assunto
coletivo.
Neste contexto e caldo social, o cidadão comum, na posição de
trabalhador, contratado ou autônomo, segue ocupado com sua sobrevivência; segue
a lógica da necessidade; é pedir muito, que ele se concentre na atividade
política do castelo, do qual sabe notícias através de janelas entreabertas por
onde escapam aparências, sombras e luzes, que jamais permitem a visualização do
todo. E quem tem acesso às informações, mesmo que em meias verdades, e promove uma visão da
realidade com se fosse jogo de quebra-cabeça, é a imprensa, sem a qual nada
seria conhecido. Quando ela silencia,
nada se pode saber. Quando divulga algo, o faz no interesse de alguém, pelo que
raramente é independente. A imprensa exerce seu supremo poder de fiscal,
arbítrio, tolerância e ataque. Em muitos casos trabalha a favor de quem paga e
muda de roteiro como e quando convier. Um minuto de palavras negativas contra
alguém e este alguém já era. Seja lá como for, a imprensa é imprescindível,
assume a posição de visor geral, um Big Brother sem muita estima; o eleitor
dela depende para formar sua opinião, e esta advém do que o âncora da TV
mostrar do pico do iceberg da vida no castelo.
Portanto, ao cidadão amassado pela rotina, pouco é revelado. Pouco se
sabe do miúdo, das entranhas da política e do poder sujo da poeira das
tramas entre empresas e almas
interesseiras do mundo da “representação” em suas alcovas corruptas. É a
promiscuidade danosa, sempre tramando a favor da continuidade da farra com o
dinheiro do Tesouro.
Aos eleitos pelo voto e seus eleitos sem voto é entregue a carta branca,
o cheque assinado para governar segundo as regras e costumes da cultura
política que veio se formando.
Tradicionalmente em tal cultura, em alguns casos, há até uma velada
autorização para “roubar”, assaltar. E por muito tempo este foi o alvo da
oposição até tornar-se situação, ocupando o Governo para fazer seus “negócios”.
Dizia-se “agora é a nossa vez...”. Oposição e situação se revezavam na mesma
intenção há anos.
Sem embargo quanto à qualidade da imprensa, sem a TV, o jornal falado, o
cidadão pouco saberia. Desse quadro de alienação, sempre tiraram proveito, por
séculos, os políticos e governantes, fazendo do Governo dos três níveis, o seu
balcão de negócios intrapoderes e externos, o seu eldorado, sua fonte eterna de
fortuna. Valeu o umbigo, o ego megalomaníaco e irresponsável. O ganha-ganha, os
jogos de poder e a esculhambação de cruzamentos de interesses na vida pública,
o fascismo, as mentiras de esquerda e direita, da situação e da oposição, sem qualquer preocupação com a
população e suas necessidades, sem qualquer compromisso com a Nação e seu
futuro. Uma tragédia humana que agora fez o dia, com gerações e gerações sendo
condenadas a um futuro muito louco. Sempre valeu a fórmula diabólica, até que
se visualizou o fim do poço, o prato vazio, o bolo e seu término em migalhas.
Mesmo assim, quase 50% dos eleitores achou que estava tudo bem. Cegueira maior,
nem a do cego.
Agora aos eleitos de 2018, as ruínas, o juntar dos cacos, o desafio do
resgate, o endireitar das rotas, o recuperar das forças para salvar, em
primeiro lugar o Leviatã de 519 anos, onde vivem e se alimentam os muitos
alienados deuses, os supercidadãos, os nobres concursados ou não, os ditos
“poderosos” e as “autoridades” que se creem eternas, as quais lutarão com unhas
e dentes para manter-se intocáveis na defesa de seus balcões e clientelismo no
jogo entre Poderes. A realidade é feita de um Poder Executivo deteriorado,
violentado, roubado que agora assume o papel de prioridade de salvação; a
energia para tal é enorme e desnorteia os eleitos em sua sinergia de grupo
governante. O embalo inicial e toda uma força de novas ideais é gasta porque o
Leviatã tem suas manhas e gosta de comer almas e ideais novas numa espécie
mensagem que diz aos estreantes que quem manda são as consequências e
inconsequências dos governos passados. Assim as medidas de “arrumar a casa” são
uma liturgia imposta aos novos governantes; o perigo real é quando estes
começam a ser engolidos pelo dia a dia que o castelo lhes oferece. E nesta
etapa inicial, sempre comete-se o exagero de se dizer que se uma outra medida
não for aprovada o Brasil acaba, o Brasil vai ao caos; deseja-se identificar o
Brasil com as contas do Governo, tudo para justificar o esforço de conservar o
Leviatã. Nunca falta o ameaçar o povo com mais este fantástico perigo. Ora, a
realidade do Executivo é um item do Governo total e o todo vive de impostos. O
Executivo pode entrar em crise e parar, mas a fonte geradora de tributos, a
máquina privada produtiva é no mínimo 70% maior do que o Governo total. A
riqueza nacional da iniciativa privada é maior e mais rica, ela dificilmente
pararia por si só. Vive em crise, vive com problemas justamente porque o
Leviatã a atormenta e dificulta-lhe a vida. O Leviatã é questão de moral, ética
em gestão pública. Ademais sua concepção é que deve ser reformada, pois nasceu
em outra época e a de hoje já não a aceita como centralizadora e distribuidora
de verbas, as quais são usadas como instrumento de política partidária e
poder.
“A latere” desse problema, quem está doente é a Nação. Seria um grande
erro de avaliação entender que o problema é só administrativo, financeiro e
econômico. O problema é humano, é de analfabetismo, é de falta de valores bons,
é de cultura. Como grupo humano, chegamos a uma esquina histórica e é para
valer. Nem virar à direita nem à esquerda importa agora. O importante é ir em
frente, ser pragmático e atender à necessidade de proteger o futuro. Até hoje
neste país, a ideologia não teve sentido, mormente porque perpetrada por
pessoas que vem do mesmo saco de farinha e com a mesma intenção. O essencial
agora é dar um passo à frente e garantir o futuro das gerações que hoje
assistem a tudo sem ter consciência de que têm sido as vítimas de tantos
engodos de moda, som , cor e modelos libertários inconsequentes. Quando há
protestos pensa-se que as vítimas agora acordaram, mas o engano é logo
revelado, pois é mera manifestação de revolta por pontos pouco relevantes para
não dizer insignificâncias do dia a dia.
Diante do analfabetismo gigantesco da população, o Governo, uma vez
eleito, em tese, só conta com um supervisor, a imprensa. Se esta deixar de ser
independente e não apontar a falta de qualidade, eficácia e legitimidade das
ações de governo, pouco será sabido pelo eleitor. Pela situação gerada na
gestão pública, aos governantes cabe em
primeiro lugar o Leviatã, o sugador de impostos, o metido em atividades
múltiplas para gerar propina, o devorador de ideias e o incinerador de
projetos. Os governantes estão livres para governar ao seu bel prazer e ideias,
podendo dispor do Poder como desejarem, mas terão que gastar preciso tempo em
ajeitar a casa. Ao eleitor cabe esperar
resultados da esperança depositada. Facilmente o cenário financeiro e econômico
toma conta e mais uma vez esconde a realidade humana que está por trás de toda
esta tragédia administrativa. A imprensa preocupa-se com os noticias do dia a
dia e 98% delas estão envolvidas com fatos e fotos do castelo, a porcentagem
restante refere-se a previsão do tempo, violência e fatos cotidianos de menor
expressão. Não cabe à imprensa, como supervisor da realidade, o papel de
professor de filosofia, moral e cívica, mesmo que alguns ancoras de TV
desempenhem este papel por questão de talento e estilo pessoal. O momento e
quase todos os instantes é ocupado por notícias de ações do Governo e seus
políticos e entopem a casa do expectador com apreensão, medo, instabilidade e
insegurança coordenada.
O desafio da gestão atual é efetivamente grande: vencer o dia a dia do
castelo, cultura política, a cultura
social, o modo e mecanismos usados para defender interesses, o analfabetismo
vestido de comportamentos privados, os quais só sabem corromper para conseguir
vantagens contra a concorrência de mercado. É parte do desafio, vencer as
investidas e cercos montados pelos corruptores e o ego de ganância, os quais
não têm pátria nem nação, só suas empresas e interesses comerciais contra a
empresa concorrente. São os que defendem a redução de impostos, o livre mercado
e a livre concorrência, mas são os primeiros a procurar vantagens junto aos
eleitos. Ética e moral são os últimos itens em cada cartada. O objetivo foi
sempre a obtenção de benefícios e vantagens contra a concorrência. Corrompem,
lançam mão de balanços maquiados, da protelação de despesas, principalmente as
de alto custo, que possam comprometer dividendos e diminuir a imagem na Bolsa
de Valores. Se a estratégia der errado, o percentual de reparo é mínimo parente
o ganho. Um país de empresas, assim sujas, só pode esperar a lama do destino.
Não podendo fiscalizar a contento a administração de milhares de
empresas, o Governo, pelo menos, pode começar a desacreditar o vício de as
empresas corromperem autoridades e a fiscalização. Já será um avanço
substancial impor nova conduta entre Governo e empresas, porque estas é que
antes de tudo corrompem. São o centro do problema, o foco a ser trocado. Não é
fato brasileiro, é mundial. Só que para nós é letal. É necessário extirpar este
mal que em 519 anos, só enfraqueceu o país, condenando a população à miséria e
ao analfabetismo e a empresa nacional honesta à falência ou estagnação.
São os negociadores, os representantes, os gerentes de empresas que são
cidadãos comuns a serviço de seus negócios e patrões e nesta função não
abandonam nunca suas características culturais de pessoas comuns: corruptas,
brutas, antidemocráticas, autoritárias, prepotentes, egoísticas, frias e
calculistas, fisiológicas, morais quando convém, bajuladoras, corruptoras,
conservadoras quando oportuno, hipócritas. A ética e a moral são vistos como
problemas e itens antiprogresso para muitos. São os que sustentam
financeiramente as campanhas eleitorais e esperam beneficiar-se do Poder a
qualquer custo.
Como esperar o contrário,
considerando que as pessoas são o resultado do sistema educacional formal ou
sistema familiar que frequentaram.
Faltou educação de qualidade. A mão de obra é falha, viciada e
seguidora. O analfabetismo está na cabeça do empregado, do gerente, da
cozinheira, do político do local, no balcão da repartição pública ou do
açougue, na padaria e no serviço da clínica. É uma praga modeladora. Neste
quadro, será sempre difícil demonstrar que a imposição de propostas sem debate
é atitude danosa e que o melhor é o diálogo propenso a fazer valer a melhor
ideia como solução democrática.
Como se vê, ao Governo maior, cabe antes a reforma das cabeças, do modo
de ser e agir. Isto é possível dando exemplos, mostrando atitudes, convencendo
quanto a valores do respeito ao Próximo em todas as facetas da vida nacional,
respeito ao interesse público para a Nação. Esforços mais duradouros exigem uma
estrutura maior e constante ao longo do tempo,a Educação. Açodado pelas
necessidades do presente, as prioridades materiais são as mais evidentes, de
modo que o Governo, sendo um provedor e um fazedor materialista, tende a ir
deixando a Educação para segundo plano. Educação demanda tempo, não dá voto e
seu resultado é subjetivo, mas sempre se tem notado que o país perde muito em
qualidade por falta de Educação. Em todos os setores de atividades ,até hoje,
sempre se observou que se um projeto qualquer é feito sem amor ao Próximo e à
Nação, certamente um dia revelará sua ideia nefasta através de consequências
desastrosas, espiritual e materialmente.
A mentira continua a ter pena curta, muito embora em termos de
estratégias nacionais, algumas mentiras só aparecem décadas depois e a
impunidade é garantida.
Afinal, até agora, este é país do remédio falsificado, do leite
adulterado, do combustível batizado, dos produtos industrializados com química
temerária, da carne com bactéria, da obra paga, mas inexistente, do serviço
pago a firmas de fachada etc. etc. Em tudo há golpe e fraude.
O desafio para transformar isto tudo em energia positiva de progresso e
prosperidade é, portanto, gigantesco, mas valerá, no dia a dia, desacreditar
tal cultura, substituindo-a por modo menos selvagem. Em 519 anos de História,
pouco se alterou em termos de condição humana. Saímos da escravidão física de
índios e afros, saímos da miséria absoluta como regra, mas permanecemos
fisiológicos e egoístas. Não muito
distante de qualquer centro urbano, pode-se ver o Brasil no dia a dia de
séculos passados. Uma miséria e tragédia humana que poderia ter sido evitada. E
alguém ainda ousa falar em implantação de ideologias autoritárias de falácia
utopiana e antidemocráticas. Um delírio ideológico, como em tantos casos que
nos remetem a discussões políticas e teológicas de 600 anos atrás. Aliás, aqui
nem a transição do rural para o urbano está definida e por vezes ainda há
discussão se o Brasil deve ficar agrário ou industrial, discussão que nos EUA
deu-se por volta de 1780 entre Hamilton e Thomas Jefferson. E por tantas outras
discussões, básicas e já resolvidas em terras mais evoluídas, que vemos no
país, parecemos estar por vezes na pré-história da evolução do pensamento
humano. Nem se toque no aspecto religioso atual. E ainda vale citar Nelson
Rodrigues que disse ”o Brasil conhecerá a selvageria, antes de chegar à
civilização.“
A questão aqui é falta de valores de preenchimento intelectual, de
cultura universal, de espiritualidade e humanidade e de amor à Pátria, tudo por
falta de Educação de qualidade.
Que as reformas venham, que sejam estruturais, que o Governo tenha
sucesso, que o país faça a base para prosperar e o país tenha produtos úteis e
de qualidade para si e para o mundo, porque hoje pouco temos a oferecer em
troca ou venda, que não seja direto da natureza e da roça, sempre com tremendo
impacto ambiental. Perdemos pela Educação, pela falta de tecnologia e não
passamos de uma feirinha de eletrônicos importados e consumidores de bugigangas
de US 1,99 e da condição de exportadores, quando e se o real for desvalorizado.
Ficamos atrasados na Educação básica, aquela que o povo precisa; não
avançamos na Educação média e a superior é sofrível. Um reflexo disto esta na
realidade de podermos estar sendo condenados a continuar com milhares de empregos que a tecnologia já poderia ter
eliminado, permitindo que as pessoas possam evoluir para funções melhores.
Talvez muitos empregos, que não existam mais no mundo desenvolvido precisem ser
mantidos, para não gerar desemprego. A falta de Educação de qualidade, que
desperte o talento de cada um, gera escravidão. A falta de melhor qualificação
pode já estar nos condenando a décadas futuras de atraso, o qual será
politicamente necessário, acredite quem quiser.
E pela mesma estrada, perdemos até agora o tempo de vencer no mundo pela
nossa identidade nacional, porque o atraso conquistado, só vale para o tupi do
passado, não vale nada para o sistema de geração de divisas, e participação na
riqueza mundial. Acho que ficamos sem importância por não ter investido em
Educação, na sucessão e nas gerações futuras. Já passou há décadas o momento de
querer dar ao país uma identidade indígena, como queria o movimento iniciado na Semana de Arte Moderna de 1922 e como queriam Assis Chateaubriand e outros
ou uma identidade afro, como queriam movimentos no governo anterior. Hoje somos
o resultado da idiossincrasia cultural e populacional, somos síntese do mundo e
com isto é que vamos para o teatro internacional. Se há vantagem ou não nisto, o futuro que o
diga , pois até o presente tudo está difuso e sem cor.
A questão que se põe é qual a porcentagem da população de 96% de
analfabetos tem mais de 30 anos e jamais poderá sair de tal condição de
ignorância, tendo que apelar para o crime e a violência como meio de
sobrevivência. Se a corrupção nas suas variadas formas é regra, porque a
violência não seria? A que ponto a mão
de obra, qualificada ou não, poderá corresponder a uma economia que produza
para fazer face aos produtos de um mercado mundial?
Neste cenário que mereceria planos sérios e estratégicos, a verdadeira
prioridade não seria a Previdência, se a economia estivesse girando com
sucesso. Ficou sendo a prioridade por causa da crise econômica, da falta de
pagamentos por parte dos empregadores púbicos e privados, da falta de geração
de empregos. A corrupção, a má gestão, a recessão e a depressão econômicas e o
erro de concepção do sistema, unindo Assistência social e Previdência Social na
Constituição de 1988, fizeram agora esta prioridade. E o novo Governo começa a dobrar-se,
ajoelhar-se ao Leviatã aceitando o jogo de sempre; cai na conversa mole das
coisinhas e assuntos menores do dia a dia. Marra-se. O truque é velho, o
castelo é manhoso e quer engolir qualquer um que desafie suas rotinas e
salários.
Em vez de o Governo e sua Diplomacia estarem se ocupando com o mercado
exterior, com a modernização da indústria e serviços, com a qualificação de mão
de obra futura, com a ciência e tecnologia, com a geração de riquezas e
empregos, com o desenvolvimento de produtos que sejam interessantes ao mundo e
a sociedade, estão concentrados na reforma da Previdência como salvação, quando
na verdade os resultados de tal reforma, se aprovada, levarão décadas para
surtir efeito. Até lá, o Leviatã poderá ter engolido muitos governos e a
cultura política e social terá evoluído sabe-se lá para que patamar de
miséria.
O
esforço de se concentrar tanto na reforma da Previdência, sem alterar a sua
união com a Assistência Social, ou seja, a raiz do problema, conduz a pensar
que é uma reforma para agora e no futuro haverá outra necessidade de reforma.
Mas,” en passant “, se o país se tornar rentável, obtiver progresso, participar
de exportações mundiais, captar riquezas no exterior, for resgatada as bases
sólidas para uma economia próspera, e puder, enfim, promover os objetivos constitucionais
a favor da população, muitas questões e inclusive a Previdência ficarão entre
os itens de pouca preocupação. Numa economia rica que gire com riquezas novas,
em que haja prosperidade e empresas e Municípios paguem a Previdência em dia,
esta não é problema e pode bem ser ajustada ao longo do tempo.
Todavia,
observe-se que o exagero em colocar que a reforma da Previdência é essencial,
justificando que se não passarem as reformas o Leviatã passará fome, os
vencimentos de altos funcionários ficará ameaçado, e deixar assunto mais
relevantes e imediatos para segundo plano é muito curioso e talvez esteja
sinalizando que o Brasil não obterá sucesso comercial na próxima década. E assim sendo, permanecerá restrito a sua
produção interna, ao seu consumo interno e receita tributária nos patamares de
hoje; continuará na posição de vender produtos da roça e pedras ou do que com
elas possa se fazer com tal matéria prima nas nações industrializadas.
Somente neste contexto de estagnação, muitas
das pretendidas medidas de reforma e contenção são justificáveis. Cortar as
gorduras, procurar moedas nas gavetas, garantir consumo interno com liberação
de saldos de contas como PIS e FGTS, vender patrimônio, privatizar etc. são
medidas atuais, recursos desesperados para manter o nível de consumo e a
receita tributária, mas esgotáveis, pois logo o dinheiro acaba e volta-se ao
mesmo ponto inicial. Mesmo que se coloque que a aprovação da reforma da
Previdência é um marco a partir do qual toda a economia passará a reagir e o
mundo será diferente com mais confiança, estabilidade e perspectivas positivas,
o Leviatã exigirá mais e mais e seu nobres não hesitarão em amassar a população
em busca de preservar seus altos salários e cargos de influência. À população
cabe habituar-se a tal rotina e ao consumo de bens e serviços de quinta
qualidade a preço de dólar.
A
esperança é que o Governo consiga esmo reverte este quadro, com ou sem
aprovação da reforma da Previdência, fazendo reformas estruturais para eliminar
culturas do atraso, ideologias negativistas e mostrando incentivo ao progresso
material e intelectual dos cidadãos. Se
no conjunto de cidadãos, o pensamento é pequeno e negativo, estas serão as
características da colheita futura. Cabe ao Governo estabelecer novos padrões,
novos modelos de prosperidade que libertem o povo da pobreza intelectual e
material e que cada cidadão sinta-se livre para empreender com segurança e
objetivos legítimos e prósperos.
E então, as dúvidas quanto ao sucesso do Governo sempre advém da mesma
questão: como promover reformas sem priorizar a Educação de qualidade? E mais,
como qualquer resultado em Educação leva no mínimo de 25 a 30 anos, a sensação
é mesmo de a gente ter perdido o trem da História?
Educação não rende votos, mas leva à pobreza intelectual, a pior das
misérias humanas; leva à mão de obra sem condição de ascensão funcional ou ao
sonhar com objetivos pessoais superiores. Mas políticos nunca pensaram nisto,
pois a cultura os leva a focar no umbigo, na reeleição, no espírito retardado
da falsa realização e na megalomaníaca sensação de ser poderoso e inatingível.
Agora o que vemos é o resultado de tal cultura inconsequente que terá
que ser alterada pela força da honestidade praticada, amor ao Próximo e ao
futuro da Pátria.
As reformas estruturais terão que ser feitas com a casa funcionando, com
a máquina trabalhando, pois nada pára, o país tem a vitalidade e energia
privada, é só colocá-lo na estrada certa. Os vícios do castelo e sua burocracia é que em grande parte têm amarrado
o país.
A ameaça é de o dia a dia começar a engolir o espírito de reformas
necessárias e tudo tornar-se a mesmice do impossível. Há sempre este perigo de
a carcomida cultura política e social começar a exigir que sejam respeitadas
suas origens do politicamente correto. Mais uma vez temos o perigo real e
imediato: a antropofagia que engole nosso futuro. A mesquinhez dos assuntos menores toma do
Governo o tempo precioso de pensar e tomar atitudes concretas quanto ao futuro.
Odilon Reinhardt 3.3.2019.