sexta-feira, 3 de maio de 2019

No espaço dos mestres invisíveis I















                                       No espaço dos “mestres invisíveis” I .



 Diante de tanta informação e desinformação vindas de tantas fontes, deve-se questionar a qualidade das mensagens que vem sendo, por décadas, enviadas aos lares, sem que tais invasões, geralmente de forma subliminar, possam ser claramente percebidas. Que mentalidade vem sendo incutida como veículo de mudança?  Talvez preparando para um mundo de consumo ou realidade que não vai acontecer? Para um mundo que só existe na mente doentia e interesseira de alguns? Ou talvez seja só a mistura inconsequente de vontade de fazer consumir?

Por dentro de tantas mensagens, quais são os verdadeiros “professores” que têm influenciado as gerações das últimas décadas? Será que todas as comunidades estão no estágio evolutivo para receber tais mensagens, sem que tal fato lhes cause problemas graves de mudança de comportamento? Inevitável, da comunidade indígena ao centro urbano, todos têm estado expostos a tais fontes de mensagens diárias.

Há uma parte de uma construção, que está sendo feita aos poucos, e que tira vantagem do espaço negligente deixado pela falta de Educação formal de qualidade como orientação estrutural para cada Ser. E é esta parte da construção que afeta diretamente a qualidade da mão de obra e mesmo de vida de todos. Uma parte que visivelmente não tem dado certo, porque tem gerado violência explicita e implícita e gera consequências que serão constantes em cada dia do futuro. Talvez esteja dando certo para os produtores interessados em passar mensagens para a população, mas não para a Nação. Há um desespero em aumentar o consumo, gerar falsas necessidades, em convencer as pessoas a comprar. Nada fora do previsto para a sociedade de consumo, mas o fato é que os meios utilizados aproveitam as oportunidades para introduzir mensagens subliminares que precisam ser filtradas, todavia é bem provável que nossos 96% de semianalfabetos comem tudo com farinha.

Os sinais estão por todo lugar; em fatos isolados aqui e ali, em várias regiões do país e já se pode antever o agravamento das características que têm feito do presente um caminho de árdua degradação entre os humanos, mesmo que em alguns casos, o progresso material seja visível, bastando por si só para iludir os incautos e servindo para mostrar “progresso e sucesso” como incontestes resultados materiais, todavia jamais admitindo que há algo apodrecendo; invisível na raiz.    

Que fontes estão sendo usadas para passar mensagens diretas e indiretas capazes de fazer as novas gerações pensarem que o comportamento calculista, frio, racional, insensível, pragmático, individualista e egoico  é o ideal para fazer-se parecer “atual”, ajustado ao presente, em detrimento do bom comportamento, dos  estudos, da leitura, da escrita, da linguagem materna a ponto de colocarem seu futuro à míngua? Por que a falta de interesse, a falta de persistência, a desistência perante qualquer esforço exigido? Uma verdadeira cilada para muitos jovens que estão colocando seu destino em perigo e que quando a verdade, o choque de vida for dado, descobrirão que o tempo passou, foi desperdiçado em “modinhas“, no transitório, no efêmero, que pareciam tão essenciais para a vida, tão eternas, tão definitivas. E mais , que foram enganados pela falta de Educação de qualidade .

Mensagens bem coordenadas, persistentes insistem em querer mudar comportamentos e estes objetivam mudar a vida. Com que propósito? Os libertários atuam a toda hora; papagaios sem juízo. Está nossa população, espalhada em milhares de localidades de diversa realidade, com 96% de semianalfabetos, preparada para esta vida e este pensar que “alguém” lhes está impondo? Qual o nível de discernimento para selecionar certas mensagens? Estaria tal população de crianças, jovens e adultos preparados para serem “livres”, nos termos propostos, a ponto de vivenciar a realidade imposta, tirar suas conclusões e decidir seu caminho como pessoal sem Educação de qualidade?  Escolheriam caminhos compatíveis com suas reais possibilidades e com os interesses do país? Que interesses seriam os do país em determinadas épocas, neste jogo de direita e esquerda? A realidade existente é a resposta clara de que a negligência, o vazio educacional em todos os campos que constroem uma pessoa, têm resultado em má orientação, escolhas ruins para si e que resultam em abandono pessoal, descrença quanto ao país e uma brutal ignorância que escraviza mais e mais.

A que modelos têm estado expostas as gerações das últimas quatro décadas, que resultam em um aparente desinteresse pelos estudos, inconsciência e muita vontade de não respeitar nada de autoridade? Por que tais modelos são tão eficazes e superam os da escola? Quais as influências mais intensas que precisam ser analisadas para aproveitamento ou eliminação? Quais sistemas estão tendo tanto sucesso em atiçar cada vez mais o ego, o fisiologismo e a consequente selvageria frente a cada contrariedade gerada pelo próprio fracasso em conseguir o que tais modelos prometem? Por que a educação familiar, a orientação religiosa, o professor tradicional, etc. não estão atingindo o jovem? Qual a verdadeira filosofia das ruas? Por que a escola formal, o saber, o conhecimento não atrai o jovem? Que “professores” estão sendo mais eficazes junto às pessoas? Que fontes geram esta ansiedade que dá em depressão por não conseguir tudo agora, rápido, instantâneo, sem muito esforço? Por que o país, mesmo com as religiões existentes e a educação familiar, está cada vez mais desinteressante frente a tantas fontes de diversão e dispersão para os jovens? 

Alguns dos antigos modelos tornaram-se ineficazes. Não deram certo mais. Ficaram ultrapassados. O conteúdo curricular e seus métodos de ensino estão em descompasso com a celeridade e ansiedade criada pelos “mestres” invisíveis. A ansiedade e a pressão econômica levam à vontade de ir para a prática antes da teoria, a colher antes de plantar, a entregar-se a atividades de menor preparo, mas que garantam um dinheirinho qualquer. Os resultados estão aí, a sociedade está doente, mas os fatos isolados são tidos como problemas pessoais e nunca como problemas da sociedade e seus sistemas de condicionamento. Nenhum governo quer admitir a realidade do descaso ou mesmo incompetência em reverter o processo em andamento, para não se comprometer nas eleições. A escola de métodos antigos e conteúdo ultrapassado é uma realidade. Não atrai mais o jovem.  A falta de qualificação adequada gera desemprego, subemprego e violência; gera também o stress via medo de perder o salário, motivo de tensão permanente pelo desafio diário de poder manter-se no emprego, o que motiva doenças funcionais e afastamento do trabalho. Não seriam estes motivos suficientes para chamar a atenção oficial? Verifique-se a evasão em cursos de engenharia, o fracasso dos meios no ensinar a Medicina etc.

Quem preocupa-se, quem vai debater o centro do problema sem se enroscar em correntes teóricas de variada ideologia? Aparentemente esquecem que os resultados da Educação, como sendo aplicada, atestam que nada deu certo. O mundo existente entrou em total dissintonia com o mundo dos estudos, nos métodos até agora utilizados. As necessidades práticas e utilitárias instigam e combinam bem com a ansiedade coletiva. A crise econômica atiça a pressão sobre o indivíduo. O consumo oferece bens e atrai os jovens, cria ansiedade e frustração. No entanto, o aprendizado exige tempo; construir um cidadão na escola leva tempo em qualquer lugar do mundo. A título de exemplo, ninguém aprende Inglês em duas semanas, muito embora haja anúncios comerciais para atrair alunos. Há tentativa de reduzir o processo de aprendizagem a um mero objeto de consumo. A frustração é certa. O Governo na acompanhou a velocidade das mudanças de mentalidade, perdeu-se nas coisinhas da política do dia a dia e deixou de analisar o que está ocorrendo e tomar as providências necessárias. Ou será que intelectualidade tão preocupada com a direita e a esquerda perdeu o tato filosófico de entender o que os jovens estão querendo, o que as ruas estão reclamando, o que o mercado internacional está impondo e exigindo?

E na avalancha de prioridades na vida nacional e as questões políticas tomando a cena dos coredores dos palácios, a Educação vai e sempre foi ficando para outro plano e, década após década, vai-se perdendo jovens. “Isto é assim mesmo!”, “é o progresso!”,“ é a vida moderna!”, “ cada um que se vire!”. É o que se escuta como conformismo nacional na boca das pessoas. E a cada dia, a violência aumenta esboçando anos futuros de selvageria. E mais, os  jovens estão acabando, pois o pais está envelhecendo. Em muitos locais escolas recentemente construídas funcionaram por algum tempo e depois não há mais crianças. 

Tudo contribui para a defasagem entre exigências atuais geradas pela modernidade e a falta de aparelhamento moderno e atual da educação. Não há mais o porquê de fazer aluno saber todos os afluentes do Amazonas ou coisa e tal. O tempo está passando e mais jovens passam pela Escola sem saber até mesmo o que o sistema defasado tem por meta. O exame Enem atesta tal realidade. O indivíduo não tem preparo para as necessidades do trabalho mais elaborado, de alta tecnologia. Fica desempregado; não pode casar, não pode comprar, frustra-se e vai reagir. A violência só tende a aumentar em suas modalidades. A violência explícita é a que esta nos fatos da vida. A violência reprimida é a que se prepara para sair para fora, na rua, no trabalho, nas horas de diversão, em casa. Sufoca e tende a sair em explosão. Qualquer delas é violência e está aí se alastrando. Não será combatida com polícia, multa e revólver. Será maior, será incontrolável, se as tendências atuais continuarem.

Não é insatisfação contra este ou aquele Governo, é insatisfação contra a vida, contra a mera existência, contra o Próximo. É a agitação egoica, a contrariedade que gera a ira, fazendo com que o ser fisiológico agrida o Semelhante, como sinal de seu protesto existencial. Na rua, há vulcões ambulantes prestes a explodir por qualquer motivo. De novo, pergunta-se quais são os “mestres” invisíveis que estão atuando e fazendo a cabeça das gerações? Vamos continuar a engolir a justificativa de que é incontrolável e nada pode ser feito? Ora, alguém tem interesse neste caos, na juventude desorientada e fracassada? Os mentores do caos querem impingir a mentalidade, moda e nível de evolução decadente de modelos que não deram certo em outras terras? A quem interessa isto? A quem interessa despreparar e desnortear nossa mão de obra? Ou isto tudo foi se formando sem interesse ou o entrelaçamento de métodos contribuiu para algo incontrolável, como doença incurável?

Certamente, o maior veículo de introdução nos lares era a TV nos mundos fora do primeiro. É bom ficar de olho na virtualidade e seus diversos instrumentos, no marketing e programas de TV, este antes só na sala da família, depois na cozinha e quartos, hoje na mão de todos os jovens e pessoas e atua, pelo menos, corroendo 4 a 8 horas por dia, em horas gastas em imbecilizantes momentos de nada para nada, gerando ansiedade, rejeição e depressão devido ao mau uso.  O instrumental entra nas casas e cabeças por dois fios e ali fica fazendo a mentalidade de todos. O respeito à liberdade de expressão e pensamento deve ser preservada, mas deve-se observar que tal liberdade quando invadida por mensagens negativas tem produzido más mentalidades.

 ”Cabe a cada um discernir e escolher o que quer para si” diriam os libertários, sem se preocupar com a falta de alternativas de escolha, face à insistente presença de mensagens negativas e de desconstrução e diante da negligente falta estatal em providenciar o contra ponto com preenchimento do espaço com modelos positivos, eficazes que impulsionem os jovens para objetivos melhores.

 Se o objetivo é construir cada cidadão, deve ser construir novas gerações para o Brasil pelo ensino isento de ideologia, pregar o saber pelo saber, o acúmulo de conhecimentos gerais sobre a vida e a ciência para a vida e para a ciência como elas passaram a existir hoje, suficientes para esclarecer e possibilitar escolhas e debates no momento certo de cada indivíduo. O estudo das ciências humanas, a moral, a filosofia geral não podem ser esquecidos.

O que nos trava? Quem tem criado e conduzido o intelecto pessoal e coletivo? Até agora a infância e a juventude têm sido as vítimas da falta de Educação de qualidade, do fornecimento de remédios falsificados, da merenda escolar sem nutrientes e proteínas, quando não contaminada, de leite adulterado, da ausência de unidade escolar, de abusos físicos e intelectuais por parte da população adulta, assolada pela miséria egoística e material, selvagem e brutal. Como proteger as gerações futuras sem que isto seja assunto prioritário? “Que país é este”, onde a infância e a juventude são tratadas como carga, encargo, e mesmo assim geralmente negligenciado?

No vazio deixado pelo Estado, que sofre com a falta de recursos para a infraestrutura e deixa a Educação em segundo plano, as fontes de influência aproveitam-se do espaço deixado. Ali têm atuado os “mestres” mais atualizados e eficazes, inculcando na mente dos jovens e da população, em geral, lições tidas de falsa “modernidade e progresso”. Tudo passa incólume. O Governo não reage e a Educação embola-se na burocracia, na politicagem enquanto deveria chamar a atenção para análise e critica mais contundente para as verdadeiras causas do reforço ao individualismo, ao pragmatismo e ao comportamento egoístico, o que vem caracterizando a sociedade como um todo e fornecendo alimento à violência, intolerância, fanatismo e extremismo.  Mas a realidade de tantas mazelas não é exclusividade terceiro mundista, pois abrange a juventude do ocidente, até em países de primeiro mundo, em proporções bastante graves. Há uma mentalidade que foi se formando e que redundou no desinteresse pelos estudos, no acumular sabedoria, na desnecessidade de ler e escrever, no desprezo por tudo que lembre autoridade. Todavia, em países mais conscientes há contra ponto e há oferta de escolha por modelos mais positivos. Aqui, a rachadura entre esta mentalidade e os antigos modelos só pode ser preenchida com o meio termo e não com a radicalização, pois se trata de uma longa fase de transição entre o novo e o antigo; a ausência estatal deixa o caso ao descaso e por dentro de forças renovadoras, há o predomínio de forças negativas de decadência e negativismo.   

Ao longo de décadas foram muitos os episódios que contribuíram para a mudança de comportamento e mentalidade. Talvez não tenha havido um causa determinante, mas uma sequência de eventos que mostraram o início de uma  formação proposta para um mundo novo, o qual está sendo implantado progressivamente em descompasso com o aparelhamento estatal para a Educação. Um caminho novo para a Humanidade que foi surgindo e causa espanto quanto às mudanças radicais de sentir, pensar e agir. Um condicionamento mais eficaz e que atinge diretamente a infância e a juventude, carente de modelos e Educação positiva. Diante do espaço deixado pelo atraso do Estado, a sociedade achou seu próprio meio de evoluir. Se o espaço foi motivado por falta de recursos ou por planos estratégicos de forças econômicas, isto hoje pouco importa, diante da realidade instalada, a qual possui bons e ruins aspectos materiais e pobres reflexos humanos que precisam ser corrigidos, já que falta de Educação de qualidade tem se mostrado como semente ruim para o progresso da Economia, o avanço da mesma, em decorrência da mão de obra diretamente atingida por sinais de despreparo com todas as consequências decorrentes para o indivíduo, sua família e para a Nação. Impera a miséria intelectual como antecedente da material, o nivelamento por baixo e a mediocridade como forças negativas.   Quanto da mão de nossa mão de obra morre todos os dias em acidente, violência, por causas de saúde e simples falta de esclarecimento?

O progresso educacional tem que entrar em sintonia com o progresso material.

Um importante componente para a formação da nova mentalidade é que ao longo da História do Ocidente tem havido, sem dúvida, uma linha de conquistas sociais, todas decorrentes da vontade do ser humano de ser livre, de poder determinar-se, de poder escolher seu caminho. Em vários episódios as novas mentalidades sempre se chocaram com a mentalidade reinante, no entanto esta sempre cedeu e as duas, em simbiose, lançaram-se para a fase seguinte, exposta por sua vez a novas mudanças. As gerações mais antigas de uma época horrorizam-se com a mudança de hábitos e costumes; querem preservar os modelos com os quais foram criados e fizeram seu mundo e escuta-se: “ o mundo está perdido!”, “onde isto vai parar?”, esquecendo que elas mesmas ao seu tempo também criaram mudanças e horrorizaram seus avoengos. Todavia, a Educação sempre esteve presente e nunca foram abandonados os ideais de sabedoria, conhecimento, busca de esclarecimento e domínio do ego, seja por quem tinha acesso à escola ou por parte dos financeiramente excluídos. Na fase atual é novidade chocante e bem conflitante com os padrões de inteligência tradicionais este desinteresse pelo estudo tradicional de conhecimento geral e mesmo técnico, este desapego à sabedoria como meio de desenvolvimento intelectual, este apego a informações superficiais. E assim, o instinto de luta pela liberdade pode encontrar limites fatais, pois um indivíduo sem escola, sem Educação não se desenvolve, não passa do bruto, exposto à escravização, em suas versões modernas e atuais do consumismo como âncora inevitável para a Economia e sobrevivência do próprio Estado. Tal indivíduo será um seguidor, objeto dos eventos, um fisiológico irritável e explosível, fracassando em vários tipos de relacionamentos humanos e materiais, será uma ameaça ambulante para todos e tudo. Surge o predomínio do “homo-asinus (burro)” ao invés do “homo-sapiens”?  Tudo pela falta de adaptação dos currículos escolares e seu modo de aplicação aos meios e finalidades modernas da Educação para a produtividade, para o trabalho, para o emprego.

A falta de : atividade intelectual humanística, holística, diletante, o desenvolver do bem pensar, a liberdade de criar e imaginar, a adoção do pragmatismo   leva à imbecilização do indivíduo e da população, tornando-o superficial, seguidor de qualquer onda, pelo que o seu instinto de liberdade o joga no cativeiro da ignorância e da manipulação por poucos. É o rebanho solto na campina sem orientação.  A ignorância traz os componentes mais funestos da nova época em busca da liberdade: o “saber nada”, o “querer tudo já” e o exercício do ego mais animal.   A manada lutou muito para vencer a cerca e ganhar a porta da liberdade, mas ficou exposta ao animalesco, à escravidão moderna da falta de discernimento.

Adentrando no processo evolutivo da sociedade ocidental, encontra-se a luta contra qualquer amarra que barrasse ou protelasse a liberdade individual, certamente a queda da escravidão e da monarquia foram eventos que abriram as porteiras para a sociedade livre, surgindo o Governo do povo, pelo povo e para o povo. Os anseios de liberdade, igualdade e fraternidade estigmatizaram os movimentos pessoais e o caminho foi aberto ao tempo futuro. As reações de preservação do mundo contra as novidades de cada fase foram marcantes e ao início conquistas de direitos, hoje básicos, originaram muitos conflitos e guerras.

O fato é que vencidas as restrições, o novo vence e as gerações acabam fazendo o que, como e quando querem. É questão de tempo e intensidade. No entanto, nestas últimas gerações, como dito acima, há componentes novos que podem derrotar a liberdade. A adaptação da Educação às necessidades modernas é um imperativo de sobrevivência. As gerações mais novas é que estarão no poder da vida. Ninguém hoje, com idade acima de 65 anos, no Poder de mando para mudar a Educação, vencerá as novas gerações e sua mentalidade, pois o Brasil será dos jovens de hoje com esta Educação que lhes foi dada.  Eles administrarão o Brasil e farão dele o que lhes aprouver. 

Seguindo o histórico, a  Primeira Guerra Mundial foi um grande susto para as monarquias e a sociedade humana, abalou os modelos conservadores e abriu o mundo para a democracia. A condução do Estado já não podia ficar na mão de alguns sem a participação popular, os soldados e suas famílias etc. Até mesmo entra no questionamento a autoridade da fé cristã e sua propaganda de amor ao Próximo, recuperação até hoje em andamento. No interregno das guerras, face à necessidade de reestruturação do Poder e a crise econômica, houve avanço substancial para as liberdades individuais com legislação correspondente.  Com o advento da Segunda Guerra Mundial o mundo monárquico e as forças conservadoras cederam à realidade, a democracia era o caminho de liberdade. Os países se abrem ao mundo, há a migração e as culturas mostram-se em sua diversidade. A diversidade dos povos está no palco da Humanidade exposta. Surge uma nova ordem mundial e os modelos antigos e conservadores não conseguem se restabelecer. O povo toma conta. 

Nos anos pós-guerras, as nações unem-se, as colônias libertam-se, as grandes descobertas da física e da química são alavancadas e fazem surgir mecanismos, armas, aparelhos e novos materiais. Surgem os meios rápidos de comunicação e os transportes globais, unindo culturas, fazendo uma nova época para a Humanidade.  Surgem instrumentos domésticos em escala de venda internacional como o telefone, a geladeira, os carros populares, a máquina de lavar roupas, a geladeira e uma imensidade de produtos alimentícios. Novas fontes de energia são exploradas etc. A medicina e a pesquisa científica geram avanços no prazo de existência do ser humano. Tudo é progresso e favorece o homem e a mulher. As conquistas materiais são todas promovidas por tecnologia de países que nunca abandonaram as pessoas, investindo em Educação de qualidade, isto é, uma mão de obra preparada não só para pensar como também para fazer. Obviamente, as exigências econômicas, principalmente com os planos de recuperação da Europa e Japão, fizeram os países exportadores saírem de casa à busca de mercados novos, lucrativos, que garantissem sua prosperidade. Há intercâmbio de modo de “fazer”; a técnica é vendida como mercadoria valiosa.

A época era de desbravar mercados, novos nichos de mercado.  A população tem acesso a mais emprego, salário e bens materiais. As ditaduras e regimes autoritários e totalitários remanescentes começam a ser questionados e perdem espaço, mas ainda são modelos e fontes de Poder; todavia, o instinto de liberdade alimenta a democracia para um caminho sem retorno. A população começa a participar, as oportunidades são novas e variadas, os países precisam crescer, ter PIB, e as novas chances exigem pessoas, para ocupar os inúmeros cargos e postos de decisão e trabalho. A participação popular é inevitável em todos os campos e o preparo através da Educação de qualidade sempre foi a prioridade. A escola pública torna-se forte e essencial.  Quanto à Economia, a  receita tributária atrela-se ao consumo e é fundamental para a sustentação do próprio Estado. O emprego, a mão de obra assume a importância e a Educação deixa de ser algo para alguns num país de empregos de esforço físico, mas algo essencial para todos que possam trabalhar e contribuir para a geração de ideias produtivas. A Educação é questão de Estado e o saber não é só aquele de manusear uma enxada, cortar carne, plantar, mas o saber que desenvolva a pessoa e desperte seus talentos e capacite-a para pensar, produzir na indústria, gerar ideias, gerenciar com qualidade, investir com segurança etc. As viagens espaciais e suas experiências faz surgir o mundo inédito da computação; seus fabulosos instrumentos democratizam a informação. Qualquer um tem acesso a tudo e qualquer assunto. É a maior revolução já vista.

Com a progressiva industrialização, surge o interesse econômico multinacional, a balança de pagamentos entre países, os blocos econômicos e o interesse globalizado. Este como sustentação da ordem mundial. O ser humano sai de sua pátria e vale pelo seu saber em grupos científicos, mistura-se; há a  abertura cultural, e a consequente ameaça a crenças e modelos nacionais que tentam conservar seus padrões , todos em “delirium extremis” , principalmente  os mais fechados, procurando preservar seus paradigmas autoritários e controladores da liberdade individual. Quebra-se a hegemonia de indústrias e de pequenos grupos econômicos e empresas individuais, eis que a liberdade de empreendimento é para qualquer um do povo que tenha o espírito de empreendedor. O ser humano muda, vai adquirindo nova mentalidade, mas no primeiro mundo a Educação nunca é abandonada. 

Inegável o progresso material das últimas cinco décadas. No Brasil ou em outros países o processo está em andamento. O mundo muda e novas fases estão chegando. Cria-se este descompasso entre Escola e a mente do aluno, um “gap” entre o pobre curriculum escolar e o que o aluno vê e assimila no mundo da computação etc. Infelizmente temos 96% de semianalfabetos, excluídos da Educação e de qualquer Educação de qualidade, mas expostos às fontes onde mestres invisíveis atuam negativamente. E é com isto que estamos entrando para novas fases do mundo ocidental. Uma demanda reprimida inimaginável em vontades materiais e necessidades instigadas pelo marketing.

Esta mesma massa de mão de obra precisa ter emprego, salário e precisa consumir. Teremos que manter empregos já em desuso em outros países somente para garantir empregos? Sim.  Novas gerações estão expostas ao despreparo e sofrerão as consequências na carne. Do mesmo modo a automatização e mecanização serão inimigos do povo quando reduzirem empregos e serão fatores da falta de competição e preço para nossos produtos no exterior.

Estas novas gerações que demonstram este aparente desinteresse pelo acúmulo de saber e são influenciadas por “mestres “outros, sem correta orientação, poderão ser os cidadãos mais fisiológicos e egoísticos dos últimos tempos. Seu ideal de liberdade não cessará, mas os meios para obter tal condição estarão cada vez mais difíceis e poderão tornar-se escravos de si mesmos e das características mais baixas do rebanho.

A realidade atual, como se formou por ausência de adaptações inteligentes, expôe gerações ao abandono das lições de mestres invisíveis e terá desdobramentos, ainda por várias décadas, pois mesmo que haja uma retomada da Educação e que recursos sejam efetiva e seriamente destinados a ela, trazem a questão: quais as condições materiais, sociais e familiares para que haja sucesso imediato? O indivíduo como criança sofre a miséria de tais condições ao seu redor, criando um hiato entre escola, casa, família e bairro. Tal fato não ajuda em nada, a escola em tempo integral seria a ilha de salvação, a proteção da infância e da adolescência contra as circunstâncias sociais de miséria e mau nutrição nas redondezas.  Se algo for feito, tem que ser feito agora para começar a dar resultados em 18 anos ou mais.   Lembre-se Darci Ribeiro “ uma criança só tem 7 anos uma vez....”l   

É o nível a que chegamos.  Mesmo com o aparelhamento estatal defasado, mas existente, e a contribuição da escola privada, pergunta-se: como o progresso material não atingiu a todos? Como  produziu gerações, mesmo nas classes de maior poder aquisitivo, que deixaram de lado o interesse pelo saber, pela Educação como fator de progresso individual e nacional? Como surgiu a falta de interesse do indivíduo em saber, em estudar, em ler, escrever, pensar em meios de melhorar o intelecto, passando a se enganar com ondas de manipulação do seu intelecto por “mestres” do vazio e do saber nada sobre tudo?

Avanços para atualizar e conseguir reduzir o “gap” entre a Educação e o progresso material aparece no ensino à distância, com consequente eliminação da vida escolar, da aula presencial, do local físico de Escola ou Faculdade, da turma de formatura, a diversidade de livros e fontes de pesquisa livre, a pluralidade de métodos, o Google como dicionário aberto, etc. Isto sem entrar no mérito, se o conteúdo mostrado no visor de TV é assimilável com a mesma eficácia de uma aula presencial. Ademais para que acumular conhecimentos e dados na cabeça, se tudo está à disposição para consulta por meios virtuais e para o indivíduo normal basta saber procurar a fonte?  São novas mentalidades no campo da Educação que precisam ser consideradas.

O certo é que diante da lentidão estatal, a vida segue e a iniciativa privada toma suas providências e investe em nichos do mercado; também “mestres” invisíveis ocupam o espaço e os jovens acham soluções nem sempre positivas para assegurar seu futuro, a final este é o país onde cada um ainda pode se virar por conta própria, onde qualquer um pode ser pintor de parede, encanador, eletricista, cozinheiro, pedreiro, sem ter diploma nem escola, podendo mudar de ofício como e quando desejar, podendo inclusive tornar-se soldado do tráfico de drogas ou do crescente crime organizado como desejar.     

Onde estariam as raízes da nova mentalidade distraída, descolada, ignorante embora bem focada em várias efemeridades inócuas ou não, a não ser na falta de contraponto oferecida pelo Governo diante dos “mestres“ invisíveis da negatividade?  Seria esta a pergunta certa a ser feita?  A nova mentalidade não estaria a exigir novos métodos, novos conteúdos na escola para aproveitar toda a energia e vivacidade dos jovens para a adoção de modelos positivos e mais inteligentes?

Uma nova época vem surgindo e jovens muito mais ágeis e talentosos não se interessam pela aula regular e tradicional, pelo livro, pelos métodos antigos do ensinar, pelo professor atrasado e etc. A falha em acompanhar e tomar providências por parte do Estado, gordo, lento e ineficaz e pobre, está deixando um espaço abismal entre realidade e escola. Espaço onde reinam mestres invisíveis de influência e validade questionáveis.  ( continua em 3/6/2019). 



Odilon Reinhardt .   3/5/2019.