No espaço dos “mestres invisíveis” I .
Diante de tanta informação e desinformação vindas de tantas fontes,
deve-se questionar a qualidade das mensagens que vem sendo, por décadas,
enviadas aos lares, sem que tais invasões, geralmente de forma subliminar,
possam ser claramente percebidas. Que mentalidade vem sendo incutida como
veículo de mudança? Talvez preparando
para um mundo de consumo ou realidade que não vai acontecer? Para um mundo que
só existe na mente doentia e interesseira de alguns? Ou talvez seja só a
mistura inconsequente de vontade de fazer consumir?
Por dentro de tantas mensagens, quais são os verdadeiros “professores”
que têm influenciado as gerações das últimas décadas? Será que todas as
comunidades estão no estágio evolutivo para receber tais mensagens, sem que tal
fato lhes cause problemas graves de mudança de comportamento? Inevitável, da
comunidade indígena ao centro urbano, todos têm estado expostos a tais fontes
de mensagens diárias.
Há uma parte de uma construção, que está sendo feita aos poucos, e que
tira vantagem do espaço negligente deixado pela falta de Educação formal de
qualidade como orientação estrutural para cada Ser. E é esta parte da
construção que afeta diretamente a qualidade da mão de obra e mesmo de vida de
todos. Uma parte que visivelmente não tem dado certo, porque tem gerado
violência explicita e implícita e gera consequências que serão constantes em
cada dia do futuro. Talvez esteja dando certo para os produtores interessados
em passar mensagens para a população, mas não para a Nação. Há um desespero em
aumentar o consumo, gerar falsas necessidades, em convencer as pessoas a
comprar. Nada fora do previsto para a sociedade de consumo, mas o fato é que os
meios utilizados aproveitam as oportunidades para introduzir mensagens
subliminares que precisam ser filtradas, todavia é bem provável que nossos 96%
de semianalfabetos comem tudo com farinha.
Os sinais estão por todo lugar; em fatos isolados aqui e ali, em várias
regiões do país e já se pode antever o agravamento das características que têm
feito do presente um caminho de árdua degradação entre os humanos, mesmo que em
alguns casos, o progresso material seja visível, bastando por si só para iludir
os incautos e servindo para mostrar “progresso e sucesso” como incontestes
resultados materiais, todavia jamais admitindo que há algo apodrecendo;
invisível na raiz.
Que fontes estão sendo usadas para passar mensagens diretas e indiretas
capazes de fazer as novas gerações pensarem que o comportamento calculista,
frio, racional, insensível, pragmático, individualista e egoico é o ideal para fazer-se parecer “atual”,
ajustado ao presente, em detrimento do bom comportamento, dos estudos, da leitura, da escrita, da linguagem
materna a ponto de colocarem seu futuro à míngua? Por que a falta de interesse,
a falta de persistência, a desistência perante qualquer esforço exigido? Uma
verdadeira cilada para muitos jovens que estão colocando seu destino em perigo
e que quando a verdade, o choque de vida for dado, descobrirão que o tempo
passou, foi desperdiçado em “modinhas“, no transitório, no efêmero, que
pareciam tão essenciais para a vida, tão eternas, tão definitivas. E mais , que
foram enganados pela falta de Educação de qualidade .
Mensagens bem coordenadas, persistentes insistem em querer mudar
comportamentos e estes objetivam mudar a vida. Com que propósito? Os
libertários atuam a toda hora; papagaios sem juízo. Está nossa população,
espalhada em milhares de localidades de diversa realidade, com 96% de
semianalfabetos, preparada para esta vida e este pensar que “alguém” lhes está
impondo? Qual o nível de discernimento para selecionar certas mensagens?
Estaria tal população de crianças, jovens e adultos preparados para serem
“livres”, nos termos propostos, a ponto de vivenciar a realidade imposta, tirar
suas conclusões e decidir seu caminho como pessoal sem Educação de
qualidade? Escolheriam caminhos
compatíveis com suas reais possibilidades e com os interesses do país? Que
interesses seriam os do país em determinadas épocas, neste jogo de direita e
esquerda? A realidade existente é a resposta clara de que a negligência, o
vazio educacional em todos os campos que constroem uma pessoa, têm resultado em
má orientação, escolhas ruins para si e que resultam em abandono pessoal,
descrença quanto ao país e uma brutal ignorância que escraviza mais e mais.
A que modelos têm estado expostas as gerações das últimas quatro
décadas, que resultam em um aparente desinteresse pelos estudos, inconsciência
e muita vontade de não respeitar nada de autoridade? Por que tais modelos são
tão eficazes e superam os da escola? Quais as influências mais intensas que
precisam ser analisadas para aproveitamento ou eliminação? Quais sistemas estão
tendo tanto sucesso em atiçar cada vez mais o ego, o fisiologismo e a
consequente selvageria frente a cada contrariedade gerada pelo próprio fracasso
em conseguir o que tais modelos prometem? Por que a educação familiar, a
orientação religiosa, o professor tradicional, etc. não estão atingindo o
jovem? Qual a verdadeira filosofia das ruas? Por que a escola formal, o saber,
o conhecimento não atrai o jovem? Que “professores” estão sendo mais eficazes
junto às pessoas? Que fontes geram esta ansiedade que dá em depressão por não
conseguir tudo agora, rápido, instantâneo, sem muito esforço? Por que o país,
mesmo com as religiões existentes e a educação familiar, está cada vez mais
desinteressante frente a tantas fontes de diversão e dispersão para os jovens?
Alguns dos antigos modelos tornaram-se ineficazes. Não deram certo mais.
Ficaram ultrapassados. O conteúdo curricular e seus métodos de ensino estão em
descompasso com a celeridade e ansiedade criada pelos “mestres” invisíveis. A
ansiedade e a pressão econômica levam à vontade de ir para a prática antes da
teoria, a colher antes de plantar, a entregar-se a atividades de menor preparo,
mas que garantam um dinheirinho qualquer. Os resultados estão aí, a sociedade
está doente, mas os fatos isolados são tidos como problemas pessoais e nunca
como problemas da sociedade e seus sistemas de condicionamento. Nenhum governo
quer admitir a realidade do descaso ou mesmo incompetência em reverter o
processo em andamento, para não se comprometer nas eleições. A escola de
métodos antigos e conteúdo ultrapassado é uma realidade. Não atrai mais o
jovem. A falta de qualificação adequada
gera desemprego, subemprego e violência; gera também o stress via medo de
perder o salário, motivo de tensão permanente pelo desafio diário de poder
manter-se no emprego, o que motiva doenças funcionais e afastamento do
trabalho. Não seriam estes motivos suficientes para chamar a atenção oficial?
Verifique-se a evasão em cursos de engenharia, o fracasso dos meios no ensinar
a Medicina etc.
Quem preocupa-se, quem vai debater o centro do problema sem se enroscar
em correntes teóricas de variada ideologia? Aparentemente esquecem que os
resultados da Educação, como sendo aplicada, atestam que nada deu certo. O
mundo existente entrou em total dissintonia com o mundo dos estudos, nos
métodos até agora utilizados. As necessidades práticas e utilitárias instigam e
combinam bem com a ansiedade coletiva. A crise econômica atiça a pressão sobre
o indivíduo. O consumo oferece bens e atrai os jovens, cria ansiedade e
frustração. No entanto, o aprendizado exige tempo; construir um cidadão na
escola leva tempo em qualquer lugar do mundo. A título de exemplo, ninguém
aprende Inglês em duas semanas, muito embora haja anúncios comerciais para
atrair alunos. Há tentativa de reduzir o processo de aprendizagem a um mero
objeto de consumo. A frustração é certa. O Governo na acompanhou a velocidade
das mudanças de mentalidade, perdeu-se nas coisinhas da política do dia a dia e
deixou de analisar o que está ocorrendo e tomar as providências necessárias. Ou
será que intelectualidade tão preocupada com a direita e a esquerda perdeu o
tato filosófico de entender o que os jovens estão querendo, o que as ruas estão
reclamando, o que o mercado internacional está impondo e exigindo?
E na avalancha de prioridades na vida nacional e as questões políticas
tomando a cena dos coredores dos palácios, a Educação vai e sempre foi ficando
para outro plano e, década após década, vai-se perdendo jovens. “Isto é assim
mesmo!”, “é o progresso!”,“ é a vida moderna!”, “ cada um que se vire!”. É o
que se escuta como conformismo nacional na boca das pessoas. E a cada dia, a
violência aumenta esboçando anos futuros de selvageria. E mais, os jovens estão acabando, pois o pais está
envelhecendo. Em muitos locais escolas recentemente construídas funcionaram por
algum tempo e depois não há mais crianças.
Tudo contribui para a defasagem entre exigências atuais geradas pela
modernidade e a falta de aparelhamento moderno e atual da educação. Não há mais
o porquê de fazer aluno saber todos os afluentes do Amazonas ou coisa e tal. O
tempo está passando e mais jovens passam pela Escola sem saber até mesmo o que
o sistema defasado tem por meta. O exame Enem atesta tal realidade. O indivíduo
não tem preparo para as necessidades do trabalho mais elaborado, de alta
tecnologia. Fica desempregado; não pode casar, não pode comprar, frustra-se e
vai reagir. A violência só tende a aumentar em suas modalidades. A violência
explícita é a que esta nos fatos da vida. A violência reprimida é a que se
prepara para sair para fora, na rua, no trabalho, nas horas de diversão, em
casa. Sufoca e tende a sair em explosão. Qualquer delas é violência e está aí
se alastrando. Não será combatida com polícia, multa e revólver. Será maior,
será incontrolável, se as tendências atuais continuarem.
Não é insatisfação contra este ou aquele Governo, é insatisfação contra
a vida, contra a mera existência, contra o Próximo. É a agitação egoica, a
contrariedade que gera a ira, fazendo com que o ser fisiológico agrida o
Semelhante, como sinal de seu protesto existencial. Na rua, há vulcões
ambulantes prestes a explodir por qualquer motivo. De novo, pergunta-se quais
são os “mestres” invisíveis que estão atuando e fazendo a cabeça das gerações?
Vamos continuar a engolir a justificativa de que é incontrolável e nada pode
ser feito? Ora, alguém tem interesse neste caos, na juventude desorientada e
fracassada? Os mentores do caos querem impingir a mentalidade, moda e nível de
evolução decadente de modelos que não deram certo em outras terras? A quem
interessa isto? A quem interessa despreparar e desnortear nossa mão de obra? Ou
isto tudo foi se formando sem interesse ou o entrelaçamento de métodos
contribuiu para algo incontrolável, como doença incurável?
Certamente, o maior veículo de introdução nos lares era a TV nos mundos
fora do primeiro. É bom ficar de olho na virtualidade e seus diversos
instrumentos, no marketing e programas de TV, este antes só na sala da família,
depois na cozinha e quartos, hoje na mão de todos os jovens e pessoas e atua,
pelo menos, corroendo 4 a 8 horas por dia, em horas gastas em imbecilizantes
momentos de nada para nada, gerando ansiedade, rejeição e depressão devido ao
mau uso. O instrumental entra nas casas
e cabeças por dois fios e ali fica fazendo a mentalidade de todos. O respeito à
liberdade de expressão e pensamento deve ser preservada, mas deve-se observar
que tal liberdade quando invadida por mensagens negativas tem produzido más
mentalidades.
”Cabe a cada um discernir e
escolher o que quer para si” diriam os libertários, sem se preocupar com a
falta de alternativas de escolha, face à insistente presença de mensagens
negativas e de desconstrução e diante da negligente falta estatal em
providenciar o contra ponto com preenchimento do espaço com modelos positivos,
eficazes que impulsionem os jovens para objetivos melhores.
Se o objetivo é construir cada
cidadão, deve ser construir novas gerações para o Brasil pelo ensino isento de
ideologia, pregar o saber pelo saber, o acúmulo de conhecimentos gerais sobre a
vida e a ciência para a vida e para a ciência como elas passaram a existir
hoje, suficientes para esclarecer e possibilitar escolhas e debates no momento
certo de cada indivíduo. O estudo das ciências humanas, a moral, a filosofia
geral não podem ser esquecidos.
O que nos trava? Quem tem criado e conduzido o intelecto pessoal e
coletivo? Até agora a infância e a juventude têm sido as vítimas da falta de
Educação de qualidade, do fornecimento de remédios falsificados, da merenda
escolar sem nutrientes e proteínas, quando não contaminada, de leite
adulterado, da ausência de unidade escolar, de abusos físicos e intelectuais
por parte da população adulta, assolada pela miséria egoística e material,
selvagem e brutal. Como proteger as gerações futuras sem que isto seja assunto
prioritário? “Que país é este”, onde a infância e a juventude são tratadas como
carga, encargo, e mesmo assim geralmente negligenciado?
No vazio deixado pelo Estado, que sofre com a falta de recursos para a
infraestrutura e deixa a Educação em segundo plano, as fontes de influência
aproveitam-se do espaço deixado. Ali têm atuado os “mestres” mais atualizados e
eficazes, inculcando na mente dos jovens e da população, em geral, lições tidas
de falsa “modernidade e progresso”. Tudo passa incólume. O Governo não reage e
a Educação embola-se na burocracia, na politicagem enquanto deveria chamar a
atenção para análise e critica mais contundente para as verdadeiras causas do
reforço ao individualismo, ao pragmatismo e ao comportamento egoístico, o que
vem caracterizando a sociedade como um todo e fornecendo alimento à violência,
intolerância, fanatismo e extremismo.
Mas a realidade de tantas mazelas não é exclusividade terceiro mundista,
pois abrange a juventude do ocidente, até em países de primeiro mundo, em
proporções bastante graves. Há uma mentalidade que foi se formando e que
redundou no desinteresse pelos estudos, no acumular sabedoria, na
desnecessidade de ler e escrever, no desprezo por tudo que lembre autoridade.
Todavia, em países mais conscientes há contra ponto e há oferta de escolha por
modelos mais positivos. Aqui, a rachadura entre esta mentalidade e os antigos
modelos só pode ser preenchida com o meio termo e não com a radicalização, pois
se trata de uma longa fase de transição entre o novo e o antigo; a ausência
estatal deixa o caso ao descaso e por dentro de forças renovadoras, há o
predomínio de forças negativas de decadência e negativismo.
Ao longo de décadas foram muitos os episódios que contribuíram para a
mudança de comportamento e mentalidade. Talvez não tenha havido um causa
determinante, mas uma sequência de eventos que mostraram o início de uma formação proposta para um mundo novo, o qual
está sendo implantado progressivamente em descompasso com o aparelhamento
estatal para a Educação. Um caminho novo para a Humanidade que foi surgindo e
causa espanto quanto às mudanças radicais de sentir, pensar e agir. Um
condicionamento mais eficaz e que atinge diretamente a infância e a juventude,
carente de modelos e Educação positiva. Diante do espaço deixado pelo atraso do
Estado, a sociedade achou seu próprio meio de evoluir. Se o espaço foi motivado
por falta de recursos ou por planos estratégicos de forças econômicas, isto
hoje pouco importa, diante da realidade instalada, a qual possui bons e ruins
aspectos materiais e pobres reflexos humanos que precisam ser corrigidos, já
que falta de Educação de qualidade tem se mostrado como semente ruim para o
progresso da Economia, o avanço da mesma, em decorrência da mão de obra
diretamente atingida por sinais de despreparo com todas as consequências
decorrentes para o indivíduo, sua família e para a Nação. Impera a miséria
intelectual como antecedente da material, o nivelamento por baixo e a
mediocridade como forças negativas.
Quanto da mão de nossa mão de obra morre todos os dias em acidente,
violência, por causas de saúde e simples falta de esclarecimento?
O progresso educacional tem que entrar em sintonia com o progresso
material.
Um importante componente para a formação da nova mentalidade é que ao
longo da História do Ocidente tem havido, sem dúvida, uma linha de conquistas
sociais, todas decorrentes da vontade do ser humano de ser livre, de poder
determinar-se, de poder escolher seu caminho. Em vários episódios as novas
mentalidades sempre se chocaram com a mentalidade reinante, no entanto esta
sempre cedeu e as duas, em simbiose, lançaram-se para a fase seguinte, exposta
por sua vez a novas mudanças. As gerações mais antigas de uma época
horrorizam-se com a mudança de hábitos e costumes; querem preservar os modelos
com os quais foram criados e fizeram seu mundo e escuta-se: “ o mundo está
perdido!”, “onde isto vai parar?”, esquecendo que elas mesmas ao seu tempo
também criaram mudanças e horrorizaram seus avoengos. Todavia, a Educação
sempre esteve presente e nunca foram abandonados os ideais de sabedoria,
conhecimento, busca de esclarecimento e domínio do ego, seja por quem tinha
acesso à escola ou por parte dos financeiramente excluídos. Na fase atual é
novidade chocante e bem conflitante com os padrões de inteligência tradicionais
este desinteresse pelo estudo tradicional de conhecimento geral e mesmo
técnico, este desapego à sabedoria como meio de desenvolvimento intelectual,
este apego a informações superficiais. E assim, o instinto de luta pela
liberdade pode encontrar limites fatais, pois um indivíduo sem escola, sem
Educação não se desenvolve, não passa do bruto, exposto à escravização, em suas
versões modernas e atuais do consumismo como âncora inevitável para a Economia
e sobrevivência do próprio Estado. Tal indivíduo será um seguidor, objeto dos
eventos, um fisiológico irritável e explosível, fracassando em vários tipos de
relacionamentos humanos e materiais, será uma ameaça ambulante para todos e
tudo. Surge o predomínio do “homo-asinus (burro)” ao invés do
“homo-sapiens”? Tudo pela falta de
adaptação dos currículos escolares e seu modo de aplicação aos meios e
finalidades modernas da Educação para a produtividade, para o trabalho, para o
emprego.
A falta de : atividade intelectual humanística, holística, diletante, o
desenvolver do bem pensar, a liberdade de criar e imaginar, a adoção do
pragmatismo leva à imbecilização do
indivíduo e da população, tornando-o superficial, seguidor de qualquer onda,
pelo que o seu instinto de liberdade o joga no cativeiro da ignorância e da
manipulação por poucos. É o rebanho solto na campina sem orientação. A ignorância traz os componentes mais
funestos da nova época em busca da liberdade: o “saber nada”, o “querer tudo
já” e o exercício do ego mais animal. A
manada lutou muito para vencer a cerca e ganhar a porta da liberdade, mas ficou
exposta ao animalesco, à escravidão moderna da falta de discernimento.
Adentrando no processo evolutivo da sociedade ocidental, encontra-se a
luta contra qualquer amarra que barrasse ou protelasse a liberdade individual,
certamente a queda da escravidão e da monarquia foram eventos que abriram as
porteiras para a sociedade livre, surgindo o Governo do povo, pelo povo e para
o povo. Os anseios de liberdade, igualdade e fraternidade estigmatizaram os
movimentos pessoais e o caminho foi aberto ao tempo futuro. As reações de
preservação do mundo contra as novidades de cada fase foram marcantes e ao
início conquistas de direitos, hoje básicos, originaram muitos conflitos e
guerras.
O fato é que vencidas as restrições, o novo vence e as gerações acabam
fazendo o que, como e quando querem. É questão de tempo e intensidade. No
entanto, nestas últimas gerações, como dito acima, há componentes novos que
podem derrotar a liberdade. A adaptação da Educação às necessidades modernas é
um imperativo de sobrevivência. As gerações mais novas é que estarão no poder
da vida. Ninguém hoje, com idade acima de 65 anos, no Poder de mando para mudar
a Educação, vencerá as novas gerações e sua mentalidade, pois o Brasil será dos
jovens de hoje com esta Educação que lhes foi dada. Eles administrarão o Brasil e farão dele o
que lhes aprouver.
Seguindo o histórico, a Primeira
Guerra Mundial foi um grande susto para as monarquias e a sociedade humana,
abalou os modelos conservadores e abriu o mundo para a democracia. A condução
do Estado já não podia ficar na mão de alguns sem a participação popular, os
soldados e suas famílias etc. Até mesmo entra no questionamento a autoridade da
fé cristã e sua propaganda de amor ao Próximo, recuperação até hoje em
andamento. No interregno das guerras, face à necessidade de reestruturação do
Poder e a crise econômica, houve avanço substancial para as liberdades
individuais com legislação correspondente.
Com o advento da Segunda Guerra Mundial o mundo monárquico e as forças
conservadoras cederam à realidade, a democracia era o caminho de liberdade. Os
países se abrem ao mundo, há a migração e as culturas mostram-se em sua
diversidade. A diversidade dos povos está no palco da Humanidade exposta. Surge
uma nova ordem mundial e os modelos antigos e conservadores não conseguem se
restabelecer. O povo toma conta.
Nos anos pós-guerras, as nações unem-se, as colônias libertam-se, as
grandes descobertas da física e da química são alavancadas e fazem surgir
mecanismos, armas, aparelhos e novos materiais. Surgem os meios rápidos de
comunicação e os transportes globais, unindo culturas, fazendo uma nova época
para a Humanidade. Surgem instrumentos
domésticos em escala de venda internacional como o telefone, a geladeira, os
carros populares, a máquina de lavar roupas, a geladeira e uma imensidade de
produtos alimentícios. Novas fontes de energia são exploradas etc. A medicina e
a pesquisa científica geram avanços no prazo de existência do ser humano. Tudo
é progresso e favorece o homem e a mulher. As conquistas materiais são todas
promovidas por tecnologia de países que nunca abandonaram as pessoas,
investindo em Educação de qualidade, isto é, uma mão de obra preparada não só
para pensar como também para fazer. Obviamente, as exigências econômicas,
principalmente com os planos de recuperação da Europa e Japão, fizeram os
países exportadores saírem de casa à busca de mercados novos, lucrativos, que
garantissem sua prosperidade. Há intercâmbio de modo de “fazer”; a técnica é
vendida como mercadoria valiosa.
A época era de desbravar mercados, novos nichos de mercado. A população tem acesso a mais emprego,
salário e bens materiais. As ditaduras e regimes autoritários e totalitários
remanescentes começam a ser questionados e perdem espaço, mas ainda são modelos
e fontes de Poder; todavia, o instinto de liberdade alimenta a democracia para
um caminho sem retorno. A população começa a participar, as oportunidades são
novas e variadas, os países precisam crescer, ter PIB, e as novas chances
exigem pessoas, para ocupar os inúmeros cargos e postos de decisão e trabalho.
A participação popular é inevitável em todos os campos e o preparo através da
Educação de qualidade sempre foi a prioridade. A escola pública torna-se forte
e essencial. Quanto à Economia, a receita tributária atrela-se ao consumo e é
fundamental para a sustentação do próprio Estado. O emprego, a mão de obra
assume a importância e a Educação deixa de ser algo para alguns num país de
empregos de esforço físico, mas algo essencial para todos que possam trabalhar
e contribuir para a geração de ideias produtivas. A Educação é questão de
Estado e o saber não é só aquele de manusear uma enxada, cortar carne, plantar,
mas o saber que desenvolva a pessoa e desperte seus talentos e capacite-a para
pensar, produzir na indústria, gerar ideias, gerenciar com qualidade, investir
com segurança etc. As viagens espaciais e suas experiências faz surgir o mundo
inédito da computação; seus fabulosos instrumentos democratizam a informação.
Qualquer um tem acesso a tudo e qualquer assunto. É a maior revolução já vista.
Com a progressiva industrialização, surge o interesse econômico
multinacional, a balança de pagamentos entre países, os blocos econômicos e o
interesse globalizado. Este como sustentação da ordem mundial. O ser humano sai
de sua pátria e vale pelo seu saber em grupos científicos, mistura-se; há
a abertura cultural, e a consequente
ameaça a crenças e modelos nacionais que tentam conservar seus padrões , todos
em “delirium extremis” , principalmente
os mais fechados, procurando preservar seus paradigmas autoritários e
controladores da liberdade individual. Quebra-se a hegemonia de indústrias e de
pequenos grupos econômicos e empresas individuais, eis que a liberdade de
empreendimento é para qualquer um do povo que tenha o espírito de empreendedor.
O ser humano muda, vai adquirindo nova mentalidade, mas no primeiro mundo a
Educação nunca é abandonada.
Inegável o progresso material das últimas cinco décadas. No Brasil ou em
outros países o processo está em andamento. O mundo muda e novas fases estão
chegando. Cria-se este descompasso entre Escola e a mente do aluno, um “gap”
entre o pobre curriculum escolar e o que o aluno vê e assimila no mundo da
computação etc. Infelizmente temos 96% de semianalfabetos, excluídos da
Educação e de qualquer Educação de qualidade, mas expostos às fontes onde
mestres invisíveis atuam negativamente. E é com isto que estamos entrando para
novas fases do mundo ocidental. Uma demanda reprimida inimaginável em vontades
materiais e necessidades instigadas pelo marketing.
Esta mesma massa de mão de obra precisa ter emprego, salário e precisa
consumir. Teremos que manter empregos já em desuso em outros países somente
para garantir empregos? Sim. Novas
gerações estão expostas ao despreparo e sofrerão as consequências na carne. Do
mesmo modo a automatização e mecanização serão inimigos do povo quando
reduzirem empregos e serão fatores da falta de competição e preço para nossos
produtos no exterior.
Estas novas gerações que demonstram este aparente desinteresse pelo
acúmulo de saber e são influenciadas por “mestres “outros, sem correta
orientação, poderão ser os cidadãos mais fisiológicos e egoísticos dos últimos
tempos. Seu ideal de liberdade não cessará, mas os meios para obter tal
condição estarão cada vez mais difíceis e poderão tornar-se escravos de si
mesmos e das características mais baixas do rebanho.
A realidade atual, como se formou por ausência de adaptações
inteligentes, expôe gerações ao abandono das lições de mestres invisíveis e
terá desdobramentos, ainda por várias décadas, pois mesmo que haja uma retomada
da Educação e que recursos sejam efetiva e seriamente destinados a ela, trazem
a questão: quais as condições materiais, sociais e familiares para que haja
sucesso imediato? O indivíduo como criança sofre a miséria de tais condições ao
seu redor, criando um hiato entre escola, casa, família e bairro. Tal fato não
ajuda em nada, a escola em tempo integral seria a ilha de salvação, a proteção
da infância e da adolescência contra as circunstâncias sociais de miséria e mau
nutrição nas redondezas. Se algo for
feito, tem que ser feito agora para começar a dar resultados em 18 anos ou
mais. Lembre-se Darci Ribeiro “ uma
criança só tem 7 anos uma vez....”l
É o nível a que chegamos. Mesmo
com o aparelhamento estatal defasado, mas existente, e a contribuição da escola
privada, pergunta-se: como o progresso material não atingiu a todos? Como produziu gerações, mesmo nas classes de maior
poder aquisitivo, que deixaram de lado o interesse pelo saber, pela Educação
como fator de progresso individual e nacional? Como surgiu a falta de interesse
do indivíduo em saber, em estudar, em ler, escrever, pensar em meios de
melhorar o intelecto, passando a se enganar com ondas de manipulação do seu
intelecto por “mestres” do vazio e do saber nada sobre tudo?
Avanços para atualizar e conseguir reduzir o “gap” entre a Educação e o
progresso material aparece no ensino à distância, com consequente eliminação da
vida escolar, da aula presencial, do local físico de Escola ou Faculdade, da
turma de formatura, a diversidade de livros e fontes de pesquisa livre, a
pluralidade de métodos, o Google como dicionário aberto, etc. Isto sem entrar
no mérito, se o conteúdo mostrado no visor de TV é assimilável com a mesma
eficácia de uma aula presencial. Ademais para que acumular conhecimentos e
dados na cabeça, se tudo está à disposição para consulta por meios virtuais e
para o indivíduo normal basta saber procurar a fonte? São novas mentalidades no campo da Educação
que precisam ser consideradas.
O certo é que diante da lentidão estatal, a vida segue e a iniciativa
privada toma suas providências e investe em nichos do mercado; também “mestres”
invisíveis ocupam o espaço e os jovens acham soluções nem sempre positivas para
assegurar seu futuro, a final este é o país onde cada um ainda pode se virar
por conta própria, onde qualquer um pode ser pintor de parede, encanador,
eletricista, cozinheiro, pedreiro, sem ter diploma nem escola, podendo mudar de
ofício como e quando desejar, podendo inclusive tornar-se soldado do tráfico de
drogas ou do crescente crime organizado como desejar.
Onde estariam as raízes da nova mentalidade distraída, descolada,
ignorante embora bem focada em várias efemeridades inócuas ou não, a não ser na
falta de contraponto oferecida pelo Governo diante dos “mestres“ invisíveis da
negatividade? Seria esta a pergunta
certa a ser feita? A nova mentalidade
não estaria a exigir novos métodos, novos conteúdos na escola para aproveitar
toda a energia e vivacidade dos jovens para a adoção de modelos positivos e
mais inteligentes?
Uma nova época vem surgindo e jovens muito mais ágeis e talentosos não
se interessam pela aula regular e tradicional, pelo livro, pelos métodos
antigos do ensinar, pelo professor atrasado e etc. A falha em acompanhar e
tomar providências por parte do Estado, gordo, lento e ineficaz e pobre, está
deixando um espaço abismal entre realidade e escola. Espaço onde reinam mestres
invisíveis de influência e validade questionáveis. ( continua em 3/6/2019).
Odilon Reinhardt .
3/5/2019.