segunda-feira, 3 de junho de 2019

No espaço dos mestres invisíveis II


















                                     No espaço dos mestres invisíveis II.









Na sequência da primeira parte deste texto, publicada em 3.5.2019, prosseguimos para expor que o avanço social e tecnológico produz efeitos sobre as pessoas de modo a entender que o mundo vai em frente e a população acha seu caminho, não ficando à espera de o Governo tomar atitudes, quando atrasado pela burocracia, brigas de gabinetes, lutas por poder, politicagem e a costumeira pobreza financeira e intelectual.
A tecnologia avançou, a iniciativa privada atualizou-se, o Governo não acompanhou nos setores que obrigatoriamente teria que fazê-lo; ficou enleado e atrasado em métodos, livros, aparelhos, falta de escola, equipe docente e discente qualificada, enquanto os jovens de hoje têm um computador na mão, prosseguem procurando escola  sozinhos, vão se ensinando com o que veem e estão expostos ao negativo também na medida que o “mundo” ensina assistematicamente e sem objetivo público e útil para o país. A sociedade avançou sozinha e mais do que o seu Governo, o qual se preocupa em manter a atualização tecnológica focada nos instrumentos de recebimento e controle da receita tributária, descurando do resto, onde encontramos a Educação. 
Mas no hiato deixado pelo Governo, “mestres invisíveis“ manipulados pela mais diversa fonte de interesses, atuam, treinam e educam as crianças, adolescentes e adultos em aspectos positivos e negativos, gerando uma lógica geralmente de reforço egoístico, gerando atitudes correspondentes que entram em conflito com forças conservadoras, mas que sempre trazem o novo e vencem para fazer uma nova época com seus avanços ou para se tornarem a sementeira do empobrecimento intelectual e escravidão.
No espaço acima referido, o qual tem crescimento geométrico, o país na medida em que o Governo dorme nos setores em que deveria estar bem acordado, fica no atraso enquanto o mundo avança, as pessoas se desqualificam ou gastam a energia à mercê de lições extravagantes, de modinha e de pura distração promovidas por várias fontes de interesses diversos. Sem qualificação formal para o desempenho de atividades úteis para o crescimento do país com qualidade e segurança, não haverá emprego mesmo que haja vagas a preencher.
A tecnologia, no mundo de progresso, avança a passos largos, cria novos modos de trabalho, as funções exigem mais técnica, é necessário saber antes de fazer, não vale mais o ir aprendendo ao fazer. Ademais, com o envelhecimento da população, por quantas décadas ainda teremos jovens? As funções de esforço físico estão sendo banidas do cenário pela robótica, porque o ser humano só causa problemas na ambiente de trabalho, enquanto os custos diretos e indiretos aumentam muito. Há indústrias que não precisarão mais de gente na linha de produção e outros setores. Com a tecnologia e sua rápida evolução há muitos empregos que ainda serão criados, todos virtuais, sem muita gente com força física.
O mundo lá fora anda rápido, estabelece novos modos de fazer e construir. Nós continuamos na época do Estado antigo, que vive de controle; de burocracia; dos sistemas antiquados, que são feitos para empregar alguns e funcionar pouco e se necessário não funcionar; da política pela política, benefícios e propinas.  Nosso Governo ficou velho, pobre, perdeu força, míope, gordo, lento. Ficou dentro da mesma caixinha e se desatualizou.
E quem decretou este fim melancólico, este crescente distanciamento entre o Brasil e o mundo inteiro? Certamente, o atraso, a falta de visão, a falta de mobilidade, a burocracia intencional, a corrupção, a falta de gente pensante, a política arcaica, o analfabetismo.
E como foi sendo formado o avanço mundial, as forças jovens e democráticas que hoje fornecem desejos e conteúdos que percorrem a informática e seus instrumentos? Fontes difusas contribuíram para mudanças nos modos de ver, sentir e agir; nova mentalidade, atingindo pontos irreversíveis. Afinal, os jovens é que sempre estão mudando o mundo; a nossa juventude fará o seu com o computador na mão; se estão errados ou não, enfrentarão seus próprios sucessos e erros, mas como qualquer ser humano, todos terão que pagar suas contas no final do mês. Depois, com o tempo, os jovens de cada tempo, também perderão o controle, o poder e novas gerações farão seu papel com as inovações da época.
Mudança, esta é a palavra chave e acompanha a humanidade. A meu ver, as mudanças foram formando-se a partir de algo muito básico: a vontade do ser humano de ser livre. É o anseio da liberdade, democracia e justiça.  Mudanças contra forças resistentes do poder de uma referida época, mas que sempre se estabeleceram. Neste sentido, a evolução pelo anseio de liberdade e maior participação passou por vários eventos, cada um acrescentando um novo passo e uma conquista da juventude em prol de todos. Todos se juntaram para atingir aleatoriamente a juventude.
Em países de permanente crise econômica, a libertação e a democracia, sem Educação de qualidade vira a pior das misérias: a escravidão da mente, eis que submetida à manipulação por forças externas, o vazio existencial, cheio de frustrações e as contrariedades pessoais bem como a violência decorrente. Com certeza, o bruto tem seus meios rudes, violentos, mas também quer liberdade e luta por ela com seus meios fisiológicos em detrimento do diálogo e entendimento.  Novamente a falta de Educação é entrave para a existência de bons avanços democráticos.
Ao longo da História, alguns eventos merecem citação, face sua importância na manifestação pela liberdade e democracia. Assim, o instinto de liberdade talvez tenha desaguado, com mais ênfase, nos tempos atuais a partir da Segunda Guerra Mundial, quando se quebrou a normalidade das fronteiras e das culturas, forçando a invasão de países através de imigração e da comunicação; a ruína das economias locais, causando a dependência de apoio de outros países, a queda do populismo originado com a Primeira Guerra Mundial, propiciando o avanço da democracia e a queda do colonialismo e das ditaduras. A estrutura política poder, que não foi capaz de evitar o conflito geral apresenta-se defasado; o “establisment” é contestado pelos jovens, a maioria transformada em soldados, que haviam sido obrigados a lutar.  O pós-guerra faz nascer uma nova ordem mundial. Surge a ONU e os povos começam a se conhecer culturalmente, surgindo intercâmbios e alianças comerciais. Surgem os Estados Unidos da América do Norte como líder e modelo para tudo, fornecendo dinheiro, novas máquinas e tecnologia, inspirando negócios e a ideia de que “time is money”.
Face à vitória da economia americana, após a Guerra da Coréia, a juventude americana tem sua grande revolução de contestação, quer novo modo de vida, quer liberdade. O rapaz não quer ser a cópia do seu pai; a moça não quer seguir os mesmos passos de sua mãe. A juventude não quer ser clichê, continuidade, quer tentar algo novo. Com movimentos musicais bem claros como o Rock and Roll , a juventude americana quer viver o “american dream”, “o american way of life” . Concomitantemente surge a cultura anti-establisment dos Beatnicks e uma enorme onda de fertilidade que fez surgir milhares de novos bebês, gerando o que se conheceu como “Baby-Boomers”. Tal fenômeno impulsionou a economia para novos ciclos à medida que os babys iam crescendo. Surge a juventude revoltada que fez surgir o problema do “gap” de gerações. A Educação em casa e na escola sofre revoluções. Os modos antigos de se comportar, se vestir e se divertir são alterados substancialmente.  A juventude do pós–guerra controla o país e cria novos ambientes sociais a serem copiados pela juventude do mundo inteiro. Na sequência, a revolta contra o “establisment”, este baseado no poder dos país,  disciplina, autoritarismo e militarismo, falta de diálogo e democracia,  ganha alguns ídolos num ambiente em que o socialismo e o comunismo tentam avançar para o Ocidente, desafiando a América. Assim em 1958, surge Fidel Castro e Che Guevara, para inspirar ideais libertários e moldar ideias de queda de poder por meios violentos. Nos EUA, o avanço é rechaçado prontamente com o Macartismo e as forças democráticas. Mas a juventude pós–guerra, com coca-cola na mão, continua com seus ideais libertários focados na flexibilização dos  costumes e comportamentos, mas não na política, pois a democracia é convincente e forte, acompanhada de uma escolaridade de primeira linha e uma economia sólida e próspera.
A vida segue no mundo e o progresso econômico é gritante. Mas novamente há guerra e a juventude está para ser castigada. É o Vietnam, guerra sem objetivo, lógica, sem razão. Talvez o modo do Governo americano de amedrontar sua juventude transviada, rebelde, contestadora. Milhares foram jogados na guerra, milhares ficaram em casa. E os que ficaram, o fizeram para prosseguir na luta pela liberdade. Assim, a guerra surgiu em meio a manifestações da juventude libertária americana, sempre enredada em música e música de protesto com suas letras simples, fazendo surgir ídolos que modernizavam a expressão popular, liderando a juventude do primeiro mundo e popularizando seus anseios para a juventude de outros países.  É a época das filosofias da Índia, do love-power, dos hyppies, da juventude desligada, revolução sexual, igualdade dos sexos, divórcio, libertação dos costumes, luta pelos direitos sociais dos afro-descentes nos EUA, transformações de base na moda, na cultura, a época da pílula anticoncepcional, do amor livre, das drogas afrontando tudo que os adultos da época haviam tido como regime e educação. Beatles, Rolling-stones e milhares de outros sucessores de Elvis Presley dão a melodia para a juventude avançar. O mundo não seria jamais o mesmo. A TV surge, com muita importância no mundo, como eficaz e rápida difusora de tudo que estava ocorrendo e possibilitando a cópia pela juventude de todos os países, cada uma com suas particularidades e circunstancias do país onde estava inserida. O cinema mostra modelos de vida solta, livre, afrontando as regras da sociedade como os filmes Easy Rider e os de James Dean. Evidentemente, uma letra de música (ou filme) existente no primeiro mundo era entendido em outros países só como música (ou cenas diferentes), mas era copiada e servia para embalar os atos que afastassem a juventude local dos condicionamentos ligados aos costumes e a educação rígida e inflexível. Ia sendo contestada a educação da vara de marmelo, do chinelo e da palmada. Contestavam-se dogmas e tabus religiosos. A religião católica entra em crise, mesmo porque na época as missas eram em latim e o sacerdote mal falava o Português ou a língua do país; não atinge o povo e quando o faz torna-se adoração cega, pois as metáforas da Bíblia não são entendidas pelos semianalfabetos. Os padres na maioria italianos nem sabem falar o Português direito e não entendem as carências do povo. Surgem seitas; religiões mais populares começam a crescer.
A juventude vai aos poucos moldando seus valores, princípios, gostos e desejos e principalmente sua visão de vida e mundo, dentro de sua lógica e meios para prosseguir. Agora já são os filhos da juventude coca-cola que estão na jogada. Nascidos na década de 50, já estão na adolescência. Se a primeira era rebelde, transviada, esta última é desligada quanto ao “establisment”, quer libertar-se de vez dos resquícios de autoritarismo, fascismo e educação “quadrada”, rígida, autoritária. Nada que tenha conexão com o sistema antigo é válido; o jovem quer lançar-se a sua própria experiência, bater a cabeça no muro por sua conta. São estimulados a isto pela indústria e comércio que desejam explorar a onda e modelar novos consumidores. As forças econômicas de produção e consumo logo viram nos jovens um mercado consumidor nunca antes visto. Há produtos novos para os jovens, produtos unisex, produtos de todos os tipos e há os produtos nocivos também. Os meninos usam cabelos compridos, afrontando o machismo ocidental. Os milhares de instrumentos e peças de vestuário possibilitariam a expansão do comércio do Ocidente para o mundo. E o episódio mais marcante desta época é a revolução da juventude na França em 1968, o que se espalhou pelo mundo ocidental, dizendo que não queria seguir os velhos métodos e educação rígida de até então. Era a mais moderna revolução francesa, num contexto cheio de uma juventude ansiosa e com sonhos de liberdade com vias à libertinagem e perda da dignidade, o abandono de si como protesto, o uso de drogas. Já aí verificam-se os primeiros atos das forças econômicas para exploração da juventude e a própria extensão da juventude até os 30 anos com protelação de casamentos, alongamento do período de entrada no mercado de trabalho, filosofias existencialistas, desnecessidade de fazer patrimônio, de “ter”, ideologia do “ have fun”. A fase da adolescência e juventude marcada pela vontade de a pessoa ser aceita e o início da sociabilidade é explorada ao extremo e lança tendências para a juventude do mundo inteiro.  Com as drogas vem o negativismo, as tatuagens, o obscurantismo cultural, o exotérico cadavérico. O anseio de liberdade concentra-se na mediocridade de afrontar o comum, o visual, a moda tradicional, o comportamento regular entre as pessoas. O negócio é escandalizar os mais velhos. 
Entre nós, a juventude universitária tinha uma motivação maior, pois estávamos no início da ditadura militar e os conflitos de rua, promovidos pelos estudantes universitários motivou o endurecimento do regime, dando a médio prazo mais combustível para o ideal libertário e democrático da juventude. Censura de obras culturais fechava o bico de qualquer expressão de revolta política ou libertária, tida como subversiva. Bane-se o ensino de Filosofia nas escolas e universidades para evitar o espírito crítico. Surge a restrição de direitos políticos etc. Tudo aguçava o anseio de liberdade. Os adultos tinham medo da repressão política e a população seguia o toque de caixa e a ordem do dia, mas o progresso seguia a toda. Havia programas de eliminação do analfabetismo como o Mobral e atendimento à miséria como o Projeto Rondon. O plano econômico era o do Milagre Brasileiro, a infraestrutura estava recebendo importantes obras para o futuro, a industrialização estava por conta de multinacionais, obras e mais obras surgiam no dia a dia, estradas estratégicas e aparelhamento de portos. As grandes cidades recebiam financiamentos para obras viárias, surgiam cidades industriais longe de São Paulo. Estava sendo construído um país realmente grande com financiamentos do exterior.  Era uma verdadeira revolução material, sem a qual hoje estaríamos em miséria muito maior.
O cenário político era pacificado com meios ditatoriais. A juventude em geral seguia livre, sendo abastecida por suficientes mensagens subliminares.  A indústria e o comércio investiam em propaganda para criar hábitos e também  aumentar o consumo.  O objetivo era condicionar e conduzir  a juventude, um mercado sem limites.  Para isto era necessário dar poder à juventude, libertá-la dos costumes domésticos e do poder do pai de família, que centralizava o poder aquisitivo. A vontade de liberdade virava negócio a ser explorado. Aqui o capitalismo não teria eira nem beira. Aqui, o choque de gerações corria mais lentamente com os pais perdendo poder e controle, mesmo porque os pais não queriam repetir a rigidez com que foram criados. A juventude coca-cola e, grande parte não tinha o pulso firme para educar e mesmo orientar os seus filhos na década de 60 e seguintes. Com o aumento do poder aquisitivo, muitos pais criavam seus filhos no pensamento de “eu não quero que meus filhos passem o que eu passei”, assim criavam reizinhos e cinderelas que também no futuro próximo já como adolescentes ou adultos, face às crises econômicas, não encontrariam reinos e seus príncipes, mas uma realidade mais dura que o esperado.  Também a necessidade de os pais trabalharem fora, deixava os filhos livres em casa, pelo que as forças influenciadoras externas estavam livres para agir como desejassem e moldar mentalidades mais “modernas”. A TV já funcionava trazendo para dentro de casa novelas de mudança radical em hábitos e costumes, veículo de lançamento de modas, integração de classes sociais, democratização e transformação social, tudo com viés político e econômico.  Os horários de estudo e leitura diminuíam. Já havia distração demais. Ao início ser livre era não estudar, fumar, beber, ir para a rua com os amigos, contrariar os pais para mostrar independência. Surgem os pais permissivos e as mães cheias de culpa por deixar os filhos em casa.
As novidades eram diárias e a vida prosseguia com as limitações de um país de terceiro mundo querendo crescer e participar do mundo, livrando-se da miséria, do analfabetismo, do atraso industrial etc.
Com o passar dos anos, o Governo militar preocupava-se em conter a crescente oposição política e os artistas censurados, também em busca da liberdade; a luta era travada no campo político e tomava conta do cenário e do noticiário enquanto a juventude seguia solta, mesmo porque a maioria sem escola mergulhava cega nos novos hábitos, comportamentos e atraída pelo brilho dos materiais de moda. Apesar dos esforços para eliminar o analfabetismo, este sempre estava por trás do cenário social. Poucos tinham oportunidade de estudar e uma minoria podia ir à universidade, na época, em grande maioria pública, que contando com restrições orçamentárias só podia oferecer um número limitado de vagas. Mesmo que houvesse mil bons candidatos, só 100 poderiam passar. Uma tragédia educacional.
Iniciada a década de 70, um fator ilusório de grande potencial aconteceu, o Brasil conquista pela terceira vez a Copa do Mundo de Futebol. O povo é distraído, a inflação está baixa, a industrialização está a todo ritmo e as fazendas agora plantam soja para exportação. A juventude universitária fica amedrontada com o endurecimento do regime militar, os políticos estão quietos e a TV agora é em cores. As cidades se incham com gente do campo, perdem identidade, surge o anonimato urbano e desaparece o controle social e visual de quem é quem e o que tem.  O emprego ainda não é problema. Os jovens que conseguem escola, estudam pelo sistema antigo enciclopédico, conforme a escola francesa. Salvo os bastidores políticos e artísticos, há estabilidade e a população está em relativa calma. O plano econômico Milagre Brasileiro vai bem. Todavia, em 1974, ocorre o choque do petróleo. A Arábia Saudita aumenta o preço e isto é fatal para muitas economias do mundo. O Brasil é atingido brutalmente e o regime militar sofre o impacto em suas estratégias econômicas e financeiras para o país. A inflação aparece para começar a minar a economia e todos os fundamentos são afetados. O regime militar muda o pensar porque entendeu que não haveria mais Milagre e o bom futuro seria interrompido, todavia, continua a repressão política e a censura, o que deixa a oposição irritada e em ação. No entanto, muitos programas reformadores do Governo continuam, agora sem muito entusiasmo.
Mesmo com as agitações e motivações políticas, a juventude continua com seu ideário inovador. A música agora é do “tropicalismo”, bastante brasileira, inovadora, mas seu conteúdo muito popular e brasileiro contraria o regime e a censura age. É lançada a campanha “Brasil ame-o ou deixe-o”. Muitos são exilados ou abandonam o país temporariamente. As forças de influência sobre a juventude e a população em geral continuam, com ou sem conhecimento oficial.
Apesar de o choque do petróleo ter abortado os sonhos brasileiros de economia forte, muitos resultados começam a aflorar comércio e a indústria através do marketing muito bem estudado trabalham em conjunto com a TV para intensificar a mudança de hábitos de consumo e a cultura do país de modo uniforme, espalhando o estado de evolução social de Rio e São Paulo para todos os cantos do país.  O país deixa de ser o local só de “jeep”, FNM e fusca. Há uma pluralidade de modelos de carros fabricados aqui mesmo. Os “sports” nascem com força após as Olimpíadas do Canadá e o país deixa de ser só do futebol. Os jovens tem mais campo para diversão e também futura profissão.  O comércio e a indústria crescem e continuam a afrontar os paradigmas católicos, entre eles o que pregava que o lucro é pecado. Já há jovens entrando no mercado de trabalho com salários maiores do que o de seus pais. A grande maioria de jovens que são empregados nas áreas de serviços ganham salário suficiente para bancarem sua independência e liberdade. O plano de acabar com o chefe de família começa a dar certo e a juventude ganha as ruas e pode comprar o que desejar.  Homens e mulheres jovens adquirem poder aquisitivo e o dinheiro fala mais alto do que o poder dos pais em casa. Mulheres começam, em maior escala, a assumir funções até então só para homens, a mulher começa a ter liberdade de escolha e salário para calçar seus projetos. 
Na escola, para os poucos privilegiados, os estudantes ainda continuam com o curriculum enciclopédico, aprendendo quase de tudo, no sentido de que a escola deveria mostrar ao estudante todos os cantos do saber e assim formar cidadãos inteligentes, esclarecidos e críticos. Tal motivação, no entanto, foi também objeto de reforma. Surge a reforma do ensino. O estudante não precisava mais ter noções de todas as matérias, entre elas filosofia, sociologia, psicologia, literatura, música etc. Bastaria Português, Matemática, História e Geografia, pois o objetivo era democratizar o ensino e fazê-lo se dobrar as necessidades práticas da indústria e comércio. Hoje, tantos anos depois sabemos no que resultou tal reforma e continuamos a ter 96% de semianalfabetos. As vagas no ensino público continuam no mesmo número e o vestibular segrega milhares de jovens.
Assim na década de 70, ainda tínhamos um Brasil identificável com anos anteriores quanto aos movimentos sociais; a juventude, embora toda a estrutura mediática para torná-la consumidora, ainda era familiar; os que tinham condição de estudar o faziam e os pais e a família ainda eram referência, embora já descorada. A liberdade era limitada a fumar, beber, sair sem permissão dos pais, contrariar alguma ordem ou costume social, tudo ainda dentro dos tímidos limites da sociedade. Poucos jovens deixavam de estudar, de ver o estudo como segurança para o futuro, de perder interesse pelo coletivo, de não se interessar pelo conhecimento e de desrespeitar o Governo. A violência era aquela normal, com crimes geralmente de origem patrimonial. As drogas ainda eram a maconha e a bolinha de anfetamina, vindas do Paraguai e os jovens usuários eram facilmente identificados.
E então chegamos aos anos 80, com o regime militar já desistindo do Poder e preparando-se para a redemocratização do país. O cenário político agitava-se com tal perspectiva. Os exilados voltam, ocorrem eleições diretas, a política dos atuais políticos é restabelecida. Os militares retiram-se lentamente e conforme sua programação, não obstante a oposição ( basicamente o MDB) não perdesse tempo em promover passeatas e comícios para faturar o momento e fazer-se de grande vencedor . Com a retirada dos militares, a horta está aberta aos sedentos e famintos que haviam sido impedidos de fazer negócios por mais de 20 anos. As porteiras estavam abertas aos corruptos. No entanto, o país já estava em outra época. As obras do regime militar surtiam efeitos e havia infraestrutura, empresas públicas, as economias mistas de luz e saneamento. Agora tudo entregue às mãos dos políticos, muitos hoje na cadeia e com múltiplos processos criminais.
Sossegado o país quanto à política, o discurso contra a ditadura etc. desaparece e o país respira ares novos: cheios de inflação, crise econômica, dívidas externas monstruosas, as quais teriam sido facilmente pagas não fosse o choque do petróleo e a continuidade do plano econômico traçado.  Não obstante a crise econômica, comércio e indústria vão em frente e continuam com mensagens inovadoras para aumentar o consumo via a mudança de hábitos sociais, utilizando companhias de marketing com direta participação na TV, aparelho agora mais acessível. Jovens são escolados na TV em várias orientações libertárias contra os pais, a família, ressaltando o individualismo, o hedonismo, pragmatismo, o existencialismo etc. Em tudo o país, católico em sua maioria até então, ressente a contrariedade aos valores e princípios com que foram criados no rebanho e o certo e o errado estão sendo contestados. O sentimento é de incertezas e desorientação que a inversão de princípios traz, mas nada é feito por quem deveria tomar providências. Com os pais fora de casa, face à dificuldade econômica e os anseios de liberdade já mencionados como características das gerações pós-guerra, a informática vai surgindo com seus aparelhos, jogos e uma lógica agressiva contra o Próximo. Ao início apresenta-se como maravilha do século e um belo modo de distração. O instrumental é uma luva na mão dos professores invisíveis e seus intentos libertários, que fazem surgir  das telas de computador uma nova mentalidade, uma nova lógica só acessível aos jovens em formação e apartada da mentalidade dos pais, muitos dos quais delegavam à escola toda a parte educacional. (Também pais semianalfabetos ou muito ocupados que já não tinham condição de acompanhar o aprendizado dos filhos na escola, acabaram deixando os filhos soltos neste campo. Ainda outro aspecto a ser considerado é a falta de espaço em casa para estudar e ter livros face à miséria das residências onde não havia hábito de leitura etc. Com pais semianalfabetos ou analfabetos, onde encaixar a necessidade de estudo e sua validade na vida diária, qual o incentivo prático diante da necessidade de sobrevivência pelos pais? Sem exemplos e sem incentivo, o jovem estava sozinho também neste sentido.) Como a escola não possuía computadores e ainda funcionava com métodos antigos para a aplicação de um curriculum escolar pobre, os jovens vão criando um mundo à parte entre eles, dissociado da dos pais. Vai nascendo um hiato, campo livre onde as mensagens subliminares com diversos interesses de caráter libertário comportamental atingem os jovens de todas as idades na solidão de seus quartos e salas. O Governo, priorizando obras de propina, de longe abandona a Educação Pública, porque não há verbas, não dá voto e os resultados são de longo prazo. O espaço entre escola-pais-jovens está livre para qualquer orientação.
Aos poucos, os pais vão ficando como dinossauros e a escola como parque dos desinteresses.  Aliás, a escola como espaço físico esta a cada dia sofrendo os reflexos da selvageria humana, pois as notícias trazem fatos alarmantes como vandalismo, furto de objetos para o ensino, furto de comida, “bullying” entre os alunos, assaltos em horário de aula, venda e consumo de drogas, tiroteios e mortes, professores ameaçados e agredidos por alunos etc. A questão é só falta de verba? A área da Educação ficou isenta da corrupção e das negociatas feitas por políticos? A escola é centro seguro de ensino hoje?
Ao mesmo tempo, atendendo aos chamados do comércio e indústria, milhares de jovens procuram trabalho no setor de serviços em busca do salário que lhes daria a liberdade e independência e passaporte ao poder de compra e acesso a milhares de novos produtos da indústria brasileira. Começam as surgir os supermercados e as redes de lojas de departamentos com mais intensidade e fora de São Paulo e Rio. Criadas as necessidades de consumo, a juventude entra de cabeça e tudo na onda de serviços, prevista por Peter Drucker. A pressão consumista aumenta com a crise econômica e a necessidade de o Governo aumentar a receita tributária.  Todavia, a chance de trabalho em subempregos  atrai estudantes e jovens sem estudo. Muitos passam a estudar à noite e muitos abandonam os estudos ou mesmo desistem de tentar achar uma vaga no sistema escolar. Há então menos horas de estudo, menos tempo para leitura, a juventude é conduzida pela dinâmica do mercado-salário-consumo.  A juventude que fica em casa é distraída pelos aparelhos da informática e jogos de computador. A escola fica mais distante com seus conteúdos sem atração ou de dinâmica atrasada em relação ao mundo que os jovens estavam adotando.
As crises econômicas não evitaram que o país fosse tornado uma feirinha de eletrônicos. Um imenso mercado consumidor de televisão e computador, este ainda rudimentar. A década de 80 foi marcada por crises econômicas, inflação crescente e política estável. Desviava-se dinheiro público no silêncio dos balcões de negócio das empresas e repartições públicas, a corrupção era ignorada. As drogas e a violência social ainda não perturbavam as autoridades. A Educação não era prioridade mesmo, mas a consequência de tal crime contra a juventude e o país não eram sentidos claramente. O país acomodava-se a sua mediocridade, vazio cultural e ao fisiologismo, tudo de acordo com o estágio civilizatório possível no momento.
A população ainda ressentia-se do cenário passado onde tudo que exaltasse a Pátria era tido como adesão ao regime militar. Se de um lado a oposição havia pregado isto, de outro o regime tinha sido contra qualquer movimento que fizesse referência a manifestações populares, direitos e etc. que não estivesse estritamente contido nos limites da ordem do dia do quartel.
Nesta dualidade de negações, durante e após o regime, o espírito crítico era qualidade só para alguns. A juventude, em sua esmagadora maioria, ficava “a latere” e mesmo que com seu anseio de liberdade física e econômica não se interessava muito por política. Aos poucos e inconscientemente os jovens iam definindo sua visão de mundo com especificações novas, retiradas das lições dos mestres invisíveis, estes falsos libertários, interesseiros e com intenções escondidas, porque exploravam o instinto de liberdade humana e a manipulavam e conduziam para objetivos nunca transparentes como: destruição de valores e princípios, mudança de pensamento, hábitos e usos, transposição do individualismo, pragmatismo e comportamento egoístico sempre instigando a competição e a comparação entre os jovens e demais pessoas, o que vem caracterizando a sociedade como um todo e fornecendo alimento à violência, intolerância, fanatismo e extremismo na medida em que o ego não é satisfeito, gerando insatisfação, medo de perder e muita ansiedade colocada em prática través de ações se reações de conflito), pragmatismo, utilitarismo do ambiente de trabalho para o relacionamento pessoal, descrença em regras de respeito ao Próximo, transferência de caráter obsoleto e transitório dos materiais para a relação entre humanos, abandono do coletivo, desrespeito a autoridade do Estado e do pai de família, crença de que a vida é curta e não há o porquê de se entregar a algo definitivamente, total obliteração do conhecimento das fases da vida, desinteresse por reunir patrimônio e pelo casamento, emprego descartável, negativismo e adoção de padrões estéticos correspondentes, descrédito do estudo, leitura e pesquisa, exaltação das vaidades e do ego, adoção de comportamentos frios, calculistas etc., etc., etc. Destarte a juventude vai catando aos poucos subsídios para montar sua lógica de mundo e a partir dela escolher seus objetivos e sonhos de vida, diferentes da dos professores, pais, avós, diferentes das do Estado e de todas as gerações até então. Com tanta diversão e fontes de variação o mundo da informática ainda engatinha na década 80, mas se prepara para se apresentar como instrumental eficaz para as aulas dos mestres invisíveis de um modo a atingir a juventude fabulosamente.
Mesmo sem computador ou com os computadores pré-históricos, com  celulares bem limitados e sem aplicativos, a juventude apresenta-se desligada do mundo dos adultos da época, mas muito ligada ao seu mundo e ao instrumental fornecido por jogos de computador, cujo nascimento foi feito no treinamento de soldados americanos que necessitavam ir à guerra sem piedade de matar o inimigo; eram jogos para diminuir a sensibilidade humana. E o Governo não soube captar a importância do momento, negligenciou, deixou de aproveitar a energia do jovem e orientá-la para o Bem. Os professores estavam sem equipamentos e restritos à programação escolar defasada e monótona. Os pais de época não sabiam controlar a onda e ressentiam a perda de poder junto aos filhos porque não participavam do mesmo mundo, o virtual que ia fazendo o real, em divisão na mesma casa. As sementes lançadas progressivamente nas décadas anteriores iam germinando.
E aí chegamos à década 90. A crise econômica estava devastando o país com uma inflação tornando-se incontrolável. O cenário político era dos políticos e os militares estavam fora. Greves eram comuns. Agora o Partido dos Trabalhadores era a oposição. A corrupção certamente continuava às escondidas e nada era divulgado. Farra total na Bolsa de Valores e empresas estatais e de economia mista. Todavia, os interesses externos não perdiam de vista o mercado Brasil, a feirinha promissora para as telecomunicações, aparelhos de informática etc. O país ia mal, mas havia mecanismos de recuperação dos efeitos inflacionários que davam renda extra para muitos, eis que a havia uma distorção entre índices e o preço real no comércio. 
Foi a partir de 1994 que a economia melhorou. Com a estabilidade, a informática invade o país com maior qualidade, a telefonia recebe um grande impulso , os celulares melhoram , surge a internet, e daí em diante a evolução dos meios acompanha o mundo. O Brasil liga-se ao globo e a população usufruiu da abertura dos portos, dos produtos e tudo. A juventude vê um incremento substancial na comunicação para o seu mundo e o que dele  quer fazer. Tal fato reforça mais a separação deste mundo jovem quanto ao mundo da escola, dos pais, dos professores. O conteúdo escolar, mesmo nas escolas particulares, monótono e envelhecido não acompanha a agilidade de informações e possibilidade de pesquisa no mundo virtual. O Governo perde-se de vez quanto à Educação na medida em que não tem verbas para equipar as escolas e universidades.  
A revolução dos meios é contínua, agressiva, ansiosa, rápida e cativante. A escola fica no passado, as aulas ficam na boca de professores defasados. O discurso jovem divorcia-se da realidade da escola e até da família. Todavia, por mais brilhante que sejam os materiais, os meios de comunicação, há mensagens subliminares conduzindo a juventude para falsos objetivos e interesses meramente egoísticos de consumidor e aparência, esquecendo as fases seguintes da vida.  A juventude parece eterna, mas mesmo assim é estendida até os 30 anos.
Os meios podem ser variados, mas o fim, a vida é a mesma. Há contas para pagar o fim de cada mês, há responsabilidades, há o Enem, o vestibular, a seleção para o emprego e há as fases da vida. Não se vai poder trabalhar eternamente em subserviços, andar de skate, de boné, ganhar pouco e só para pagar contas, ter o celular para o exercício diário do vazio do ti-ti nas egoísticas redes sociais etc., etc. Mas o jovem continua sendo iludido, desorientado por mestres invisíveis que continuam atuando no espaço deixado aberto pelo Governo, pelos pais e escola.
Começa a ser mais visível a mudança de mentalidade do jovem com o desinteresse por itens fundamentais para a vida de adulto com responsabilidades.  Num mundo de “fazedores”, as rápidas mudanças de tecnologia dos anos 80 em diante, quebraram os ensinamentos de “avô-pai-filho-neto”. Há uma ruptura total e a quebra dos modelos e padrões de educação. O adolescente foi “empoderado” com equipamentos e aplicativos de informática que aceleraram a comunicação e a troca de informações; adquire poder de acesso a fontes de informação que só ele na família possui. Isto quebra o diálogo e faz surgir uma nova crise entre gerações, pois os “velhos” se retraem e deixam de passar ensinamentos para a vida e importantes para o relacionamento. Com redes sociais e tantos outros meios de comunicação, o diálogo fica mais distante e o jovem mergulha no seu mundo à parte com seus colegas e amigos virtuais que por vezes nem conhece. Os adultos, na maioria despreparados para lidar com esta realidade, sentem-se de lado, deixam de mostrar o caminho certo. As crianças ficam sozinhas na frente da tela de seus computadores de mão em casa, na sala de aula ou em qualquer lugar. Será que o pai da jovem que disparou a revolução da Primavera Árabe sabia que a filha pelo computador iria provocar a queda do Presidente?  Assim, hoje não se escuta o jovem dizer “meu pai  ou meu avô me ensinou que ...”, mas “eu vi na internet, no Face Book ou fulano me disse que ...” As orientações vem de fora de casa, de fontes diferentes. E isto ocorre muitas vezes no período de adolescência quando o jovem mais precisa de orientação para resolver suas inúmeras perguntas existenciais. O mundo virtual enche os jovens de sonhos manipulados, desprezando a realidade da vida e dos pais.
Logo a ilusão começa a desaparecer e a contrariedade do mundo feito como mundo real cria o desajuste, fazendo surgir os jovens sem leniência para enfrentar as situações de relacionamento pessoal, as dificuldades no emprego ou no desemprego, as separações e conflitos pessoais e com o Próximo. Não era o mundo que esperavam. Nada corresponde a realidade montada com vídeos, games, mensagens subliminares de sucesso e consumo, de vida em si. Há insatisfação quanto à realidade. Desta juventude estendida até os 30 anos, quantos estão preparados para serem pais e contrariar seus pretendidos padrões de interesse e fantasias plantadas em suas mentes? Nasceu certamente um número considerável, multiplicando a figura do Peter Pan.Há resistência em entrar para o mundo adulto e contrariar tudo que pensaram de mundo e vida.  No entanto muitas antigas tendências já viraram realidade e são o passo para a sociedade em constante fluxo e mudança. Não há retorno. Com valores, paradigmas, incertezas, ansiedades cada vez maiores, idiotices pessoais e coletivas e o jovem terá o mundo que fez em sua distração e negação do “establisment”. Mas é certo, para todas épocas, que sem estudo, desejo pelo saber, ciência e controle do ego nenhuma liberdade será atingida com sucesso. Sem estudo, uma geração será vítima da outra. Sem discernimento, sem esclarecimento, o Governo terá cada vez mais dificuldade, mas não deixará de se fortificar, para controlar a população egoísta, fisiológica, bruta, animal, fria, calculista e violenta.  Teremos mais violência oficial e mais a do povo.  O povo é sempre maior que o Governo.  
Ademais, o país, em permanente crise econômica, não oferece oportunidades para realização pessoal, nem empregos à altura de seus conhecimentos. A pressão consumista feita até então gerou uma demanda reprimida enorme e difícil de ser satisfeita. A frustração é grande. Sem emprego é ainda maior. O recurso ao crime, ao mercado do submundo aumenta.   Os que conseguiram uma Educação de qualidade por talento, sorte ou poder aquisitivo dos pais podem ir para outros mercados no exterior, mas sofrem com a solidão e a depressão, a saudade da família etc.      
Quando o jovem já não é tão jovem mais, começa a ser vítima da exclusão em tudo, não tem emprego, não pode comprar, não tem o que fazer, não pode se mostrar a contento etc. Os resultados só levam à ansiedade, a frustração, a tristeza existencial e a depressão, a violência contra si mesmo e contra o Próximo, as tentativas de fuga e todas as consequências que a contrariedade ao ego trazem. Os traumas e problemas gerados para o mundo interno das pessoas são então considerados como dramas individuais e nunca erros estratégicos do Governo e sua negligência quanto à juventude.
O país já sofreu a tentativa de ser um convento, um quartel, um circo e agora chegou a infeliz época de uma grande clínica psiquiátrica, o que não vai acontecer de modo algum. Perante as necessidades materiais e o analfabetismo, o mundo interno de cada um não recebe qualquer atenção e deve ser solucionado pelo próprio sofredor.  
A juventude enganada está aí, é inteligente, é criativa, é esperançosa, mas construiu um mundo diferente e nele terá que viver sozinha. Haverá erros e acertos, mas tudo será uma nova realidade e terão que achar suas soluções para poder sobreviver. O Brasil será deles e para eles. Com 96% de semianalfabetos, a realidade será muito disputada entre jovens que podem e jovens que não podem. Campo propício para o nascedouro do ódio social, quando a mediocridade entra em cena e o ego de vaidade , ciúme e inveja comandam a mente.  Muito egoísmo, muita frustração e muita violência. O maior desafio é acabar com esta porcentagem maléfica de 96%. Para isto a Educação tem que ser prioridade. Haveria muito para ser feito com o aparelhamento das escolas, capacitação de professores.
Pessoas sem estudo são limitadas, desqualificadas, vivem frustradas e incompletas. A falta de estudo prejudica o pensar, embrutece, recalca, cria o cidadão de segunda categoria, condicionado a viver em estritos limites da liberdade outorgada. Há aumento da intolerância, radicalização, procura pela tribo igual, e o consequente repúdio à diferença. A falta de estudo deixa a pessoa exposta à manipulação das lições subliminares dos “professores” da má orientação, que vem usando o mais fabuloso dos inventos, a informática e seus aplicativos que deveriam ser usados corretamente para o Bem.
Hoje com a diversidade de meios e aparelhos cada vez mais admirável, tudo isto é usado também para o Mal, por pessoas malévolas e criminosas que se dirigem aos incautos dando-lhes falsos nortes e estimulando para que usem o ego para mostrar suas baixezas animalescas e vários tipos de violência. Só o estudo e o esclarecimento podem ser o antídoto contra o ego humano, hoje tão explorado pelas forças invisíveis. A liberdade é sempre o objetivo da humanidade, mas envolve responsabilidade, comprometimento social, estudo, esclarecimento, boa referência e aquisição de níveis superiores do pensamento. Com uma porcentagem tão alta de semianalfabetos é quase utópico pensar que a liberdade será atingida, mas é a única saída para o Governo, porque a liberdade é instinto humano e será sempre perseguida com Governo ou sem ele. Falta de educação pode culminar na avacalhação social, desrespeito civil, desgoverno etc. O controle de uma massa é sempre impossível com a lei e os meios policiais.
 Assim, no espaço de abandono deixado pelo Governo, pais e escola, a juventude de todas as classes sociais está sendo nivelada, achou e acha seus meios e montou e monta seu mundo. Teve por instrutores os agentes variados de influência boa e má, catou seus fundamentos e está para assumir o Brasil das próximas décadas, com sua mentalidade, com seus valores, desejos e prioridades. O dia a dia já indica os resultados que vão alcançar sem estudo, sem interesse pelo saber, sem leitura.  Mas, certamente, estarão com seus computadores e celulares ligados e os mestres invisíveis fazendo a cabeça de seus filhos. Continuará a pressão sobre os jovens e a população quanto ao consumo. Não haverá pausa, Governo, comércio e indústria precisam de receita para sobreviver. As dificuldades continuarão quanto à empregabilidade e a qualificação dos economicamente ativos e inativos.
Muitas pessoas já entenderam que sem estudo não farão patrimônio, não serão ricos nem conseguirão muito. O paternalismo estatal será cada vez maior, não será possível escapar do fascismo, entendido como controle estatal sobre o indivíduo, modo mais comum de conduzir um rebanho. Quais os limites da liberdade almejada pelos jovens em tal cenário? Será que tal liberdade resolve-se no sair de casa, fumar, beber, usar drogas, mostrar irreverência, afrontar a polícia, tomada como Governo, comprar o que desejar? Que tipo de ações ainda mais desesperadas será colocada em prática pela juventude que hoje ocupa lugares em subempregos no setor de serviços quando descobrirem que ganharam idade e as tarefas e o salário não são mais compatíveis com suas necessidades de adulto, casados ou não? Com o previsto envelhecimento da população, haverá jovens para garantir a substituição?
O desafio será sempre qualificar a mão de obra para os empregos do futuro. Se hoje forem tomadas as medidas corretas quanto ao conteúdo e aparelhamento da Educação por pais, professores, escola e Governo, só em 20 anos teremos resultados. Dar orientação correta e diminuir a influência de mestres invisíveis no meio tempo é o modo de diminuir a imposição de mentalidades adversas, só combatida com uma Educação que vise ensinar a lógica dos sistemas da vida, crítica, filosofia geral, para que as pessoas saibam lidar com as informações e suas diárias transformações. Isto é vital, pois o conteúdo dos livros está mudando diariamente face o avanço da pesquisa e da ciência. Portanto, melhor que ter informação é saber lidar com sua evolução e transformação. 
O Governo dorme quando não aproveita a energia, a inteligência e o potencial da juventude, altamente informatizada e apta a lidar com os meios, esperando  boa orientação para usá-los para fins úteis e de bom futuro. Na falta de boa orientação, o jovem está exposto.    
As linhas gerais foram estas. O Brasil do pós-guerra, até hoje, nunca foi para todos e nem construiu bases até agora para deixar de ser.
Seja lá como for o modelo de Educação formal a ser adotado para ocupar o espaço vazio até agora existente, só terá sucesso se afastar os mestres que reforçam o homo-asinus, egoístico, bruto, fisiológico e dado à violência.
Somos brasileiros resultantes do tempo feito por gerações anteriores em casa, na escola e no Governo. Esperamos que nossa nossos passos de hoje sejam corrigidos e que ensinem o futuro a andar em passo mais seguro e honesto. Pelo menos uma década à frente ainda viveremos sob o domínio das consequências das aulas dos “professores” do passado, sob o risco de vermos  aulas inéditas. Por falta de a Educação ser prioridade, estamos atrasados, perdendo trens na História, perdendo energia.
Um questionamento que pode estar sendo feito por alguns do Governo, talvez seja: “mas se a Educação de qualidade tiver sucesso ,a tingir a todos , haverá lugar de emprego para todos, se o país não crescer economicamente? Esta não é a realidade de tantos países que exportam mão de obra qualificada porque suas economias não entregaram o que prometeram ? Não se pode tomar decisões estruturais com base em tais questionamentos. A Educação é dever do Governo e tem que ser de qualidade e ser ofertada para todos, independentemente da situação econômica do momento. O ideal é formar o ser humano, qualificá-lo também como pessoa para que saia da miséria do vazio existencial, saiba controlar o ego e adote a civilização como meio de vida e todos os progressos que ela oferece com discernimento e esclarecimento. A Educação não é treinamento para exercer funções de fazer e produzir, é muito mais ampla, é melhorar o ser humano, o cidadão. Um belo modo de acabar com os castelos de areia montados pelos mestres invisíveis, falsos libertários com suas criações fantasiosas, transitórias, o que só gera contrariedade, frustração, ansiedade, medo de perder e depressão.  
Sempre alguém que tenha sobrevivido com suficiente espírito crítico em cada geração, preocupa-se com a linha geral, com as tendências e sinais de alerta na Educação e outros setores, porque a cada geração não sentem segurança para os jovens no futuro e têm a sensação de ver o Titanic afundando por falta de estudo e certeza no rumo a tomar para o intelecto, hoje cada vez mais exposto ao vazio da transitoriedade e ao terror da manipulação e péssimos condicionamentos. Sem estudo, sem esclarecimento, a mente fica exposta à  manipulação, ao fisiológico, ao segregacionismo, à radicalização etc. que dificultam a participação na democracia. A juventude que anseia liberdade é a primeira a ser manipulada. Não existe liberdade, se a mente que a deseja é cativa de forças externas de fonte diversa e objetivos transitórios, interesseiros e de natureza duvidosa. O instintivo sonho de liberdade pós–guerra não estaria em perigo? Os jovens manipulados não são a nova versão para a função:  escravo? 
Uma Educação de qualidade para reocupar o espaço existente entre juventude e o Governo, escola e família, envolve conteúdo curricular adequado, aparelhamento de informática, novos métodos, professores capacitados.   Isto se desejarmos realmente participar do mundo industrial e científico e não decidirmos ficar só como fazenda e local de extração.  Se efetivamente for esta a decisão, que o país se conforme com isto e não queira “comer feijão e arrotar camarão”, porque não precisará de pessoas qualificadas e aptas para o trabalho como ocorre numa economia inteligente, criativa e competitiva. Brasil fazenda e mina continuará a exigir o bruto, o fisiológico, o insensível, o “homo-asinus”, egoístico, este não precisa de estudo, vem com a Natureza do rebanho, isto é, galera.
Portanto, por várias décadas do pós-guerra, vários foram os eventos que podem ter reforçado a formação de uma nova modalidade para a juventude que com ela irão gerenciar o “mundo” nas próximas décadas. E seus filhos, se os tiverem, e se incomodarem serão calados com um celular ou game para que  fiquem quietos e não perturbem ou “ não encham o saco”, o que hoje já se observa em alguns casais de nova geração. Os próprios pais a título de egoísmo ou por ansiedade, pensando estar introduzindo a criança, ainda com o cérebro em crescimento, à modernidade e igualdade com as demais crianças introduzem o aparelho do século, expondo as mesmas às lições subliminares dos mestres invisíveis. Ademais milhares já são filhos de pais separados desta geração e só por isso já carregam suficientes problemas pessoais, com graves consequências para seu desempenho como pessoa “livre”.  
Vários fatores e eventos ocorreram, mas seguindo uma orientação subjacente, subliminar explorando o anseio de liberdade dos jovens. Mestres invisíveis com mensagens sublimares foram inculcando sementes. A difusão de tais mensagens certamente foi turbinada com o advento da informática, que invadiu a TV, o rádio, a imprensam, mas sempre com conteúdos feitos por mentes que usaram o marketing na mídia em geral para atingir a das pessoas para seus objetivos libertários tendenciosos. Que liberdade foi atingida com tal manipulação global em sua versão nacional?  
Sem Educação de qualidade, continuaremos a dar saltos no escuro.

Odilon Reinhardt  3.6.2019.