segunda-feira, 3 de agosto de 2020

O que observar e questionar.

    


                                             O que observar e questionar.

 

 

               A consagração do dia.

 Agora tornado

pária,

na jornada diária,

o indivíduo encarcerado.

 

Nessa condição,

aprisionado, segregado,

isolado, afastado, distanciado,

metido em cruel situação.

 

Perseguido

pela invisibilidade,

mortalidade,

o humano mascarado.

 

Se faz reflexão

nesta realidade,

chega à estranha e inevitável verdade

da sua dimensão em evolução.

 

Todos como andarilhos ,

suas riquezas acumuladas, estocadas, ocas,

profissões e ligações inócuas,

a vida fora dos trilhos.

 

Para isto pelo menos a suspensão da rivalidade:

a competição, a ganância,

a intolerância, 

e toda a grande imbecilidade?.

 

Enfim, o individualismo

ressaltado;

exaltado

o pragmatismo.

 

No entanto, venceu

a fragilidade ,

a obsolescência, a transitoriedade

o senso de eterno se perdeu.

 

Ressalta-se o drama humano,

a tragédia social,

a ilusão do irreal ,

pessoas em desengano.

 

A lógica ,

a filosofia, a razão,

a ciência e a religião,

em linha ilógica e trágica.

 

Quem somos e o que temos,

de onde viemos,

para onde vamos,

o sentido da vida que vemos?

 

Todos os artifícios e criações,

naturais,

sobrenaturais,

agora em inúteis explicações.  

 

Algumas religiões continuam a valer

para que humanos

em obediência ao ego e seus planos 

não se matem; possam se manter.

 

O vírus faz a agonia e tem o lugar

de poder fatal

de juiz de tribunal,

e tem a missão de impiedosa de matar.

 

Cidades

casas e prédios cheios de medo,

a vida em arremedo,

atrozes células e suas realidades.

 

O juiz decide pela suspensão

da vida, do futuro,

da história e de qualquer plano tido como seguro,

ou pelo caminho da interrupção e eliminação.

 

Sorte,

tudo ou nada no jogo de cada hora,

sorteios de que fica ou vai embora,

todos à espera do corte ou de um novo norte.

 

Resta a consagração do dia,

a célula do tempo,

a fé em não ter contratempo,

a chance de viver o dia. 

 

A esperança de passar

para o outro dia,

ganhar o direito de passagem,

sobreviver e continuar.

 

A cada vivente

o mérito,

o crédito,

mais um dia como sobrevivente.

 

Na normalidade

havia guerras, perseguidos, violência

e agora na “nova realidade”

que realidade está sendo construída?

 

E não é então em cada dia

que a humanidade terá que reagir

e achar valores superiores de harmonia?

 

De toda a experiência

o humano é que pode pensar,

atributo para poder melhorar;

como tem usado a inteligência? 

 

Cabe a cada humano ser inteligente

e no dia fazer o melhor no viver e no conviver;

já será um grande passo para sua própria mente.

 

Viva o dia!

No dia há vida

e na vida há energia de alegria e harmonia.

Odilon Reinhardt.

 

          Parte da História.

 

Das páginas da História Universal,

agora estamos numa delas,

nessa época tão anormal.

 

Somos figurantes ,

linhas anônimas no individual,

mas da Humanidade representantes.

 

Grandes eventos estão no passado

nenhum tão televisionado,

o presente todo dia fica registrado.

 

Cada Ser em seu itinerário,

fazendo parte do cruel evento histórico,

marcando seu caminho diário.

 

Com consciência ou não,

o que ficará para cada um,

pertencerá a sua trilha e solidão. 

 

Move-se a massa humana,

exposta aos eventos , às vezes, desumanos,

fazendo História ,a humana.

 

Após, a página será virada,

quem dela participou, quem ficou,

seguirá para a nova página a ser registrada.

 

E ali novos dias e o futuro virá,

novas linhas e frases da História, 

feita a cada dia que aparecerá.

 

E assim vai sendo escrita

no fluxo da vida

a Historia e a estória não escrita.

 

Cada um de nós é vírgula, palavra, verbo, rima,

é parágrafo, frase, ponto, conjunção,

na redação da página até ponto final. 

 

Odilon Reinhardt.

3.8.2020

 

 

 

Quanto ao observar e questionar, muito há nesse campo fértil, de onde se pode retirar o retrato atual de nossa gente e de nosso país, ficando ressaltado o que ainda temos para progredir.

É essa época inusitada que veio para a História da Humanidade que vai deixando suas marcas e muito para observar e questionar. Cada país responde com o que tem, revela suas mazelas, suas deficiências, virtudes e o que ainda tem para melhorar. Cada humano com seus valores presencia o momento e analisa o que vê, tirando suas conclusões. Nunca um problema de saúde mundial foi tão registrado e acompanhado pela TV e meios de comunicação. Estamos todos participando da História da Humanidade numa de suas cruéis páginas. Cada ser humano é ali , linha, ponto, palavra, frase, parágrafo e pode ser ponto final de qualquer frase na página que vai sendo escrita no dia a dia. Cada um registra também sua estória, sua vida, para um dia lembrar e contar o que viu, como foi, o que aprendeu, como agiu e reagiu ou talvez quede em silêncio por não ter observado nada.

Entre nós, desde o início da crise, ficou claro que um ponto do calcanhar de Aquiles iria doer mais. O analfabetismo seria e está provando ser um dos grandes obstáculos, talvez o mais contundente, para a obediência às  medidas sociais de combate ao vírus. A falta de conhecimento de ciências,  dificuldades  de esclarecimento, as doenças psicológicas decorrentes do estado de miséria, o egoísmo e o fisiologismo levam à desorientação e à indisciplina. A população, acostumada a ser guiada de modo uniforme, encontra-se confusa, sem orientação clara e não entende a administração da crise de acordo com cada local e com diárias ordens contrastantes no mesmo local; perde-se nas notícias de TV, sem saber como proceder, sofre em agonia e ansiedade. O abre e fecha do comércio e as medidas conflitantes adotadas pelas Prefeituras de acordo com a pressão econômica mais poderosa levam a uma diversificação incompreensível. Ademais, a necessidade de sobreviver e manter a família leva a população a arriscar a vida todos os dias. Necessário aqui ressaltar a importância da TV para o acompanhamento da crise, todavia, este precioso instrumento de informação, ao início, seguindo seus ímpetos de sensacionalismo para garantir audiência, criou um clima assustador, levando pessoas a ter um agravarem seu processo de estresse e ansiedade, exaustão, o que certamente contribuiu para o impacto pessoal levando a mortes naturais, agravamento de doenças mentais e surgimento de tantas outras.   

Neste clima de pânico amenizado por fé e esperança, não bastassem as consequências da falta de Educação, o sistema educacional vai perdendo um ano inteiro. A adoção de aulas pela Internet não deu certo por motivos óbvios que vão da falta de internet, de local apropriado para estudar, falta e alto custo de aparelhagem para todos; falta de costume de estudar pelo método de pesquisa autodidata etc.. Enfim, não deu certo, porque sofre com as deficiências sociais, consequências da falta de investimentos em infraestrutura já que o Leviatã come tudo por si mesmo e enrola-se em definir e implantar medidas claras e duradouras. Se o ano não for considerado perdido, a qualidade foi no mínimo terrível. O Enem trará o retrato desta confusão toda.  Sem se aprofundar na tese já defendida em países de primeiro mundo que concluiu que é difícil aprender conteúdo educacional na TV, muito menos quando a TV está no celular. O tema da Educação no terceiro mundo é vasto e seu impacto é sempre devastador. Assim o vírus causou dano maior, atingiu a Educação em cheio, atingiu o preparo das novas gerações. Mas ressaltou mais uma vez sua importância prioritária e a necessidade de se investir pesadamente em TI para todos e a baixo custo. Deixou claro que a internet é serviço de primeira necessidade e que o país não pode continuar só como feirinha de eletrônicos e campo de teste de tecnologias bem como sua comercialização sempre como primeiro interesse.  

Diante desta realidade educacional trágica para o presente e futuro, bem como diante de tantas outras consequências imediatas e de médio prazo, aparece o  negacionismo, que é reação características para quem não aceita que seus planos sofreram  severo abalo e até demolição. A reação é de não aceitar e sempre querer persistir. As ações são do boneco de neve no fim do inverno e caem em descompasso com a realidade.  A TV turbina palavras de efeito dos negacionistas, esperando que a população tenha discernimento para identificar a falácia, a manipulação, todavia, somente poucos podem fazê-lo e a mensagem atinge a população com toda sua força de contradição, desafiando até o instinto, o bom senso e a razoabilidade. O dano concreto é que a negação da realidade e a inexperiência médica confundiram  todos e acabaram atrasando o combate à pandemia e agora acarretam milhares de mortes. Mesmo assim, os efeitos de discursos mal pensados continuam embaraçando a vida e colocando dúvidas na mente popular desprotegida. Tantos outros fazem teorias conspiratórias, tentando explicar a pandemia como ato de proveito comercial, político, etc.: alguém teria fabricado o vírus para tirar proveitos com todos os equipamentos, remédios e vacinas; alguém diz que o mundo merecia esta parada para ter mais consciência etc. A mente miúda e a graúda acham explicações de igual calibre e na sua arrogância tem por explicada a origem da tragédia, com o que se contenta intelectualmente, passando a agir como se o vírus não fosse mortal.  Isto tudo reflete as características de uma sociedade conservadora, inflexível, intolerante, cínica, arrogante, impaciente, ansiosa, egoística, que agem em reação porque não encontra satisfação no que construiu até hoje. O que temos aqui é o embasamento para uma vida do cotidiano onde o Próximo nunca sou eu; onde cada um é o centro do mundo, sendo infalível, protegido contra o visível e o invisível. O descaso toma proporções neste momento e produz ações e reações de grande cinismo, hipocrisia e violência moral e física. A negação da realidade é um coadjuvante de outros tantos efeitos e com o analfabetismo desempenha papéis horríveis no teatro do dia a dia, menosprezando o Próximo. Tal reação desesperada de quem tem medo de perder, é o indício de que muitos de nossa população ainda têm que melhorar e que seu caminho está ainda tosco e precisa de refinamento.

Sim, para muitos, o Próximo é qualquer coisa, objeto distante. Embora seja o centro de tantos anos de pregação, tão exaltado pela religião, o Próximo, diante do cruel vírus, passou a ser a vítima inferiorizada, sem proteção, um pária social em qualquer classe, objeto de desvio. O humano se afasta e nada  que a Humanidade tenha criado para viver no Planeta faz frente ao Covid  e sua invisibilidade. Fica ressaltado que há muito para ser feito no aspecto religioso contra o ego. A religião e todos os seus ensinamentos e cerimônias não podem ficar só para os tempos normais. Deve a Igreja e outras religiões perguntar como está e como ficará ao final o Próximo, como Fiel. Onde está a falha?  Mesmo que o vírus desconheça sua presença, crenças, santos e cerimônias de adoração, em defesa, os humanos mais fiéis se transformam em animais; mesmo assim, diante de tal falha secular, sempre o caminho de reforço espiritual é a solução e evita que os humanos se matem mesmo antes que o vírus o faça.  Sem amor ao Próximo, prevalece o egoísmo, o individualismo, e isto faz desrespeitar as restrições impostas para o correto combate ao vírus e qualquer outra doença coletiva. A negação em usar máscara, isolar-se ou afastar-se denota o grau de egoísmo existente, porque não se pensa no Próximo nem que sejam os de dentro de casa.

Mas para o mundo da produção e comércio, agora o Próximo, antes só um número, passa a ser a peça central, é o Consumidor, o que tem o poder de decisão de comprar ou não, elemento determinante na economia. Menos consumo, menos impostos. O Leviatã se desespera diante do desastre econômico. Onde está o Consumidor? Por que não compra? A União quer continuar a ser imperial, é materialista, fria e calculista e impessoal em todas suas atitudes. Talvez comece a perguntar com maior como está o Consumidor ? Como será o Consumidor? 

Acostumados a fazer, produzir, comprar, vender, enfim, promover a vida normal, o Consumidor está preso em casa de onde tem saído conforme há esse vai e vem de restrições ou não, dando origem ao vai e vem dos números na  curva montada e usada pelos meios de comunicação para possibilitar o acompanhamento dos casos da Pandemia. Em casa ou nos seus arredores, a maioria sofre os efeitos das restrições, do medo e da agonia ao ver seus negócios, seus planos pessoais e empresariais indo para o brejo, as dívidas se acumulando, o emprego sumindo e os problemas de convivência aparecendo. A fome e a miséria material chegando mais rapidamente. A exaustão surge no futuro mediato, mas não antes da ansiedade, do medo de perder e da agonia do não saber como reagir perante um inimigo invisível.

O quadro vai se fechando gravemente enquanto a violência física e moral aumenta vitimando casais, infância, idosos. Quantos cenários tristes estão acontecendo na vida privada? Quantos traumas estão sendo gerados em crianças e todos?  Ademais, com as dificuldades normais da vida, o desenvolvimento de atividades intelectuais como recreação pessoal e familiar sempre foi dificultada e não pertence aos hábitos do dia a dia da grande maioria da população, a qual, agora em casa, sente o vazio deixado pelo fazer e ter, o qual não pode ser preenchido a não ser por impaciências e crescentes desentendimentos pessoais. Para quem pode, o dia é preenchido pelos eletrônicos  até o ponto da exaustão.

Com medo, inseguro, instável, muito ser humano vai fazendo seu desequilíbrio e perdendo sua boa energia. A exaustão é o grau mais alto da reação, fazendo com que as pessoas saiam de casa mesmo contra as restrições impostas pelos Governos Estadual e Municipal. Surge um tipo de desobediência civil como fuga à prisão domiciliar. E tal realidade não é exclusiva do nosso país. Mesmo em países onde a educação e a qualidade da habitação não são problemas sérios, verifica-se a exaustão e a necessidade de fuga do lar sob qualquer pretexto. A presença do Governo não convence nem domina a população, mesmo que decretos municipais e estaduais prevejam multas e outras punições. O descumprimento das medidas restritivas alimenta a Pandemia e causa mortes. Está certo que algumas linhas espiritualistas pregam o desapego, mas não a este ponto de descurar da própria saúde.

É visível o sufoco pessoal. As consequências da falta de interiorização e da falta da vida intelectual acima referida são uma constante, apresentando danos  diversificados. No entanto, o ser humano sempre fica sujeito a aprender com a dor. Depois de ver os Semelhantes sendo enterrados em valas comuns, pessoas de influência falecendo sem ter cerimônias, falências e seu bar ou loja preferido sendo fechado, o humano vai tirando suas conclusões. O Consumidor poderá sair desta com mudança radical de hábitos, costumes e uma consciência maior. Caberá aos sociólogos e psicólogos das agências publicitárias identificar as mudanças, para com propagandas, convencer o Consumidor a voltar a comprar além dos itens básicos. Por algum período, alguns itens do Ego estarão em baixa, como a vaidade, o orgulho, pois a ostentação ficará encoberta pela máscara, vidro escurecido dos carros e pelo afastamento e isolamento social. O medo do Próximo, do outro Consumidor, marcará os dias do futuro por algum tempo. Certamente a Pandemia vai acarretando um redimensionamento quanto à vida, com influência direta sobre a vontade, o desejo de consumo e acumulação de bens. Vai ficando ressaltada a transitoriedade da vida, a obsolescência das coisas e a inutilidade das riquezas e cerimônias perante a doença, com a total insegurança quanto à  persistência do Covid em suas possíveis novas versões que podem surgir para tornar a Pandemia um duradouro problema mundial.

E o cidadão, preso em casa, fica submetido então à tela do computador, da TV e do celular em sessões diárias de notícias alarmantes. Ao início, repita-se,  com o avanço da Pandemia houve um efeito de apavoramento geral, o que certamente levou muitas pessoas a desligar a TV, pelo menos no horário dos noticiários. A TV, como quarto poder da República é o serviço público número um e sem ela ninguém saberia de absolutamente nada. E foi no campo da TV que a população assistiu as contradições entre o discurso negacionista e o normal. Ao desenvolver da crise, observa-se o poder de manipulação das massas mediante a utilização de psicologia aplicada com distrações, falsas promessas, criação de factoides, jogos de opinião, uso de bois de piranha e venda da fé e esperança, desafiando o discernimento mesmo de quem o tem neste país. Curioso como certos assuntos sumiram da tela, pois o Covid monopolizou o noticiário e sendo uma fonte de notícias mais baratas, fez esquecer assuntos que antes a TV esticava ao máximo para preencher a programação. Por meses os atos concretos do Governo sumiram da crítica televisiva, mas ficou a impressão de que o Governo muito estava fazendo às escuras em seus ministérios.  O que passou não se sabe. Tampouco se eram bons atos. Mas isto revela mais um ponto a ser corrigido, pois mostrou que muito pode ser feito utilizando portarias e resoluções sem efeito lei, mas que interferem diretamente nos vários setores produtivos e portam vontades e ilusões pessoais de verdadeiros ditadores de quarteirão.  Afastado pelo STF, a  União a certo ponto tentou retomar seu papel de liderança ao listar atividades essenciais e fez novamente uma grande trapalhada, deixando de ser seguida pelos Estados e Municípios no combate ao vírus. Tal rebeldia haverá de repercutir no futuro em desacertos e acrimônia. Nada que possa melhorar a situação.

Em socorro do Consumidor envolto em inusitado panorama, foi o celular que provou ser muito eficaz, pois na mão está o rádio, a TV, o computador e o telefone. No conjunto de aplicativos à disposição, as redes sociais assumiram importância máxima como distração, aula em casa etc. Certamente é o aparelho do século, que possui aspectos negativos quando mal usado, mas positivamente ajudou a combater a solidão, o stress, a exaustão e a depressão de muitas pessoas.  Deve a TV perguntar como estará na audiência, o Próximo travestido de Ouvinte, tele-espectador após toda esta grave situação.  A TV tem o poder de entrar nas casas sem pedir licença, ali transmite notícias de acordo com suas tendências, oportunidades e conveniências de momento; mexe na cabeça do povo e orienta ações e condena antes dos Tribunais; informa e desinforma ao fazer fragmentação de notícias e discursos contextualizando-os do seu modo, palavras e ênfase; cria confusões, estica notícias para preencher horários, entope a mente da audiência. Tal aspecto levou muitos jovens a não assistir TV e isto explica certas atitudes de desrespeito às medidas restritivas, vistas em ocasionais abre e feche de bares e outros conhecidos locais de aglomeração. A negativa de expor-se ao caleidoscópio levado ao ar pela TV pode explicar em parte o ocorrido e o aumento imediato de casos da doença.  Não se pode esquecer, tampouco, que até medidas de ajuda financeira, oferecidas pela União, na sua parte de operacionalização, conforme mostrado na TV, contribuíram para gigantescas aglomerações o que contrastava diretamente com as restrições determinadas  pelos Estados e Prefeituras, gerando cenas incompreensíveis à mente mediana, a qual, confusa, não sabia o que era verdade ou mentira, o que seguir ou não seguir, esperando que só a presença da doença em sua família pudesse efetivamente demonstrar a seriedade da situação em termos cruéis, como final convencimento.         

A tecnologia do computador, do celular e da TV representam benefício que ajuda na distração e  descontração, contribuindo para dar continuidade à vida e ao comércio,  mesmo assim, com o passar dos meses e os danos materiais visíveis, o esmorecimento pessoal do empreendedor e do Consumidor são evidentes de modo que o fator humano começa a se sobrepor. São planos, projetos, firmas sendo fechadas, o consumo diminuindo e a receita tributária esmigalhando-se. Separações, divórcios, encrencas, danos irreparáveis vão causando um negativismo extra para as pessoas. Curiosa é a vida da Bolsa de Valores, onde o mercado financeiro continua a agir como se nada tivesse acontecido. Antes bastava um boato político, um índice menor e o efeito era imediato. Agora a economia se apronta para ir para o brejo e nada acontece. Talvez o maior exemplo de negacionismo, tentando continuar no jogo, mesmo descolado da realidade.  O mesmo ocorre com a Inflação, antes aumentava o preço do tomate e da gasolina e a inflação aumentava, hoje tudo aumenta e a inflação é insignificante. Talvez tudo manipulação, medida de proteção, o que mais ?

Mas nada prejudicou tanto o cidadão e o combate à Pandemia como a politização da crise de saúde. A União, Estados e Municípios se desencontraram diante da falta de recursos e a necessidade de enfrentar a Pandemia, evento inédito, para o qual, não têm experiência nenhuma. Primeiramente, houve a tentativa de seus porta-vozes mais centrais de dizer à população de que não se tratava de algo sério, depois o erro estratégico de que a doença não afetaria as Américas, era de inverno, só atacava idosos e homens, não era necessário usar máscara, seguiu-se então, com o surgimento progressivo de casos, um festival de demonstrações de descura e menosprezo, gerando dúvidas e instabilidade junto à população, que na época ainda assistia os noticiários impulsionada pela curiosidade.  E diante do temor que as visões e entendimentos do poder central fossem colocados em prática, os Estados e Municípios foram levados a buscar junto à Justiça a carta de alforria para escapar dos devaneios dos porta-vozes e combater a crise de acordo com a realidade de cada localidade. A princípio Estados já alquebrados e Municípios esfarrapados tomaram medidas diversas, o que redundou na retirada da União do cenário de combate direto, com visível troca de orientações e Ministros da Saúde, mas a TV a jogou em suas telas como um grande trapalhão, um Leviatã gordo, rico, ineficiente e com apetite imenso. Todavia, A União não deixou de ser generosa ao destinar recursos do castelo para as aldeias. (Como que por passe de mágica, bilhões surgiram do nada, foram remanejados de outras contas do orçamento. Certamente não ficará barato e será cobrado com novas alíquotas e impostos. De qualquer forma o PIB já foi condenado).  Continuou o Leviatã, no entanto, a querer negar números, desfigurar índices e confundir a opinião pública, contrariando e escarnecendo medidas tomadas pelos Estados. Ficou clara a tentativa de manipular o levantamento do número de casos, de manipular a situação, o que deu um ar de descontrole e anarquia no  jogo de poder e prestígio.  O Ministério encarregado perdeu-se na confusão, a ponto de um consórcio de emissoras de televisão organizar seu modo de colher números para informar a população. O Ministério atrapalhou-se muito e teve dificuldades em suprir a Nação com remédios básicos e deixou de dar orientações de combate ao vírus. O Leviatã, neste tocante, demonstrou só saber funcionar para dentro, para seus objetivos egoísticos de repartição, poder e jogos palacianos. Mas a psicologia do Governo em qualquer nível é sempre de nunca admitir a realidade, pois sempre quer defender-se e mostrar-se no poder, informando que está fazendo obras, tomando medidas e compras para solucionar, mesmo que o discurso seja uma deslavada mentira, mas serve para o momento e para quem escutou o ato televisivo; é a antiga retórica dos sofista. Vale o “se colou,valeu”.  E qualquer membro do Governo que quebre esta regra é punido e já está de saída.  A TV fez a festa com toda esta munição, colocando a União como ridículo combatente, um recruta zero das casernas esvaziadas. Por vezes, até mesmo a TV representou a imprensa livre que se prende por dinheiro e é manipulada pela necessidade de recursos para sobreviver como empresa. É visível a troca de orientação editorial, a bagunça provocada na opinião pública. Isto contribui sobremaneira para a desobediência civil. Quanto ao aspecto político de tudo isso, pergunta-se como o Consumidor, travestido ocasionalmente como Eleitor, vai reagir. É uma incógnita? Em 3/8/2020, já temos mais de 94.000 eleitores a menos e mais de 2.733.0000 infectados que não são mais as mesmas pessoas em termos de saúde, nem tão dispostos a comprar como antes. Quem pessoas eram, qual sua qualificação e posição em empresas, preparo participar, para produzir etc.?  E era tudo para ser só uma gripe e tudo seria como antes no Quartel de Abrantes. Não deu.   

Ao mesmo tempo, os Estados tentaram liderar seus Municípios, mas a guerra política em ano eleitoral é enorme. É a luta de quem manda aqui sou eu. Governadores saíram chamuscados e suas Secretarias de Saúde perdidas no combate, sem leitos, sem dinheiro, sem remédios. Se a saúde pública era a penúltima prioridade para todos os níveis de Poder, com o Covid, foi pega em total despreparo. O agravamento da crise não é medida pelo número de mortos, mas pelo número de leitos de UTI à disposição para atender aos milhares de infectados.

E o Município, sempre o coitadinho da família do Poder, esquecido, deixado à míngua, sem recursos foi eleito como o grande lutador, o centro das decisões de combate. Decreto Municipal virou lei, medidas foram baixadas, cada localidade com suas leis. Uma legislação geralmente a orientar o comércio, repentinamente foi alçada a nível de Constituição e a Guarda Municipal conjuntamente como fiscal da Prefeitura passaram a ser os “robocops” dos tempos modernos. Talvez um exercício de como seria o Municipalismo. Mas a nível municipal, a crise de saúde sofre a pressão direta do comércio local, levando os Prefeitos a se contradizerem com mediadas de abre e fecha que não deram certo de modo algum, determinando a abertura do comércio antecipada e com reflexos diretos no aumento de casos.  Em algumas cidades, o descompasso de medidas que fecharam o comércio e deixaram o transporte coletivo solto só criam surpresa e indignação. O Consumidor chegou a duvidar da seriedade de tudo.  Com o aumento da interiorização do vírus, o número de casos e mortes ficou solto à sorte e destino em cidades que não possuíam nem hospital.  Na euforia da inexperiência, as subidas e descidas da curva são comemoradas antecipadamente até com euforia, mas o vírus não sabe de política e conveniências humanas, quer matar, eliminar a raça humana. Surpreendeu médicos e hospitais, derrotou o sistema de saúde, derrota previsões e não respeita marcos estabelecidos pela imprensa e Governo para retorno de qualquer atividade. Nos países da Europa, que dizem ter passado pelo ápice da pandemia, o vírus está voltando à medida que as atividades vão sendo liberadas. Isso demonstra que a volta ao normal só será possível com um “lockdown” mundial por 30 dias ou mais, até que nenhum caso surja e não haja ninguém mais infectado.  Todavia, o mundo da produção não quer perder, não admite parar.

Da desunião do Executivo em seus três níveis, contam-se os mortos e milhares de famílias enlutadas. Uma mortandade que, talvez ao final, quando em certo distanciamento histórico for analisado o que de fato ocorreu, sejam tidas como mero descaso com o Próximo das aldeias ou mesmo genocídio como dito por Gilmar Mendes. O fato é que para muitos, aumenta a dúvida e suspeita quanto à eficácia de órgãos públicos e autoridades, que se repita, só sabem funcionar para dentro e numa hora destas se afundam em trapalhadas e frases de efeito. Só dignos médicos, enfermagem e assistentes, verdadeiros heróis desta época, muitos inclusive já mortos em combate, são confiáveis. Em tudo, todavia, apesar de esforços isolados, observa-se a falta do bom planejamento, do entrosamento entre Município e Estado; há falta de coordenação e um show diário de discurso tendencioso, perdido, mentiroso, cheio de falsas esperanças;um desafio constante para quem tem discernimento e infelizmente, uma pregação aceita com os olhos pelo povo. Por enquanto, a única esperança  que podemos ter é sermos poupados pelo vírus.

E nem mesmo com toda a crueldade da pandemia, os salteadores abandonaram seus sórdidos planos criminosos. Todos os dias continuam a aparecer autoridades metidas em compras e contratações de serviços superfaturados, desvios de verbas. Lojas são assaltadas, pessoas roubadas ou vítimas de golpes, bancos arrombados, contrabando e tráfico 24 horas por dia, aplicação contra programas de auxílio à crise, corrupção. É uma doença que está na veia. Lastimável realidade, mas não poderia ser diferente num país onde se falsificam remédios, altera-se o leite, ladrões de galinha vão para a cadeia e gente “ importante” envolvida em golpes milionários contra o Tesouro é solta. Há uma perda constante de boa energia para o progresso do país. Pode-se dizer que o crime compensa, a Justiça sobrecarregada, ficou cega, tarda, falha e favorece a prescrição. Lamentável.  O desrespeito ao Próximo seja como Consumidor, Fiel, Eleitor ou cidadão é visível.

Nesse contexto, as novas gerações devem estar mesmo criando um asco em relação a tudo isso. Mas enquanto as leis para o galinheiro forem feitas por raposas, nada mudará. Depois de todas as operações da Lava Jato e outras, prisões e expropriações, persiste a impunidade; há o surgimento de quadrilhas ,eleitas ou não, que se beneficiam da moderna tecnologia e afrontam a todos e tudo com arrogância ou ignorância.

Como lenitivo e para dar esperança à massa humana, promete-se a vacina, prestes a ser elaborada na pressa; serão descumpridas todas as etapas de  necessária validação? Espera-se que a população não seja usada como cobaia de teste. Fica ressaltada a impotência da ciência humana perante o vírus, mas com as grandes potências esnobando no cenário mundial com lançamentos espaciais e viagens para outros planetas. O individualismo mostrou-se em estado adiantado e a ONU mostrou ter dificuldades em promover ações a favor da união dos países e dos povos. Prevaleceu a inexperiência  em assuntos que realmente deveriam ser de interesse global. A Pandemia poderá determinar a revisão de toda a ordem estabelecida à medida que as consequências econômicas começarem a determinar a ação e reação de cada país.

Infelizmente, tudo que estamos vendo é um preparativo para uma crise econômica de feitos devastadores para todos. No jogo econômico entre as Nações, algumas poderão ser trituradas. Pequenas economias terão que ser reestudadas e muitas terão que reagir co suas próprias forças internas, o que dependerá  de seus Consumidores. Quanto mais demorar a Pandemia, e isto irá até que todos os países importadores e exportadores do Brasil voltem ao normal, mais danos estarão sendo gerados. O mundo acordou quanto à dependência da China e certamente reações serão tomadas com mais nacionalismo, uso de soluções internas, maior disputa entre as grandes potências quanto ao domínio no mercado mundial, diminuição de importações, volta da inflação, dificuldades em manter a política de juros baixos, repercussão na política da condição econômica e suas consequências para a vida da população, perpetuação do endividamento com falências e desemprego, esmorecimento pessoal, queda da arrecadação de impostos e capacidade de investimento. Mas com o Leviatã fazendo de tudo para não perder um quilo de sua majestade e bazófia. Inúmeros serão os desdobramentos desta cruel realidade que está ainda se formando. Como será o cenário político? Como estará a guerra pessoal entre os Três Poderes? Tudo será feito e impregnado das características da sociedade brasileira. Mas o busílis é como estará o Consumidor, o cidadão, Eleitor, o Fiel, o Espectador depois dessa provação? A TV tem a missão de informar, mas também ao fazê-lo, deve ter a responsabilidade de não exagerar suas tendências.  O momento é delicado para a sobrevivência em cada mente, em cada lar. 

Como se pode ver, há no país muito para evoluir. Estamos longe de qualquer excelência em termos de qualidade, respeito ao Próximo, democracia e direitos sociais, mas estamos num processo de evolução constante com mortos e feridos. Avançamos lentamente, graças aos empreendimentos privados. O Brasil de 1950 em termos materiais não pode ser comparado ao atual, todavia, face aos vários fatores de perda de energia, alguns mencionados no texto acima, o nosso país vai sendo progressivamente entregue as novas gerações, que terão nas mãos os meios de conseguir progresso do seu modo, conforme o seu preparo, de acordo com seus princípios e terão que viver com isto. Não há milagre, todos terão que passar por etapas e construir o futuro melhor. No entanto, sem Educação, cada vez será mais fácil dizer e lamentar ” não se preocupe , nada vai dar certo”. Nada nasce sem ser plantado. Os milimétricos erros de hoje serão os quilômetros de diferenças amanhã. Um pequeno gole hoje, um bêbado caído amanhã.

 

Odilon Reinhardt . 3.8.2020