quinta-feira, 3 de setembro de 2020

E o Fator Humano?

 

   

                                                                









 

                                          Um Sinal do Universo 




Estamos nesta  bola azul entre cada anoitecer e amanhecer,

sinalizando no escuro do Universo

para que alguém talvez  possa nos ver .

 

Enviamos nossas naves poderosas,

nossos telescópios e satélites,

mas permanece o silêncio em notas vigorosas.  

 

Somos moradores pensantes ,

cheios de enigmas e perguntas,

mas  também meros passantes.

 

Somos Natureza ,

somos parte de tudo,

somos tudo e nada na Criação e sua beleza.

 

Ignoramos que dependemos do sol,

da água , do ar, da Natureza como um todo,

e até mesmos dos sonhos da hora do arrebol. 

 

Fazemos dificuldades, complexidades,

esquecemos nossa  simplicidade,

negamos nossa fragilidade.

 

Com orgulho e soberba inventamos

governos, estruturas complexas e hierárquicas

mas da essência, da inocência e da simplicidade esquecemos.

 

Nossos intelectuais criaram todos osismos

para tentar explicar e entender a vida ou o que fazemos,

mas ao final nada entendemos e explicamos com estes ismos. 

 

Acumulamos o negativo,

vivemos e perturbamo-nos com este depósito,

esquecemos do que é positivo.

 

Vivemos embaraçados dentro de nossa mente,

cegos, inconscientes, numa congestão,

afogados na materialidade complexamente.

 

Temos intensa dificuldade em saber viver,

somos levados a ver o Próximo é inimigo natural e competidor,

nossa vida espiritual é conflituosa e afeta o conviver.

 

Criamos conflitos, disputas, diferenças,

que levam a guerras e destruição,

temos cerimônias e rituais e lutas de religiões e crenças.

 

Ficamos cegos com a emoção e a ira,

ficamos fascinados e nos ajoelhamos diante do material,

temos o dinheiro e competição como mira.

 

Perdemos a  percepção e a sensibilidade,

gastamos muito com coisas transitórias

e depois muito tempo tentando retornar à nossa realidade.     

 

Fazemos classificações, categorias e classes de seres humanos,

perdemos energia nos diferenciando por critérios escusos ,

criamos ilusões e muitos enganos.

 

Sabemos estar submissos ao Tempo,

tentamos estendê-lo, multiplicá-lo,

mas  achamos contratempo.

 

Não sabemos lidar com a limitação da existência,

não aceitamos nossa inferioridade,

queremos criar eternidades e falsas essências. 

 

Temos medo de perder,

mesmo sabendo que daqui nada levaremos;

temos medo da morte e seu acontecer. 

 

Sabemos que nada é para sempre na Terra onde estamos, 

a instabilidade é geral e o movimento constante,

não sabemos de onde viemos e para onde vamos. 

 

Nos debatemos na busca de um preenchimento ,

na busca para um sentido para a vida

e tudo que obtemos é um contínuo vazio no sentimento.

 

Sabemos de nossa pequenez perante a Natureza,

que somos indefesos perante a física e a química do Universo,

mas continuamos orgulhosos e soberbos em nossa natureza.

 

notamos a impossibilidade de mudar o roteiro fatal

entre o nascer, crescer e morrer ,

mas ainda nos matamos e afogamos no material.   

 

Temos medo da dor da morte, da sua essência,

da verdade que dela ninguém voltou,

do enigma da perda e da inexistência.

 

Tentamos viver explicando porquês,

o nascer, o crescer e o morrer,

fazemos teorias e nada sai dos por quês.

 

Lutamos entre o material e o imaterial,

entre o palpável e o impalpável,

aceitamos ou negamos o espiritual.

 

Perdemo-nos em nossa pequenez,

em nossas injustiças, iniquidades,

em nosso orgulho e soberba cada vez.

 

Nossa bola azul , nosso lar,

por ganância não é mais a mesma,

mas não aceitamos nossos crimes no seu cuidar.

 

Preenchemos nosso peito com medalhas, condecorações,

prêmios e comemorações,

mesmo sabendo que não valemos nada por nossas atuações.     

 

Ignoramos nossa fraqueza total,

perante a doença, um simples mosquito,

uma bactéria,um vírus pode nos fazer virar pó, fatal.

 

Basta não respirarmos por alguns minutos

e a existência cessa, desaparecemos;

vence o tempo, a Natureza; a bola azul reclama seus frutos.

 

Portanto, o dia é o que temos;

o foco no aqui e agora,

na vida e seus bons momentos.

 

E do Universo, nem um sinal,

o nada absoluto,

estamos aqui, é a Terra nosso mundo especial.

 

 

Odilon Reinhardt.

 

 

                                   Tédio nos céus.

 

 

Prédios inteiros

de gente acuada ,

cheia de grandes dinheiros.

 

Gente esvaziada,

sem nada para fazer,

matando o tempo nesta parada.

 

Andares cheios de animais humanos

com gente usando o intelecto ou não,

todos já apresentando sinais de desenganos.

 

Não é só a ansiedade ,

a depressão , é a Exaustão,

uma cruel verdade.

 

Prédio após prédio,

cheios de nada,

amplos em tédio. 

 

Elevadores do medo,

ponto de estrangulamento,

todo dia desde cedo.

 

O vírus pode estar no sobe e desce,

a sorte , o destino, o azar,

o destino de cada um ali nasce.

 

Dia após dia ,

um andar desconfiado do outro,

instalou-se a agonia.

 

“ Bom dia” que já era raro ouvir,

agora com máscara,

tal rugido nem se ousa.

 

Conveniente e social afastamento,

o prédio virou caixa vazia,

e local de certo constrangimento.

 

Odilon Reinhardt.

 

 

 

                                 Novo normal.

 

 

Sorrisos escondidos,

olhares estarrecidos,

rostos repartidos.

 

A máscara ,

os mascarados,

a realidade cara.

 

A expressão sem graça,

os olhos como contato,

a aparência em desgraça.

 

Olhos tristes, enternecidos,

irados, assustados,

feios, raivosos , cansados.

 

A máscara escondendo o rosto,

como a mulher de burka, de shador,

uma sombra sobretudo sem gosto.

 

A máscara do Covid-19,

fazendo a beleza feminina passar ,

um tempo,um 2020, sem que nada a renove.

 

Quando veremos os olhos se abrindo,

os rostos felizes e livres,

femininos mostrando beleza e sorrindo? 

 

Agora vale enfim a mulher

que seja inteligente,

mostrando seu mundo interno de bom ser.

 

Só ego e aparência,

isto agora não pega mais, 

doravante, vale a essência.

 

Por enquanto, olhos que procuram se aproximar,

de humanos que passam, que fogem, que desviam,

que se afastam , que se distanciam.

 

Onde estão os amigos,

todos mascarados agora,

se misturam aos inimigos?

 

Prossigo na esperança do amanhã,

quero encontrar os amigos,

um irmão, uma irmã.

 

Estão em algum lugar,

atrás de uma máscara qualquer,

o velho normal deve voltar.

 

 

Odilon Reinhardt.

 

 

                           O que estou vi e estou vendo.

 

 

Vi e estou vendo nesta crise

pessoas  com medo, mas 

ainda mais fechadas; muitos egoístas em crise.

 

Vi e estou vendo a realidade,

o humano se afastando do humano,

ainda em maior intensidade.

 

Amigos, conhecidos e parentes,

todos tão recolhidos,

tão sós sem suas gentes.

 

Ficavam até alegres com o contato,

mas será que procuraram alguém,

será que perderam o tato?

 

Habituados ao toma lá da cá dos interesses,

estão perdendo o lado sensível humano,

não sabem se relacionar sem materiais interesses.

 

Nenhuma ligação de interesse puramente humano, querendo saber:

perguntar simplesmente, “Como está ? Como tem passado?” ;

emudecidos, refreados fazem tudo pior até neste afazer.

 

Vejo pessoas que não ligam,

pessoas que não retornam mensagens,

muito presas, sem palavras, não se importam.

 

Criam sem querer uma sensação de ter falado ao vento,

sem resposta, sem retorno, sem atitude ,

é o frio isolamento.

 

Pessoas que se habituaram a esperar,

seguir, receber, e nada podendo fazer,

agora sabem reajeitas mas não sabem criar.

 

São dificuldades a vencer,

deveriam agitar o dia, a vida, sacudir a rotina,

gerar as suas próprias novidades e fazer acontecer. 

 

Senti muitos tão reprimidos,

de poucas palavras, sem expressão,

animais na toca, de pensamentos espremidos.

 

Vejo gente se arrastando pelos momentos,

sem ter o que fazer por horas exaustas;

gente presa com medo de seus sentimentos. 

 

Sem hábitos intelectuais,

tudo fica mais difícil de preencher;

esperar a hora de dar comida aos animais.

 

Vi pobreza, de comportamento,

falta intelectualidade, pouca nobreza no atuar,

pouca beleza no sentimento.

 

Pessoas que nada podendo fazer,

dedicam-se ao vazio de coisas inúteis para matar o tempo,

crueldade, pois é  tempo de vida que está a correr.

 

E a certo ponto vi palavras de solidão,

uma tristeza camuflada em vírgulas e pontos finais,

um adiantado estado de exaustão. 

 

Vi e estou vendo muitos neste caminho

com  seus umbigos, a realidade que já existia,

agora mais intensa na falta de atenção e carinho.

 

Nada para surpreender,

só uma constatação,um teste

de como tudo está frio, calculista ,pragmático no coviver.

 

Tanta superficialidade

já era o comum no ti-ti-ti

em redes da sociedade.

 

Isto virou agora ícone da ansiedade,

uma tortura lenta e diária no vazio,

cheio de dissimulação e fragilidade.

 

Vi e estou vendo a solidão,

sombra que vai se aproximando

da individualidade de cada coração.

 

Fico a perguntar se durante

toda esta crise humana não só de saúde

irão refletir ou ficar ainda mais distante.

 

Vi e vejo muitos preferindo

concentrar-se na dor e não no amor-compaixão,

alienar-se, negar , evitar debater o que vai prosseguindo.

 

Será que tudo isto nada ensinará,

será que tirarão conclusões certas,

será que isto tudo para algo servirá? 

 

Odilon Reinhardt.

 

 

                               Em meio a todas as demonstrações do Leviatã quanto ao seu caráter materialista e assaz egoísta, visando sempre a preservação de seus órgãos, os quais muitas vezes, só funcionam para dentro, fica por demais visível que o espírito do Poder é mesmo de existir para si mesmo. Nada de diferente e nem uma quebra de expectativa, pois as estruturas e o espírito monárquico continuam a existir dentro da aparente modernidade do ideal republicano e suas estruturas. Evidentemente, tal continuidade dá aos inquilinos, eleitos, pelo condomínio nacional, o modo de “vida nobre” a ser preservado com se eternos os mandatos fossem;  tal moto está personificado em muitas das inatingíveis figuras,  elevadas aos altos escalões de seres que se creem  perpétuos, e que em ações corporativistas procuram manter suas salvaguardas, privilégios e benefícios estratosféricos diante de milhares de comuns, famigerados ou não, que devem seguir a rotina da vila, ameaçados pelas adversidades da vida e suas doenças.

O show entre os níveis de Poder Executivo no país politizou a crise de saúde, economizou dinheiro público distribuindo migalhas ao povo, propiciou que quadrilhas fizessem seus negócios milionários em equipamentos de saúde, favoreceu a corrupção e deu fartos exemplos de dissonância, falta de planejamento, descaso, manipulações, jogo de falsas orientações, enquanto o festival de barbaridades e politicagem continua esnobando o crescente número de casos e mortes. Nada de anormal para o país onde se faz de tudo para ganhar sem trabalhar muito.

Por trás da cortina da crise da saúde, passam boiadas e as piranhas ficam gordas, o Leviatã acossado pelos factoides políticos e “side-shows”, permanece inabalável em sua administração econômica fantasiosa à mercê do tsunami que vem vindo.  Políticos ocupam-se com sua prioridade: a reeleição. Os eleitores expostos à sorte e destino. A principal ocupação de toda a estrutura político administrativa é a preservação de seus corredores e o que ali se comenta e prepondera: luta pelo Poder e colocações.

Quem se ocupa em ousar perturbar a normalidade de tal realidade palaciana e suas intrigas é a TV, a qual, entre seus muitos aspectos negativos e que ao início da crise quase levaram o povo à loucura e a histeria, organizou-se para informar e mostrar as agruras, devaneios e discursos contrastantes entre os jogos do Poder.

Em tudo, fica demonstrado, pouca preocupação de certas autoridades com o fator humano e as consequências humanas da pandemia. Tal fator é aspecto secundário diante da pressão econômica para reabrir o comércio, garantir a receita pública, negar a realidade, divertir o foco enquanto os falecimentos se acumulam .

A tríade, Saúde, Educação e Segurança a cargo do Estado mostrou sua realidade. Não fosse o trabalho heroico de médicos e enfermeiras, tudo seria pior. No todo, o Poder mostrou-se burocrático, lento, atrapalhado, pouco convencido da seriedade da crise, sobretudo, desunido e fragmentado. A dissonância entre as autoridades foi  tônica diária e a incompetência a marca registrada em tudo que politicamente podia ser decidido.  

Mas todo este cenário , por vezes até surreal pelo modo com que a TV o comunica, está sendo percebido só por alguns, pois fica embaçado pela fumaça do analfabetismo, da alienação, do pouco interesse pela causa pública, pela educação precária que impede o completo entendimento do que vai ocorrendo, pela falta de crítica e também pela audiência desistente, a qual cansou de tanta má notícia por um período tão extenso. 

É assim que cansado de tanto desencontro, falta de união e contradições absurdas, a reação comum começa a nascer na multidão, tratada como rebanho.

O fator humano subjacente é catastrófico, consequência de várias mazelas da vida nacional. Entre elas a Educação, colocada agora em tentativas de aprendizagem por meios virtuais, não só no Brasil, mas no mundo; revelou-se um fracasso. Pais e mães fechados em casa com seus filhos, que caldo fazem? Se a Educação era delegada para a escola, agora voltou à mão dos pais e não prosperou, faltou equipamento, cultura, sensibilidade e tempo e interesse. As horas de negligência foram alteradas e sabe-se  lá mais quanta encrenca doméstica em imbecis discussões por falta de paciência, hábitos intelectuais ,costume, foco e até mesmo amor. As crianças em casa; centro de atritos e muita violência física e moral entre casais, crianças, jovens e idosos. Os desdobramentos serão múltiplos e persistirão pelo depois da crise. Pelo menos vai ficando demonstrada a essencialidade da escola e o caráter insubstituível do professor.

A Educação como prioridade supranacional. Nunca foi, não dá voto. Todavia a Educação é o berço do cidadão, mais importante do que a sua própria casa onde pais nem sempre contribuem para a correta educação,  seja a formal para o trabalho seja a pessoal. Até a lei considera a casa com fortaleza do cidadão, mas como está a cada do cidadão antes, durante e depois desta crise? Até que ponto a casa e o que nela acontece não está sendo o centro da demolição da vida íntima do indivíduo, mormente quando o país não consegue ali existir para fornecer base sólidas para uma vida conforme prevê os objetivos da Nação nos termos da Constituição da República. O estado materialista, em décadas e décadas, tem olhado  o fator humano com interesse de quem quer o voto, quer o consumo, quer a receita. Pouco faz pela qualidade de vida e educação sustentável. Não é de agora, é posicionamento de sempre e a sequência de um Governo após o outro que só apresenta as mesmas políticas precárias. Consequências viram causas e assim vamos perdendo energia e tempo. Qual a qualidade de nossa mão de obra para fazer face ao futuro. Como está sendo afetado o cidadão em seu ninho? Quais os efeitos da Pandemia na pessoa e sua possibilidade de consumir e prosseguir na vida? No que possa pesar o bom desempenho de secretários estaduais e municipais de saúde, a população deixou de prestar atenção à TV e decidiu continuar a vida assumindo o risco, utilizando-se da fé e esperança, dois pilares da vida restante neste país.

A necessária quarentena, o afastamento social e o distanciamento foram biocotados pelas notícias e orientações contraditórias a ponto do cidadão decretar por si só o fim da Pandemia e ir em frente. Com tanta notícia ruim, por período tão prolongado, invadindo os lares, de todos os itens da psicologia de massa mais aplicados como o Pão e Circo, pelo menos um teve que ser liberado: futebol, mesmo que sem presença de torcidas nos estádios. Como elemento de luz no final do túnel, a promessas de vacina rápida. Mas o vírus desafia a tudo e todos, não conhece das coisas humanas. Aproveita-se do negativismo propalado pelos meios de comunicação e afeta a moral do povo em casa.

Diante do afastamento social, das restrições impostas, do vai e vem de comandos municipais, da dissintonia de orientações entre níveis de Governos e dentro do próprio Governo, a pressão econômica, as dívidas, os dias cheios de más notícias, os problemas familiares etc., o cidadão não tem mais como resistir e acaba banalizando a crise e vulgarizando o vírus como pura reação animal ansioso pela liberdade. A pressão sobre o cidadão confinado foi até agora a maior já vista no país. A instabilidade gerada fez pressão que levou  certas camadas da população e faixas etárias decretarem o fim da Pandemia por si só, promovendo perigosos eventos de aglomeração, desfeitos a cavalo , tiros e sirenes. Ademais os comerciantes e empreendedores foram sendo surpreendidos com o prolongamento da crise e olhando seus negócios e empreendimentos irem para o brejo. Ficar em casa nesta situação certamente foi uma tortura e a saída foi fazer pressão sobre os prefeitos e governadores. É de se supor que o Covid atrapalhou também todo o processo de lavagem de dinheiro e caixa dois praticado por muitos comerciantes e indústrias. Diante da pressão, as prefeituras tiveram que ceder e criaram muita contradição, notada pela audiência popular. A decisão é norteada sempre para não perder ou não deixar de ganhar e isto levou à perda da vida de muitos. Ademais, num país muito egoísta, o Próximo que se dane e os idosos mais ainda, pois alguém tem que morrer para salvar o negócio. E nestas decisões, políticos afrontaram a área médica diretamente. O político virou médico, deveria também assumir o encargo de agente funerário, bom negócio nesta época.   

O fato é que Governo e TV terão que fazer um esforço enorme para resgatar o otimismo e objetivos de vida positiva após tanta degradação e um impressionante impacto social equiparável ao ano do pós-guerra. Por hora, forma-se um perfil de miséria e desgraça quanto à estabilidade emocional dos sobreviventes. Diante da dissintonia entre Governos, nem Governo nem a TV consegue chamar a atenção do povo que já esboça sinais de Exaustão.

O chamado rebanho demonstra por atos concretos não mais seguir notícias e acenos de medidas econômicas amenizadoras; já vinha demonstrando sinais de desobediência civil de modo fragmentado e em lugares bem televisionados. O fato pode evoluir para a desconsideração civil, se o teatro político e judicial continuar a fornecer o bizarro e o inatingível ao entendimento popular. Não é o que se deseja, mas é o que está se formando para juntar-se à chegada das consequências econômicas de modo ainda mais severo na porta da frente da casa do cidadão, dando-lhe bofetadas finais com desemprego, instabilidade emocional, desmoralização do homem e da mulher perante as responsabilidades domésticas diante dos filhos, enfim, a sensação de fracasso e esmorecimento, a insatisfação existencial e seus enormes desdobramentos na vida individual. Então, isto não vai se refletir no consumo, na receita e no desempenho laboral para quem tiver emprego?

De certo modo, a alienação e o analfabetismo já eram problemas graves, mas podem juntar-se à exaustão para formar a desconsideração civil, uma espécie de apartheid entre Povo e Governo, retirando a legitimidade para ação. Não se pode ainda prever em que intensidade isto vai acontecer, se coletivo ou pessoal, mas basta que atinja o comportamento de pessoas chave na família ou na empresa, onde as gerações que estão assumindo o poder, já esboçavam comportamentos de rebeldia, desinteresse, visão voltada ao dinheiro, falta de quanto à acumulação de patrimônio, individualismo e o nunca trabalhar vestindo a camisa da empresa.

A nova realidade doméstica nada contribuirá para a melhoria na educação da infância em curso pelas razões já expostas, devendo-se acrescentar que o “home-office”, nos casos em que é possível  de acordo com a natureza do trabalho, será mais um componente a contribuir com a negligência dos pais na questão educacional, pois o trabalho profissional passará a invadir o único espaço e tempo que poderia ser de atenção exclusiva à casa e aos filhos. A título de  modernidade e necessária adaptação aos efeitos da crise, a empresa vai invadir agora fisicamente a cada do trabalhador de modo mais grave e usurpador. É a verdadeira invasão da vida privada, roubando o tempo livre das pessoas e diminuindo sua individualidade. Muitos desdobramentos são previsíveis, alguns bons outros ruins, mas os ruins já são suficientes para agravar a situação de casais, adolescentes crianças e idosos. Chegar-se- á à coisificação geral de todos, submetidos agora diretamente à aplicação de filosofias da linha de produção, como o pragmatismo, racionalismo, utilitarismo etc. Tudo isto em lares exprimidos onde possivelmente a sala de estar e a cozinha vão virar ambiente de trabalho. Um desastre para a convivência familiar e atenção aos filhos ou para o companheiro/a. A Pandemia acelerou muitas tendências boas e ruins que já vinham se formando; várias realidades foram precipitadas e o retrato do Brasil agora é real, sem ilusões e falsas luzes. O Brasil enfim mostrou a sua cara. Nas barbas das Igrejas Cristãs, os políticos demonstram que a Educação e as crianças são problema e não a solução. Entre tudo de ruim a resolver, o problema referente à negligência familiar é um dos piores.

Muitas serão as novas realidades domésticas e numa sociedade fisiológica e egoística cada vez será mais difícil dar orientação para a população e ser atendido. Atos ignorantes serão mais difíceis de controlar só com lei, multa e polícia. Perigosa e temida realidade. Pouco adianta questionar em que esquina da História nos perdemos, mas certamente a descura quanto à Educação e a vida familiar, se não consertadas e bem concertadas, levará às consequências ruins quanto ao interesse do Governo: rebanho, eleitor e consumidor.

Ademais, com todos os problemas intensificados e agravados pela crise, o cidadão é que será a vítima número um. Um eleitor desnorteado, alienado e desinteressado, um consumidor endividado, sem fundos, sem emprego e com a família cheia de problemas.  Pergunta-se, a doença do século, propiciada pela ansiedade galopante, não é mais a depressão? O indivíduo sobrevivente estará mais forte e imune aos problemas comportamentais e mentais?

Seja lá como for, o país é do povo, para o povo, e tem que ser feito com o povo e  pelo povo representado democraticamente. Ninguém retira da população este poder.  A História Universal mostra que isto é verdade e assim será para sempre. Por maior que sejam os problemas, o povo tem instinto coletivo, bom senso e move-se de acordo. Em processos sempre há começo, meio e fim, de modo que as consequências decorrentes da descura quanto à Educação logo começarão a ser mais agressivos e afetarão a mão de obra substancialmente. Não é questão de dinheiro, é questão de vida e preservação do fator humano. Que tipo de humanos são os que mediante a corrupção e assalto aos cofres públicos brincaram com dinheiro de obras e serviços por séculos, esquecendo do país e da Nação? Quem brincou com obras e recursos da educação e saúde em sua ganância, fazendo do Governo um balcão de negócios?  Isto agora tem consequências invisíveis para quem está na infância, mas bem visíveis para o adulto e seu futuro no país.

E de tanta esquerda e de tanta direita, o país vai pouco para frente. Não há união para uma causa comum, o combate a um vírus, que uns negam, outros esquecem, mas que é em sua invisibilidade quer a todos, mortos ou falidos. A União seria apolítica, seria pelo bem comum, no interesse público original, sem negócios, sem caixa dois, sem jogos partidários, sem umbigo, sem ego, sem ego, sem corrupção. Difícil, não? Muitos preferem ver morrer do que a se unir. E assim vamos todos nós pelos caminhos escuros e desconhecidos da Pandemia. Face o tamanho continental do país, não foi possível optar por salvar vidas ou salvar o negócio. Ficamos no meio termo e vamos sofrer as cruéis consequências.

Nem se ouse pensar que toda esta crise e suas verdades não terão efeitos na vida privada e o fato humano não será abalado. Como estará o cidadão, o eleitor e o consumidor?   

 

 

Odilon Reinhardt -3.09-2020.

 

 

 

 

 

 

 

 

                              Um sinal no Universo.

 

 

Estamos nesta  bola azul entre cada anoitecer e amanhecer,

sinalizando no escuro do Universo

para que alguém talvez  possa nos ver .

 

Enviamos nossas naves poderosas,

nossos telescópios e satélites,

mas permanece o silêncio em notas vigorosas.  

 

Somos moradores pensantes ,

cheios de enigmas e perguntas,

mas  também meros passantes.

 

Somos Natureza ,

somos parte de tudo,

somos tudo e nada na Criação e sua beleza.

 

Ignoramos que dependemos do sol,

da água , do ar, da Natureza como um todo,

e até mesmos dos sonhos da hora do arrebol. 

 

Fazemos dificuldades, complexidades,

esquecemos nossa  simplicidade,

negamos nossa fragilidade.

 

Com orgulho e soberba inventamos

governos, estruturas complexas e hierárquicas

mas da essência, da inocência e da simplicidade esquecemos.

 

Nossos intelectuais criaram todos osismos

para tentar explicar e entender a vida ou o que fazemos,

mas ao final nada entendemos e explicamos com estes ismos. 

 

Acumulamos o negativo,

vivemos e perturbamo-nos com este depósito,

esquecemos do que é positivo.

 

Vivemos embaraçados dentro de nossa mente,

cegos, inconscientes, numa congestão,

afogados na materialidade complexamente.

 

Temos intensa dificuldade em saber viver,

somos levados a ver o Próximo é inimigo natural e competidor,

nossa vida espiritual é conflituosa e afeta o conviver.

 

Criamos conflitos, disputas, diferenças,

que levam a guerras e destruição,

temos cerimônias e rituais e lutas de religiões e crenças.

 

Ficamos cegos com a emoção e a ira,

ficamos fascinados e nos ajoelhamos diante do material,

temos o dinheiro e competição como mira.

 

Perdemos a  percepção e a sensibilidade,

gastamos muito com coisas transitórias

e depois muito tempo tentando retornar à nossa realidade.     

 

Fazemos classificações, categorias e classes de seres humanos,

perdemos energia nos diferenciando por critérios escusos ,

criamos ilusões e muitos enganos.

 

Sabemos estar submissos ao Tempo,

tentamos estendê-lo, multiplicá-lo,

mas  achamos contratempo.

 

Não sabemos lidar com a limitação da existência,

não aceitamos nossa inferioridade,

queremos criar eternidades e falsas essências. 

 

Temos medo de perder,

mesmo sabendo que daqui nada levaremos;

temos medo da morte e seu acontecer. 

 

Sabemos que nada é para sempre na Terra onde estamos, 

a instabilidade é geral e o movimento constante,

não sabemos de onde viemos e para onde vamos. 

 

Nos debatemos na busca de um preenchimento ,

na busca para um sentido para a vida

e tudo que obtemos é um contínuo vazio no sentimento.

 

Sabemos de nossa pequenez perante a Natureza,

que somos indefesos perante a física e a química do Universo,

mas continuamos orgulhosos e soberbos em nossa natureza.

 

notamos a impossibilidade de mudar o roteiro fatal

entre o nascer, crescer e morrer ,

mas ainda nos matamos e afogamos no material.   

 

Temos medo da dor da morte, da sua essência,

da verdade que dela ninguém voltou,

do enigma da perda e da inexistência.

 

Tentamos viver explicando porquês,

o nascer, o crescer e o morrer,

fazemos teorias e nada sai dos por quês.

 

Lutamos entre o material e o imaterial,

entre o palpável e o impalpável,

aceitamos ou negamos o espiritual.

 

Perdemo-nos em nossa pequenez,

em nossas injustiças, iniquidades,

em nosso orgulho e soberba cada vez.

 

Nossa bola azul , nosso lar,

por ganância não é mais a mesma,

mas não aceitamos nossos crimes no seu cuidar.

 

Preenchemos nosso peito com medalhas, condecorações,

prêmios e comemorações,

mesmo sabendo que não valemos nada por nossas atuações.     

 

Ignoramos nossa fraqueza total,

perante a doença, um simples mosquito,

uma bactéria,um vírus pode nos fazer virar pó, fatal.

 

Basta não respirarmos por alguns minutos

e a existência cessa, desaparecemos;

vence o tempo, a Natureza; a bola azul reclama seus frutos.

 

Portanto, o dia é o que temos;

o foco no aqui e agora,

na vida e seus bons momentos.

 

E do Universo, nem um sinal,

o nada absoluto,

estamos aqui, é a Terra nosso mundo especial.

 

 

Odilon Reinhardt.

 

 

                                   Tédio nos céus.

 

 

Prédios inteiros

de gente acuada ,

cheia de grandes dinheiros.

 

Gente esvaziada,

sem nada para fazer,

matando o tempo nesta parada.

 

Andares cheios de animais humanos

com gente usando o intelecto ou não,

todos já apresentando sinais de desenganos.

 

Não é só a ansiedade ,

a depressão , é a Exaustão,

uma cruel verdade.

 

Prédio após prédio,

cheios de nada,

amplos em tédio. 

 

Elevadores do medo,

ponto de estrangulamento,

todo dia desde cedo.

 

O vírus pode estar no sobe e desce,

a sorte , o destino, o azar,

o destino de cada um ali nasce.

 

Dia após dia ,

um andar desconfiado do outro,

instalou-se a agonia.

 

“ Bom dia” que já era raro ouvir,

agora com máscara,

tal rugido nem se ousa.

 

Conveniente e social afastamento,

o prédio virou caixa vazia,

e local de certo constrangimento.

 

Odilon Reinhardt.

 

 

 

                                 Novo normal.

 

 

Sorrisos escondidos,

olhares estarrecidos,

rostos repartidos.

 

A máscara ,

os mascarados,

a realidade cara.

 

A expressão sem graça,

os olhos como contato,

a aparência em desgraça.

 

Olhos tristes, enternecidos,

irados, assustados,

feios, raivosos , cansados.

 

A máscara escondendo o rosto,

como a mulher de burka, de shador,

uma sombra sobretudo sem gosto.

 

A máscara do Covid-19,

fazendo a beleza feminina passar ,

um tempo,um 2020, sem que nada a renove.

 

Quando veremos os olhos se abrindo,

os rostos felizes e livres,

femininos mostrando beleza e sorrindo? 

 

Agora vale enfim a mulher

que seja inteligente,

mostrando seu mundo interno de bom ser.

 

Só ego e aparência,

isto agora não pega mais, 

doravante, vale a essência.

 

Por enquanto, olhos que procuram se aproximar,

de humanos que passam, que fogem, que desviam,

que se afastam , que se distanciam.

 

Onde estão os amigos,

todos mascarados agora,

se misturam aos inimigos?

 

Prossigo na esperança do amanhã,

quero encontrar os amigos,

um irmão, uma irmã.

 

Estão em algum lugar,

atrás de uma máscara qualquer,

o velho normal deve voltar.

 

 

Odilon Reinhardt.

 

 

                           O que estou vi e estou vendo.

 

 

Vi e estou vendo nesta crise

pessoas  com medo, mas 

ainda mais fechadas; muitos egoístas em crise.

 

Vi e estou vendo a realidade,

o humano se afastando do humano,

ainda em maior intensidade.

 

Amigos, conhecidos e parentes,

todos tão recolhidos,

tão sós sem suas gentes.

 

Ficavam até alegres com o contato,

mas será que procuraram alguém,

será que perderam o tato?

 

Habituados ao toma lá da cá dos interesses,

estão perdendo o lado sensível humano,

não sabem se relacionar sem materiais interesses.

 

Nenhuma ligação de interesse puramente humano, querendo saber:

perguntar simplesmente, “Como está ? Como tem passado?” ;

emudecidos, refreados fazem tudo pior até neste afazer.

 

Vejo pessoas que não ligam,

pessoas que não retornam mensagens,

muito presas, sem palavras, não se importam.

 

Criam sem querer uma sensação de ter falado ao vento,

sem resposta, sem retorno, sem atitude ,

é o frio isolamento.

 

Pessoas que se habituaram a esperar,

seguir, receber, e nada podendo fazer,

agora sabem reajeitas mas não sabem criar.

 

São dificuldades a vencer,

deveriam agitar o dia, a vida, sacudir a rotina,

gerar as suas próprias novidades e fazer acontecer. 

 

Senti muitos tão reprimidos,

de poucas palavras, sem expressão,

animais na toca, de pensamentos espremidos.

 

Vejo gente se arrastando pelos momentos,

sem ter o que fazer por horas exaustas;

gente presa com medo de seus sentimentos. 

 

Sem hábitos intelectuais,

tudo fica mais difícil de preencher;

esperar a hora de dar comida aos animais.

 

Vi pobreza, de comportamento,

falta intelectualidade, pouca nobreza no atuar,

pouca beleza no sentimento.

 

Pessoas que nada podendo fazer,

dedicam-se ao vazio de coisas inúteis para matar o tempo,

crueldade, pois é  tempo de vida que está a correr.

 

E a certo ponto vi palavras de solidão,

uma tristeza camuflada em vírgulas e pontos finais,

um adiantado estado de exaustão. 

 

Vi e estou vendo muitos neste caminho

com  seus umbigos, a realidade que já existia,

agora mais intensa na falta de atenção e carinho.

 

Nada para surpreender,

só uma constatação,um teste

de como tudo está frio, calculista ,pragmático no coviver.

 

Tanta superficialidade

já era o comum no ti-ti-ti

em redes da sociedade.

 

Isto virou agora ícone da ansiedade,

uma tortura lenta e diária no vazio,

cheio de dissimulação e fragilidade.

 

Vi e estou vendo a solidão,

sombra que vai se aproximando

da individualidade de cada coração.

 

Fico a perguntar se durante

toda esta crise humana não só de saúde

irão refletir ou ficar ainda mais distante.

 

Vi e vejo muitos preferindo

concentrar-se na dor e não no amor-compaixão,

alienar-se, negar , evitar debater o que vai prosseguindo.

 

Será que tudo isto nada ensinará,

será que tirarão conclusões certas,

será que isto tudo para algo servirá? 

 

Odilon Reinhardt.

 

 

                               Em meio a todas as demonstrações do Leviatã quanto ao seu caráter materialista e assaz egoísta, visando sempre a preservação de seus órgãos, os quais muitas vezes, só funcionam para dentro, fica por demais visível que o espírito do Poder é mesmo de existir para si mesmo. Nada de diferente e nem uma quebra de expectativa, pois as estruturas e o espírito monárquico continuam a existir dentro da aparente modernidade do ideal republicano e suas estruturas. Evidentemente, tal continuidade dá aos inquilinos, eleitos, pelo condomínio nacional, o modo de “vida nobre” a ser preservado com se eternos os mandatos fossem;  tal moto está personificado em muitas das inatingíveis figuras,  elevadas aos altos escalões de seres que se creem  perpétuos, e que em ações corporativistas procuram manter suas salvaguardas, privilégios e benefícios estratosféricos diante de milhares de comuns, famigerados ou não, que devem seguir a rotina da vila, ameaçados pelas adversidades da vida e suas doenças.

O show entre os níveis de Poder Executivo no país politizou a crise de saúde, economizou dinheiro público distribuindo migalhas ao povo, propiciou que quadrilhas fizessem seus negócios milionários em equipamentos de saúde, favoreceu a corrupção e deu fartos exemplos de dissonância, falta de planejamento, descaso, manipulações, jogo de falsas orientações, enquanto o festival de barbaridades e politicagem continua esnobando o crescente número de casos e mortes. Nada de anormal para o país onde se faz de tudo para ganhar sem trabalhar muito.

Por trás da cortina da crise da saúde, passam boiadas e as piranhas ficam gordas, o Leviatã acossado pelos factoides políticos e “side-shows”, permanece inabalável em sua administração econômica fantasiosa à mercê do tsunami que vem vindo.  Políticos ocupam-se com sua prioridade: a reeleição. Os eleitores expostos à sorte e destino. A principal ocupação de toda a estrutura político administrativa é a preservação de seus corredores e o que ali se comenta e prepondera: luta pelo Poder e colocações.

Quem se ocupa em ousar perturbar a normalidade de tal realidade palaciana e suas intrigas é a TV, a qual, entre seus muitos aspectos negativos e que ao início da crise quase levaram o povo à loucura e a histeria, organizou-se para informar e mostrar as agruras, devaneios e discursos contrastantes entre os jogos do Poder.

Em tudo, fica demonstrado, pouca preocupação de certas autoridades com o fator humano e as consequências humanas da pandemia. Tal fator é aspecto secundário diante da pressão econômica para reabrir o comércio, garantir a receita pública, negar a realidade, divertir o foco enquanto os falecimentos se acumulam .

A tríade, Saúde, Educação e Segurança a cargo do Estado mostrou sua realidade. Não fosse o trabalho heroico de médicos e enfermeiras, tudo seria pior. No todo, o Poder mostrou-se burocrático, lento, atrapalhado, pouco convencido da seriedade da crise, sobretudo, desunido e fragmentado. A dissonância entre as autoridades foi  tônica diária e a incompetência a marca registrada em tudo que politicamente podia ser decidido.  

Mas todo este cenário , por vezes até surreal pelo modo com que a TV o comunica, está sendo percebido só por alguns, pois fica embaçado pela fumaça do analfabetismo, da alienação, do pouco interesse pela causa pública, pela educação precária que impede o completo entendimento do que vai ocorrendo, pela falta de crítica e também pela audiência desistente, a qual cansou de tanta má notícia por um período tão extenso. 

É assim que cansado de tanto desencontro, falta de união e contradições absurdas, a reação comum começa a nascer na multidão, tratada como rebanho.

O fator humano subjacente é catastrófico, consequência de várias mazelas da vida nacional. Entre elas a Educação, colocada agora em tentativas de aprendizagem por meios virtuais, não só no Brasil, mas no mundo; revelou-se um fracasso. Pais e mães fechados em casa com seus filhos, que caldo fazem? Se a Educação era delegada para a escola, agora voltou à mão dos pais e não prosperou, faltou equipamento, cultura, sensibilidade e tempo e interesse. As horas de negligência foram alteradas e sabe-se  lá mais quanta encrenca doméstica em imbecis discussões por falta de paciência, hábitos intelectuais ,costume, foco e até mesmo amor. As crianças em casa; centro de atritos e muita violência física e moral entre casais, crianças, jovens e idosos. Os desdobramentos serão múltiplos e persistirão pelo depois da crise. Pelo menos vai ficando demonstrada a essencialidade da escola e o caráter insubstituível do professor.

A Educação como prioridade supranacional. Nunca foi, não dá voto. Todavia a Educação é o berço do cidadão, mais importante do que a sua própria casa onde pais nem sempre contribuem para a correta educação,  seja a formal para o trabalho seja a pessoal. Até a lei considera a casa com fortaleza do cidadão, mas como está a cada do cidadão antes, durante e depois desta crise? Até que ponto a casa e o que nela acontece não está sendo o centro da demolição da vida íntima do indivíduo, mormente quando o país não consegue ali existir para fornecer base sólidas para uma vida conforme prevê os objetivos da Nação nos termos da Constituição da República. O estado materialista, em décadas e décadas, tem olhado  o fator humano com interesse de quem quer o voto, quer o consumo, quer a receita. Pouco faz pela qualidade de vida e educação sustentável. Não é de agora, é posicionamento de sempre e a sequência de um Governo após o outro que só apresenta as mesmas políticas precárias. Consequências viram causas e assim vamos perdendo energia e tempo. Qual a qualidade de nossa mão de obra para fazer face ao futuro. Como está sendo afetado o cidadão em seu ninho? Quais os efeitos da Pandemia na pessoa e sua possibilidade de consumir e prosseguir na vida? No que possa pesar o bom desempenho de secretários estaduais e municipais de saúde, a população deixou de prestar atenção à TV e decidiu continuar a vida assumindo o risco, utilizando-se da fé e esperança, dois pilares da vida restante neste país.

A necessária quarentena, o afastamento social e o distanciamento foram biocotados pelas notícias e orientações contraditórias a ponto do cidadão decretar por si só o fim da Pandemia e ir em frente. Com tanta notícia ruim, por período tão prolongado, invadindo os lares, de todos os itens da psicologia de massa mais aplicados como o Pão e Circo, pelo menos um teve que ser liberado: futebol, mesmo que sem presença de torcidas nos estádios. Como elemento de luz no final do túnel, a promessas de vacina rápida. Mas o vírus desafia a tudo e todos, não conhece das coisas humanas. Aproveita-se do negativismo propalado pelos meios de comunicação e afeta a moral do povo em casa.

Diante do afastamento social, das restrições impostas, do vai e vem de comandos municipais, da dissintonia de orientações entre níveis de Governos e dentro do próprio Governo, a pressão econômica, as dívidas, os dias cheios de más notícias, os problemas familiares etc., o cidadão não tem mais como resistir e acaba banalizando a crise e vulgarizando o vírus como pura reação animal ansioso pela liberdade. A pressão sobre o cidadão confinado foi até agora a maior já vista no país. A instabilidade gerada fez pressão que levou  certas camadas da população e faixas etárias decretarem o fim da Pandemia por si só, promovendo perigosos eventos de aglomeração, desfeitos a cavalo , tiros e sirenes. Ademais os comerciantes e empreendedores foram sendo surpreendidos com o prolongamento da crise e olhando seus negócios e empreendimentos irem para o brejo. Ficar em casa nesta situação certamente foi uma tortura e a saída foi fazer pressão sobre os prefeitos e governadores. É de se supor que o Covid atrapalhou também todo o processo de lavagem de dinheiro e caixa dois praticado por muitos comerciantes e indústrias. Diante da pressão, as prefeituras tiveram que ceder e criaram muita contradição, notada pela audiência popular. A decisão é norteada sempre para não perder ou não deixar de ganhar e isto levou à perda da vida de muitos. Ademais, num país muito egoísta, o Próximo que se dane e os idosos mais ainda, pois alguém tem que morrer para salvar o negócio. E nestas decisões, políticos afrontaram a área médica diretamente. O político virou médico, deveria também assumir o encargo de agente funerário, bom negócio nesta época.   

O fato é que Governo e TV terão que fazer um esforço enorme para resgatar o otimismo e objetivos de vida positiva após tanta degradação e um impressionante impacto social equiparável ao ano do pós-guerra. Por hora, forma-se um perfil de miséria e desgraça quanto à estabilidade emocional dos sobreviventes. Diante da dissintonia entre Governos, nem Governo nem a TV consegue chamar a atenção do povo que já esboça sinais de Exaustão.

O chamado rebanho demonstra por atos concretos não mais seguir notícias e acenos de medidas econômicas amenizadoras; já vinha demonstrando sinais de desobediência civil de modo fragmentado e em lugares bem televisionados. O fato pode evoluir para a desconsideração civil, se o teatro político e judicial continuar a fornecer o bizarro e o inatingível ao entendimento popular. Não é o que se deseja, mas é o que está se formando para juntar-se à chegada das consequências econômicas de modo ainda mais severo na porta da frente da casa do cidadão, dando-lhe bofetadas finais com desemprego, instabilidade emocional, desmoralização do homem e da mulher perante as responsabilidades domésticas diante dos filhos, enfim, a sensação de fracasso e esmorecimento, a insatisfação existencial e seus enormes desdobramentos na vida individual. Então, isto não vai se refletir no consumo, na receita e no desempenho laboral para quem tiver emprego?

De certo modo, a alienação e o analfabetismo já eram problemas graves, mas podem juntar-se à exaustão para formar a desconsideração civil, uma espécie de apartheid entre Povo e Governo, retirando a legitimidade para ação. Não se pode ainda prever em que intensidade isto vai acontecer, se coletivo ou pessoal, mas basta que atinja o comportamento de pessoas chave na família ou na empresa, onde as gerações que estão assumindo o poder, já esboçavam comportamentos de rebeldia, desinteresse, visão voltada ao dinheiro, falta de quanto à acumulação de patrimônio, individualismo e o nunca trabalhar vestindo a camisa da empresa.

A nova realidade doméstica nada contribuirá para a melhoria na educação da infância em curso pelas razões já expostas, devendo-se acrescentar que o “home-office”, nos casos em que é possível  de acordo com a natureza do trabalho, será mais um componente a contribuir com a negligência dos pais na questão educacional, pois o trabalho profissional passará a invadir o único espaço e tempo que poderia ser de atenção exclusiva à casa e aos filhos. A título de  modernidade e necessária adaptação aos efeitos da crise, a empresa vai invadir agora fisicamente a cada do trabalhador de modo mais grave e usurpador. É a verdadeira invasão da vida privada, roubando o tempo livre das pessoas e diminuindo sua individualidade. Muitos desdobramentos são previsíveis, alguns bons outros ruins, mas os ruins já são suficientes para agravar a situação de casais, adolescentes crianças e idosos. Chegar-se- á à coisificação geral de todos, submetidos agora diretamente à aplicação de filosofias da linha de produção, como o pragmatismo, racionalismo, utilitarismo etc. Tudo isto em lares exprimidos onde possivelmente a sala de estar e a cozinha vão virar ambiente de trabalho. Um desastre para a convivência familiar e atenção aos filhos ou para o companheiro/a. A Pandemia acelerou muitas tendências boas e ruins que já vinham se formando; várias realidades foram precipitadas e o retrato do Brasil agora é real, sem ilusões e falsas luzes. O Brasil enfim mostrou a sua cara. Nas barbas das Igrejas Cristãs, os políticos demonstram que a Educação e as crianças são problema e não a solução. Entre tudo de ruim a resolver, o problema referente à negligência familiar é um dos piores.

Muitas serão as novas realidades domésticas e numa sociedade fisiológica e egoística cada vez será mais difícil dar orientação para a população e ser atendido. Atos ignorantes serão mais difíceis de controlar só com lei, multa e polícia. Perigosa e temida realidade. Pouco adianta questionar em que esquina da História nos perdemos, mas certamente a descura quanto à Educação e a vida familiar, se não consertadas e bem concertadas, levará às consequências ruins quanto ao interesse do Governo: rebanho, eleitor e consumidor.

Ademais, com todos os problemas intensificados e agravados pela crise, o cidadão é que será a vítima número um. Um eleitor desnorteado, alienado e desinteressado, um consumidor endividado, sem fundos, sem emprego e com a família cheia de problemas.  Pergunta-se, a doença do século, propiciada pela ansiedade galopante, não é mais a depressão? O indivíduo sobrevivente estará mais forte e imune aos problemas comportamentais e mentais?

Seja lá como for, o país é do povo, para o povo, e tem que ser feito com o povo e  pelo povo representado democraticamente. Ninguém retira da população este poder.  A História Universal mostra que isto é verdade e assim será para sempre. Por maior que sejam os problemas, o povo tem instinto coletivo, bom senso e move-se de acordo. Em processos sempre há começo, meio e fim, de modo que as consequências decorrentes da descura quanto à Educação logo começarão a ser mais agressivos e afetarão a mão de obra substancialmente. Não é questão de dinheiro, é questão de vida e preservação do fator humano. Que tipo de humanos são os que mediante a corrupção e assalto aos cofres públicos brincaram com dinheiro de obras e serviços por séculos, esquecendo do país e da Nação? Quem brincou com obras e recursos da educação e saúde em sua ganância, fazendo do Governo um balcão de negócios?  Isto agora tem consequências invisíveis para quem está na infância, mas bem visíveis para o adulto e seu futuro no país.

E de tanta esquerda e de tanta direita, o país vai pouco para frente. Não há união para uma causa comum, o combate a um vírus, que uns negam, outros esquecem, mas que é em sua invisibilidade quer a todos, mortos ou falidos. A União seria apolítica, seria pelo bem comum, no interesse público original, sem negócios, sem caixa dois, sem jogos partidários, sem umbigo, sem ego, sem ego, sem corrupção. Difícil, não? Muitos preferem ver morrer do que a se unir. E assim vamos todos nós pelos caminhos escuros e desconhecidos da Pandemia. Face o tamanho continental do país, não foi possível optar por salvar vidas ou salvar o negócio. Ficamos no meio termo e vamos sofrer as cruéis consequências.

Nem se ouse pensar que toda esta crise e suas verdades não terão efeitos na vida privada e o fato humano não será abalado. Como estará o cidadão, o eleitor e o consumidor?   

 Odilon Reinhardt -3.09-2020.