Talvez
, talvez agora,
o
humano acorde
para
pegar as lições dessa hora.
Talvez
por seu visor
possa
entender
que
seu caminho já era desanimador.
Por
que tanta falta de lucidez,
tanto
produzir inutilidades,
tanta
rapidez, tanta avidez?
Como
humanos onde estávamos indo?
Havia
algum compromisso,
algo
que estava nos conduzindo, coagindo?
Qual
o prazo, era tudo por dinheiro,
competição,
rivalidade, velocidade,
que
justificasse aquela agonia o dia inteiro?
Cegos,
inconscientes,
seguindo
programações alheias sem saber,
ou
sabendo, estávamos já abobados, dementes?
Talvez,
talvez agora,
o
humano entenda,
não
há para onde ir embora.
Então
para que tanta pressa, essa agonia,
euforia,
frenesi de competição,
esta
ansiedade, angústia?
É
como se estivéssemos nos justificando,
punindo
por existir,
querendo
provar algo para alguém que vamos imaginando.
O
planeta é único, está só,
o
humano foi premiado e está aqui,
aqui
nasce, aqui virá pó.
Suas
construções materiais,
espirituais
, cerimoniais são daqui.
Há
do espaço outros locais e sinais?
Por
que não se aceita a verdade,
por
que não se redimensiona o jeito de conduzir,
de
fazer o mundo e sua realidade?
Alguma
imbecilidade,
alguma
ansiedade pessoal,
está
conduzindo a Humanidade?
Criando
marcos de ilusão,
falsos
imãs e ícones do prosseguir,
antes
a Lua , agora Marte , depois Plutão?
A
formiga não se aceita, quer ser elefante
;
o
jacaré quer ser ave,
o
humano quer ser burro?
A
ciência ilude e quer ir para fora,
mas
não consegue vencer um vírus
que
pode e quer matar a todos agora.
Em
reuniões, lideranças
decidem
gastar trilhões no Espaço,
e
a Humanidade se ajoelha pedindo comida e vacina?
Que
idiotice é essa
que
empobrece , mata o Planeta
porque
alguns têm uma ilusão dessa?
Mais
de 700 milhões de humanos já se foram;
partiram
sem entender;
há
tantos por quês que nem perguntaram.
O
que estamos vislumbrando?
Para
quem estamos mentindo?
Por
que vamos nos enganando?
Talvez
seja a hora de quem restou perguntar:
“
o que estamos fazendo da existência ?”.
Talvez
se possa ainda esse modo de vida repaginar.
com
esta pandemia de 2020
já não ganha mais realidade.
Muita
gente,
talvez
ainda não tenha pensado
que
muitas vontades ficarão só na mente.
A
nova normalidade
talvez
esteja eliminado
a
vontade em sua essencialidade.
Para
muitos há vontade
que
dependendo da fase da vida
já
foi ficou há muito tempo na impossibilidade.
O
que sobrará do querer viajar,
Abraçar,
encontrar, almoçar fora,
Andar
na rua, comprar , estudar , cumprimentar?
Será
que tais vontades
Resistirão
ao novo normal
Só
como memórias de antigs realidade?
Talvez
si, talvez não,
para
alguns , para outros,
dependerá
do coração:?
No
novo normal,
o
que será anormal e como será
para
cada mortal?
Será
que haverá
o
novo normal ,
será
?
Novo
normal.
Sorrisos
escondidos,
olhares
estarrecidos,
rostos
repartidos.
A
máscara ,
os
mascarados,
a
realidade cara.
A
expressão sem graça,
os
olhos como contato,
a
aparência em desgraça.
Olhos
tristes, enternecidos,
irados,
assustados,
feios,
raivosos , cansados.
A
máscara escondendo o rosto,
como
a mulher de burka, de shador,
uma
sombra sobretudo sem gosto.
A
máscara do Covid-19,
fazendo
a beleza feminina passar ,
um
tempo,um 2020, sem que nada a renove.
Quando
veremos os olhos se abrindo,
os
rostos felizes e livres,
femininos
mostrando beleza e sorrindo?
Agora
vale enfim a mulher
que
seja inteligente,
mostrando
seu mundo interno de bom ser.
Só
ego e aparência,
isto
agora não pega mais,
doravante,
vale a essência.
Por
enquanto, olhos que procuram se aproximar,
de
humanos que passam, que fogem, que desviam,
que
se afastam , que se distanciam.
Onde
estão os amigos,
todos
mascarados agora,
se
misturam aos inimigos?
Prossigo
na esperança do amanhã,
quero
encontrar os amigos,
um
irmão, uma irmã.
Estão
em algum lugar,
atrás
de uma máscara qualquer,
o
velho normal deve voltar.
O
grande baile.
O
dos mascarados,
dos
incógnitos,
dos
desconhecidos.
É
o grande baile a descoberto
em
plena rua, nas praças , nas salas
e
corredores, na cidade a céu aberto.
Passantes
dançarinos em máscaras coloridas,
brancas
, pretas, coloridas,
por
cima de caras escondidas.
Elemento
nivelador,
esconde
sorrisos , beleza, caros cosméticos;
desolador.
Riquezas
e bens acumulados,
sem
ponto de identificação,sem reconhecimento ,
exposição
falida no meio dos igualados.
Conhecidos
e desconhecidos
desviam-se,
ágeis em passos no salão, escondem-se,
são
todos agitados passantes.
Ficou
sendo o grande baile da democracia,
também
baile do medo, da incerteza, do risco,
o
“festim” farsante que vai pelo dia .
No
meio há pessoas sem máscaras,
parecem
estar nus, absortos , anormais;
olhos
estarrecidos apagam suas caras.
A
música e o ritmo são dados
dentro
da cabeça de cada um
pelo
soar dos problemas ali instalados.
Alguns
com fanfarras e tambores,
outros
com zunidos ,
muitos
com silenciosas dores.
Vão
todos dançando em passos de solidão,
carregando
seu distanciamento,
empurrando
suas mentes em exaustão.
A
vida segue constrangida,
açodada
, incerta, para o dia,
mas
rápida e perseguida.
Sensação
de vida suspensa,
um
tempo entre parêntesis,
a
loto da saúde por única recompensa.
E
segue o baile pelo corredor das rotinas,
alguns
bem trilhados e desgastados ,
é
assim pelas ruas e suas esquinas.
O
grande sarau da cidade,
o
novo normal,
máscaras
da realidade.
Milhares
de inseguros resilientes,
vivem
os incertos momentos de liberdade
presos
em máscaras como meros sobreviventes.
De
repente.
E
saíram pela rua,
estavam
soltos, livres, sem máscaras,
conforme
ideia só sua.
Haviam,
por si mesmo, decretado
que
não havia mais peste
e
estava tudo liberado.
Preencheram
praças e ruas,
praias
e bares, avenidas cheias de sol;
ignoravam
as verdades mais cruas.
Mas
assustados, tinham olhares desequilibrados,
parecia
que nunca haviam visto a vida e o mundo,
tal
sua dedicação às coisas e bens desejados.
Procuravam
algum conhecido,
amigos,
parentes, colegas, vizinhos,
mas
muitos já se tinham ido.
Muitos
se escondiam assustados,
por
trás de máscaras e bonés pensando ser invisíveis;
desviavam-se
como aloprados.
Olhavam-se
como sobreviventes,
portavam
olhos curiosos
como
que dementes.
Esbranquecidos,
com cabelos crescidos,
aparência
descuidada, não pensavam mais,
no
tempo que os fez enlouquecidos.
Era,
enfim, o momento de burrice de rebanho.
Diante
da exaustão,
era
até compreensível o ímpeto arriscado e tacanho.
Faziam
uma marcha desorganizada,
avançando
cada um contra seu moinho de vento,
o
tirano virulento desta época tresloucada.
Odilon Reinhardt.
Todo
processo histórico tem construção de começo, meio e fim; mas sem efeito humano
razoável que leve à felicidade pessoal e/ou coletiva, acaba criando o caldo
propício para a exaustão, que o faz desaparecer ou, com mais frequência, ir
adaptando-se às necessidades da população.
No passo do tempo, isto ocorre em suave transição ou, então, é
intensificado por evento inusitado que faz com que todo o sistema de vida seja
colocado em julgamento. Inúmeras vezes, a História da Humanidade chegou a estas
esquinas do tempo em que a civilização construiu novo rumo e novo
horizonte. Num mundo muito menor, isto
era obtido por vários meios, mas moldado por poucas cabeças, geralmente
europeias e dentro de filosofias que eram coerentes com o comércio. Com o progressivo
aumento de interesses por dinheiro, muitas de tais mudanças ocorreram após
guerras sangrentas pela luta de espaço e poder. Agora com o gigante aumento da
população, a Humanidade defronta-se em 2020 com o invisível, um vírus matador,
que veio na hora em que o sistema de vida e produção já vinham sendo lentamente
questionados, especialmente pela juventude, herdeira da vida e das
consequências do sistema produtivo dos últimos tempos. Que novo modo de vida,
de produção, de consumo, de política etc. começará a ser pensado após esta dura
realidade do Covid 19-20-....? Que mentalidade, que filosofia, garantirá o
sistema de vida e produção doravante? O interesse comercial é que ditará
filosofias e modos de pensar e de fazer a vida? Que novo processo estará sendo
iniciado? Haverá terras que ficarão no passado e outras em níveis quase
futuristas?
Seja
lá como for, a Humanidade ( desta vez, não tanto modelada diretamente por
cabeças europeias ou mesmo americanas) achará um novo meio de sobrevivência a
nível pessoal e coletiva. O que e como a juventude já está construindo ou
levada a construir para sua época no Poder? Talvez o poder econômico e o
interesse de dinheiro ainda tenham voz forte como até agora para ditar caminhos
e modelos de comércio e produção, mas não de vida humana. É uma interrogação
que fica em aberto. O tempo é que mostrará como isto irá tornando-se realidade.
Por ora, o que se pode fazer é observar o processo de exaustão pessoal a que a
população está sendo submetida neste encontro entre o presente e o futuro, onde
a sorte e o destino parecem ser os únicos itens concretos do dia.
O
fato é que os dias passaram a ser dominados por muita notícia de desalento e
desestabilização e isso por muito tempo contínuo, sufocando as pessoas e seus
projetos. Estão sendo criadas condições para um evento chamado Exaustão
pessoal. Rápido demais, pois com sete meses de Pandemia, já se atingiu este
estágio perigoso. Claro indício de que o movimento já vinha sendo instalado. Em tal situação, observa-se o processo que
impulsiona tendências de comportamento que não são bem o “novo normal” criado
pelo “mercado”, afoito sempre em denominar e classificar eventos para
enquadrá-los em seus interesses, pelo que o denominado “novo normal” é uma
tentativa de padronizar hábitos e costumes, mantendo o controle do rebanho,
todavia, as aglomerações que começaram a ocorrer durante a Pandemia já denotam
que o povo continuará como era normal. No entanto, tudo o que já era tendência
foi acelerado e a população mesmo com a volta de seus hábitos e costumes poderá
sair deste evento pandêmico com mais intolerância quanto ao que já estava
considerando digno de mudança. Assim, a Exaustão pessoal contribuirá para o
agravamento e contestação de processos econômicos e políticos que vem se
desgastando ao longo de décadas. A esquina de História ficará mais próxima e
com muitas necessidades de mudança nos meios de organização coletiva. No
entanto nenhuma mudança súbita é esperada.
No
contexto formado por distanciamento, quarentena, uso de máscaras, reclusão
social, afastamento, solidão, casos e mortes contados a toda hora,
descontinuidade da rotina normal, perda de parentes e conhecidos, medo e
insegurança, falências comerciais e diminuição de rendimentos e lucros, o abre
e fecha do comércio, notícias contraditórias e manipulações numéricas, “fake
news”, politicagem e corrupção, o humano, estarrecido e impotente, recolheu-se
para seu umbigo, esperando e tendo fé em alguma solução de médio e longo prazo,
o que contrasta com a ansiedade e desejo de rapidez em tudo.Esperam a vacina
como elemento libertador? Muitos sabem que nada há de concreto quanto à
durabilidade dos efeitos e o tempo de cobertura, e ainda não se fala em remédio
correto para combate do vírus, o qual pode mutar e apresentar-se em novas
versões nos próximos anos como a gripe. Infelizmente, o vírus não conhece nada
das coisas humanas e faz sua dança diária, ceifando vidas e oportunidades. Os
sinais de esmorecimento aparecem e o humano apresenta-se desestimulado perante
a demora da volta ao normal de sua vida. Comerciantes acumulam dívidas e estão
sempre para decidir se desistem ou não de seus negócios. Assim, o desestimulo pessoal criado pela crise
junta-se, então, a outro mais antigo e
bem comum nas últimas décadas brasileiras, o qual se refere ao sistema como um
todo que gera o abandono devido a uma falta de imã, de modelo, de objetivo de
prosperidade a ser obtido pelo trabalho honesto, decorrente do esforço de cada
cidadão e que reflita seu estudo e talento desenvolvido em condições de
excelência. O Brasil, com seus inúmeros problemas e contraditórias prioridades,
deixou de criar condições de prosperidade pessoal, passando a cuidar do básico,
a mera sobrevivência. Quantos jovens são “sepultados” todos os anos com
referência a seus planos de vida? Décadas
e décadas de negligência quanto à educação formal de qualidade não reduziram o
analfabetismo, não incentivaram talentos, não impulsionaram ninguém para a
prosperidade sustentável. Hoje e no passado recente, somos o país onde pouco se
lê e nada se escreve. Sem educação num ambiente de progresso e estímulo, todos
os dias o Brasil dá tchau para jovens que queriam ser algo na vida, seja
médico, engenheiro, advogado, técnico, artista seja quanto a milhares de outras
vocações. Os resultados do Enem refletem a Educação que vemos, um fracasso. O
que pensam os professores que se dedicam a vida inteira a ensinar e vem que os
resultados são pífios. Como se sente um jovem que “queria ser “mas ficou condenado no intervalo entre “o ser e o
estar”? Que frustração eles levam para vida? Como ela se reflete no caminho
mental e destrói relacionamentos? O que dizer dos poucos bem formados nas
melhores escolas e universidades daqui e do exterior, que não conseguem exercer
nada por falta de condições do mercado de trabalho, frequentemente diminuído
pela mediocridade e falta de espaço para progredir? E esses jovens não tem família, não se
preocupam com o tempo passando? O fato é que muitos jovens, embora, pelos meios
de informática, mais alertas, já entenderam que não haverá condições de
sucesso, prosperidade para a sua vida e já “jogaram a toalha.” Vão assim
assumindo outras funções com menos graça, menos estímulo para ganhar dinheiro, e
sem chance de exercer seu talento. Desnecessário mencionar a insatisfação e
descontentamento que isto causa. Logo descamba para algum tipo de abandono
pessoal. Ademais é de se questionar como e quando o sistema educacional público
ou privado estará preparando jovens para ocuparem locais de trabalho atendendo
a requisitos no todo ou em parte dentro dos novos desafios dos empregos no
mercado de trabalho como: pensamento analítico e inovação, criatividade,
originalidade, iniciativa, pensamento crítico e capacidade de análise,
liderança, influência social, capacidade de resolver problemas, interesse em
aprendizado ativo e em ter estratégias de aprendizado, raciocínio e ideação,
capacidade de design de tecnologia e programação, inteligência emocional. Uma
lista que mais parece um rol de imaginárias situações. Se alguém reunir duas ou
três dessas condições já será um rei, só faltará achar o local para reinar sem
competição e rivalidade, sem guerra de egos e as misérias do mundo dos
empregos. Pelo que parece o país é para poucos
e os empregos para bem poucos.
Por
falta de um imã de progresso, de um modelo positivo a seguir, o negativismo
toma conta e torna-se uma praga. Será que um jovem que faz tatuagem de uma
imagem do diabo nas costas ou algo parecido, não exerceu esta escolha como
reflexo de algo que tem na mente? Que sistema vem estimulando tal opção de pintar-se com figuras
diabólicas ou digamos da dimensão mais exotérica negativa? Parece só algo superficial, mas pode não ser.
Pode ser uma manifestação do abandono, do desestimulo, da insatisfação, do ato
de ter desistido, ou seja, jogado a toalha? Um tipo de revolta interior, uma
silenciosa contestação? Mas as consequências continuam na cabeça dos jovens e
um dia 1968 poderá ser reeditado, pois a velha e desgastada frase ” isso é
assim mesmo” parece que vai perdendo lugar com mais rapidez. Como será o novo
1968?
O
caldo em que a vida nacional tem se desenvolvido vem sistematicamente recebendo,
ao longo de décadas, ingredientes bem ruins e que não motivam ninguém a
acreditar em um projeto sustentável para si ou para o país. E como descartar a
influência já bem adiantada do individualismo, do pragmatismo, do utilitarismo
no comportamento da juventude e da população que têm demonstrado alto nível de
intolerância, egoísmo, prepotência , violência mortal e física etc., como
resultado de uma necessidade pessoal de busca de identidade e reconhecimento,
dois alvos difíceis de serem acertados no crescente anonimato da cidade e das
redes sociais? Sem um imã de progresso e sem um ambiente de bom
desenvolvimento, o país afasta-se do mundo desenvolvido, e gera um hiato na
Educação e na Ciência, criando vínculos de dependência secular. Se vamos ser a
lavoura do mundo, seremos dependentes de tudo para plantar, colher e
comercializar. Se vamos priorizar a mão de obra bruta e cheia de tarefas, vamos
investir nos músculos, mas não no cérebro, gerando muitos obstáculos para o
futuro. Se vamos focar na quantidade de grãos e pedras, enfraquecer a indústria
nacional, vamos abandonar a qualidade e gerar mais importação a ser paga pelas
exportações, mantendo a possibilidade de aumento da riqueza a níveis mínimos (
não se pode esquecer que apostar todas as fichas no agronegócio coloca o país
como refém do meio ambiente e todos os eventos que nele podem ocorrer com seca,
fogo, chuva, pestes, ciclones etc.).
Nota-se que vários são os fatores pelos quais vários setores tentam escapar
das consequências de uma mão de obra negligenciada ao longo dos anos. Não deixa
de ser uma estratégia para fugir do analfabetismo, deixando claro que a
Educação não será a prioridade, perpetuando assim a condição de um povo sem
instrução, seguidor, fácil de manipular, sem critica e sem esclarecimento,
alienado, dependente da continuação de pequenos ofícios e tarefas que em muitos
lugares do mundo não existirão mais, tudo para garantir um emprego, um salário,
uma vida condenada a ser pequena. Até
que ponto o desconhecimento das estruturas formais do Estado e das leis, das
instituições e todo o aparelhamento de órgãos não mantêm uma sistemática
condição de clientelismo do eleitorado, contribuindo para a continuidade da
classe política sem qualquer contestação, tudo como nos antigos tempos do voto
de cabresto? Afinal, os negócios públicos
precisam continuar na mão de poucos, embora a TV diariamente insista que algo
está errado e errado há muito tempo. Todavia, o discernimento popular não
atinge tal mensagem diretamente. Mesmo assim, ao longo do tempo vai sendo
criada uma ideia generalizada de que o Leviatã federal, estadual e municipal tem
seus castelos e que esses não são do povo nem para povo, pois é um mundo à
parte, lá no topo da montanha, onde só um tipo de gente pode persistir. E como desdizer
isto e dar crédito às autoridades que mesmo durante a Pandemia continuam na
corrupção, verdadeiras quadrilhas que assaltam os cofres públicos e desviam
verbas para seus caixas dois, três, quatro...., sabendo que há gente morrendo
aos montões? Que tipo de gente é esta e que país é este que durante décadas não
muda e não favorece a Pátria?
Diante
desta miséria de realidade e da impossibilidade cada vez maior de um voto vir a
valer alguma coisa, da inviabilidade de participar e ser ouvido, da
improbabilidade de poder participar da economia moderna e das profissões que
favoreçam o talento pessoal, da falta de discernimento para entender a
realidade complexa e filtrar a manipulação televisiva, o rebanho acaba virando
as costas e segue por si só. Surge a vida nacional paralela, a da economia
informal, dos negócios à margem da fiscalização tributária, da aparência de
legalidade. Não que seja necessariamente criminosa, mas tudo informal, longe do
Governo e da TV. O rebanho segue sem o controle de ninguém a não ser de seu
próprio instinto. Fica para estourar quando as condições de bolso pioram a
realidade fisiológica a que foi submetido. Assim, o país veste sua máscara, tem
duas caras ou mais e não encara a realidade para curar-se. E se um dado Governo
em dada época persiste em colocar máscaras em problemas cruciais para se
proteger da oposição e das críticas que possam ter efeito eleitoreiro, nenhum
progresso é atingido e continuamos todos mascarados, mesmo que um dia a máscara
contra o Covid não seja mais necessária.
Assim,
ao ignorar ou menosprezar o fator humano, a população reage e cria seu modo de
vida para sobreviver. Não quer pagar impostos, não quer dar dinheiro para o
Governo porque não acredita mais. Não é mais o caso esporádico de desobediência
civil, mas a intensificação de algo muito mais grave, a Desconsideração civil. De
costas para a legalidade, para a formalidade e população ou substancial parte
dela entra num estágio perigoso para poder sobreviver. Não é o caso de não
seguir a lei, é o estágio de não conhecê-la e de prosseguir livre, como num
estado anarquista. Não é esta a vida dos
milhares de cidadãos nos bairros com seus negócios e vida normal, onde só o
instinto, o bom senso e a experiência de cada um rege a vida? A exclusão
voluntária leva à perda fiscal de bilhões de reais que passam de mão em mão sem
qualquer notícia de oficialidade. Há uma evasão fiscal enorme e que circula nas
periferias porque não se considera o Estado e suas leis, seus complexos meios
de organização e exigências para a formalidade, dezenas de tributos e guias,
uma burocracia impossível de ser atendida por várias razões, dentre elas o mero
analfabetismo. O Leviatã gordo e ineficaz quer seja Estado, Prefeitura ou União
pouco penetra nas periferias, não chega no bairro, só existe na TV, não faz
parte da vida do povo e a ele pouco interessa. Se consegue entrar, é com a
polícia e ali nunca permanece. Afinal, Governo é coisa de político e não do
cidadão. E neste caminho, certamente, surge com mais gravidade a ilegalidade,
os expertos, os inteligentes e rápidos estrategistas do crime, mesmo do caixa
dois, da milícia, das estruturas do tráfico de drogas, do crime organizado e
suas facções e desdobramentos. Seja lá como for uma organização social, sem
registro e à parte, fazendo um Brasil marginal, mas presente, real, que vive na
inexistência civil? É necessário que
paremos de mentir, de esconder problemas e escamotear a realidade para que os
antigos modos de fazer política e comercializar votos no Congresso, nas
Assembleias e nas Câmaras de vereadores admitam a realidade e comecem a
melhorar o país com sustentabilidade. Caso contrário, o hiato entre povo e
Governo vai aumentar, não haverá quem dê crédito ao Governo e suas intenções de
Leviatã egoísta, gordo, atrapalhado, desentrosado em seus níveis. Ninguém
pagará imposto de livre e espontânea vontade como cidadão consciente, se não
puder escapar da tributação. Ninguém mais prestará atenção nas TVs para
continuar vendo corrupção e um festival de incoerências e coisas que não pode
entender, mas que só azucrinam a vida e perturbam o dia. Aumentará
substancialmente o número de pessoas que decidem se alienar, viver sem
política, sem TV, sem nada de coletivo, só sua vida e seu umbigo. No estágio de
desconsideração, as pessoas vivem à parte, não seguem a legislação, não
procuram se informar, só vivem no rebanho e o seguem. Acham este meio de
felicidade e paz. Isto já não explica as atitudes da população quanto às
medidas contra a Pandemia? Quantos da população nem sabem o que é um vírus? Até
hoje 3.10.20, o vírus já infectou 34.650.936 pessoas no mundo e matou 1.029.128
outras e no Brasil foram mais de 145 mil.
Esta
vida de desconsideração civil implica novas realidades em vários setores.
Observe-se o que acontece na população menos favorecida não só quanto a
atividade econômica, mas quanto a relacionamentos, casamentos informais ,
filiação, violências de todo tipo, uma verdadeira bagunça em termos do que
seria o legal e o certo. A sociedade se
esforça para manter instituições, a lei e toda a formalidade, mas as condições
que levam à informalidade são mais rápidas e continuam gerando um Brasil
paralelo, informal que talvez seja o real, o Brasil de verdade, o que existe no
dia a dia, e que resulta de séculos de corrupção, analfabetismo, onde tudo é
tão informal, fisiológico, básico, pobre, endividado, primitivo, egoísta, com
cara e olhos de perdedor, com cara de culpado, com pessoas empurrando a vida,
mas grande e numeroso, socialmente perigoso e sujeito a políticas de momento
que acabam aumentando a exaustão desse tipo de cidadania, pois quem não cansa
de sofrer, de dar a vida ao nada e indignar-se com serviço público deficiente,
que pouco socorre seus parentes e familiares, que vê os impostos serem mal
utilizados, que vê a impunidade continuando e a lei trazendo benefícios em prol
do dinheiro de alguns. Repita-se, falta um imã de progresso maior. Hábitos e costumes sempre vêm demonstrando um
contexto de desistência como espírito de entrega. E assim os dias são
preenchidos à margem, na informalidade, sem muito comprometimento com a
persistência da própria vida. Há sinais de fuga constante. Com a Pandemia tudo
vem à tona com mais clareza e o Leviatã da União joga tudo para o Estado e este
para a carcomida Prefeitura. O fato é que a exaustão criada pelo Covid une-se a
essa exaustão do sistema. Pode haver o nascimento de soluções boas e que
marquem uma reviravolta quanto à coisa pública e a população, como também, pode
haver um descarrilhamento, podendo precipitar movimentos negativos, mesmo que a
fé cristã ainda impere e faça com que sejamos um povo pacífico e que tolera
tudo. Não sabemos como a Economia vai receber o impacto de crise mundial, qual
a miséria que virá ainda maior, mas é relevante que se observe a população e
leve-se em conta esta tendência de desconsideração civil e seus efeitos sociais
e econômicos. Cada cidadão já começa a pagar a conta feita pelo Covid. Direta
ou indiretamente, a inflação e as mediadas econômicas para asseguras a vida do
Leviatã vão afetar a vida como ela é hoje. Como será controlada a inflação sem
aumentar os juros? Como crescer com juros altos?
Diga-se,
a miséria de hoje não é só a material, está no modo de pensar, na ideologia
vaga da mediocridade que separa e exige uma igualdade social impossível de
causar felicidade e bem estar; vive na raiva social, que só causa contrariedade
e violência, esta em várias modalidades, prepotência, abuso de poder etc. A
miséria se alimenta da falta de objetivo de prosperidade e um clima coletivo de
desenvolvimento pessoal, fazendo o país mergulha nessa miséria intelectual; o
país torna-se oral, superficial, dependente e a vida passa a nortear-se pelas
necessidades pequenas do mero sobreviver ao dia, de vencer na luta pelo
material e sempre com olhos ruins contra quem tem algo, mesmo que só por
aparência, fazendo nascer um mascarado apartheid.
520
anos de existência e nosso gigantismo pesa e exige inteligência e novos
sistemas em tudo, senão continuaremos retrocedendo e perdendo energia, a
caminho da tribo original, onde cada indivíduo é por si só o chefe, alheio ao
Estado, à estrutura formal num império de falta de tudo, mas um indivíduo solto,
livre como a rês que nasce no meio do rebanho e o dono da fazenda nem sabe de
sua existência, mas quando esse se dá por si, há mais desgarrados do que
cabeças contadas e ele não sabe do estouro que pode haver contra suas cercas e
instalações. Só usar a TV para “controlar” a população pode ser uma estratégia
e meio desgastados, devendo-se lembra sempre da passeata inicial em São Paulo,
em 2013, que surgiu de uma simples reivindicação de preço de ônibus e sua
espontaneidade e gigantismo pegaram a TV e toda a mídia de surpresa; não sabiam
nem o que estava acontecendo, já que se ocupavam só com as notícias do Governo
e a política.
Portanto,
os dois tipos de Exaustão agora unidos podem criar muitos fatos novos a serem
observados e questionados, todavia, causam já muita preocupação e a vontade de
que as autoridades acordem, deixem a velha política de lado e procurem inovação
no modo de cuidar deste brilhante e rico Brasil. É a Esperança e a Fé de
sempre. Nada de violência, só soluções inteligentes, debate, diálogo e amor ao Próximo, ao Planeta, à Vida e à
Pátria.
No
perigoso jogo de direita e esquerda, o pior é ficar empacado e não ir a lugar
algum para frente, o que exige Educação, inteligência, ciência, para fugir da
escravidão, sem cor, que é a da dependência das terras que se dizem mais
adiantadas.
Quanto
a está tendência de exaustão do sistema, a questão é quantos de nós, de todas
as classes sociais, não está virando as costas para certos assuntos e para o “modus
vivendi” do Estado em seus níveis? Nunca se pode esquecer que, se a TV não mostrar
ou mencionar, nada existe e de nada sabemos, e o Estado continua no seu castelo
progressivamente também nos virando as costas, mas fazendo pagar a conta.