2020 vai arrastando-se por 2021.
( 114.441.384 casos no mundo.)
( 2.538.681
mortos. )
Tio
Corona, o imortal?
Vai
tomando conta da Terra,
enturmou-se,
fez família,
sua lida
nos enterra.
Inteligente,
mutante,
flexível,
manipula seu genoma
e vai
fazendo cada variante.
Cada
descendente,
mais
ágil, mais inteligente,
mais
mortal e arrogante.
Veio há
um ano,
qual numa
blitz;
de
aniversário, quer mais um ano.
Exige do
humano, infraestrutura,
gastos
enormes, aparelhamento,
pesquisa
complexa e sorte pura.
Na
família Corona,
ninguém
parece se amedrontar,
oferece
ao humano mortal carona.
As
variantes surfam em suas próprias ondas;
o vírus
se espraia, se adapta,
não
abandona sua missão, faz suas rondas.
Imune ao
ego humano,
desconhece
tal reinado,
segue seu
próprio plano.
Quosque
tandem , Corona,
abutere
nostra patientia?
Até
quando Corona?
Todos os
limites de fé e esperança
já foram
alcançados, usados , mesmo assim,
o humano
ainda não mostra desesperança.
O dia é
agora uma loteria,
quem vive
, quem morre,
quem vai
ter ainda vida e saúde inteira?
Tio
Corona resiste à vacina,
espera
qualquer um
em
qualquer sopro de ar na esquina.
Vai
retirando argumentos
dos
inconscientes, dos negacionistas,
de todos
em dúvida em seus procedimentos.
O humano
insiste,
enfrenta
exaustão, aflição,
mas vai
em frente.
Um dia
vai vencer ,
já venceu
tantos eventos,
vai fazer
o tio Corona enfraquecer e morrer.
A
Humanidade contará seus muitos mortos;
em vários
locais muitas verdades vão sobressaindo,
já estão
devastando mentes e estão em muitos rostos.
Mas e
daí?
Daí não
se sabe
o que
virá daí.
Quem
sobreviver
contará o
que vê,
e a vida
continuará a acontecer.
Que
versão de vida social
vai
sobressair, que vertente do pensamento
irá
prevalecer no coletivo e a nível
pessoal?
Odilon
Reinhardt.
Pela
rua.
A rua por
onde ia o estudante,
chutando
pedra;
o velho
com a mente distante.
Por onde
ia a escolar apressada,
com
sonhos de menina;
o povo de
sacola recheada.
Rua onde
tudo era eventualidade,
no tempo
coadjuvante da probabilidade,
onde tudo
virou risco em possibilidade.
Local de
encontro, agora desencontro,
onde cada
um foge do conhecido e do desconhecido,
do amigo
e de qualquer outro.
Dano
covídico:
afastamento,
isolamento, medo das pessoas, educação,
o mundo
nesse passo despótico.
Muita
gente acabrunhada,
com
pensamentos isolados no umbigo,
a vida na
cidade, violada.
Na rua
hoje voa a vida,
corre o
tempo de viver,
chance
perdida?
Corredor
, canaleta,
por onde
flui a nova realidade
e o vírus
espreita e faz sua coleta.
Pela rua
vai a esperança ,
como
criança ingênua
e já com
notas de desesperança.
Rua que
era vida livre e total,
agora
tomada por ar perigoso a toda hora;
o medo
percorre o local.
O vírus
amedronta , vence,
pensa,
muda; cria o medo até de respirar;
um modo
de vida já desaparece.
Vai a
fila de preocupados,
exaustos,
esgotados, insatisfeitos,
apreensivos
e atordoados?
Covid
está afastando conhecidos, parentes, amigos
que
perdem o contato , sintonia, convivência,
gerando
até ressentidos e possíveis inimigos.
Revela
realidades em formação,
verdades,
tira fotos da vida,
favorece
em alguns a reflexão.
Cabe a
cada um checar
o que
está fazendo para reagir,
e não
deixar o vírus ganhar.
Os danos
espirituais,
os de
relacionamento
podem ser
os mais prejudiciais.
Muitos
estão se acostumando a essa constrição,
medo,
aflição e seguem construindo a base
para
muitas dificuldades humanas e até depressão.
Um
desastre ,
vejo
pessoas desistindo uma das outras.
Relações
e amizades viram perigoso traste.
Estão
desistindo
porque o
interesse material a que estão condicionados,
motor da
vida diária está sumindo.
Não sabem
sentir, perceber e ter
O
interesse meramente humano
de
perguntar ao Próximo “ Como está você neste viver?”
Não sabem
deixar de pensar
nas
segundas intenções, no interesse escondido,
não sabem
contra isto se imunizar.
É o medo
do presencial;
reforço
ao individual , pragmático, útil , imediato,
como se o
Próximo fosse objeto agora anormal.
Aceitar
tal realidade
é ajudar
o Corona
e lhe dar
viabilidade.
Cabe ao
humano cuidar-se,
usar os
meios de defesa,
defender-se.
A melhor
estratégia não é só a defesa física,
mas
a mental como o pensar positivo
e manter
amizades que ajudam o corpo e sua química.
Persistir,
insistir, não ceder,
acreditar
na vida,
se
proteger fisicamente no viver e
mentalmente para o conviver.
O teste
humano está em andamento,
mostra
quem é quem
e seu
grau de humanidade ou lento autoenforcamento.
Odilon
Reinhardt .
O Mutante.
Variante mais perigosa,
letal novo mutante,
o vírus desvia da vacina esperançosa.
Parece sentir o ambiente,
percebe as ações da ciência
e defende-se emitindo uma variante.
A Humanidade dobra-se,
a vacina em sua terceira fase
tende a fracassar e o humano amolece.
Não acredita no que está se passando,
algo bem superior o atingiu desta vez
com a apocalíptica missão que vai rolando.
Coisa do Mal? O vírus desconhece o Bem e o Mal;
dessa vez num mundo muito mais tecnológico,
sua natureza é letal.
Compromete a vida,
talvez não mate,
mas cada sequela é uma ferida.
Tira o brilho do humano,
a energia fica prejudicada;
o mutante é tentativa do vírus para maior dano.
De sua invisibilidade
vai adaptando-se para infectar
e prejudicar a realidade.
Algumas estruturas criadas pela Humanidade
começam a revelar-se como insuficientes,
o humano agarrar-se à ilusão de sua mente.
O vírus revela as fraquezas do humano,
as reais dimensões de seu viver e fracasso de
conviver,
desnuda o egoismo e sua máscara de pano.
Deixa a civilização a descoberto,
exposta ao caminho da Natureza,
o mundo está ficando com o crânio mais aberto.
Não sabendo de onde veio nem para onde vai,
o sapiens-asno debate-se com seus ismos
e o egoísmo o traí.
Incapaz de transcender,
mente para si mesmo,
talvez já questione o sobreviver.
Procura manter o normal ,
incapaz de pensar
melhor,
afunda-se no anormal.
Não quer parar,
morre agarrado no osso,
pensa levar Rhodes para onde vai afinal morar.
Seja lá como for, para cada um há chance de defesa:
não aglomerar, usar máscara, distância, isolamento,
higiene pessoal, não dar ao vírus moleza.
Mutante Mutantis
o mesmo medo e apreensão
de Letícia a Recife, do Chuí a São Luis.
O mutante segue seu caminho,
não tem compaixão, desconhece qualquer bondade,
nem se espera dele qualquer ato de carinho.
Odilon Reinhardt.
O que realmente sabemos? . “
Scio Nescio”.
Mal
sabemos de nossa própria realidade. Quando sabemos sobre algo divulgado sobre o
cada vez mais complicado caleidoscópio da cidade e do mundo, sabemos ou vemos a
ponta do iceberg, um naco de realidade, sempre manipulada ou mal contada e
submetida a nossa própria carga de valores e discernimento. Certo que haja um
limitado espaço físico e de tempo em cada unidade da indústria de
telecomunicações para divulgação determinando tais sínteses. Do que já
aconteceu, portanto, passado, e de toda sua complexidade e completude, mais de
90% fica no “backstage”, nos bastidores. A ponta do iceberg quando vai ao
jornal falado ou escrito já passou por vários filtros de interesse, conveniências
e tendências ideológicas de momento e capacidade de atrair a audiência com
sensação. Assim a liberdade de imprensa tem os limites que a própria imprensa
escolhe ter.
O que
ficou abaixo do nível d´água, atrás do palco dos acontecimentos, no lixo dos
filtros usados, nunca virará notícia de modo que a ponta do iceberg é, muitas
vezes, feita de duas ou três linhas ou dois ou três segundos. O resto
desparece, nunca existirá na tela ou na folha, mas se pode ter em mente: há
mais circo nos bastidores do que no picadeiro. E só uma camada altamente
informada, acima da população e de muitos setores, sabe o que verdadeiramente
rolou filtro abaixo, deixando para efetiva publicação rastros, indícios, frases
subliminares que a audiência deverá usar de sua discricionariedade para captar,
entender e processar. Num país de semianalfabetos, pode-se arriscar a dizer que
grande parte do noticiado não é entendido, razão que acelerou o sumiço dos
jornais e revistas. O noticiário agora na TV e rádio ainda tem vocabulário
inatingível para muitos e está endereçado para as pessoas em setores bem
definidos. A grande maioria come tudo com farofa e vai dormir.
E mais,
no jogo de interesses diários, muitas realidades nem chegam a ser filtradas,
nem chegam a ser um tico de notícia, porque não interessa sua divulgação ou
porque há um processo ainda em formação que fica se acumulando nos bastidores
até que um dia tudo explode como “breaking news”, uma bomba, um escândalo que
surpreende todos os lares e setores do país.
Essa indústria
que pode derrubar Governos em dias, que pode criar crises institucionais
danosas, que joga autoridades contra autoridades etc, tem um poder sem igual.
Mas vem sempre enfrentando desafios com o surgimento de instrumentos do mundo
virtual que se aproveitou da situação de analfabetismo e explora o dueto
imagem-discurso simples.
Para a
indústria da comunicação, um grande desafio é não deixar a fonte de notícias
ficar fora de controle e ultrapassada. Grandes agências distribuidores de
notícias para o mundo jornalístico enfrentam hoje o poder do mundo virtual, as
firmas arrivistas que dominam o mundo do celular, a TV de mão. A fonte de
notícias, antes bem centralizada em duas ou mais agências internacionais, está
passando para a mão de milhares de repórteres em qualquer lugar a qualquer
tempo. Presidentes, autoridades, populares ao redor do mundo podem ser a fonte
de notícia em primeira mão, fazendo notícias nas redes sociais, divulgando
imagens, frases retumbantes e provocativas à total revelia da imprensa. Escapam
da filtragem e controle dos meios tradicionais de comunicação, aos quais resta
somente detalhar a posteriori o que já foi divulgado pelo “twitter” e redes
sociais, etc. Isto não é mais tendência, é realidade posta e exige que a
indústria da comunicação se atualize diariamente.
E a
indústria o faz investindo em meios digitais com sucesso. Os sites e canais de
notícias fazem as vezes do jornal de papel. Com seus shows de revista em
programas de notícias permanentes com debates entre jornalistas, o dia todo,
estão à disposição dos interessados, principalmente pessoal da própria imprensa
e de setores governamentais e partidos políticos, poucos do povo. Nestes
programas, para quem tem recursos intelectuais fica mais visível e fácil
perceber o viés ideológico de cada emissora. Por via oral, isto ficou mais
presente e explícito.
É o poder
de fogo da indústria de comunicações, que, no afã de manter o poder, procura se
adaptar, mas continua a se dirigir pelas coordenadas da despesa, das tendências
ideológicas, da necessidade de garantir audiência com forte nota de
sensacionalismo e o tempo de programação, agora toda na TV. Mesmo assim para o
noticiário que vai ao grande público, dentro de tais limites, de fácil,
vendível e movediça demarcação, a chamada imprensa falada, tem a oportunidade
de selecionar notícias e formar seus icebergs de acordo com o vento de seus
interesses, geralmente tomando parte em briga de cachorro grande nas realidades
de grupos econômicos e políticos. Em meio a notícias de trânsito, violência,
clima e esportes, há uma seleta quantidade de notícias, com imagens e curtas
frases, que invadem a casa do cidadão em horas de refeição, deixando-o
boquiaberto ou estarrecido ou nervoso ou ainda mais insatisfeito, mesmo que não
entenda muito do que se trata. O cenário vem se repetindo a décadas, pois
direta ou indiretamente, a sucessão de certas notícias só contribuí para
formação de uma imagem negativa das instituições, de seus ocupantes e da vida
pública em geral. Cria-se um Leviatã, alimenta-se sua imagem negativa,
empurrando-se goela a baixo do espectador a ideia de um Estado e de uma
sociedade que precisa reformulação. Que modelo de reformulação? Um imaginário
ou real modelo libertário de artistas, ditado por forças interesseiras e para
atender interesses externos, como se a realidade não fosse a lenta criação, o
produto histórico do próprio povo guiado pelos próprios meios de comunicação?
Batalha-se por um niilismo inconsequente? Falam em liberdade, em libertar mas
não sabem o que propor de útil, próspero e positivo.
Seja lá
como for, tudo apresenta-se na casa do telespectador na sua hora de repouso e
recolhimento. Como uma ducha ideológica diária, o prato é servido frio ou
quente, cabendo ao telespectador, sobrevivente, olhar o desfile de icebergs com
sínteses da vida diária, montada pela vista e ideologia da emissora. Imagens se
sucedem numa sequência acompanhada de uma narrativa impregnada de interesses e
meias palavras. Costumeiramente, há o uso de fotos pela metade, no ângulo
desejado e escolhido pela emissora, jamais retratando o todo. A manipulação é
evidente, não deixando sobras para a livre interpretação, especialmente num
país onde a imagem fala mais do que uma biblioteca inteira. As imagens precisa,
corresponder exatamente ao discurso tendencioso de cada emissora. A toda hora
há essa manipulação de cenários políticos e econômicos como um exemplo de
agressão à inteligência, ao bom senso e instinto da população.
Diz a
imprensa em geral que não faz notícia, só as divulga. É um jargão usado, mas na
prática, a indústria tem o poder de escolher e
moldar tudo, ao seu prazer. Entre tantas outras estratégias, também é
visível o método de procurar notícias. Assim, quando a realidade apresenta uma
pausa, uma falta de notícias, vê-se a imprensa cavando para fazer confusão e
polêmica, forçando debates, intrigas, usando frases ou palavras extraídas de
discursos ou falas de diferentes contextos. A indústria faz notícia, elege
temas para o dia, criando relevância, provocando instabilidade. E também, agindo
em associação momentânea com os interessados de determinado setor, criam “bois
de piranha” para distrair a atenção da audiência enquanto algo vai passando de
maior relevância. Tudo bem coordenado. Neste sentido, há uma programação diária
e bem cronometrada, mas se o interesse for superior e concentrado num simples
“parafuso”, horas ou até o dia inteiro será dedicado ao “parafuso” e ao longo
do dia uma sequência de repórteres vai se suceder na tela, um repetindo o
anterior e avançando um pouco mais, até saturar o tema. Há uma espetacular
habilidade de não deixar nem um segundo sem palavra. A missão é encher o ouvido
do cidadão 100% , fazendo sua cabeça tanto quanto o possível em aulas diárias
de pessimismo e degradação.
No que
possam pesar todas as intrigas, futricas, polêmicas inúteis e críticas, a TV
como veículo mais usado pela indústria de comunicações é o primeiro poder do
país e serviço público de primeira necessidade, pelo que não se pode condenar a
programação da TV como um todo só por causa dos noticiários e nestes a parte
política e econômica, muito embora os noticiários é que contaminam a atitude da
audiência. No entanto, há itens de grande relevância na programação, dignos de
premiações mundiais. O campo é feito de altos e baixos, medíocres como a vida.
Assim
como o noticiário é só uma pequena porcentagem da programação, as “fake news”
são só uma exceção e as redes sociais são só parte do mundo virtual, a TV e
tudo mais são uma maravilha insubstituível, basta saber usar. Ali o Bem e o Mal
também existem e exigem consciência e discernimento. O maior poder ainda é o do
consumidor que pode apertar o botão de liga ou desliga, de modo que o
noticiário para o consumidor é um evento sem o qual, a vida pode continuar tal
e qual. Mas é sempre um desafio ao discernimento. É diária canseira para o
telespectador, que acaba mudando de canal ou desliga a TV no aposento em que
esteja ou a da mão. Como sustentar que a população não tem memória, se muitas
vezes a TV em seu coquetel confuso nem é mais assistida?
Num país
que ficou sendo de pouca escrita e leitura, a questão é saber quantas pessoas
continuam assistindo o noticiário. A juventude? Dificilmente. Qual parte das
classes econômicas? Por quanto tempo? O fato é que com a sistemática ducha de
negativismo, notícias ruins e degradantes, alavancada pela Pandemia, a exaustão
do telespectador é visível. Mas os noticiários não mudam, continuam no jogo de
repetir mentiras. Quando falam a verdade, a desconfiança é tanta que só gera
dúvida. A verdade ninguém parece mais querer mostrar. Vale mesmo o iludir, o
fazer o show, o usar sofismas, pois ao final “se pegar pegou”. Amanhã é outro
dia. Ao povo as batatas e um voto de dois em dois anos. E já há tantos que não
votam para mostrar protesto. Não votar é protestar? O protesto é contra si,
contra tudo, contra a vida, tal a insatisfação existente?
O fato é
que a própria indústria está saturando a sociedade, esgotando os limites do
sensacional, do fantástico, do horrível e do maravilhoso. Está criando seu
próprio descrédito, contra o qual terá que gastar milhões para poder
prosseguir. Vendeu a alma e agora tem uma crise de identidade sem precedentes.
A pergunta é até onde tudo isto contribuí para um clima de prosperidade para
incentivar as pessoas a progredir. A quem interessa esta atitude sistemática de
destruição. Que ordem afinal querem impor.
E mais,
como visto, a TV com seu poder tendencioso, manipulador, tem que
obrigatoriamente cativar a audiência, pelo que deve seguir o caminho do povo,
tentando ser aceita em sua realidade. Sem audiência, sem anunciantes. Se o
noticiário não agrada, há outros programas, novelas, filmes, reportagens
entremeadas por publicidade pesada, por onde permeiam mensagens igualmente
carregadas de ideologia. Pois, com toda certeza o individualismo, o
pragmatismo, utilitarismo, o foco no egoísmo e o desejo niilista não foram
passados as últimas gerações na escola ou de boca em boca. Quem incentivou tais
“ismos”, senão os meios de comunicação e as agências de publicidade e
marketing? Quais outros instrumentos teriam sido utilizados pelos mestres
invisíveis para promover alterações profundas no pensar das últimas gerações? O
mundo virtual? Não, este quando surgiu já pegou o trem andando e só serve de
instrumento estimulador do que já vinha sendo implantado. Nem se pode ficar
espantado com resultados de tal pregação, como a cultura de excluir pessoas
discordantes ( cultura do cancelamento) e a necessidade de reunir-se em grupos
que buscam identidade (identitarismo), para suas ideias e intolerância. São
meros desdobramentos do egoismo e do individualismo. Então, a literatura? Não
mesmo, num país onde pouco se lê e milhares nem sabem ler o vocabulário mais
abstrato. O descrédito foi sendo criado pela própria indústria que abusou ao
modelar a sociedade com ismos instáveis e de difícil controle. Gerou distração,
contestação, rebelião intelectual e nada colocou de útil. Gerou pessoas que
sofrem as consequências das suas inúmeras deficiências, e agora encaram tudo
com indiferença e desconsideração, passos superiores do cansaço, exaustão. A
população está dando as costas ao mundo formal, aos modelos positivos e
produtivos. Cuidado Brasil. O castelo está ficando isolado do vilarejo.
A falta
de uma educação formal de boa qualidade e completa expôs, por décadas, a
população às lições obtusas de mestres invisíveis. A fase eufórica da
curiosidade em ver a TV está acabando. Nem mesmo o noticiário e programas mais
“intelectuais” que falem da política e sistemas mais complexos e de vocabulário
mais elevado estão chamando a atenção de quem só pode entender. Isto logo vai
fazer com que a TV termine ou reduza o tempo no noticiário das frases
fortemente carregadas de sua ideologia etc. Talvez a indústria vá abandonar ou
reduzir o nível de tais itens da programação, perdendo o interesse dos setores
pagantes e interessados em plantar mentiras e realidades que só a eles
interessa, deixando isto para os canais específicos de notícias, que só serão
acessados pelos realmente interessados e não mais impostos à população em
geral. Assim, como a indústria da comunicação depende da grande audiência, a
diretiva é seguir o caminho da população e sendo esta deficiente em letras, a
perspectiva é de contínuo rebaixamento do nível gramático, cultural e visual,
buscando cada vez mais aproximação do telespectador. Quem reclama do nível de
hoje, ficará estarrecido a cada ano, pois o “ caminho do sucesso” é ajoelhar-se
ao nível da população. A questão é saber quem ainda não desligou a TV na hora
do noticiário? Quem já desligou a TV por mais de um mês? Quem já não assiste
TV? Qual o alcance das notícias para além da classe média baixa? Talvez nem a
TV esteja chamando a atenção como um todo? Como a desconsideração já está se
tornando realidade?
Ora, quem
diria? Quando surgiu a TV, dizia-se que o rádio iria ser eliminado. Não
aconteceu. O rádio manteve seu império colado à população, no nível dela. Ali o
noticiário é resumido, exprimido entre música e comerciais. Num país de enorme
oralidade, o rádio persiste com enorme importância, com muito menos carga
ideológica e sem a mesma ênfase teatral e tendenciosa dos âncoras de televisão,
que diariamente fazem o papel de intérprete das notícias, mastigando-as para o
telespectador. O rádio informa com mais objetividade e suas sínteses são mais
honestas, seus icebergs menores, mais rasos e transparentes.
Mas no
todo, com rádio, celular e TV, a indústria da comunicação peca pelo modo de
espalhar notícias e acaba criando o descrédito e uma saturação. Novos caminhos
terão que ser achados, pois o serviço é imprescindível por vários aspectos e
para a democracia. Fala-se em notícias de qualidade como tendência a ser
perseguida, todavia o analfabetismo é a maior barreira. Sem Educação formal,
sem vocabulário, cria-se um espaço cada vez maior entre o mundo formal e a população
de todas as classes sociais. Isto só contribui para concentrar a
intelectualidade e expor a população a uma escravização das ideias que sejam
geradas por um restrito grupo. Fica cada vez mais fácil manipular as massas e o
indivíduo. Que liberdade vale mais senão a de pensar e decidir livremente?
Talvez em já tendo observado isto, é que algumas gerações já decidiram desligar
a TV comum para sempre, mas mal sabem que ao entregar-se à TV de mão e todos
seus instrumentos, estão trocando alhos
por bugalhos e ficando ainda mais expostos aos “ismos” já mencionados, pois ali
é o domínio total dos mestres invisíveis e supranacionais.
No que
possam pesar todas as platitudes aqui reunidas, o fato é que se alguém da
população desejar saber algo sobre trânsito, polícia, clima, política ou
economia, só conta com a opção de assistir ou acessar o noticiário. Para
diminuir o Scio Nescio ( Só sei que nada sei), a alternativa é encarar o
desfiles de icebergs e tentar decifrar o que ali está em meio ao caleidoscópio
diário da vida diária entre notícias que se contradizem e que desafiam o fácil
entendimento. Quem persiste assistindo sem esta habilidade, corre o risco comum
de se estressar e até agravar problemas cardíacos, pois o noticiário é fonte
certa de preocupação, negativismo, instabilidade emocional, intranquilidade
social e pessoal. Para muitos a maior defesa é desligar a TV ou trocar de canal
e assim alienar-se para viver com avestruz, todavia, ilusoriamente melhor e
evitando que forças invisíveis lhe façam a cabeça, a de seus filhos e família.
Mas em tempos como os atuais, até que ponto este desligar não interfere no
combate à Pandemia? Considerando que a TV passou a fazer o papel de Diário
Oficial do Município e do Estado, alienação provocada pela própria TV, pode
prejudicar em muito a adoção e implantação de medidas de proteção à saúde. Sem
a TV, na cidade, grande ou pequena, não se sabe de nada. Devido ao histórico de
abuso da indústria de comunicação, em tempos
cruciais, quando a Nação precisa da TV, em muitos lares ela está
desligada para o noticiário ou para sempre.
Ancorada
em tal necessidade popular de saber para satisfazer a curiosidade humana, a
indústria de comunicação prossegue em seu roteiro, que sofre, agora com mais
intensidade, as mudanças na população que ela mesma em parte idealizou e ajudou
a implantar, sem tomar os devidos cuidados quanto à natureza humana. Pensou que
podia dominar totalmente, mas esqueceu da liberdade inata ao humano, que no
papel de consumidor, cidadão, eleitor pode ter só um voto, mas tem dez dedos
para apertar o botão de “desligar”. O cidadão, mesmo condicionado pelo
sensacionalismo diariamente alimentado, querendo ver sangue e o Mal, algo que
lhe assegure a visão de sua situação pessoal não é única e que há sempre lago
pior, está saturado, opta pelo não saber, uma sentença de morte para a indústria da comunicação.
Vem se
firmando, ao meu ver, algo muito grave. A população exausta e uma juventude
desorientada não quer participar, não quer saber, não se interessa, procura virar
as costas para tudo de oficial e formal e adota a atitude da desconsideração.
Isto explica em parte o que estão fazendo em suas atitudes tresloucadas durante
a Pandemia.
Odilon
Reinhardt. 3.3.21