quarta-feira, 3 de março de 2021

2020 vai se arrastando por 2021.

 



                                 2020 vai arrastando-se por 2021.

                                 


                                  (  114.441.384 casos no mundo.)

                                 (    2.538.681 mortos. )

 

 



                                         Tio Corona, o imortal?

 

 

Vai tomando conta da Terra,

enturmou-se, fez família,

sua lida nos enterra. 

 

Inteligente, mutante,

flexível, manipula seu genoma

e vai fazendo cada variante.

 

Cada descendente,

mais ágil, mais inteligente,

mais mortal  e arrogante.

 

Veio há um ano,

qual numa blitz;

de aniversário, quer mais um ano.

 

Exige do humano, infraestrutura,

gastos enormes, aparelhamento,

pesquisa complexa e sorte pura.

 

Na família Corona,

ninguém parece se amedrontar,

oferece ao humano mortal carona.

 

As variantes surfam em suas próprias ondas;

o vírus se espraia, se adapta,

não abandona sua missão, faz suas rondas.

 

Imune ao ego humano,

desconhece tal reinado,

segue seu próprio plano.

 

Quosque tandem , Corona,

abutere nostra patientia?

Até quando Corona?

 

Todos os limites de fé e esperança

já foram alcançados, usados , mesmo assim,

o humano ainda não mostra desesperança. 

 

O dia é agora uma loteria,

quem vive , quem morre,

quem vai ter ainda vida e saúde inteira?

 

Tio Corona resiste à vacina,

espera qualquer um

em qualquer sopro de ar na esquina.

 

Vai retirando argumentos

dos inconscientes, dos negacionistas,

de todos em dúvida em seus procedimentos.

 

O humano insiste,

enfrenta exaustão, aflição,

mas vai em frente.

 

Um dia vai vencer ,

já venceu tantos eventos,

vai fazer o tio Corona enfraquecer e morrer.  

 

A Humanidade contará seus muitos mortos;

em vários locais muitas verdades vão sobressaindo,

já estão devastando mentes e estão em muitos rostos.

 

Mas e daí?

Daí não se sabe 

o que virá daí.

 

Quem sobreviver

contará o que vê,

e a vida continuará a acontecer.

 

Que versão de vida social

vai sobressair, que vertente do pensamento

irá prevalecer  no coletivo e a nível pessoal?

 

Odilon Reinhardt. 

 

 

 

                                         Pela rua.

 

 

A rua por onde ia o estudante,

chutando pedra;

o velho com a mente distante.

 

Por onde ia a escolar apressada,

com sonhos de menina;

o povo de sacola recheada.

 

Rua onde tudo era eventualidade,

no tempo coadjuvante da probabilidade,

onde tudo virou risco em possibilidade.

 

Local de encontro, agora desencontro,

onde cada um foge do conhecido e do desconhecido,

do amigo e de qualquer outro.

 

Dano covídico:

afastamento, isolamento, medo das pessoas, educação,

o mundo nesse passo despótico.

 

Muita gente acabrunhada,

com pensamentos isolados no umbigo,

a vida na cidade, violada.

 

Na rua hoje voa a vida,

corre o tempo de viver,

chance perdida?

 

Corredor , canaleta,

por onde flui a nova realidade

e o vírus espreita e faz sua coleta.

 

Pela rua vai a esperança ,

como criança ingênua

e já com notas de desesperança.

 

Rua que era vida livre e total,

agora tomada por ar perigoso a toda hora;

o medo percorre o local.

 

O vírus amedronta , vence,

pensa, muda; cria o medo até de respirar;

um modo de vida já desaparece.

 

Vai a fila de preocupados,

exaustos, esgotados, insatisfeitos,

apreensivos e atordoados?

 

Covid está afastando conhecidos, parentes, amigos

que perdem o contato , sintonia, convivência,

gerando até ressentidos e possíveis inimigos.

 

Revela realidades em formação,

verdades, tira fotos da vida,

favorece em alguns a reflexão.

 

Cabe a cada um checar

o que está fazendo para reagir,

e não deixar o vírus ganhar.

 

Os danos espirituais,

os de relacionamento

podem ser os mais prejudiciais.

 

Muitos estão se acostumando a essa constrição,

medo, aflição e seguem construindo a base

para muitas dificuldades humanas e até depressão.

 

Um desastre ,

vejo pessoas desistindo uma das outras.

Relações e amizades viram perigoso traste.

 

Estão desistindo

porque o interesse material a que estão condicionados,

motor da vida diária está sumindo.

 

Não sabem sentir, perceber e ter

O interesse meramente humano

de perguntar ao Próximo “ Como está você neste viver?”

 

 

Não sabem deixar de pensar

nas segundas intenções, no interesse escondido,

não sabem contra isto se imunizar.

 

É o medo do presencial;

reforço ao individual , pragmático, útil , imediato,

como se o Próximo fosse objeto agora anormal.

 

Aceitar tal realidade

é ajudar o Corona

e lhe dar viabilidade.

 

Cabe ao humano cuidar-se,

usar os meios de defesa,

defender-se.

 

A melhor estratégia não é só a defesa física,

mas a  mental como o pensar positivo

e manter amizades que ajudam o corpo e sua química.

 

Persistir, insistir, não ceder,

acreditar na vida,

se proteger fisicamente  no viver e mentalmente para o conviver.

 

O teste humano está em andamento,

mostra quem é quem

e seu grau de humanidade ou lento autoenforcamento.

 

Odilon Reinhardt .

 

 

                                        O  Mutante.

 

 

Variante mais perigosa,

letal novo mutante,

o vírus desvia da vacina esperançosa.

 

Parece sentir o ambiente,

percebe as ações da ciência

e defende-se emitindo uma variante.

 

A Humanidade dobra-se,

a vacina em sua terceira fase

tende a fracassar e o humano amolece.

 

Não acredita no que está se passando,

algo bem superior o atingiu desta vez

com a apocalíptica missão que vai rolando.

 

Coisa do Mal? O vírus desconhece o Bem e o Mal;

dessa vez num mundo muito mais tecnológico,

sua natureza é letal.

 

Compromete a vida,

talvez não mate,

mas cada sequela é uma ferida.

 

Tira o brilho do humano,

a energia fica prejudicada;

o mutante é tentativa do vírus para maior dano.

 

De sua invisibilidade

vai adaptando-se para infectar

e prejudicar a realidade.

 

Algumas estruturas criadas pela Humanidade

começam a revelar-se como insuficientes,

o humano agarrar-se à ilusão de sua mente.

 

O vírus revela as fraquezas do humano,

as reais dimensões de seu viver e fracasso de conviver,

desnuda o egoismo e sua máscara de pano.

 

Deixa a civilização a descoberto,

exposta ao caminho da Natureza,

o mundo está ficando com o crânio mais aberto. 

 

 

Não sabendo de onde veio nem para onde vai,

o sapiens-asno debate-se com seus ismos

e o egoísmo o traí.

 

Incapaz de transcender,

mente para si mesmo,

talvez já questione o sobreviver.

 

Procura manter o normal ,

incapaz de pensar  melhor,

afunda-se no anormal. 

 

Não quer parar,

morre agarrado no osso,

pensa levar Rhodes para onde vai afinal morar.

 

Seja lá como for, para cada um há chance de defesa:

não aglomerar, usar máscara, distância, isolamento,

higiene pessoal, não dar ao vírus moleza.

 

Mutante Mutantis

o mesmo medo e apreensão

de Letícia a Recife, do Chuí a São Luis.

 

O mutante segue seu caminho,

não tem compaixão, desconhece qualquer bondade,

nem se espera dele qualquer ato de carinho. 

 

 

 Odilon  Reinhardt.

 

 

 

 

                  O que realmente sabemos? . “ Scio Nescio”.

 

Mal sabemos de nossa própria realidade. Quando sabemos sobre algo divulgado sobre o cada vez mais complicado caleidoscópio da cidade e do mundo, sabemos ou vemos a ponta do iceberg, um naco de realidade, sempre manipulada ou mal contada e submetida a nossa própria carga de valores e discernimento. Certo que haja um limitado espaço físico e de tempo em cada unidade da indústria de telecomunicações para divulgação determinando tais sínteses. Do que já aconteceu, portanto, passado, e de toda sua complexidade e completude, mais de 90% fica no “backstage”, nos bastidores. A ponta do iceberg quando vai ao jornal falado ou escrito já passou por vários filtros de interesse, conveniências e tendências ideológicas de momento e capacidade de atrair a audiência com sensação. Assim a liberdade de imprensa tem os limites que a própria imprensa escolhe ter.

O que ficou abaixo do nível d´água, atrás do palco dos acontecimentos, no lixo dos filtros usados, nunca virará notícia de modo que a ponta do iceberg é, muitas vezes, feita de duas ou três linhas ou dois ou três segundos. O resto desparece, nunca existirá na tela ou na folha, mas se pode ter em mente: há mais circo nos bastidores do que no picadeiro. E só uma camada altamente informada, acima da população e de muitos setores, sabe o que verdadeiramente rolou filtro abaixo, deixando para efetiva publicação rastros, indícios, frases subliminares que a audiência deverá usar de sua discricionariedade para captar, entender e processar. Num país de semianalfabetos, pode-se arriscar a dizer que grande parte do noticiado não é entendido, razão que acelerou o sumiço dos jornais e revistas. O noticiário agora na TV e rádio ainda tem vocabulário inatingível para muitos e está endereçado para as pessoas em setores bem definidos. A grande maioria come tudo com farofa e vai dormir.

E mais, no jogo de interesses diários, muitas realidades nem chegam a ser filtradas, nem chegam a ser um tico de notícia, porque não interessa sua divulgação ou porque há um processo ainda em formação que fica se acumulando nos bastidores até que um dia tudo explode como “breaking news”, uma bomba, um escândalo que surpreende todos os lares e setores do país.

Essa indústria que pode derrubar Governos em dias, que pode criar crises institucionais danosas, que joga autoridades contra autoridades etc, tem um poder sem igual. Mas vem sempre enfrentando desafios com o surgimento de instrumentos do mundo virtual que se aproveitou da situação de analfabetismo e explora o dueto imagem-discurso simples.

Para a indústria da comunicação, um grande desafio é não deixar a fonte de notícias ficar fora de controle e ultrapassada. Grandes agências distribuidores de notícias para o mundo jornalístico enfrentam hoje o poder do mundo virtual, as firmas arrivistas que dominam o mundo do celular, a TV de mão. A fonte de notícias, antes bem centralizada em duas ou mais agências internacionais, está passando para a mão de milhares de repórteres em qualquer lugar a qualquer tempo. Presidentes, autoridades, populares ao redor do mundo podem ser a fonte de notícia em primeira mão, fazendo notícias nas redes sociais, divulgando imagens, frases retumbantes e provocativas à total revelia da imprensa. Escapam da filtragem e controle dos meios tradicionais de comunicação, aos quais resta somente detalhar a posteriori o que já foi divulgado pelo “twitter” e redes sociais, etc. Isto não é mais tendência, é realidade posta e exige que a indústria da comunicação se atualize diariamente.

E a indústria o faz investindo em meios digitais com sucesso. Os sites e canais de notícias fazem as vezes do jornal de papel. Com seus shows de revista em programas de notícias permanentes com debates entre jornalistas, o dia todo, estão à disposição dos interessados, principalmente pessoal da própria imprensa e de setores governamentais e partidos políticos, poucos do povo. Nestes programas, para quem tem recursos intelectuais fica mais visível e fácil perceber o viés ideológico de cada emissora. Por via oral, isto ficou mais presente e explícito.

É o poder de fogo da indústria de comunicações, que, no afã de manter o poder, procura se adaptar, mas continua a se dirigir pelas coordenadas da despesa, das tendências ideológicas, da necessidade de garantir audiência com forte nota de sensacionalismo e o tempo de programação, agora toda na TV. Mesmo assim para o noticiário que vai ao grande público, dentro de tais limites, de fácil, vendível e movediça demarcação, a chamada imprensa falada, tem a oportunidade de selecionar notícias e formar seus icebergs de acordo com o vento de seus interesses, geralmente tomando parte em briga de cachorro grande nas realidades de grupos econômicos e políticos. Em meio a notícias de trânsito, violência, clima e esportes, há uma seleta quantidade de notícias, com imagens e curtas frases, que invadem a casa do cidadão em horas de refeição, deixando-o boquiaberto ou estarrecido ou nervoso ou ainda mais insatisfeito, mesmo que não entenda muito do que se trata. O cenário vem se repetindo a décadas, pois direta ou indiretamente, a sucessão de certas notícias só contribuí para formação de uma imagem negativa das instituições, de seus ocupantes e da vida pública em geral. Cria-se um Leviatã, alimenta-se sua imagem negativa, empurrando-se goela a baixo do espectador a ideia de um Estado e de uma sociedade que precisa reformulação. Que modelo de reformulação? Um imaginário ou real modelo libertário de artistas, ditado por forças interesseiras e para atender interesses externos, como se a realidade não fosse a lenta criação, o produto histórico do próprio povo guiado pelos próprios meios de comunicação? Batalha-se por um niilismo inconsequente? Falam em liberdade, em libertar mas não sabem o que propor de útil, próspero e positivo.

Seja lá como for, tudo apresenta-se na casa do telespectador na sua hora de repouso e recolhimento. Como uma ducha ideológica diária, o prato é servido frio ou quente, cabendo ao telespectador, sobrevivente, olhar o desfile de icebergs com sínteses da vida diária, montada pela vista e ideologia da emissora. Imagens se sucedem numa sequência acompanhada de uma narrativa impregnada de interesses e meias palavras. Costumeiramente, há o uso de fotos pela metade, no ângulo desejado e escolhido pela emissora, jamais retratando o todo. A manipulação é evidente, não deixando sobras para a livre interpretação, especialmente num país onde a imagem fala mais do que uma biblioteca inteira. As imagens precisa, corresponder exatamente ao discurso tendencioso de cada emissora. A toda hora há essa manipulação de cenários políticos e econômicos como um exemplo de agressão à inteligência, ao bom senso e instinto da população.

Diz a imprensa em geral que não faz notícia, só as divulga. É um jargão usado, mas na prática, a indústria tem o poder de escolher e  moldar tudo, ao seu prazer. Entre tantas outras estratégias, também é visível o método de procurar notícias. Assim, quando a realidade apresenta uma pausa, uma falta de notícias, vê-se a imprensa cavando para fazer confusão e polêmica, forçando debates, intrigas, usando frases ou palavras extraídas de discursos ou falas de diferentes contextos. A indústria faz notícia, elege temas para o dia, criando relevância, provocando instabilidade. E também, agindo em associação momentânea com os interessados de determinado setor, criam “bois de piranha” para distrair a atenção da audiência enquanto algo vai passando de maior relevância. Tudo bem coordenado. Neste sentido, há uma programação diária e bem cronometrada, mas se o interesse for superior e concentrado num simples “parafuso”, horas ou até o dia inteiro será dedicado ao “parafuso” e ao longo do dia uma sequência de repórteres vai se suceder na tela, um repetindo o anterior e avançando um pouco mais, até saturar o tema. Há uma espetacular habilidade de não deixar nem um segundo sem palavra. A missão é encher o ouvido do cidadão 100% , fazendo sua cabeça tanto quanto o possível em aulas diárias de pessimismo e degradação.

No que possam pesar todas as intrigas, futricas, polêmicas inúteis e críticas, a TV como veículo mais usado pela indústria de comunicações é o primeiro poder do país e serviço público de primeira necessidade, pelo que não se pode condenar a programação da TV como um todo só por causa dos noticiários e nestes a parte política e econômica, muito embora os noticiários é que contaminam a atitude da audiência. No entanto, há itens de grande relevância na programação, dignos de premiações mundiais. O campo é feito de altos e baixos, medíocres como a vida.

Assim como o noticiário é só uma pequena porcentagem da programação, as “fake news” são só uma exceção e as redes sociais são só parte do mundo virtual, a TV e tudo mais são uma maravilha insubstituível, basta saber usar. Ali o Bem e o Mal também existem e exigem consciência e discernimento. O maior poder ainda é o do consumidor que pode apertar o botão de liga ou desliga, de modo que o noticiário para o consumidor é um evento sem o qual, a vida pode continuar tal e qual. Mas é sempre um desafio ao discernimento. É diária canseira para o telespectador, que acaba mudando de canal ou desliga a TV no aposento em que esteja ou a da mão. Como sustentar que a população não tem memória, se muitas vezes a TV em seu coquetel confuso nem é mais assistida?

Num país que ficou sendo de pouca escrita e leitura, a questão é saber quantas pessoas continuam assistindo o noticiário. A juventude? Dificilmente. Qual parte das classes econômicas? Por quanto tempo? O fato é que com a sistemática ducha de negativismo, notícias ruins e degradantes, alavancada pela Pandemia, a exaustão do telespectador é visível. Mas os noticiários não mudam, continuam no jogo de repetir mentiras. Quando falam a verdade, a desconfiança é tanta que só gera dúvida. A verdade ninguém parece mais querer mostrar. Vale mesmo o iludir, o fazer o show, o usar sofismas, pois ao final “se pegar pegou”. Amanhã é outro dia. Ao povo as batatas e um voto de dois em dois anos. E já há tantos que não votam para mostrar protesto. Não votar é protestar? O protesto é contra si, contra tudo, contra a vida, tal a insatisfação existente?

O fato é que a própria indústria está saturando a sociedade, esgotando os limites do sensacional, do fantástico, do horrível e do maravilhoso. Está criando seu próprio descrédito, contra o qual terá que gastar milhões para poder prosseguir. Vendeu a alma e agora tem uma crise de identidade sem precedentes. A pergunta é até onde tudo isto contribuí para um clima de prosperidade para incentivar as pessoas a progredir. A quem interessa esta atitude sistemática de destruição. Que ordem afinal querem impor. 

E mais, como visto, a TV com seu poder tendencioso, manipulador, tem que obrigatoriamente cativar a audiência, pelo que deve seguir o caminho do povo, tentando ser aceita em sua realidade. Sem audiência, sem anunciantes. Se o noticiário não agrada, há outros programas, novelas, filmes, reportagens entremeadas por publicidade pesada, por onde permeiam mensagens igualmente carregadas de ideologia. Pois, com toda certeza o individualismo, o pragmatismo, utilitarismo, o foco no egoísmo e o desejo niilista não foram passados as últimas gerações na escola ou de boca em boca. Quem incentivou tais “ismos”, senão os meios de comunicação e as agências de publicidade e marketing? Quais outros instrumentos teriam sido utilizados pelos mestres invisíveis para promover alterações profundas no pensar das últimas gerações? O mundo virtual? Não, este quando surgiu já pegou o trem andando e só serve de instrumento estimulador do que já vinha sendo implantado. Nem se pode ficar espantado com resultados de tal pregação, como a cultura de excluir pessoas discordantes ( cultura do cancelamento) e a necessidade de reunir-se em grupos que buscam identidade (identitarismo), para suas ideias e intolerância. São meros desdobramentos do egoismo e do individualismo. Então, a literatura? Não mesmo, num país onde pouco se lê e milhares nem sabem ler o vocabulário mais abstrato. O descrédito foi sendo criado pela própria indústria que abusou ao modelar a sociedade com ismos instáveis e de difícil controle. Gerou distração, contestação, rebelião intelectual e nada colocou de útil. Gerou pessoas que sofrem as consequências das suas inúmeras deficiências, e agora encaram tudo com indiferença e desconsideração, passos superiores do cansaço, exaustão. A população está dando as costas ao mundo formal, aos modelos positivos e produtivos. Cuidado Brasil. O castelo está ficando isolado do vilarejo.

A falta de uma educação formal de boa qualidade e completa expôs, por décadas, a população às lições obtusas de mestres invisíveis. A fase eufórica da curiosidade em ver a TV está acabando. Nem mesmo o noticiário e programas mais “intelectuais” que falem da política e sistemas mais complexos e de vocabulário mais elevado estão chamando a atenção de quem só pode entender. Isto logo vai fazer com que a TV termine ou reduza o tempo no noticiário das frases fortemente carregadas de sua ideologia etc. Talvez a indústria vá abandonar ou reduzir o nível de tais itens da programação, perdendo o interesse dos setores pagantes e interessados em plantar mentiras e realidades que só a eles interessa, deixando isto para os canais específicos de notícias, que só serão acessados pelos realmente interessados e não mais impostos à população em geral. Assim, como a indústria da comunicação depende da grande audiência, a diretiva é seguir o caminho da população e sendo esta deficiente em letras, a perspectiva é de contínuo rebaixamento do nível gramático, cultural e visual, buscando cada vez mais aproximação do telespectador. Quem reclama do nível de hoje, ficará estarrecido a cada ano, pois o “ caminho do sucesso” é ajoelhar-se ao nível da população. A questão é saber quem ainda não desligou a TV na hora do noticiário? Quem já desligou a TV por mais de um mês? Quem já não assiste TV? Qual o alcance das notícias para além da classe média baixa? Talvez nem a TV esteja chamando a atenção como um todo? Como a desconsideração já está se tornando realidade?

Ora, quem diria? Quando surgiu a TV, dizia-se que o rádio iria ser eliminado. Não aconteceu. O rádio manteve seu império colado à população, no nível dela. Ali o noticiário é resumido, exprimido entre música e comerciais. Num país de enorme oralidade, o rádio persiste com enorme importância, com muito menos carga ideológica e sem a mesma ênfase teatral e tendenciosa dos âncoras de televisão, que diariamente fazem o papel de intérprete das notícias, mastigando-as para o telespectador. O rádio informa com mais objetividade e suas sínteses são mais honestas, seus icebergs menores, mais rasos e transparentes.

Mas no todo, com rádio, celular e TV, a indústria da comunicação peca pelo modo de espalhar notícias e acaba criando o descrédito e uma saturação. Novos caminhos terão que ser achados, pois o serviço é imprescindível por vários aspectos e para a democracia. Fala-se em notícias de qualidade como tendência a ser perseguida, todavia o analfabetismo é a maior barreira. Sem Educação formal, sem vocabulário, cria-se um espaço cada vez maior entre o mundo formal e a população de todas as classes sociais. Isto só contribui para concentrar a intelectualidade e expor a população a uma escravização das ideias que sejam geradas por um restrito grupo. Fica cada vez mais fácil manipular as massas e o indivíduo. Que liberdade vale mais senão a de pensar e decidir livremente? Talvez em já tendo observado isto, é que algumas gerações já decidiram desligar a TV comum para sempre, mas mal sabem que ao entregar-se à TV de mão e todos seus instrumentos, estão trocando  alhos por bugalhos e ficando ainda mais expostos aos “ismos” já mencionados, pois ali é o domínio total dos mestres invisíveis e supranacionais.

No que possam pesar todas as platitudes aqui reunidas, o fato é que se alguém da população desejar saber algo sobre trânsito, polícia, clima, política ou economia, só conta com a opção de assistir ou acessar o noticiário. Para diminuir o Scio Nescio ( Só sei que nada sei), a alternativa é encarar o desfiles de icebergs e tentar decifrar o que ali está em meio ao caleidoscópio diário da vida diária entre notícias que se contradizem e que desafiam o fácil entendimento. Quem persiste assistindo sem esta habilidade, corre o risco comum de se estressar e até agravar problemas cardíacos, pois o noticiário é fonte certa de preocupação, negativismo, instabilidade emocional, intranquilidade social e pessoal. Para muitos a maior defesa é desligar a TV ou trocar de canal e assim alienar-se para viver com avestruz, todavia, ilusoriamente melhor e evitando que forças invisíveis lhe façam a cabeça, a de seus filhos e família. Mas em tempos como os atuais, até que ponto este desligar não interfere no combate à Pandemia? Considerando que a TV passou a fazer o papel de Diário Oficial do Município e do Estado, alienação provocada pela própria TV, pode prejudicar em muito a adoção e implantação de medidas de proteção à saúde. Sem a TV, na cidade, grande ou pequena, não se sabe de nada. Devido ao histórico de abuso da indústria de comunicação, em tempos  cruciais, quando a Nação precisa da TV, em muitos lares ela está desligada para o noticiário ou para sempre.

Ancorada em tal necessidade popular de saber para satisfazer a curiosidade humana, a indústria de comunicação prossegue em seu roteiro, que sofre, agora com mais intensidade, as mudanças na população que ela mesma em parte idealizou e ajudou a implantar, sem tomar os devidos cuidados quanto à natureza humana. Pensou que podia dominar totalmente, mas esqueceu da liberdade inata ao humano, que no papel de consumidor, cidadão, eleitor pode ter só um voto, mas tem dez dedos para apertar o botão de “desligar”. O cidadão, mesmo condicionado pelo sensacionalismo diariamente alimentado, querendo ver sangue e o Mal, algo que lhe assegure a visão de sua situação pessoal não é única e que há sempre lago pior, está saturado, opta pelo não saber, uma sentença de morte  para a indústria da comunicação.

Vem se firmando, ao meu ver, algo muito grave. A população exausta e uma juventude desorientada não quer participar, não quer saber, não se interessa, procura virar as costas para tudo de oficial e formal e adota a atitude da desconsideração. Isto explica em parte o que estão fazendo em suas atitudes tresloucadas durante a Pandemia.

 

Odilon Reinhardt. 3.3.21