quinta-feira, 3 de junho de 2021

Reflexos Humanos da Pandemia.

 






                                       Reflexos Humanos da Pandemia.

                                   Fala-se em ondas do Corona, mas 

                                qual  onda que vem sendo menosprezada?



Estar por dentro.


O que anda rosnando

por dentro das pessoas

e está incomodando?


Cansado de se distanciar,

triste quanto ao isolamento,

exausto quanto ao não aglomerar.


Estressado de não poder abraçar,

estafado de não poder beijar,

tudo a perturbar.


Desmotivado pelo não-fazer,

chocado pelos fatos,

devastado pelo medo de falecer.


Estarrecido com os números e dados,

paralisado por danos financeiros,

irritado com os dias parados.


Atordoado com os cancelamentos,

assustado com os afastamentos,

desconsertado com os desaparecimentos.


Abatido com a falta de mobilidade,

derrotado pela saudade,

desolado com as perspectivas.


Pasmado em não poder usufruir da amizade,

perplexo com a falta do falar face a face,

devastado em sentir a liberdade limitada.


Surpreso com a realidade de muitas pessoas,

estupefato diante do horizonte diminuído,

arruinado por danos espirituais.


Desacorçoado com as reações humanas,

pessimista quanto ao novo normal,

intoxicado pela TV .


Atropelado por tantos eventos negativos,

desalentado pelas más notícias por tanto tempo,

desesperado pela falta de meios de sobrevivência.


Isto é que se aglomera,

é a máscara que sufoca,

dentro da mente nesta hora.


Tudo faz esse mundo

dentro da pessoa

de um jeito nada mudo.


Dúvidas, incertezas,

confissões e confusões externas,

a mente procura certezas.


Mas uma delas está agora bem identificada

muitas pessoas já estavam distanciadas,

mascaradas, isoladas sem saber de nada.


E por outro lado ,


há pessoas equilibradas

que conseguem ver tudo como lição

e aprender com a vida em horas desequilibradas.


Entusiasmadas com as perspectivas e seus sinais,

satisfeitas com suas revelações internas,

emocionado com seus sinais de progresso espirituais.


Contente com algumas amizades que sobreviveram,

alegres com a persistência de algumas,

estimuladas com os bons aspectos das realidades que surgiram.


Motivadas pela visão positiva do futuro,

deslumbradas com a ciência humana,

maravilhadas com um caminho mais seguro.


Extasiadas com as previsões positivas,

seduzidas com as adaptações para um novo normal,

encantadas com suas medidas ativas.


Admiradas diante das reações do mundo,

esperançosas quanto às mudanças que virão,

otimistas quanto a uma solução de fundo.


A Pandemia criou desordem

das coisas e do comportamento

e deixou a necessidade de outra ordem.


Mas como todas as sensações geradas

vão alterar a estrutura do pensar

e deixar as pessoas mais equilibradas?


Que novos pensamentos surgirão,

que orientação vai criar ideias melhores,

como a Humanidade e as pessoas prosseguirão?


Odilon Reinhardt.



Silêncio das gentes.



Há um silêncio engolido,

todo dia por muita gente,

pelo cidadão comprimido.


Silêncio dos inocentes,

dos justos, dos que trabalham ,

silêncio escondido nas mentes.


Vão todos com este silêncio, mudos,

a violência ,o medo do Próximo ,

na rua , nas empresas , atrás dos muros.


Silêncio que coexiste por detrás

dos ruídos da cidade , nas ruas e avenidas,

atrás das consequências que ela traz.


Vamos todos assim,

empurrando, carregando,

um silêncio que vive assim.


Silêncio que vive em cada conflito,

em cada acidente, em cada murro na cara,

em cada tiro da mente, coisa pessoal, aflito.


Muitos são os sons do silêncio,

que matam, que machucam, que violam

que andam pela cidade em silêncio.


Até quando haverá

esse silêncio ,

até quando cada um suportará ?


O som deste silêncio cresce,

invade ruas, casas e lares

e a realidade desce

para inferiores patamares.


Ninguém mais escapa,

o silêncio invade a Serenidade

e o que resta é uma capa,

um parecer em cada idade.


Quando ando sobre pedras em ruas,

vendo grades e muros, alarmes e câmaras,

vejo realidades nuas,

de um silêncio em tons duros de muitas caras. .


O silêncio das buzinas, dos motores,

de pessoas em ambulâncias barulhentas,

dos pensamentos em mentes confusas,

a cidade em silêncio grita suas dores.


E assim vou andando ,

escrevo e digo coisas em silêncio

e as pessoas vão passando,

fazendo barulho, mas repletas de silêncio.


Ruas e praças, corredores da vida,

dobram-se ao silêncio da cidade,

que ecoa num movimento de ida

e realiza-se e quebra-se em verdade.


Teatros, shows cancelados para pessoas,

e um só silêncio coexistindo mesmo ao som da TV,

um algo escondido que une todas

e uma existência se esvaindo.


Escutem o barulho da cidade,

é fruto de um silêncio que está matando,

acabando com a Humanidade,

porque no fundo as pessoas estão falando.


Odilon Reinhardt.




Quando se olha o país e suas maravilhas geográficas, somos levados a pensar na vida que ocupa tal diversidade. Uma existência de seres humanos em muito variegada e de diversa origem. Antigos estrangeiros e novos estrangeiros, todos procurando dinheiro e estabilidade para a vida na luta pelo amanhã melhor. Até que ponto tal diversidade garante amor à Pátria e seus valores há muito tempo firmados? Toda está “estrangeirisse” realmente tem amor pelo Brasil ou está conectada com seus ninhos de além mar? Seus negócios e comportamento refletem isto? Diante da experiência histórica até aqui acumulada e vendo tanta riqueza, tempo, talento e energia desperdiçadas, é de se questionar se muito dessa imigração em sua versão, nos últimos 80 anos, considera estar aqui ou nunca considerou ser daqui. Até que ponto não está ainda ligada ao espírito aventureiro, colonial de enricar, voltar a sua terra natal? Isto explicaria muitos dos negócios cediços aos interesses estrangeiros em detrimento do desenvolvimento do país e o fato de esta terra envidar esforços e nunca chegar ao desejado progresso sustentável? Talvez sim, talvez em parte. Há espaço para xenofobia entre novos e velhos imigrantes? Todavia, certamente, muito político vende-se aos interesses estrangeiros que fazem do país a feirinha R$1,99 de produtos de quinta qualidade, insumos de dependência e campo de teste de remédios, etc. Talvez em parte isto explique porque o país vive sempre dando “voos de galinha” como disse Ermírio de Moraes e está sempre a esmo, sujeito a eventos de fora e seus desígnios; sempre mendigando pelo mundo, para que comprem seus produtos da roça e do solo a preço feito com o aviltamento da moeda para ser mais barato ao estrangeiro.


Seja lá como for, qual a razão deste engasgo, deste encalhe sistemático? Na tentativa de resposta, a quantos por quês e porquês chegariam as indagações?


A este ponto da História, causas já viraram consequências e estas por sua vez causas. Não faltariam razões, explicações sociológicas, políticas, econômicas, filosóficas. Certamente muitos pesquisadores devem estar à caça de razões que expliquem esta realidade posta. Seja lá ter sido ela formada ao longo do tempo pela corrupção, falta de amor ao Próximo, o capitalismo selvagem, a religião com tendência socialista e seus reflexos no pensamento popular, adoção de filosofias capengas e defasadas, mixagem racial, educação precária e descaso do Governo nesta área, avanço do marxismo, a política de esquerda ou de direita, qualidade da imigração recebida, processo democrático ainda em implantação, evolução social ainda atrasada, falta de patriotismo, diversidades regionais, reflexos os problemas sociais até hoje com pouca solução, o ego do ser humano, seja a mistura formada por tudo que foi acima mencionado, o fato é que a tal altura da História, a situação que está se agravando já é preocupação bastante para criar instabilidade e insegurança quanto ao futuro. Igualmente é fato concreto que somos uma população vivendo nesta terra com o que ela tem e pode dar num processo de contínuo desperdício. Seja lá o que nos impede, seja a política, a cultura, a burocracia, o analfabetismo, o umbigo, mereceríamos, só pelo tamanho, estar mais desenvolvidos, todavia encalhamos na estrada seja pela direita seja pela esquerda, nada vai para a frente. Nem o centro da estrada vai a lugar algum.

Aproveitando-se da realidade já instalada há décadas, as forças exteriores, as mesmas mencionadas por Jânio Quadros, só vem criando dependência técnica, científica e econômica acelerada pelas consequências humanas que vemos em evidência agora com a Pandemia. Em acréscimo, há a contribuição do marketing e dos meios de comunicação, que estimulados pelo comportamento e discurso confuso e tendencioso de políticos fisiológicos e funcionários públicos do alto escalão, não perdem tempo em avacalhar com a imagem do país, montando diariamente um consenso contra as instituições e formatando a mente do cidadão, o que certamente deve deixar satisfeitos os interessados internos e externos com seus propósitos variados para facilitar negócios e ideologias. Cuidado. Cresce a insatisfação e tudo tem começo, meio e fim. Está onda vem se formando há várias décadas.

A TV, tipo de diário oficial tendencioso, faz notícia de qualquer pedaço de frase vinda de qualquer autoridade, recheando tudo com tendências ideológicas e empurrando tal alimento para o povo diariamente, o qual não tem como saber se as palavras de uma autoridade efetivamente são só uma expressão oral de momento ou se foram efetivamente formalizadas em documentos que movem a máquina pública como decretos, portarias, ordens de serviço etc. A TV faz seu diário tribunal de inquisição e condenação, mas contrasta notícias, faz retificações; já alguns jornais são verdadeiros donos da verdade, carregam fatos com suas tendências ideológicas e políticas e de modo algum as desmentem ou dão voz à contrariedade; infestam a visão do mundo político com informações suas, tomadas como verdades absolutas, inatacáveis, deixando a outra parte sem defesa, seja lá quem for e como for. Isto explica bem as contradições entre a sentença dada pela imprensa, sem processo, e as sentenças judiciais. Em permanente contradição, o povo se irrita sem entender a lógica diferente das duas realidades. Numa, a lógica forçada por tendências ideológicas, políticas de momento, conveniências; na outra, a lógica jurídica, com a realidade dos papéis anexados ao processo na guerra de capacidades dos advogados e seus argumentos perante as provas efetivamente ali existentes e as interpretações judiciais dos juízes, campo livre para a formação de estruturas lógicas nem sempre razoáveis, mas certamente sempre a serviço de alguém. Basta mencionar que se as provas não foram produzidas legalmente, tudo é nulo e o réu é solto, não importando a gravidade de seu delito, o que, para o povo, é difícil entender. Fica a mensagem errônea de que o crime pode compensar. Afinal, em permanente clima da crise econômica, a falta de ética, moral, seria precipitado afirmar que a realidade é feita de muita má-fé, ganha-ganha, ganhar sem muito trabalhar, tirar proveito se possível do Governo, vender-se etc., etc? Em tudo, há a confirmação da teoria da conspiração, é o país do golpe, da mumunha, da maracutaia, do ganho fácil. Absolutamente tudo e todos são vistos com desconfiança.

O fato é que a mídia, no conjunto, da obra de sua obra, vai fazendo uma imagem cumulativa de desgaste que sendo passada para o ao povo, mira, numa visão curta, atingir um ou outro político, mas sempre vai desgastando o Estado Brasileiro como um todo. Diante ,por vezes, errônea visão, o cidadão, não podendo reagir, a não ser com 1 voto, vira as costas ou se rebela em pequenos atos de insatisfação.

Diante dos péssimos resultados que vem se formando desde a década de 1980, o quadro em formação mexe direto no bolso do cidadão e atinge diretamente as panelas de sua casa e suas necessidades de família. Esta é a espoleta mais sensível e suficiente para a insatisfação e sua reação por parte até mesmo do mais pacato pai de família e adolescente.

As causas e tendências em andamento que tinham passo lento antes da Pandemia e que construíam o suporte para a insatisfação generalizada, gerando até desconsideração quanto ao espírito público, mas que eram de certo modo neutralizadas ou amenizadas por compensações aqui e ali ajustadas, agora ficam em evidencia e pressionam a imaginação popular e seus sonhos de prosperidade. O fato que se observa em cenas do cotidiano é que ninguém mais quer saber de explicações, promessas e razões; prevalece o espírito de boiada a estourar; em todas as classes sociais não há satisfação e os meios de compensação começam a rarear.

Um descontrole social de massa nunca leva a nada de bom, só traz más escolhas e erros estratégicos para a própria boiada, que mal conduzida ou mesmo quando sem líder, não vê opções e pode errar radicalmente nos caminhos a escolher seja pelo voto, seja pela inconsequente baderna das ruas ou pela desconsideração quanto à lei e instituições.

Políticos enrolados em seus umbigos vaidosos e gananciosos, miram a massa, mas esquecem que esta está dando as costas e pode estourar por estourar, o que não aproveita a ninguém, a não ser os promotores das mensagens sublimares de constante desmoralização do país e sua gente, avançando cada vez mais agressivamente sobre a juventude e novas gerações com ideologias do nada, libertárias e sem propósito próspero para o país.

Os reflexos humanos da Pandemia certamente vão falar mais alto que os danos à Economia. Preocupam-se todos com o sistema, a sua máquina produtiva e a circulação do dinheiro, colocando o humano como mero e manipulável consumidor, eleitor, cidadão, sempre em segundo plano. Com ou sem Pandemia, o mundo está mudando e os jovens das novas gerações, internautas de nascimento, com maior acesso ao mundo melhor e suas realidades podem ser um item de surpresas; vendo as discrepâncias, diversidades e desigualdades irão os jovens aceitar as misérias do existir sem reagir, sem desistir, sem fugir? E que reações irão ter, senão a desconsideração do interesse público ou a inconsequente revolta? Um jovem sem Educação de qualidade poderá recuperar o tempo perdido? O tempo a curto prazo dirá.

A sistemática desmoralização do País, movimento de décadas a favor de interesses externos ou internos não revelados, está agora colocando o “Frankstein” de pé e não apresentou nenhuma solução para ao caminho a tomar. Só contestação, só persistente crítica e descrédito diário. Será que pensaram que não iria ter consequências? O alquebrado Leviatã ainda é o centro do Poder e poderá reagir com mais confirmação de autoridade e poder.

A juventude poderá se rebelar sem obter nada além de mais insucesso. Em todo caso nada dá sinal de futuro próspero e saudável. Há um silêncio nas ruas e nas casas, marcados pela exaustão do fisiológico, acelerado pela Pandemia, mas motivado por insatisfação existencial anterior; espoleta para reações improdutivas. A silenciosa desconsideração ou a rebelião em nada serão produtivas para o país, que progride lentamente mesmo assim, mas perdendo energia e mão de obra e tornando seus cidadãos uma manada tosca, inflexível, conservadora de suas próprias concepções atrasadas, intolerante, pragmática, utilitarista, seguidora e tarefeira, desejando democracia para poder expressar seu egoísmo livre e abertamente uns contra os outros. Nada de prosperidade sadia e sustentável, nada de progresso intelectual, nada ainda do Brasil que está imaginado na Constituição.

Estaria em preparo, não uma Primavera Árabe, mas uma inédita “Primavera Humana” ou latina? Uma revolta talvez silenciosa, mas potente, virtual, jovem, para realizar mais uma jornada esperançosa? Tudo fica no talvez do tempo passando, enquanto as estruturas do capital prosseguem com seus erros, um deles a cegueira, porque não vem a juventude virtual, preocupada com sua época futura que logo vem chegando com negações múltiplas quanto a seus desejos e sonhos de consumo, criados pelo próprio e inevitável sistema de capital.

Mas não há algo tão violento como que se preocupar, pois não será uma luta por ideologias, filosofias, será mais uma contestatória baderna como sempre, para que o sistema se atualize e atenda as reivindicações para ser mais sensível às necessidades básicas de sobrevivência para desesperançados seres humano; será talvez como sempre mais uma época de agitações movidas por questões básicas e fisiológicas de bolso e de bolsa, talvez no meio de gritos e janelas quebradas por democracia e liberdade, dentro do vago e difuso ideal libertário, sempre genérico e estratosférico para muitos e muitos de seus seguidores, com palavras cujos significados poucos dos lançadores de pedras tem cultura e educação para entender.

A verdadeira revolução que vai ocorrendo vem do silêncio do indivíduo e sua insatisfação genérica, resultando em posição contestatória não expressa, em silêncio estressante na desconsideração e permanente irreverência quanto à existência do Estado, mas sempre com reflexos quase sempre violentos na família, no trânsito, no emprego e nas horas de lazer. Reflete-se mais lenta e imperceptivelmente no relaxo pessoal, na falta de interesses pessoais e coletivos, na falta de vontade de estudar e prosperar, no modo de vestir, falar e pensar. Um modo de contestação autopunitiva, infantil. A ela junta-se o modo de a mão de obra se comportar, gerando doenças psicossomáticas que refletem na saúde pessoal e de coletiva. Mas tudo isto nunca é atribuído a causas gerais mas, sim, as causas individuais. Há sempre esta visão, por parte das autoridades e da mídia, que é amenizadora; nada é entendido como grave e coletivo. Até quando poderá ser encoberto o sol com a peneira? Nunca se sabe se Nelson Rodrigues terá razão ao ter dito :”o Brasil conhecerá a selvageria antes de conhecer a civilização”.Quem vai surfar nesta onda?

Odilon Reinhardt 3.6.2021