Reflexos e consequências.
Nesta tragédia, há alguma estratégia?
Perguntas que estão em todos lugares.
Nunca ficou tão clara
a necessidade de saber
fazer o dia de forma tão rara.
Nunca foi a sorte
algo tão exigido ,
tendo tornado-se um norte.
Nunca foi tão requisitado
caprichar no viver e no conviver,
para sobreviver no dia ameaçado.
Milhões de remédios para garantir a vida temerária,
seríamos todos alienígenas,
agora perante uma vingança interplanetária?
O dia presente é o que conseguimos,
sobrevivemos até a noite,
com o número sorteado que pela manhã recebemos.
É também, o passaporte para a noite seguinte,
por ora com direito a respirar
e seguir as medidas evitando ficar doente.
Mas todo dia há essa loteria,
quem fica, quem vai,
a sorte sai em cada instante do dia.
Números e estatísticas,
confusões e manipulações;
previsões cabalísticas?
A roleta é girada,
qualquer descuido
e a vida é tirada.
Impasse e dúvida,
a cada saída de casa,
pode ser o fim da vida.
Apreensão e incerteza,
estou levando para casa
essa tristeza?
É sempre bom acordar nomeio da noite
e sentir-se inteiro, poder respirar,
constatar que o Covid não nos deu seu açoite.
Há instabilidade entre o ser e o estar,
um dia ser, no outro não ser mais
e a vida rápida é acelerada em seu passar.
A crise amplia verdades,
prematuramente para muitas gerações,
mostra realidades de várias fases e idades.
Qual o efeito de tal velocidade,
que ações e reações serão determinadas,
por uma possível nova mentalidade?
A cada dia em especial,
essa tragédia,
a suspeita quanto a uma viagem final.
A vida segue
assim, refém,
prisioneira do provável
viajar ao Além.
Todas as invenções
as criações humanas espirituais
têm força enfraquecida por más reações.
Crenças, convicções, a lógica e boas orientações,
agora esperanças submetidas à sorte;
orações , boas ações , só ilusões.
Nada afasta a possibilidade
da infecção, da morte;
a vida quase horrível.
O risco no ato de respirar,
probabilidades e possibilidades,
se cruzam no ato de se movimentar.
O Tribunal da Covid, com sentenças,
o hospital como câmara de execução,
figuras que miram as massas.
Que tipo de Justiça é aplicada?
Se rico, pobre, inteligente ou não,
cheio de bens , sem bens , a vida já adiantada?
Os absolvidos são iguais a qualquer comum,
há desconfiança geral,
não há privilégios para nenhum.
Somos todos reféns da tortura da invisibilidade,
todos os atos são suspeitos,
a vida corre nessa realidade.
Resulta tudo em medo de perder amplificado,
gera ansiedade , agonia,
há permanente apreensão pelo tempo contaminada.
O terror no ar,
quantos dias ainda ,
quem pode contar?
Cada pessoa nestas horas,
tem que se agarrar em algo
e muitos tem pouco neste agora.
O vazio cheio de contínuo nada
é o que muitos tem para preencher o dia;
continua uma exposição danada.
Exaustos, pressionados pelas necessidades,
o perigo é a banalização do mal,
com a fantasiosa criação da volta às normalidades.
Aumentará a sensação de se estar vivendo
por um fio;
todo minuto percebe-se o risco crescendo.
Para muitos o mundo
para o qual foram feitos
está indo embora a cada segundo.
Mesmo depois dessa Pandemia,
valerá o recado que já foi dado,
só restará viver o máximo de cada dia.
E cada dia será tudo,
será a vida e o mundo,
talvez o último gole de tudo.
Para alguns serão tempos para o desapego,
inevitável desprendimento,
a serenidade em uso contra o ego.
Para muitos ainda o apego,
o culto ao desespero, medo, agonia;
enfim o jogo do ego.
Mas para todos, sempre haverá a dúvida do viver:
estou na última semana , no último dia,
estou na lista, é a última hora antes do morrer?
Já estamos no mundo de dias de diminuída
perspectiva,
a ciência contra o vírus e vice-versa;
na luta quem embarcará hoje para a viagem coletiva?
Quem já está na lista,
há desistentes, absolvidos, reserva cancelada,
vale algo o
pagamento à vista?
Embarque a qualquer hora,
ida sem retorno,
quem vai nesta semana agora?
Afinal o Mal vence o Bem,
termina assim a
grande ilusão,
a Terra é mesmo só
local de passagem?
Foi atingido
o limite animal da existência,
o que há no ainda não definido?
Isto tudo já estava desenhado,
era para acontecer
e a vida tem este fim acelerado?
A Humanidade perdeu a oportunidade
de se aproximar da essência de Luz, Paz e
Compaixão;
passou e não viu nada , só maldade?
A qualidade da existência
agora em provação vestibular
e dependente da ciência.
Vamos todos para o
Sol , energia,
há outra dimensão,
ou tudo se encerra aqui com esta pobre convivência.
Quais sejam as respostas ,
o Vírus está cruel, pensa, se adapta, faz mutações,
e leva todos com perguntas já de longe expostas.
Mesmo nessa
nova tragédia humana,
estratégias seguem uma a uma,
há uma guerra que dificilmente nos irmana.
As diferenças são mantidas,
raízes animais e fisiológicas fortes,
por tudo políticas e bestiais intrigas.
Sinais de que pouco mudará
para os que sobreviverem
na Terra que continuará?
Certamente novas tecnologias,
necessidades virtuais , reais forçadas,
alguns novos comportamentos decorrentes dos
materiais.
A confirmação e reforços da tendência
pragmática, calculista, fria e utilitária,
sempre de pouca consciência?
Mas sem dúvida os mesmos pensamentos,
o mesmo
jugo, a mesma fonte de encrencas,
o peso dos defeitos em vários desentendimentos.
É a Humanidade dos últimos 3 mil anos,
tentando evoluir , seguir,
mas sempre com muitos enganos e tropeços.
Segue a Terra com vida tão prática,
tão bonita no verde e no azul , sendo devastada,
que local é este na ordem galáctica?
A vida continuará nesta mesma dimensão
cheia de interrogações , observações, evoluções,
mas com respostas
limitadas por nossa razão.
E um dia na TV alguém sem máscara aparecerá
dizendo que a Pandemia passou,
mas que máscara ainda usará?
Será que o mundo
para o qual foi feito
não estará sumindo?
Por hora, a
todo momento, uma indagação,
ainda verei as pessoas que me são caras?
Talvez nunca mais, é uma má sensação.
Do amanhã ninguém tem adivinhação
assim como ninguém previu o Covid
e agora temos esta devastação.
A saga do asno-sapiens segue,
muita odisseia dos tontos, muito inferninho à
noite;
mas uma grande vontade de viver prossegue.
O analfabetismo BR1900 e o sua mais comum variante,
o semianalfabetismo BR2000, podem ser objeto de “negacionismo?”. Quem se
arrisca a tentar? Tais fatores são
evidentes, presentes e inconsequentes geradores de realidade, todavia vêm sendo
banalizados e raramente tidos como componentes comuns de tudo, mas nunca s]é considerado como
uma das mais importantes justificativas são considerados como fontes esclarecedoras
dos fatos da vida comum e do persistente rebaixamento do nível intelectual
coletivo, o qual diariamente perde batalhas para o fisiologismo. Lentos, vêm tendo
seu desenvolver. Sua vulgarização tem cores de um modo de vida já aceito.
Durante a pandemia, ambos “ismos” tiveram sua
manifestação ressaltada. Milhares nem sabem o que é um vírus, uma bactéria ou
coisa assim, nem entendem as palavras usadas pela imprensa nem as usadas em entrevistas pelo pessoal da
saúde, daí tanto desrespeitar as normas de segurança. A pandemia favoreceu-se
desses “ismos”, mas vai passar. Já os “ismos” vão continuar, piores talvez,
sofrendo as consequências de quase dois anos de tragédia educacional.
Empobrecemos.
Tendências estão sendo aceleradas, entre elas todo
o complexo de defeitos sociais, econômicos e políticos que estimulam e enfatizam
a alienação da grande maioria quanto ao que acontece na vida. Já se abandona a
ideia de que o cidadão solo possa representar interesse público geral. Em horas
de físico ameaçado, o umbigo de cada um é o centro do Universo e o indivíduo
refugia-se em ações e reações de desconsideração civil, a qual, em certo ponto,
descamba para um abandono pessoal e descaso com a própria vida, não antes de
passar pela etapa de eliminação da vontade de aprimorar-se para crescer com
sustentabilidade e ter profissão, muitas atividades de preparo já raras no dia
a dia. Quantos milhares não veem utilidade alguma no estudar, na leitura, no
escrever como atividades de aprimoramento pessoal e com o tempo se tornam
vítimas de tal descaso e sofrem as consequências econômicas decorrentes, o que
é seguido de revolta e insatisfação. Quantos lares não têm um livro, 1 caneta
ou mesmo papel para escrever? Que tipo de cidadão está nesta roda, que mão de
obra está sendo comprometida?
Políticos e empresários, todos extraídos da massa
popular, pouco priorizam a Educação, eis que desta tão pouco participaram, não
fazendo ela para eles um elemento importante para a vida no dia a dia, que é
tão orientada pela pobreza do fazer, do seguir e do copiar. Uns pensando só na
reeleição, outros no acumular.
Pouco a pouco, era antes o passo do normal. Agora
um novo normal é feito de um modo mais acelerado, enquanto a mão de obra
empobrece e se despedaça. Milhares morreram, milhares são os vitimados,
milhares são os desqualificados. A
qualidade dos que ficaram espelha a
qualidade do que não é feito, do que é mal feito e refeito ou talvez nunca
refeito.
O analfabetismo e o semianalfabetismo que diminuem
a luz, o discernimento, as chances de esclarecimento, que vivem do
fisiologismo, das reações e ações animalescas de proteção, e que estimulam o
radicalismo, a falta de flexibilização, o pragmatismo conservador, que gera
comportamento tosco, aparecem na mão de obra do dia a dia e no modo de pensar,
agir e sentir , fazendo uma vida desleixada, negligente, contaminada, que vive
na indústria, nos serviços mal prestados, no desinteresse pelo bem do Próximo,
no ódio social, na família, na mediocridade de tudo e no nivelamento por baixo.
E mais, dificultam a qualificação e
formam uma forte barreira contra o progresso e o uso de boas práticas em
qualquer setor.
Não é raro que os processos de admissão estejam
sendo amenizados em suas exigências, que os treinamentos empresariais sempre
tenham sido vistos como solução educativa e que mesmo assim milhares não
consigam ser contratados nem se manter no emprego. Como adição a esta
problemática, há a informatização, a robotização, que na indústria e em grandes
fazendas geram desemprego e mais pobreza para as cidades e suas periferias. Devido ao atraso causado pela má qualificação
básica, há um atraso ou até impossibilidade de inclusão da mão de obra no mundo
virtual, pelo que várias funções e profissões são mantidas somente para
garantir postos de trabalho. O país fica no atraso, fica caro e cada vez mais
sem competitividade.
A Pandemia mata o corpo; o analfabetismo e o
semianalfabetismo criam mortos-vivos, deixando a morte (para o cérebro diante
dos prejuízos com a exclusão e impotência) para acontecer progressivamente
e a vida de insatisfação como
herança. Nada pior do que sentir-se
incapaz e nada poder fazer. Não há nada
mais maléfico para um país do que a Educação que não é considerada como
prioridade ou é manipulada por ideologias de momento. Sem educação livre e de
qualidade geral, ficam assegurados todos os defeitos humanos que contaminam o
modo de trabalhar, de viver, de fazer política, de sobreviver e de
governar.
O erro repete-se por décadas, consequências são
tomadas por causas. Atua-se em consequências e nunca nas causas. Cria-se um imbróglio
de maus resultados; tentativas metodológicas dão em nada e agravam o problema
humano. Ao mesmo tempo o mundo avança, os estereótipos de progresso fazem
pressão sobre o jovem consumidor e os empurra para a marginalização face à falta
de poder aquisitivo, o qual só aumenta, gerando ações e reações típicas como
solução desesperada: o crime material, para adquirir, para ter para acumular; o
crime passional para não perder o poder de controlar ou de simplesmente não
perder ou deixar de ganhar; o crime pessoal de abandonar-se. Enfim, a violência
diária.
O capitalismo vive de democracia, igualdade de
escolher para todos, em votar, em comprar.
Dois vértices que são mal conduzidos e entre nós têm levado ao cume
depressivo da alienação. Tudo na vida tem começo, meio e fim. O começo foi dado
há longo tempo, o meio é a chance de concertar e consertar. No meio, todos
deveriam participar, não só os espertos políticos e gananciosos acumuladores. O
fim é explorado de todos os modos.
Garantir a democracia é prioridade número um, mas
há interesses muito avermelhados que querem que os meios na fase do meio sejam
distorcidos e conduzidos para seus interesses bem excludentes e impregnados de
servilismo a ideologias já ultrapassadas. O fim do processo ameaça estar próximo,
mas num país tão complexo, qualquer tentativa de finalização não passa de mais
um esboço. É o que nos garante contra uma definitiva posição. Temos letargia em
admitir um fim, portanto gostamos do meio, do imbróglio, da indefinição onde
tudo pode ser manipulado.
Todavia, no meio, há aspectos de grande seriedade.
Quando os pais, por vários motivos sociais, delegam toda a educação para a escola, e a escola é um local
cheio de defeitos e doenças, onde causas são consequências e vice e versa, o
sintoma de cada doença já não é mais sintoma, é no conjunto uma doença por si só, que já instalada exige um
tratamento delicado. Um país pode entrar em décadas de atraso por problemas
econômicos, mas pode permanecer séculos em decadência, se seus cidadãos se
desqualificarem em um número cada vez maior.
Quando escolas fracassam em atrair os jovens para o
estudo, como fator de alavancagem pessoal e passo para o caminho de
qualificação, a doença já começa a entrar no estado terminal. Fatores múltiplos
fizeram as pessoas desistirem de ser algo, fazendo uma sociedade que está doente; os
filhos não acham nos estudos e na escola o imã para a prosperidade pessoal.
Livros, escola etc. Muito demorado, muito abstrato,
muito sem objetivo, muito em descompasso como a velocidade do que se deseja ter
de imediato: dinheiro, bens. Ansiedade, impetuosidade e mil outros aspectos
doentes, inclusive a má nutrição, não ajudam em nada. O discurso de professores,
até bem intencionados, e outros revoltados, pertence a um mundo que não casa
com a realidade que os jovens querem apressadamente ter. Neste quadro, uma
pandemia de qualquer vírus é mero detalhe. Como as novas gerações, com seus
pensamentos e ideais dessa qualidade vão gerenciar a vida e fazer o futuro, é
uma indagação. O meio do processo estará
sempre em ebulição e a realidade será feita dessa confusão,até que o conjunto
dos indivíduos ache um fim,possivelmente o mais negligente possível.
Nenhum país, sem oferecer um imã progresso pessoal
para que sua juventude e cidadãos possam escolher, pode livrar-se da
dependência e da escravidão intelectual e das graves consequências decorrentes.
Há algum modo mais eficiente de detonar o futuro? Com o analfabetismo e o
conveniente semianalfabetismo, fica garantido que o país será mantido pequeno,
domado por interesses de poucos de dentro e de fora. Mas isto só será
efetivamente visto como assunto relevante quando a falta de ciência e de estudo
afetar todos os cantos essenciais do sistema decisório e vital, público e
privado, pessoal e coletivo,
estabelecendo, em grau mais acentuado, o império da incompetência e está
seja intolerável. Se não houver alguma melhora, isto tudo será a realidade
plena para as gerações futuras. E estas vão consumir a realidade de uma sociedade
dos iguais, num sistema comum em que
todos, de todas as classes sociais, serão facilmente manipulados por uma
realidade virtual totalitária, controlada por alguns.
Apesar de tudo, não somos uma Nação de idiotas.
Embora a Educação tenha sido relegada ao segundo plano no campo da qualidade e
a desqualificação, para os modos do mercado, deixem a desejar, temos muitos
talentos, crianças de grande potencial, somos aptos à criatividade, ao livre
pensamento fora da caixinha do racionalismo pragmático. O que preocupa sempre é
o recorrente mau uso que é feito da
escola ( local que deveria ser usado para identificação de talentos). A nossa
maior possibilidade de reação positiva e próspera é desperdiçada, jogada fora.
Mesmo que persistam as campanhas sistemáticas de
rebaixamento de tudo que é nacional, em confronto pessoal com jovens no campo
internacional, temos recursos pessoais suficientes para o sucesso.
Só resta acreditar nisso e investir na Educação
livre, universal, que desenvolva a pessoa no seu modo de pensar livre. A politização
do educar é uma expressão impiedosa e vem do totalitarismo.
Por vezes, já ficou demonstrado que nossa
capacidade de improvisação é infindável, temos o jeitinho brasileiro. Enquanto
livres do racionalismo, pragmatismo, utilitarismo mercantil, sabemos achar
soluções inéditas. É quase que dizer que temos a liberdade do “ignorante”, da
criança antes de ir para a escola. Outro sinal é a nossa flexibilização
criativa, que está no fato de que aqui tudo de fora é customizado. Nem o
comunismo nem o terrorismo aqui deram certo. Nada aqui é copiado inteiramente
do modo que é importado e imposto ( como
os interessados em nos destruir desejam) . Talvez seja por isso que até
agora não fomos engolidos por nenhuma ideologia. Somos muito grandes, muito
diversos. Todavia, a campanha para mudar para a “ bitolação” é grande, forte
para que façamos parte da grande massa de idiotas mundiais.
Em milhões de jovens, em novas gerações, todos
esperam por oportunidades, bons modelos e orientações honestas para prosperar,
fazer a vida, ser feliz desenvolvendo seus talentos.
Por que e por quanto tempo um bom imã lhes será
dificultado? Quem está por trás do não deixar isto acontecer?
A pandemia já causou estragos na Educação, ainda
reversíveis, mas a Educação será pior se o novo normal neste campo continuar a
ser a mesma negligência.
Assim, apesar de todo o jogo de interesses, de
todos os bois-de –piranha, de todas as manipulações e ilusões geradas pelo
marketing na mídia, há uma linha mestra que está sendo seguida e onde poucos
podem observar a perda de energia da manada, o negativismo sistemático e a
falta de um imã de progresso pessoal e coletivo sustentável. Está difícil e
ainda não nos livramos da síndrome do
cachorro vira-lata. Até quando isto será realidade e quais as consequências
mais graves?
Odilon Reinhardt. 3.8.2021.