sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Um dia chegaremos lá?

 




                                                               
                                                                 ( foto Odilon Reinhardt)



                                                            ( obra de Eduardo Kobra -revista Veja)


                             Um dia chegaremos lá? Mas onde chegaremos desse jeito?                                                    Mais um voo de galinha?

 

 

Até 2/9/21 são: no Mundo 219 milhões de casos e 4.500 milhões de mortos; Brasil, 20.378.570 casos e 569.492 mortes.  No meio de tudo para os sobreviventes,  cabe perguntar: 

 

E a antiga e diária melodia?

 

 

No meio dessa pandemia,

o que já se viu ,

vê-se ainda todo dia.

 

Muito afastamento.

Houve o cancelar, o distanciar,

surgiu o separar, muito ressentimento.

 

Tudo em rudes e toscos movimentos,

com o esquecer.

Maus momentos.

 

“Como vai você? “

é agora pergunta rara,

nessa falta de entendimento.

 

“Bom dia! Tudo bem!”

expressão mais esquecida ainda,

mas sempre cheia de brilhante energia.

 

“Estou bem e você?”

mais raridade em questão,

como se algo estranho fosse.

 

A melodia dos encontros na existência

vai perdendo um pouco de harmonia

e o sapiens afasta-se mais da essência.

 

Nos relacionamentos

vai faltando algo especial,

os antigos sentimentos.

 

Os dias e o tempo vão passando,

a lista de eliminações aumenta,

e há muito que vai acabando.

 

E assim vão os humanos,

fazendo máscaras,

cancelando seus manos.

 

“Como vai você?

Bom dia, !!! Tudo bem?

Estou bem e você?”

 

Esta é a mais bela melodia,

que muitos vão querer resgatar

quando o normal voltar para o dia.

 

Incomparável musicalidade

que traz o tom fraterno

e melhora a realidade. 

 

Durante a pandemia

a pior das ações de cada dia

é cancelar  esta melodia.   

 

Odilon Reinhardt.

 

 Sem saber,

 

Aquele lanche no meio da manhã,

aquele jantar tão suave,

aquele passeio comendo maçã.

 

Sem saber,

aquela conversa,

era a última que se pode ter.

 

Aquele aceno na rua,

aquele aperto de mão,

aquela despedida vendo a lua.

 

Sem saber ,

tudo ficou na última página,

não se sabia nada sobre o morrer.

 

Mas Covid e sua invisibilidade

estava sempre rondando

em toda e qualquer realidade.

 

Espreita e ataca,

não escolhe função , nada,

quer matar e a TV o destaca.

 

Ele acompanhava o telefonema,

sabendo que seria

o último como no cinema .

 

Observava alguém

que mandava um whatsapp,

sabendo ser o derradeiro também.

 

Via palavras ficarem no ar,

beijos e abraços que não chegariam,

o email nunca poderia chegar.

 

Aquele almoço de fim de semana,

aquela compra na segunda feira,

a última da vida, que drama.

 

Em silêncio via o que acabava,

com a romântica mensagem,

a reunião de trabalho que ali se findava.

 

Foi assim , sem saber,

que muita gente foi embora,

sem ver o próximo amanhecer.

 

Quem ficou na manhã,

lamenta não ter feito aquela ligação,

ter deixado para amanhã.  

Odilon Reinhardt.

 

 

Depois de tudo isso.

 

 

Serão dias de um novo rumo,

novas visões, ilusões,

intenções, presumo.

 

Talvez diferentes nos comportamentos,

não teremos mais o que éramos,

mas talvez melhores pensamentos.

 

O recado foi dado,

não precisa muito para ser entendido,

a vida está no modo acelerado.

 

O tempo, mergulhado em águas inseguras,

cada dia terá que ser valorizado,

em horas onde o amor e a felicidade são maduras.

 

Cada dia como se fosse o último,

sem desperdício de alegria e bons momentos,

até o fim nesse ritmo.

 

Não poupar expressões

de amor, de afeto,

viver e conviver sem repressões.

 

Viver amizades com intensidade,

não economizar nada,

fazer uma livre realidade. 

 

Quem já conquistou

a Luz, Paz e Compaixão

que faça o tempo a que chegou.

 

Odilon Reinhardt.

 

Em meio à pandemia, mortes, caso e suas sequelas, muitos órfãos, muitos dramas familiares, falências; a manipulação de informações,  a politização de tudo, com  políticos chamando os holofotes para si,  com os temas mais insignificantes; o escamotear  da verdade sobre o Vírus e seus mutantes assassinos, etc.

A galinha está ficando magra e perdendo peso. O voo perde a direção. Se era a galinha dos ovos de ouro para muitos, agora é a de poucos.

Criam-se bois de piranha para distrair, não a população porque está virando as costas para o noticiário político, mas os cidadãos ainda politizados. O foco da TV é colocado em problemas momentâneos, costurados a qualquer custo para comporem cenários de crise e que possam “sensacionalizar” todo e qualquer o momento. Eventos político-partidários, falsas contextualizações, manipulações fraseológicas e de imagens; o país vai passando na tela de fundo, trôpego e carregando seus problemas fundamentais.

Se a pandemia trouxe um tempo de reflexão pessoal e até empresarial, deveria também ser um tempo de revisão para o  modo de gerenciamento da vida do país. Onde vamos com esse modo de fazer política e de divulgar seus eventos? Seria o tempo de rever os sistemas, os processos; repensar tudo quanto a sua eficácia em resultados para os objetivos constitucionais,mas não parece que a Pandemia esteja sendo usada para isto. Talvez, depois. Talvez, intelectuais e pensadores estejam acumulando suas impressões para depois contribuir. Talvez surja uma grande start-up. Caso contrário, será mais um evento que só foi usado para beneficiar os mais expertos.

Não está descartada a hipótese de que a pobreza intelectual venha a emergir com mais força. O fato é que Rui Barbosa no começo do século passado já resumiu tudo no seguinte: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”

 

Não seria este o momento para refletir sobre o que e como temos obtido ou desperdiçado energia até agora? Vamos continuar no mesmo? Há pessoas dedicadas, sérias, que passam a vida repetindo processos antiquados, gastando energia em nunca pensar no seu próprio desperdício existencial. Seguem assim, sem inovação alguma, colocam-se como meros seguidores. Em nada inovam.  Acomoda-se no fazer dos antecessores. Agora já se revela que não basta só repetir, quando o que é repetido já está defasado. Veja-se o que acontece em muitas Universidades públicas quanto ao curriculum, método, aulas etc., tudo já era. O mesmo acontece com um país, soma da realidade e esforços de seus cidadãos. O encalhe diante da História começa com os resultados pífios. Os ímpetos progressistas são como voos de galinha e nada é permanente quando o país continua se enrolando em sua burocracia, interesses menores e intenções pouco claras.

Tudo indica que, em alguns setores de mando, não temos união, que estamos cada vez mais polarizados por diversas razões, mas todas frutos de nossa mediocridade e falta de pensar melhor. Não estamos mais acompanhando os países de sucesso na Ásia, Europa e América do Norte por falta de investimento em Educação e Ciência. Os Governos e alguns Poderes formam um só Leviatã gordo, lento, caro, antiquado em sistemas. Essa Entidade consome-se e dorme em palácios altistas, está cheio de incapacidades e negócios internos. Embaraça a produção, não fornece imãs de progresso. Se o país sobrevive, é pela força de seus empresários, aqueles que se arriscam a inovar, ir em frente, apostar no futuro, mas que sentem na pele as deficiências existentes, todas decorrentes de um histórico de maus tratos da coisa pública, muito origina do costume  de oficializar interesses privados tornando-os públicos de momento.  A força do empresariado já foi comprovada em vários eventos, reage, impulsiona, sobrevive, avança. É energia boa, de progresso. Quem e o que a diminuí? Quem responder chegará ao centro do problema. Puxando o fio da meada chegará à ovelha mãe no curral; constatará que o novelo vem de várias ovelhas.

Não iremos a lugar nenhum se os sistemas existentes continuarem a ser compostos de procedimentos que gerem comportamentos orientados para: ganhar rápido para trabalhar menos; obter o mais alto lucro antes; tirar proveito de cargo público; produzir sem compromisso com a saúde do consumidor; tirar vantagem pessoal de tudo; fazer tudo só por dinheiro; cultuar o eu primeiro, os outros depois; esquecer o patriotismo e o amor ao Próximo; usar a burocracia para criar problemas e vender soluções; manter os Três Poderes com ranço barroco e bem monárquico, onde funcionário pagos com dinheiro do contribuinte só se preocupam com prestígio, vaidades funcionais, e nunca com a legitimidade e eficácia em suas tarefas ;  manter uma imprensa, mídia e marketing na dependência de recursos públicos, etc. A lista é longa; será certamente objeto de estudo por pensadores e intelectuais?

O certo é que o papel do Governo não é produzir. Deve viver  nas costas da indústria, comércio e população, todavia seu papel de regulador é medíocre, tendencioso e cheio de interesses duvidosos ou incompetentes.  O resultado de décadas deu no que está dando. Há alguém satisfeito? Alguns sim. O coletivo não.  Só seguimos a mesma cartilha há anos. Ninguém questiona a qualidade do conteúdo. Se todos devem seguir a lei, o problema está então na qualidade do sistema adotado. Este é que gera comportamentos.      

Todos os números estatísticos são ruins. Assustam. Quando alguns são piores, ficam péssimos quando se imagina quais seriam os patamares que poderiam ter sido alcançados com sistemas melhores.

Mesmo a indústria e comércio, grande empreendimentos foram feitos por motivos meramente egoísticos do empreendedor, favorecidos pelo protecionismo, benefícios fiscais, monopólios, centralismo estatal, reservas de mercado, privilégios políticos, corrupção, concessão de empréstimos duvidosos etc. São como que castelos de areia que não resistirão à concorrência que uma abertura econômica trará. Ademais, o custo-Brasil, basicamente é feito para pagar a folha de pagamento de repartições, onde funcionários altamente remunerados são conduzidos a uma  pandega confortável e  sempre estão exercitando seus poderes pessoais em “inferninhos funcionais” de Poder e injustificável ganância, talvez um exercício que esconde seu espírito de empreendedor e luta represados ou frustrados.       

Os piores números vão chegando, mas pouco é feito. O Leviatã não se mexe, só segura verbas e centraliza.  Não sai da realidade que é de eterno gerenciamento de crise, apagar fogueiras. Não há estabilidade para poder progredir e prosperar.  Tampouco tem ânimo para criar estímulos e imãs de progresso para os cidadãos. 

O fato é que o tempo passa e o nivelamento por baixo está fazendo outras realidades que começam a atingir o modo de sentir, pensar e agir da população. Todos os setores começam a ser atingidos pela praga da mão de obra desqualificada.

Já passou da hora de repensar país. No jogo direita /esquerda em  estreitos corredores palacianos e nas palavras da mídia, qual o avanço? Só descrédito, esmorecimento, dúvidas e incertezas. Quanto jovens de talento estão à deriva, jogando fora o potencial? Mas tal desconcertante realidade não é vista como problema nacional, mas como problema pessoal, assim como tudo que ocorre no país, embora decorra da mesma fonte. 

Seja lá como for, para milhares de cidadãos comuns, em suas casas, empresas,ruas e praças, o que importa é a vida do dia a dia, parte da Pátria, que comporta o perigoso invisível no muito que vai acontecendo e formatando a vida . Nas proximidades do tempo, já despontam possivelmente trechos mais duros economicamente e dias politicamente agitados. Nada diferente do passado, mas sempre tiros ao ar para atrapalhar o voo, mesmo o da galinha. E a imprensa nada confortavelmente, promovendo só o negativo e cativando o sensacionalismo.

Mas apesar de tudo que a mídia usa para montar cenários sensacionalistas e alargar crises, tendo como fonte principal a atividade das autoridades, sem o que não teria nem 90% de suas notícias, o país, à parte, tira vantagem de sua diversificação e mostra ainda grande força de recuperação. Saímos de inúmeras crises no passado. Eram crises econômicas. Agora temos uma crise humana, decorrente da Educação, do esmorecimento, do abandono por falta de bons modelos e estímulos.  Vamos sair dessa também, mas com mais tempo. Urge que se comece a dar sinais de projetos de prosperidade pessoal, modelos superiores de progresso. Isto ficará a cargo da mídia e dos mestres invisíveis?

Temos que acreditar nisso. Fé e esperança aqui sempre foram mais importantes. Pão e Circo de todos nós.

À espera de um imã de progresso que estimule as pessoas a pensar positivamente, que a galinha pouse em paz e perceba que seus voos estão cada vez mais curtos e os locais de pouso mais insustentáveis.

Odilon Reinhardt. 3.9.2021