segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Não vai dar em nada.

 

                           





                                       " Não vai dar em nada!"

  

Até 2/1/22 são: no Brasil, 22.300.000 casos e 619.000 mortes; no mundo 290.000.000  casos e 5.440.000 de  mortes.    

No Brasil uma pausa para o Natal e verão, esperando os resultados de uma louca euforia para Fevereiro e Março. Se nada ou pouco acontecer, somos privilegiados. 


Depois de 2 anos.

 

 

 

Até algumas saudades acabam,

algumas esperanças vão embora,

imagens se dissipam.

 

O tempo cancela,

distancia,

a vida se revela.

 

Retratos ficam desgastados,

sentimentos desistem do futuro,

cancelamentos são efetuados.

 

Instantes, horas do passado

ficam ainda querendo futuro,

mas não preenchem ao dia assustado.

 

Necessidades se esfarelam;

mas há consequências espirituais

que para o interior avançam.

 

No fundo há toques de lamentação

e seu prático e útil viver,

não mascara a crescente solidão.

 

Mas o tempo e a vida reagem,

novas amizades, novos conhecimentos,

talvez surjam, talvez algo de novo mostrem.

 

Sempre há atração do ser pelo ser,

mesmo que o ter varie,

a fraternidade mostra sempre mais poder.

 

A vida será revalorizada ,

novos tempos do tempo,

e novos tempos para a vida.

 

O brilho do sol sempre marca

a nova manhã que veio do amanhã

e a humanidade tem a fortuna da arca.    

Os velhos e bons tempos.

 

Abraços partidos,

beijos que ficaram no ar,

acenos e separados.

 

Malas amontoadas,

corpos que se afastam,

olhares distanciados.

 

E o avião não partiu,

o navio não saiu da barra,

o ônibus não sumiu.

 

No momento tudo ficou parado,

memórias acumuladas,

o ar contaminado.

 

Cada um no seu trajeto,

cada trajeto em rumos diferentes,

a vida separando e tomando jeito. 

 

Consequências humanas

no seco, na marra,

torturas desumanas.

 

Quantos foram afetados

pelo distanciar , pelo esquecer,

pelo se deixar esquecer pelos afastados?

 

Mas logo tudo isto vai acabar!

Nada mais dos 2 metros de distanciamento.

Voltaremos aos bons 6 metros ou mais do se distanciar.

 

Por que fingir, são os velhos tempos

do fingir que não viu, do desviar o olhar;

os normais velhos e bons tempos!?

Odilon Reinhardt

 

 

Os velhos e bons tempos.

 

 

Abraços partidos,

beijos que ficaram no ar,

acenos e separados.

 

Malas amontoadas,

corpos que se afastam,

olhares distanciados.

 

E o avião não partiu,

o navio não saiu da barra,

o ônibus não sumiu.

 

No momento tudo ficou parado,

memórias acumuladas,

o ar contaminado.

 

Cada um no seu trajeto,

cada trajeto em rumos diferentes,

a vida separando e tomando jeito. 

 

Consequências humanas

no seco, na marra,

torturas desumanas.

 

Quantos foram afetados

pelo distanciar , pelo esquecer,

pelo se deixar esquecer pelos afastados?

 

Mas logo tudo isto vai acabar!

Nada mais dos 2 metros de distanciamento.

Voltaremos aos bons 6 metros ou mais do se distanciar.

 

Por que fingir, são os velhos tempos

do fingir que não viu, do desviar o olhar;

os normais velhos e bons tempos!?

Odilon Reinhardt

 

 

Afinal.

 

 

Tirou a máscara,

mas havia tantas outras

que não podia tirar.

 

Mostrou a face,

mas havia tantas outras

que não podia mostrar.

 

Procurou amigos e conhecidos,

mas havia muitos

que não adiantava mais procurar.

 

Reviu seu mundo,

mas havia outro

que não conseguiu rever.

 

Mascarou a solidão,

mas havia algo mais

que não conseguiu mascarar.

 

Repassou seu tempo,

mas havia um tempo

que não havia como repassar.

 

Descobriu que o muito humano

havia cansado de si mesmo,

ainda havia então razões a descobrir.

 

E isto era razão para continuar,

mas agora, como sobrevivente,

continuou seu pensar. 

 

Tinha ainda a curiosidade

para ver ações em cada dia

e sem isto nada mais poderia ter.

Odilon Reinhardt

 

 

 

Hordas invasoras.

 

 

E não há sossego,

há permanente ameaça,

medo desconfiança , não nego.

 

Ninguém nega,

o vírus retraí e avança,

impõe o pega -pega.

 

Lança seus filhotes,

sabujos caçadores,

querem matar sob holofotes.

 

A ciência humana

mantida no limite ,

a vida humana sacode e se abana.

 

Os sistemas ficam em foco,

a arrogância e o orgulho,

a ganância e seu troco.

 

O insubstituível império do dinheiro

no altar dos sacrifícios

e o humano no ego costumeiro.

 

O mundo gira,

fecham-se portas e janelas,

a vida ao futuro e à sorte se atira.

 

Em pausas concedidas

o vírus deixa o humano se espraiar,

enquanto faz tramas ardidas.

 

Novos ataques contra a vida,

2022 e o mundo não pára,

não há saída.

 

Nem da Lua nem de Marte,

a vida é da Terra

e o vírus quer sua morte.

 

Hordas invasoras,

inteligentes, invisíveis, donas do ar,

com adaptações, querem ser vencedoras.

 

Variantes se unem 

,confundem , atacam,

nunca se desunem.

 

Aprimoram sua ciência,

o humano usa a sua,

a solução escapa do individual.

 

Guerra dos mundos,

vidas em jogo , fins diversos,

armas invisíveis em agentes profundos.

 

O humano  na defensiva,

só sabe se defender,

não ataca de forma ativa.

 

A condição de refém permanente

gera o estado de alerta

e aos poucos afeta a vida completamente.

 

Mas a ciência ainda atacará,

fará com que as hordas inimigas recuem

o remédio chegará.

 Odilon Reinhardt.

 

E segue o mundo e o mundo de cada um com sua vida no contexto da Pandemia. Toca-se a vida e a vida toca muita gente. A vida continua no seu tranco,  feito pelo povo e sua cultura. Há sínteses do bom senso humano que forma a sabedoria popular de uso corrente e que vai de boca em boca em frases comuns como a que diz" Não vai dar em nada!". Frase muito usada pelas pessoas diante de fatos e processos da vida comum que apresentem alguma novidade no cotidiano. Um modo de sentenciar, já de início, qualquer procedimento muito complexo aos olhos da simplicidade.

" Não vai dar em nada !" é exclamação recorrente e generalista, usada para exprimir descrédito quanto a qualquer assunto ou factóide gerado pela mídia ou político; retrata, com pureza de espírito, a falta de crédito quanto ao coletivo e é marca registrada para justificar o desligamento e libertação pessoal quanto aos assuntos de interesse mais comum. Não funciona em assuntos entre humanos e a Natureza, mas funciona plenamente em assuntos inteiramente humanos como a política, de modo que podemos ser o país com síndrome de vira-lata, onde realmente "não vai dar em nada". Não faltam exemplos da História para certificar tal frase. O reparo que se pode fazer para a maioria dos casos é complementar" ou seja “não vai dar em nada de bom", já que qualquer ação ou reação acaba sempre resultando em algo.

No jogo entre o que a mídia divulga ( sempre com apressado sensacionalismo sobre notícias de corrupção ,etc.) e as demoradas decisões judiciais, há uma quebra da lógica criada pela mídia com  suas sentenças antecipadas e a posterior sentença do Juízo. Portanto, a pureza da frase original " não vai dar em nada " é mantida intacta, já que grandes tubarões sempre se safam e são beneficiados com um bom resultado para seus delitos. A impunidade conseguida com jogos e manobras judiciais de expertos advogados assegura que mesmo que tenha havido a corrupção, com  explícito dano ao país e repercussões diretas e indiretas na vida do cidadão, o tubarão seja libertado da rede e nada tranquilo, esnobando a imprensa e rindo de tudo, como se nada tivesse lhe tirado o passaporte para "roubar". Vira-se a página e o tubarão vive o seu bom momento. Não deu nada de bom para o país, para a população, mas deu tudo de bom para o beneficiado, que volta a ser aclamado como Robin Hood. A mídia cala-se, ajoelha-se e amedronta-se com sua tão defendida liberdade de imprensa. O cercadinho da política comemora, a classe permanece desunida, mas preservada, alguns da população ficam indignados,  suas expectativas ficam quebradas, mais uma vez numa sensação de impotência e de que efetivamente " não deu em nada". Valeu o " rouba mas faz". A esta conclusão juntam-se frases similares como " isto é coisa de jornal" , " isto é assim mesmo" e mais modernamente  " vai dar em pizza ". Caso encerrado.

Encerrado e sepultado. Afinal deve-se respeitar a Justiça no país. Indignação, perplexidade são palavras sem sentido direto, mas no fundo, cada cidadão vai colhendo raiva e muito ódio social contra os poderes implicados. Infelizmente, acabando extravazando tais sentimentos contra si mesmo, a família, os colegas de trabalho e o chefe, a qualidade do serviço, tudo com muito  abandono e negligência, muitas costas viradas e desconsideração social. Tudo vai somando-se lentamente e terá consequências macro ao longo do tempo na qualidade de vida do país.  As notícias, as más notícias, as da política e dos frequentes  comunicados de que " não deu em nada". Tudo vai compondo o estresse da sociedade.

Até onde iremos com isso tudo e até onde mais usaremos o " não vai dar em nada"  ou o " não vai dar em nada de bom " para o país?

Alguém já reuniu as múltiplas razões que estão por trás de tais exclamações? Ou não devemos nos preocupar porque " nada vai dar certo mesmo". 

Após mais de tantas décadas de notícias que não dão em nada, que só criam instabilidade e ansiedade, desconforto e tristeza popular, temos o negativismo como mola para a nossa estagnação pessoal, profissional e coletiva. Muito vai e volta, muito que nem vai , que não decola, muito sem nada na Educação e muitos aspectos que só geram comportamentos negativos.

Com a pandemia, constrição de grande porte, na mente do coletivo algo vai se acendendo e vai se apagando, vai se formando e calando mais uma vez porque a esta altura já se sabe que ao invés de se envolver pessoalmente o melhor é pensar que " não vai dar em nada". Modo cívico de virar as costas e desconsiderar o que é público para viver melhor e tocar a vida. Tal atitude dá ao pessoal do cercadinho a ampla liberdade de fazer o que desejar para seus bolsos.

Até quando será assim? Não se espere grandes reações, revoluções, nem comoções. A questão é até quando o país será mantido como elefante novo acorrentado. Até quando aguentará sem um imã de progresso coletivo seguro, de pensamento positivo, de otimismo e projetos de futuro bom, sustentável e confiável para se afirmar com orgulho que " vai dar certo".

Há um progresso material que vai ocorrendo. Compare-se o Brasil de 1960 ao de 1980, ao de agora. Mas muito mais teria sido atingido se não fosse o negativismo e a crença de que " não vai dar em nada", agora não só usado para eventos de corrupção, mas para processos de progresso pessoal, quando as pessoas deixam de procurar desenvolvimento pessoal e progresso para suas vidas não só material mas espiritual. Não se culpe a população pelo que ela foi condicionada a pensar, mas o sistema que gerou e gera os comportamentos.  

Certamente, um aspecto poluidor de grande monta para a mente está no fato de a mídia só enfatizar o aspecto negativo dos fatos e fotos da realidade do dia, procurando atingir o poder constituído, isso, por razões ideológicas e intenções poucos reveladas, que só alguns já identificaram. Querendo tira proveitos, o constante divulgar do lado mesquinho das coisas, o lado negativo, os defeitos etc., vai criando o desalento nacional e um clima de desgosto e o " não vai dar em nada" vai se reforçando e ganhando adeptos. O esmorecimento, a falta de firmeza, falta de autoconfiança etc., tiram muitos jovens da parada. Mas é de se questionar se a mídia realmente atinge a população, pois de anos para cá a mesma só vem sendo objeto de cancelamento. A cada dia menos leitores e tele-espectadores de noticiários. Só ela seria a responsável pelo condicionamento da visão e da mentalidade desconfortável do negativismo? Que porcentagem da população é realmente atingida pela publicação? A imprensa e a mídia não têm falado para os mesmo de sempre, para os do cercadinho político e aos interessados de órgãos públicos e empresas públicas e de economia mista interessados em saber sobre política? Até que ponto é a realidade do bolso que efetivamente motiva e desmotiva o cidadão e cria a situação onde o negativismo é gritante? O clima nacional de variação regional tem vários motivos de surgimento: o bolso, a mídia , crenças  religiosas, a cultura embutida em nossos sistemas institucionais etc., mas o elemento mais significativo é a Educação. Ela é que faz nascer a frustração de projetos pessoais e sociais somando-se ao clima nacional de limitação. Ela é que dificulta o discernimento pessoal .

Aspecto grandemente afetado pelo Covid, a alquebrada Educação foi a mais danificada, permitindo-se projetar que os efeitos do Covid neste campo ficarão por vários anos na mão de obra nacional, produzindo efeitos devastadores no campo pessoal .

Infelizmente, o cidadão comum, impossibilitado de analisar sistemas mais gerais e abrangentes, que o condicionam, tendem a manifestar seu desagrado existencial através de ações medíocres que acabam por desabafar no próprio corpo ou na violência do trato com o Próximo, sendo esta última a mais explícita. Não é um aspecto exclusivo do Brasil, guardada a intensidade, é a vida real de todos os países ricos, pobres e miseráveis. 

Continuaremos a gastar polpudas verbas públicas em segurança , presídios e remédios, enquanto não resolvermos a questão da Educação, algo muito complexo perante o mercado de trabalho e o desafio de crescimento econômico.    

Odilon Reinhardt 3.1.2022.