quinta-feira, 3 de março de 2022

Sistemas, quem se toca?

 

 

 



Até 2/3/22 são: no Brasil, 28.800.000 casos e 650.000 mortes. No mundo são 440.000.000 casos e 5.970.000 mortes. O que o vírus se prepara para fazer em seguida? Arrumar as malas? Apresentar uma nova variante? Desistir ? Enquanto isto o humano se mosta igual e dando sinais de que não haverá  nenhum novo normal. 

 

                                    Sistemas, quem se toca?

 

Se somos um grande maioria de meros seguidores de algum modelo, de vários condicionamentos, então, é natural que devamos sempre encontrar uma liderança. Boa ou ruim, os resultados é que na marcha da História poderão dizer.

E é a boa liderança que tem faltado nas últimas décadas. Falta a liderança positiva, confiável, sustentável, honesta, de credibilidade, de apego aos bons valores de progresso e prosperidade. Coletivamente, o manto do pensamento negativo foi jogado sobre nós através de progressivas campanhas querendo nos atrofiar e manter cativos. Mas a necessidade e as discrepâncias, que afloraram com a divulgação de imagens e fatos, feita pelos variados meios de comunicação, propiciaram o espírito de comparação entre o mundo desenvolvido e os "em desenvolvimento". E são as novas gerações que não acreditam mais nas lideranças atuais, sobras resistentes de modelos antigos de políticas antiquadas. Segue então lideranças variadas de mestres invisíveis. Cria-se lentamente  um “ gap”, uma defasagem entre a realidade do país e o que as novas gerações  vão observando nas imagens e informações de outras terras das quais incorporam ,no mínimo, como desejo de consumo de alto padrão.

O gerenciamento do país não está totalmente voltado para tal aspecto. Infelizmente, as forças existentes na política nunca entrarão em consenso, daí a necessidade de garantir os processos democráticos, mesmo que parte da imprensa estimule o negativo, já que matéria prima para tal afã não falta, eis que as figuras de Poder ficarão por muito tempo ainda seguindo modelos defasados, mas que são o resultado da evolução da história e do modo de fazer política no país. Suas palavras, atitudes e comportamentos destoam e seguem uma lógica antiga.

Direita, centro, esquerda pertencem ao mesmo moinho, à mesma mentalidade de um cercadinho feito com muitos representantes megalomaníacos e egoístas, como consequência de sistemas igualmente fracassados.   A trama de interesses de pouca qualidade, derivados do "establisment", garante a mediocridade e impede o progresso livre e o ambiente próspero.

Onde  vai um país onde não se acredita em nada de mais elevado e onde há medo da prosperidade e do ter recursos, do ter posses e lucro, onda a raiva social é já velada atitude que intimida a vida?

Logo, teremos amplas demonstrações em mais um período em que "salvadores da pátria" se apresentarão como caudilhos, de palavras fortes, de discursos de impacto, de promessas firmes de mudança e creditáveis novos rumos. Palavras e palavras de escolhida retórica, mas incompreensível significado. Valerá, perante o povo, o tom utilizado, a força da resposta, o modo de atacar e se defender das investidas pessoais entre candidatos, pois mesmo que o começo da campanha assuma nível de discussão de ideias, logo o clima descamba para o fisiológico, nível mais palpável e compreensível por grande parte do eleitorado. No cipoal formado, a imprensa escolherá o Salvador e nele depositará suas forças tornando-o quase invencível.  E então haverá luz, esperança e fé de que "dessa vez vai!", embora já se saiba no íntimo do cidadão de que " não vai dar em nada de bom!" , pois após a posse os sistemas é que irão enquadrar o vencedor e este terá pouco espaço para inovar. A eleição é entrada para o baile seleto do Poder, com músicas já bem determinadas. Qualquer passo fora  e o baile vira confusão.

O teatro estará formado, forças mostrar-se-ão antagônicas, e as cenas garantirão um show pirotécnico de rojões fake e de palavras vazias e frases sem nexo, mas todas sob o manto de velado propósito: ser a solução para os problemas da Nação.  É ainda o espírito caudilhesco de Getúlio que se junta ao eufórico de Juscelino.

E a mesma encenação de décadas segue como um arquitetado movimento derrotista para manter tudo como está, como sempre foi, não deixar crescer, não sair do controle do cercadinho que vive e adora o entorno do Leviatã, falso, decadente, ultrapassado, guloso e incompetente, enganoso, manipulador e nunca transparente.  A dois meses da eleição ninguém sabe em quem vai votar; dois meses depois, não sabe mais em quem votou. A vida continua.

E nas vielas, nos barzinhos, nas academias e associações talvez continue alguém a perguntar a quem interessa ter o cidadão sem Educação, sem padrões elevados de prosperidade, sem modelos de progresso. Um cidadão sempre desmotivado, amassado? E mais, uma juventude sem perspectivas, a toda hora adotando falsos ídolos e modelos que não vão dar em nada de bom e já dão sinais de que o problema maior será o humano. Recuperar a mão de obra será o hercúleo desafio que o pessoal do cercadinho nem imagina que será tão catastrófico para a indústria e comércio. Mas o  problema prioritário é sempre a reeleição e seu financiamento, umbigo sem limite, principal ponto de corrupção.

Com o resultado desta política velha e corrupta, chegaremos logo a uma realidade em que empresas vão fechar ou deixar de ser abertas  por falta de mão de  obra; escolas não funcionarão sem professores, o mundo produtivo será paralisado por falta de operadores dos necessários meios computadorizados; hospitais fecharão por falta de pessoal qualificado. Mas isto fica para depois. O que interessa é garantir o voto, não importando os meios, os quais são em geral sempre discutíveis, tomando quase todo tempo disponível da chamada vida política. 

O momento atual já apresenta consequências de muitas ações e reações baseadas em omissões pessoais e coletivas que ocuparam o tempo de décadas passadas enquanto novas vão sendo realizadas para manter o país o elefante em passos de tartaruga.

E cada cidadão, que faz parte do elefante anestesiado, segue  cada vez com menos perspectiva, menos chances de realizar seus sonhos e ideais;  prossegue sem oportunidades.  O país cresce menos do que deveria, cresce lentamente. Não é o crescimento no ritmo desejado e necessário, mas cresce. Certamente não é o suficiente para acompanhar o mundo desenvolvido e vai  ficando para trás, o que não o diferencia de tantos outros.

Poderia ser diferente, tem tudo para ser diferente, mas há forças contrárias que não permitem um avanço sólido e firme. São vírus permanentes como o negativismo, o derrotismo, o síndrome do cachorro vira-lata, a burocracia herdada do tempo colonial, o trabalho visto como pena, o posicionamento monumental das autoridades, a lei defasada e protecionista, o lucro como pecado,  corrupção como meio de vida,  e muito mais em causas e consequências que se misturam e dão a cor à realidade de anos cinzas onde qualquer iniciativa vira voo de galinha e a grande plateia acredita que qualquer evento novo  dará em nada de bom. 

E é a qualidade do viver, conviver e sobreviver que deveria ser importante. Uns passam alegres e a maioria rosnando. Dizem que cachorro que late e rosna não morde, mas há sinais de que até isto pode estar dando errado. As novas gerações estão latindo e rosnando por meios subliminares, mas os eufóricos do cercadinho estão muito ocupados para lhes dar a devida importância. Escorados no analfabetismo, aproveitam-se do ditado que diz que "em terra de cego quem tem um olho é rei".

Em sistemático clima de negativismo e derrotismo só pode aproveitar a alguns e beneficiar poucos. O pessoal do cercadinho é o de sempre, beneficia-se com grandeza dos sistemas que seguem sem qualquer questionamento. Até quando persistirão com tal programa. Não estão estivando a corda ao limite? As novas gerações é que responderão a tal indagação. Se acharem que está tudo bem, está tudo bem. O objetivo de tudo terá sido então alcançado, um país gigantesco com visão de rinoceronte, uma miopia fatal. 

Assim, de pouco adianta falar de ações e reações de pessoas, são os sistemas da estrutura formal do país que precisam ser revistos? Não é simples questão de informatizar e pensar que estão modernizados. A revisão tem que ser de conteúdo. Todavia, da  mão de quem os sistemas beneficiam, jamais sairá revisão alguma. Corvo não come corvo e a raposa é a dona do galinheiro.

A pergunta é:  Tem dado certo?  Para poucos sim, e é para eles o suficiente. Como o país continuará sendo para poucos, os muitos é que deveriam pensar. Tem alguém pensando aí?

 

 

Odilon Reinhardt. 3.3.2022