terça-feira, 3 de janeiro de 2023

O que será mais uma voo de galinha, delírio ou um grande passo?

 





Até 2/1/23 são: no Brasil, 36.400.000 casos e 694.000 mortes. No mundo são 661.000.000 de casos e 6.690.000 mortes.

  

Combalido encontrar.

 

 Tímido, cheio de receio,

o Covid tirou do encontrar

a alegria do nosso meio.

 

Medos em encontros,

o ser humano acuado,

desconfiança dos outros.

 

Em cada um há um mendigo

querendo reencontros

é o que digo.

 

Braços abertos esperando o Próximo,

era uma festa a cada encontro;

lembrança boa de um tempo ótimo.

 

Agora esse abraço meia boca,

um minguado abraço,

a máscara enterrando a ocasião quase oca.

 

Covid, se falha e não mata fisicamente,

deve estar ficando satisfeito

ao acabar com o abraçar livremente.

 

Bom apoio para o seco pragmatismo

que para aqueles seres  humanos frios e calculistas

se satisfazem com a vida do racional utilitarismo.

 

O normal ficou sendo o afastar,

desviar,

se possível evitar.

 

A máscara ajudou muito nessa miséria,

agora a máscara fixa de muitos,

deixa claro que Covid teve sua vitória. 

 

Odilon Reinhardt.

 

 Seres em imagens esvoaçantes.

 

 A separação é trasvestida de distanciamento,

o desaparecimento de isolamento;

tudo faz de nós todos, seres sombras,

que sobrevivem em mensagens de constrangimento.

 

Rostos agora imaginados ,

sorrisos defasados em fotos amareladas,

somos todos figuras de anos atrás, 2019,

retratos de momentos já apagados.

 

Somos fantasmas uns dos outros no dia,

Sobrevivendo sem a magia de corpos e gestos,

Mas em frases e textos de decadente simpatia.

 

Seres esvoaçantes,

almas caminhantes,

humanos separados,

nada como antes? 

 

Impera uma existencial agonia,

a ameaça do “nunca mais”,

o “ jamais” , vai surgindo a cada dia,

deixando a todos numa triste desarmonia.

 

Onde está você?  É o dito ,

vai pela internet , pela rua, pela mente

e a resposta virtual como está explícito

vai sendo dada cada vez mais espaçadamente.

 

Eis uma das vitórias

da Pandemia  no chamado novo normal,

separações inglórias,

preguiça e medo de socializar, algo não muito anormal.     

 

Odilon Reinhardt.

 

 O que será mais uma voo de galinha, delírio ou um grande passo?

 

 A Constituição é a única garantia escrita. Sua interpretação, a variável, adaptada a todos os momentos de conveniência e oportunidade. As instituições, o esforço e meio do seu exercício para que a Nação consiga realizar os objetivos do art. 3º.

Diferentes entendimentos e meios estão no cenário, para se chegar a tal realização. Visão de direita, de esquerda, de centro. No palco em cena revezam-se os atores no exercício do regime de governo. Num país oral, de altíssima taxa de semianalfabetismo, o discurso vale mais do que milhares de linhas. A mentalidade que  insufla a oralidade é enorme e hipnótica.

Antes mesmo da momento de mudança na gerência do castelo de Gargântua e Pantacruel,  já foi satisfeita a fome dos cortesãos, agora todos sorridentes e  gordos , prontos para a nova jornada frente ao vilarejo pobre e carcomido. Uma vez garantida a despensa com farta quitanda, o castelo vive a festa da mudança. 

No vilarejo, os comuns, pedintes de toda sorte, revezam-se em costumeiro pessimismo e dúvidas. O mercado e suas vendas duvidam do rumo para a fonte.  Não sabe se a estrada da direita ficou mais distante ou se a picada aberta pela esquerda levará mais gente para a água e a fonte logo pode secar. Pois a fonte permaneceu a mesma, ninguém a reformou nos últimos anos. Tentativa houve, mas as obras de recuperação sofreram muitos eventos com doenças que ameaçaram a sua qualidade. Não houve tempo e agora o castelo quer uma cota ainda maior de água, sob o pretexto de distribuir no vilarejo, evidentemente, desde que garantido o suprimento para os cortesões, a nobreza fixa e a encantada, agora hipnotizada pelos novos tempos. 

A cena é repaginação, todos conhecem o castelo, os cortesãos e o vilarejo. O teatro é o de costume e ali as cenas serão diárias, comédias, tragédias, opera-bufa, sessões de contos da carochinha, sessões de mágica, mentiras, fantasias, delírios e sempre a esperança e fé de um grande passo para uma espetacular Abertura ou Grande Final. Entre previsões de caos e de otimismo, os dias serão os da Pátria. Entre o castelo e o vilarejo, tudo passará, todos passarão.

E a fonte? Caberá ao administrador da fonte produzir mais água.  A gerência já olhou o aquífero. Uns do vilarejo alertaram 1 copo + 1 copo dão 2 copos e não 5.  Acreditar ao contrário poderá ser um estímulo de desenvolvimento. Mas o tamanho da fonte, qual a dimensão das obras e até aonde cabe reforma ?  Gargântua e Pantacruel são gulosos e egoístas, nada produzem, gostam de controlar e mandar, dependem do trabalho do vilarejo, onde os aldeões podem ser humildes e trabalhadores, ricos sem poder no castelo, gente de toda sorte, mas todos  de bom senso e sabedores de regras como “ laranja madura na beira da estrada, é amarga ou tem bicho no pé”, “ é fácil fazer cerimônia com chapéu alheio”, etc.

Se vai ter muita água da fonte, um dia a fonte seca.  A menos que sejam abertos novos poços. Mas no mesmo aquífero?

Ademais, como está mesmo a infraestrutura para transporte da fonte ao vilarejo e ao castelo? Anos de gastos em outros setores e a infraestrutura ainda é a mesma?  E se forem abertos novos aquíferos, a velha e decadente infraestrutura não será um problema? Temos energia para bombeamento da fonte às torneiras? Temos pessoal qualificado e ciência para reformas do sistema? Como então teremos água para farta distribuição, ou será tudo isto só um delírio, um desejo desesperado de atender à Constituição, sabendo dos limites existentes e que decorrem de décadas de abandono de setores fundamentais ao longo do caminho entre fonte, vilarejo e castelo?

1 copo +1 copo= 2 copos . Se alguém apresentar mais, vamos observar a qualidade da água e de onde está sendo tirada. Alguém vai pagar, enfrentando seca e escassez no futuro? 

Seja lá quem for que esteja gerenciando o castelo, o objetivo é realizar o art.3º da Constituição. Que se deixe de lado o ufanismo  e admita que somos um país a nível de muitas ex-colônias, com inúmeros problemas a décadas e que correspondemos a menos de 3% da economia mundial e 1% do mercado financeiro. Que todos os esforços sejam para cuidar das novas gerações com modelos positivos de prosperidade, eliminando a síndrome do Cão Vira-lata. Não podemos nos dar ao luxo de errar. Foi dada nova chance, indiscutível. Se falhar, as consequências serão graves. Não se deve ver a realização de ditos populares como “ pimenta nos olhos dos outros é refresco”. A população já mostrou que aguenta tudo, mas pode estar em processo de esgotamento.

E que se lembre de Darci Ribeiro que dizia que uma criança só tem 7 anos uma vez. E mais, que se não investirmos em Educação, teremos que gastar tudo em presídios. O que adapto acrescentando: e gastar para mais polícia, forças de segurança e criminalística. Seremos reféns da criminalidade organizada. Tudo sob o cenário de muita raiva social, discriminações e luta entre classes de ativistas .

Qualquer governo vai lidar mais com consequencias do que com causas. 


Odilon Reinhardt . 3.1.2023.