sexta-feira, 3 de março de 2023

 



Na terra do fazer, a solidão do sentir ,pensar , escrever .  

 

 

Até 2/3/23 são: no Brasil, 37.100.000 casos e 699.000 mortes. No mundo são 676.000.000 de casos e 6.880.000 mortes.

  

 

Embaixadores da morte.

 

 

 O  vírus do século ,

inteligente mutante, telepata,

invisível e minúsculo.

 

Seletivo em sua pausa,

talvez , pensando  em atualizações

para aprimorar sua causa.

 

Usa no momento atual,

aproveitando a euforia da população,

enviados com missão especial.

 

Usa humanos portadores

para penetrar em visitas familiares

e seletivamente ali contaminar , são embaixadores.

 

Um caso aqui, outro ali,

desapercebido pela manada,

que segue cega , aqui e acolá.

 

Casos graves, cheios de sequelas, 

há um silêncio quanto a divulgação,

muitos entraves.

 

O vírus trama nova invasão?

Talvez em alguma central ,

trabalhe numa nova versão.

 

O desígnio é o mesmo,

eliminar a raça humana,

nada nisto é a esmo.

 

Aqui somos forasteiros,

a luta para a permanência é diária,

o conflito perdura por séculos inteiros.

 

Numa querida visita domiciliar,

pode estar um embaixador da morte, 

involuntário agente que vai matar.

 

As vítimas agora são banalizadas,

a manada já andou, bebe água,

as dores são pela família recolhidas.

Odilon Reinhardt.

 

 Com olhos, sem poder resistir. 

 

Hoje, pensei em não escrever,

deixar o dia passar,

que a vida pudesse me esquecer.

 

Deixar tudo sem linha,

nenhuma poesia,

cada hora que mostrasse o que tinha.

 

Eu passaria só em observações,

nada de rima,

só o tempo e suas situações.

 

Mas o show era muito grande,

irresistível , havia e há muito para escrever,

onde quer que eu andasse e ande.

 

Anjos e dragões,

cobras e ninfetas,

lebres e escorpiões.

 

É a vida, é o tempo de existir,

muita gente na jornada,

não tive condição de resistir.

 

Um bebê no colo, a senhora agarrada a sua sacola,

o senhor de bengala , o menino e a bola,

a chuva chegando, alguém na calçada bebendo coca-cola.

 

Na TV, acidentes , crimes ,tempo e futebol, 

notícias sobre preços e governo, fraudes e mentiras,

muita manipulação, a tarde reclamando pelo arrebol .

 

O computador e o celular, as fontes carregadas de mensagens,

emails e a lixeira com a boca aberta,

a vida e suas rápidas e inusitadas passagens.

 

Cachoeiras de shows extraordinários,

tragédia, comédia, óperas-bufas;

como resistir a tantos espetáculos diários?

 

O circo me chama ,

para olhar,  sentir cada cena ,

por vezes com tudo quase em chama.

 

Amanhã talvez ,

eu consiga me ausentar,

vou tentar outra vez.

 

Em tudo é o show do rude e do pior “ismo”,

a consagração do fisiológico,

com a derrota até  mesmo do pragmatismo. 

 

Tudo muito louco,

a civilização doente, de verdade,

antropofágica  pouco a pouco.

 

A vida é bela e é mais do que isso

que o sensacionalismo mostra

para mente e olhos já condicionados disso.

 

Odilon Reinhardt.

 

 Com ou sem direita, o centro mandando em todos, com muito pouco indo para  frente, após décadas , agora já no século 21, tudo aqui ficou sendo mesmo uma época de maior  mediocridade, recheada de fisiologismo, com bastante toque de grosseria, inflexibilidade, egoísmo, raiva social e o tradicional negativismo. Coletivamente, ficamos enroscados nas vias da já banalizada corrupção, pandemia desestruturante, e desperdiçamos gerações, talentos, energia de crescimento ao descuidar da infraestrutura de maior visão. 

Embora desejemos, mais uma vez , somos levados a dizer que não é a época para a prosperidade, muito menos a intelectual, ao contrário, pelo que se observa, nos assustamos , no dia a dia, como  os esquemas obtusos vindos das entranhas da informalidade,onde graça o crime e um mundo invertido de valores, sustentado pela ascensão e confirmação secular dos sem mérito, os quais em décadas, catam justificativas nas pequenas exceções de insucesso do sistema. Impera o "escracho " dos bem sucedidos pelo trabalho honesto. Vale também o império quase intocável dos que montaram esquemas de negócios lastreados em interesse privado tornado público, onde megalomaníacos vivem de comparações, acúmulo exacerbado, estimulado pelo ego de inveja, ciúme, culto ao prestígio e muito jogo de aparência. Reinam os libertários às avessas, provocando os frustrados e ditos perdedores. Espalha-se o medo silencioso de mostrar sucesso legítimo e patrimônio conquistado licitamente. O humano caça o humano, 24 horas por dia. A qualidade de vida fica deteriorada.

Paripassu, a cultura vai sendo reduzida e enquadrada em termos minúsculos. A música, as artes em geral são moldadas pelos gritos da moda para atender aos gostos da multidão e seu mundo fisiológico. O belo fica assim moldado e marca a progressiva  ruína do intelecto mais elevado,  este,  nivelado ao mais baixo grau, sendo ditado pelo mais bruto. A Educação é reduzida ao pragmático programa do útil para se produzir, fazer, cortar e empacotar.

Sobram sementes da desqualificação nos  termos mais amplos sem garantir  a formação de um indivíduo mais preparado. Aumentam as chances de muitos estarem dando passos para a escravidão funcional com sacrifícios da modelagem mais ampla do perceber, sentir e agir. A indústria e o setor de serviços gritam alto devido à  falta de mão de obra. Um aviso futurista preocupante.

O que acontece é a modelagem de um sentir e agir formatado subliminarmente por reiteradas mensagens de novos usos e costumes para as novas gerações, as quais estão entregues aos mestres invisíveis de má- intenção, que entopem os jovens com ideias de um futuro pessoal insustentável. Dá-se à população jovem um céu de sonhos, mas sem estrelas. O celular traz à mão de cada um os mestres que vão dando a ilusão de modernidade e inclusão, mas, em verdade, são como a avenida nova e iluminada, que liga o centro da cidade ao bairro, mas por onde passam os capengas e miseráveis de todas as classes sociais, onde a cultura e o intelecto estão sendo ou já foram enterrados ou nunca existiram.

Vão ficando cada vez mais enfraquecidas as bases que deveriam ser fortes para todo e qualquer cidadão, que com maior intensidade vai abandonando o escrever, o ler, o pensar, o criticar e o debater assuntos mais elevados e essenciais do que cerveja, sexo oposto, carro e futebol. O vulgar toma conta e a vida cotidiana deixa até seu status de medíocre para assumir o nível rasteiro do operacional, horrível e intragável, pelo menos para quem pensa um pouco mais.

A exclusão está ocorrendo não só quanto às minorias, mas da generalidade de cidadãos, que é levado a abandonar o preparo que efetivamente poderia torná-lo mais consciente e participativo na democracia. 

Não é necessário ser pobre ou rico, em coisa materiais, para se esforçar em melhorar o teor da conversa, mas nas circunstâncias que o país ficou, após de décadas de desinteresse pela Educação e formação, nem é possível tal sonho. Aqui ninguém precisa ter medo de ir  vai para o inferno, pois , uma minoria já está nele, em termos intelectuais, pois a solidão de não ter com quem expor ou trocar ideias , de um modo mais evoluído,  está aumentando. Livros são escritos, mas seus autores nem se preocupam em publicá-los.  Ninguém quer debater nada nem escutar opinião diversa. A reação à opinião diferente díspar a o ego e as reações podem ser radicais, inflexíveis e intolerantes.  Sinal da incapacidade de trocar ideia e se aprimorar.

Democracia implica debate, escutar a parte interlocutora, argumentar, evoluir no pensamento. Onde cabe isto na vida cotidiana, onde a agitação do dia cede tempo para tal conversa? A grosseria, a brutalidade e o abuso de poder não permitem oposição nem mesmo questionamento. A imposição de ideias é a regra. Para tal, todos os meios são empregados pelos interessados. A votação seria a única saída lícita, mas o que feito com o poder de votar livremente?  

Dia após dia, observa-se a redução das rodas mais intelectualizadas. Somem os interlocutores. Os pensadores ficam na solidão de seus neurônios privilegiados, promovendo discursos e monólogos para muitos impensáveis. A politização do pensamento e a pobre polarização levam ao empobrecimento das ideias e o afastamento. A isenção do livre pensador não é compreendida e nem aceita.  Se algo vem ao público, imediatamente é classificado pelas setas de direita ou esquerda.

Observa-se que cada vez, o intelecto vai se ocupando de assuntos comezinhos,  político e comerciais, dirigidos por pessoal pago pela mídia para promover embates de falação, em debates peremptórios e sempre tendenciosos, seguindo as orientações  de cada empresa  da mídia. Os faladores aparecem e se promovem.

Com a facilidade de acesso ao contato com as redes sociais, TV e rádio, mesmo os intelectuais acabam se contaminando com o modo de se debater assuntos, de modo que fica difícil obedecer ao que Gandhi disse: “ não permitirei que ninguém entre na minha mente com os pés sujos”.

 O país empobrece a fala visivelmente. Não que se almeje a Utopia de uma pátria de filósofos, escritores e poetas, mas hodiernamente, são todos esses que estão chutando o balde e recolhendo-se para o isolamento por falta de meio digno e isento, onde possam expor suas ideias. Até mesmo os pensadores de vários ramos da ciência estão perdendo mesa e plateia, companhia e interlocutores. O meio social encolhe e nada é produzido, em termos de soluções bem pensadas para os problemas do país, se a politização os atinge de cheio. Há para o espanto geral, o cientista de direita ou de esquerda. Enterra-se a isenção, procura pela verdade, a razão limpa.  

Enfim, é o vazio e o deserto da contracultura, movimento iniciado há muito tempo na Europa e EUA. Um movimento de Beat-Nicks,  que desejava contestar e combater modelos rígidos da sociedade, sem se preocupar em propor algo superior para ocupar o espaço que seria deixado. Deu no que deu.

Mas que ninguém se assuste, o Brasil não vai acabar nem mudar, somente vai crescer mais lentamente, como tem feito desde há décadas.  Talvez fique um gigante de barriga enorme e cabeça pequena , como Pantacruel ou Gargântua, devorando talentos das gerações.  E assim vai o Brasil pelo tempo.     

 

Odilon Reinhardt - 3.3.2023