Na terra do fazer, a solidão do sentir ,pensar , escrever .
Até
2/3/23 são: no Brasil, 37.100.000 casos e 699.000 mortes. No mundo são 676.000.000
de casos e 6.880.000 mortes.
Embaixadores da
morte.
inteligente mutante, telepata,
invisível e minúsculo.
Seletivo em sua pausa,
talvez , pensando em atualizações
para aprimorar sua causa.
Usa no momento atual,
aproveitando a euforia da população,
enviados com missão especial.
Usa humanos portadores
para penetrar em visitas familiares
e seletivamente ali contaminar , são embaixadores.
Um caso aqui, outro ali,
desapercebido pela manada,
que segue cega , aqui e acolá.
Casos graves, cheios de sequelas,
há um silêncio quanto a divulgação,
muitos entraves.
O vírus trama nova invasão?
Talvez em alguma central ,
trabalhe numa nova versão.
O desígnio é o mesmo,
eliminar a raça humana,
nada nisto é a esmo.
Aqui somos forasteiros,
a luta para a permanência é diária,
o conflito perdura por séculos inteiros.
Numa querida visita domiciliar,
pode estar um embaixador da morte,
involuntário agente que vai matar.
As vítimas agora são banalizadas,
a manada já andou, bebe água,
as dores são pela família recolhidas.
Odilon Reinhardt.
Hoje, pensei em não escrever,
deixar o dia passar,
que a vida pudesse me esquecer.
Deixar tudo sem linha,
nenhuma poesia,
cada hora que mostrasse o que tinha.
Eu passaria só em observações,
nada de rima,
só o tempo e suas situações.
Mas o show era muito grande,
irresistível , havia e há muito para
escrever,
onde quer que eu andasse e ande.
Anjos e dragões,
cobras e ninfetas,
lebres e escorpiões.
É a vida, é o tempo de existir,
muita gente na jornada,
não tive condição de resistir.
Um bebê no colo, a senhora agarrada a
sua sacola,
o senhor de bengala , o menino e a
bola,
a chuva chegando, alguém na calçada
bebendo coca-cola.
Na TV, acidentes , crimes ,tempo e
futebol,
notícias sobre preços e governo,
fraudes e mentiras,
muita manipulação, a tarde reclamando
pelo arrebol .
O computador e o celular, as fontes
carregadas de mensagens,
emails e a lixeira com a boca aberta,
a vida e suas rápidas e inusitadas
passagens.
Cachoeiras de shows extraordinários,
tragédia, comédia, óperas-bufas;
como resistir a tantos espetáculos
diários?
O circo me chama ,
para olhar, sentir cada cena ,
por vezes com tudo quase em chama.
Amanhã talvez ,
eu consiga me ausentar,
vou tentar outra vez.
Em tudo é o show do rude e do pior
“ismo”,
a consagração do fisiológico,
com a derrota até mesmo do pragmatismo.
Tudo muito louco,
a civilização doente, de verdade,
antropofágica pouco a pouco.
A vida é bela e é mais do que isso
que o sensacionalismo mostra
para mente e olhos já condicionados
disso.
Odilon Reinhardt.
Embora desejemos, mais uma vez ,
somos levados a dizer que não é a época para a prosperidade, muito menos a
intelectual, ao contrário, pelo que se observa, nos assustamos , no dia a dia, como os esquemas obtusos vindos das entranhas da
informalidade,onde graça o crime e um mundo invertido de valores, sustentado
pela ascensão e confirmação secular dos sem mérito, os quais em décadas, catam
justificativas nas pequenas exceções de insucesso do sistema. Impera o
"escracho " dos bem sucedidos pelo trabalho honesto. Vale também o império
quase intocável dos que montaram esquemas de negócios lastreados em interesse
privado tornado público, onde megalomaníacos vivem de comparações, acúmulo
exacerbado, estimulado pelo ego de inveja, ciúme, culto ao prestígio e muito
jogo de aparência. Reinam os libertários às avessas, provocando os frustrados e
ditos perdedores. Espalha-se o medo silencioso de mostrar sucesso legítimo e
patrimônio conquistado licitamente. O humano caça o humano, 24 horas por dia. A
qualidade de vida fica deteriorada.
Paripassu, a cultura vai sendo
reduzida e enquadrada em termos minúsculos. A música, as artes em geral são
moldadas pelos gritos da moda para atender aos gostos da multidão e seu mundo
fisiológico. O belo fica assim moldado e marca a progressiva ruína do intelecto mais elevado, este, nivelado ao mais baixo grau, sendo ditado pelo
mais bruto. A Educação é reduzida ao pragmático programa do útil para se
produzir, fazer, cortar e empacotar.
Sobram sementes da desqualificação nos
termos mais amplos sem garantir a formação de um indivíduo mais preparado.
Aumentam as chances de muitos estarem dando passos para a escravidão funcional
com sacrifícios da modelagem mais ampla do perceber, sentir e agir. A indústria
e o setor de serviços gritam alto devido à falta de mão de obra. Um aviso futurista
preocupante.
O que acontece é a modelagem de um
sentir e agir formatado subliminarmente por reiteradas mensagens de novos usos
e costumes para as novas gerações, as quais estão entregues aos mestres
invisíveis de má- intenção, que entopem os jovens com ideias de um futuro
pessoal insustentável. Dá-se à população jovem um céu de sonhos, mas sem
estrelas. O celular traz à mão de cada um os mestres que vão dando a ilusão de
modernidade e inclusão, mas, em verdade, são como a avenida nova e iluminada, que
liga o centro da cidade ao bairro, mas por onde passam os capengas e miseráveis
de todas as classes sociais, onde a cultura e o intelecto estão sendo ou já
foram enterrados ou nunca existiram.
Vão ficando cada vez mais
enfraquecidas as bases que deveriam ser fortes para todo e qualquer cidadão,
que com maior intensidade vai abandonando o escrever, o ler, o pensar, o
criticar e o debater assuntos mais elevados e essenciais do que cerveja, sexo
oposto, carro e futebol. O vulgar toma conta e a vida cotidiana deixa até seu
status de medíocre para assumir o nível rasteiro do operacional, horrível e
intragável, pelo menos para quem pensa um pouco mais.
A exclusão está ocorrendo não só
quanto às minorias, mas da generalidade de cidadãos, que é levado a abandonar o
preparo que efetivamente poderia torná-lo mais consciente e participativo na
democracia.
Não é necessário ser pobre ou rico,
em coisa materiais, para se esforçar em melhorar o teor da conversa, mas nas
circunstâncias que o país ficou, após de décadas de desinteresse pela Educação
e formação, nem é possível tal sonho. Aqui ninguém precisa ter medo de ir vai para o inferno, pois , uma minoria já está
nele, em termos intelectuais, pois a solidão de não ter com quem expor ou
trocar ideias , de um modo mais evoluído, está aumentando. Livros são escritos, mas seus
autores nem se preocupam em publicá-los. Ninguém quer debater nada nem escutar opinião
diversa. A reação à opinião diferente díspar a o ego e as reações podem ser
radicais, inflexíveis e intolerantes.
Sinal da incapacidade de trocar ideia e se aprimorar.
Democracia implica debate, escutar a
parte interlocutora, argumentar, evoluir no pensamento. Onde cabe isto na vida
cotidiana, onde a agitação do dia cede tempo para tal conversa? A grosseria, a
brutalidade e o abuso de poder não permitem oposição nem mesmo questionamento. A
imposição de ideias é a regra. Para tal, todos os meios são empregados pelos
interessados. A votação seria a única saída lícita, mas o que feito com o poder
de votar livremente?
Dia após dia, observa-se a redução
das rodas mais intelectualizadas. Somem os interlocutores. Os pensadores ficam
na solidão de seus neurônios privilegiados, promovendo discursos e monólogos
para muitos impensáveis. A politização do pensamento e a pobre polarização
levam ao empobrecimento das ideias e o afastamento. A isenção do livre pensador
não é compreendida e nem aceita. Se algo
vem ao público, imediatamente é classificado pelas setas de direita ou
esquerda.
Observa-se que cada vez, o intelecto
vai se ocupando de assuntos comezinhos,
político e comerciais, dirigidos por pessoal pago pela mídia para
promover embates de falação, em debates peremptórios e sempre tendenciosos,
seguindo as orientações de cada
empresa da mídia. Os faladores aparecem
e se promovem.
Com a facilidade de acesso ao contato
com as redes sociais, TV e rádio, mesmo os intelectuais acabam se contaminando
com o modo de se debater assuntos, de modo que fica difícil obedecer ao que
Gandhi disse: “ não permitirei que ninguém entre na minha mente com os pés
sujos”.
O país empobrece a fala visivelmente. Não que
se almeje a Utopia de uma pátria de filósofos, escritores e poetas, mas
hodiernamente, são todos esses que estão chutando o balde e recolhendo-se para
o isolamento por falta de meio digno e isento, onde possam expor suas ideias.
Até mesmo os pensadores de vários ramos da ciência estão perdendo mesa e
plateia, companhia e interlocutores. O meio social encolhe e nada é produzido,
em termos de soluções bem pensadas para os problemas do país, se a politização
os atinge de cheio. Há para o espanto geral, o cientista de direita ou de
esquerda. Enterra-se a isenção, procura pela verdade, a razão limpa.
Enfim, é o vazio e o deserto da
contracultura, movimento iniciado há muito tempo na Europa e EUA. Um movimento
de Beat-Nicks, que desejava contestar e
combater modelos rígidos da sociedade, sem se preocupar em propor algo superior
para ocupar o espaço que seria deixado. Deu no que deu.
Mas que ninguém se assuste, o Brasil
não vai acabar nem mudar, somente vai crescer mais lentamente, como tem feito
desde há décadas. Talvez fique um
gigante de barriga enorme e cabeça pequena , como Pantacruel ou Gargântua,
devorando talentos das gerações. E assim
vai o Brasil pelo tempo.
Odilon Reinhardt - 3.3.2023