quarta-feira, 3 de maio de 2023

Rua e ruas.

 

 





Rua e ruas .

 

 

Não é a rua

onde as gentes se encontram

e por ela desfila a realidade nua?

 

Encontros ,

idas e vindas,

hoje desencontros?

 

Ruas com seus passados

motivos  de orgulho pessoal e coletivo,

tempos ultrapassados?

 

Rua e ruas por onde passa o Universo,

desfilam  o sol  e a chuva , o inverno e o verão,

a vida de um e de todos , motivo de heroico verso?

 

Tudo passa pela rua,

a vida e a morte, 

hoje o medo e a confiança insegura.

 

Quem anda hoje pela rua livremente? 

Todos levam em si a paranoia moderna,

um cupim que em  todos anda  pela mente . 

Odilon Reinhardt.

 

 

Estamos montando cenários de H.P. Lovercraft  nas ruas?

 

Cenas do Brasil cotidiano, já banalizadas, estão compondo cenários humanos e reais que assustariam H.P. Lovercraft ,o autor do início do século passado, que com suas estórias de terror em locais imaginários, inspirou com suas imagens  o mundo de contestação na música, cinema, literatura com imagens monstruosas de personagens e locais horrendos. Tudo hoje já integrado ao imaginário de adolescentes e adultos das últimas gerações que tatuam seus corpos com figuras igualmente contestadoras. Se em todos tal visual se reproduz em comportamento revoltado ou é só alegoria , ainda fica como pergunta .

Aqui, no nosso canto do Universo,  os cenários humanos, são repetidos e sua vulgarização ocorre inevitavelmente. Todavia, passam a compor um quadro restritivo do ir e vir, da liberdade do cidadão e vão diminuindo a qualidade de vida face ao medo, desconfiança e à sensação horrível da insegurança social generalizada, movida por ódio ao Semelhante e vontade de desabafar em alguém, pretensamente tido como culpado pelas mazelas individuais do agressor.

Se os fatos mais corriqueiros deste país acontecessem na mesma rua ou cidade,  a situação seria bem dos cenários de Lovercraft e de caos  do Armagedom.   Observe-se a coletânea a seguir exposta, reunida com muita facilidade, muitas durante os últimos dois meses. Pode até ser que estes casos que apareceram na mídia a título de sensacionalismo, sejam exceções, mas deve-se lembrar que, grandes impérios de hoje, como o do crime, começaram com exceções, por exemplo, o império das drogas, que começou com o uso de lança –perfume no carnaval , boletas vindas pela fronteiras com Foz do Iguaçu. A seguir,  observe-se os fatos na  rua dos Horrores, aqui hipoteticamente imaginada , mas preenchida com fatos bem reais: 

- em um trecho da rua, há um cara, deitado  sobre os fios,  cortando os mesmos com os dentes. Após o ato, enrola tudo e sai andando normalmente. 

-  uma gangue assalta um jovem casal,  para roubar as roupas e celular. Os malfeitores saem rindo. 

- um grupo de traficantes põe fogo em uma farmácia popular , ônibus e supermercado e sai atirando . 

- um ladrão rouba faróis e pneus de um carro importado, sem medo das câmeras, e sai sorrindo para a companheira que tudo assiste. 

- um ex-marido entra no salão de beleza para matar a esposa, que escapa;  o cara se retira ameaçando a todos. 

- motorista freia  o carro na frente do barzinho e começa disparar tiros e vai embora. Atinge dois que morrem. 

- gang sequestra carro com bebê do banco de trás e sai arrastando a mulher pela rua . 

- um grupo de turistas é assaltado e os populares ficam olhando da  calçada, como se o fato fosse ligado a algum tipo de justiça social .Nenhum dissabor. 

- um carro passa em frente à delegacia de polícia metralhando. Algo que não é mais assustador. 

- num apartamento, uma menina morre com bala perdida. Desesperador. 

- na esquina , o encapuzado vende droga à luz do dia sem qualquer problema . Não há temor. 

- numa casa, a polícia está ano portão para negociar a soltura da mulher, feita refém pelo marido. Horas de terror. 

- pela rua vai passando um carro alegórico a caminho da avenida para desfilar com figura de “ Lampião” . Apologia? Nada anormal? 

- uma moto com garupa  atira em morador que chegava em casa e foge sem identificação. Já bem normal. Ajuste de contas, cobrança.   

- uma mocinha recebe uma caixa de bombons envenenados, como vingança pelo namoro desfeito. Desamor. 

- no ponto de ônibus, a moça morre atropelada pelo caminhão de entregas e o motorista nem sai do veículo de tão bêbado. Destino alcoólico? 

- no endereço tal, casa 3, fundos, funciona uma pequena oficina de falsificação de medicamentos. O caminhão sai e entra sem qualquer dificuldade. Crime diabólico. 

- o médico se desentende com a esposa e a joga pela janela do prédio. Ataque egoico. 

- um motorista bêbado joga o carro contra mesa na calçada, onde estivera com parentes, tentando atingi-los devido a questões familiares. Fisiológico. 

-O caminhão dos Correios é saqueado no bairro pela população. Algo banal. 

-A rua vai só até um pedaço, dali em frente só entra quem paga pedágio para a milícia,  que domina o bairro seguinte. Ponto final. 

-Vizinho mata adolescente por causa do som alto. Tresloucado. 

-Arrombamentos, roubos de celular, bicicletas, já são do cotidiano. Acontecem a toda hora. Cidadão refém do dia salteador. 

-Pai mata esposa na frente da filha na entrada do colégio. Cruel matador. 

- Motorista de caminhão percorre mais de 100 km e entra na capital cometendo acidentes propositais . Verdadeiro tanque de guerra. 

- Motorista de ônibus dorme e mata 7 viajantes . Acorda e diz” dormi”.  Anjo dos infernos. 

- Na TV alguém  lança fato acusatório contra autoridade e muda a versão por mais de três vezes. Problema de essência? 

- Num parte da rua tudo é atacado por grupos criminosos. Incêndios , tiroteios, ataques a prédios públicos. Tudo como protesto contra  decisão judicial. Tipo novo de apelação criminal? 

- Na esquina, um ônibus é incendiado por protesto contra o motorista que atropelou o cachorro.  Muito louco. 

- Cliente  do posto de gasolina   desentende-se com frentista e este lhe joga gasolina e ateia fogo. Tudo muito louco. 

- No posto da esquina, cliente se cria caso com um grupo de pessoas, pega a arma no carro e volta para atirar, matando vários. Loucura . 

- Em algum lugar da rua, todo mundo sai correndo da escola infantil, onde um adolescente pulou o muro vestido de coelho e começou a matar crianças com uma faca. O caso precedente é o adolescente que entrou na escola e com uma machadinha matou 4 crianças. Inspiração diabólica.  

- um Juiz de Direito é preso por abuso físico e moral contra a esposa. Mente imatura? 

- a menininha  voltava da escola e bandidos e encontra tiroteio entre bandidos . Não pode escapar da bala perdida. Destino? 

- na escola, a professor manda as crianças deitarem no chão  devido a tiros na vizinhança. Lições valiosas? 

- numa Unidade de Saúde, um cidadão entra e esfaqueia várias pessoas a esmo. É morto pela polícia.  Doideira. 

- correria na esquina, onde um grupo faz arrastão em farmácia e supermercado. 

- através de bueiro , dois larápios cortam  fios e deixam 4000 pessoas sem internet. Individualismo? 

- numa rua transversal , drogados enchem as calçadas, o comércio desiste da região, os moradores ficam trancados no prédio sem luz por causa do roubo de fios elétricos há dois dias. 

E quando a noite chega, a rua se transforma em boate ao céu aberto. Nem se fale nas explosões a caixas eletrônicos. 

E teria muito mais, todavia falta rua para tantos casos. Rua já inteiramente decorada por pichações. Show da vida.  

E assim vai a rua no seu dia a dia . E sabe-se lá o que corre por trás das portas fechadas nos relacionamentos familiares e de intimidade. Segregados horrores, dissabores, sufocadas dores.

“O país está doente” vaticinou o falecido ministro Theory Sawatsky. Está doente no físico e no mental.

Exceções de hoje, de ontem, de dois anos atrás?  Sementes do amanhã. Basta lembrar que o famoso “jeitinho brasileiro” era a romantizada semente da corrupção que acabou em escândalos gigantescos. O trote telefônico era brincadeira, mas evoluiu para “fake news” devastadora.  Quem deixa a erva daninha se espraiar arrisca,  perder a colheita.  Sementes de hoje, árvores do amanhã. 

Odilon Reinhardt.  3.5.23