domingo, 3 de setembro de 2023

Próximo, que próximo?

 








Próximo, que próximo?

 

 

Que Próximo,

o próximo a ser  caloteado,

o que será  maltratado,

ao ser roubado ?

 

O P
róximo

a ser discriminado,

aquele que será cancelado,

enganado no mínimo?

 

O Próximo

o que vai ser morto ,

o que me roubará os dados,

o que tem destino torto?

 

Próximo , mas nunca meu semelhante,

o que invade meu celular, 

o que fica espreitando  gente

o que deve se mantido distante?

 

Próximo , o que é ameaça,

bebe e  sai dirigindo,

o que transita no underground,

cheio de raiva e me caça? 

 

Próximo , o que quer o ganha-ganha  no máximo, 

que telefona para enganar,

para golpear e explorar  até quem ganha o mínimo?

 

Próximo sem empatia,

inflexível, intolerante, egóico, radical,

despreparado para a vida e cada dia?

 

Próximo vulcão,

que explode no trânsito, na fila,

no telefone, e só vive em confusão?

 

Próximos e próximas,

saturados, estressados,

que estão por tudo com suas estranhas máximas.

 

Grosseria , selvageria,

estupidez, erros , crimes diretos e indiretos,

eis o centro de cada dia.

 

O Próximo que tem medo de andar, de respirar

na  rua  , de ser feliz, de ser sequestrado,

de desfrutar o que conseguiu ao trabalhar?

 

O Próximo que foi levado a desconfiar

de tudo e de todos , de se proteger de golpes e da má-fé, ,

para não perder , morrer , se matar?

 

Que Próximo é este,

qual sua próxima ação,

que país é este?

 

Negligência , imperícia no mínimo

despreparos  que revelam

desamor ao Próximo.

 

É necessário  Amor ao Próximo

e menos separatismo, radicalismo, raiva social,

raiva ao Próximo.

 

Só com Amor ao Próximo

em atos efetivos de paz e respeito ao humano

poderá haver  o Próximo como semelhante.

 

O Brasil conhecerá selvageria , antes de chegar à Civilização ,

como disse Nelson Rodrigues.  Tudo está nas ruas e avenidas,

está acontecendo , está na televisão, está na vista do cidadão.   

 

 

Odilon Reinhardt. 

 As novas gerações precisam de bons modelos de prosperidade, que venham dos pais, família, escola e instituições. Os efeitos da pobreza intelectual e material fazem danos irreparáveis em todas as classes sociais.  Na falta de educação, ficam os jovens na mão de mestres invisíveis e a realidade está dando exemplos abundantes.

Enquanto a indústria e comércio precisam vender, mostram seus produtos e montam um modelo material, de modo que todo jovem vai adquirindo o modelo de uma vida materialmente confortável. Todavia, o modelo intelectual, de progresso pessoal baseado em conquistas intelectuais está  ficando em descompasso. Estudar e crescer intelectualmente, para então conseguir bens materiais não é o carro chefe das novas gerações, pois estudar leva tempo e consome a juventude, já tão explorada pelos meios de consumo. Muita distração, muitos produtos icônicos de moda e pouco poder aquisitivo. Tudo colabora para uma pressão consumista e para uma visão de aqui-agora.

O resultado está em jovens longe das escolas e mais perto das coisas efêmeras, que oferecem mais deleite à juventude.  Como tudo passa muito rápido entre os 14 e 25 anos, o tempo perdido fica quase irreparável e o estudo irrecuperável. Como conseguir emprego sem preparo? O recurso mais possível será conseguir emprego para os serviços básicos na indústria e comércio e um salário limitado para sempre.

Sonhos de consumo e de uma vida confortável desparecerão, nem sempre pacificamente. Frustração e sentimentos de injustiça, derrotas pessoais, escravidão intelectual, revolta contra o sistema, a sociedade, indisciplina e ira, muito ego revoltado,  será a realidade de muito jovem . Passaporte para uma vida ruim.

Com a idade, vai ficando claro quem pode e quem não pode comprar, quem tem condições de trabalho melhor e quem dificilmente sairá da miséria material e intelectual. A mediocridade será um modo de vida e a ira social contra quem cresceu e prosperou serão armas pessoais de justificativa pelos insucessos que a falta de educação traz. Uma pedrada na janela do coletivo, uma casa arrombada, um celular roubado, um muro pichado têm  muito mais a revelar do que a violência cometida.  Ali estão todas as razões bisonhas de frustração e impotência pessoal, das falhas do Governo e instituições de muitas épocas.

Diante do ego contrariado, as reações podem variar da impulsividade à depressão, da raiva social e revolta à alienação e desistência.

Tampouco será fácil contradizer a falsa compreensão do que é justiça e igualdade social, o que facilita a má interpretação de lições cristãs, que se perdem em metáforas, jamais atingidas pela baixa escolaridade e/ou ideologias radicais.

Cada vez torna-se mais difícil convencer o jovem de que ele vai passar a vida num emprego por décadas num quadro bem limitado ou que os gastos e desejos, que os modelos essencialmente materialistas lhe tatuaram na mente, jamais serão satisfeitos, pelo menos pelos meios lícitos.

Certamente, soluções serão achadas pelos interessados, se positivas ou negativas, a realidade do dia a dia é que irá contando. Grosseria, inflexibilidade, radicalismo, frieza, falta de empatia, desrespeito a tudo e todos, mente tosca já marcam a vida. Por enquanto, o que se vê é o aumento de crimes patrimoniais, corrupção e desvios de conduta. Por vezes roubos de residência são noticiados, onde pessoas são torturadas e maltratadas por terem conseguido um nível social e econômico melhor. Há uma incontida raiva. E os detratores são jovens do crime, irados, revoltados, traumatizados, psicopatas etc. 

As estruturas do underground abrem as portas como alternativa para a rápida satisfação de desejos e sonhos materiais. A ilusão do rápido ganhar acelera o exército do crime. A solução é perigosa e nunca dá certo, levando à prisão ou morte.

Quando o “eu ainda vou ser...”  ou  o “ eu ainda  posso vir a comprar....”  é substituído por “ eu não fui e não vou ser “ ou “ eu não posso comprar” , fica difícil amainar o sentimento de frustração , derrota pessoal, e um ego contrariado e insatisfeito. A pessoa fica presa entre o ser e o estar, com inconsequentes reações egoicas, mormente quando o nível intelectual é baixo e o fisiologismo domina o corpo e ofusca a mente. 

Violência, medo, aumento da criminalidade, visível e invisível, tenderão a marcar a selvageria no teatro do dia a dia.

É sinal de Amor ao Próximo ver, considerar e perceber o Próximo em todos os atos da vida, pessoal, profissional, governamental porque senão prevalecerá a raiva, o medo e a escravidão da instabilidade social. O Próximo será fonte de ira e medo.

E já há muito medo em usufruir de uma vida razoavelmente boa. Pessoas trabalhadoras e honestas que trabalham e acumularam coisas para ter algum conforto e segurança são caçadas como animais e são vistas como exemplos da injustiça social. São tidos como privilegiados, culpados. Espalha-se o medo e o cidadão recolhe-se, esconde-se, sendo submetido a uma vida de restrição, cercas, alarmes, fechaduras, códigos e senhas.

Há esta crescente realidade de não poder desfrutar abertamente do que se conseguiu através de trabalho lícito. Uma restrição que já  afeta muitos ramos da economia e forma guetos em condomínios e prédios, com barricadas contra a violência externa, isolando-se do mundo, enquanto ali dentro  também há violência física  e   moral em estilo mais elevado . Já há mendigos em todas as classes sociais. O Brasil está doente, disse Teori Zavascki, como relator, sendo acompanhado por outros. 

 

Odilon Reinhardt. 3.9.2023