quarta-feira, 3 de abril de 2024

Esvazia-se a vontade de saber.

 




                                                                                ?



Esvazia-se a vontade de saber.

 

                                           Brutalidade comum.

 

 Em cada um que passa

pode haver um vazio,

preenchimento que lhe ultrapassa.

 

Tragédias ambulantes e individuais,

independentes,

com múltiplos sinais.

 

Arrastam-se pela rua da cidade,

no silêncio barulhento de interiores desérticos,

esperando uma chance de explodir para a realidade.

 

Sem saber ler nem escrever ,

andam pela via amargurada,

como normais seres no seu pacer.

 

Livros abandonados,

letras encarceradas,  

época de anos relaxados.

 

Em cada um de educação formal pouco resquício ,

talentos jogados no lixo,

Educação em desperdício.

 

Ideias obtusas,

pais, filhos e o país, 

enrolados em  soluções confusas

 

Discernimento em queda,

tudo fica mais difícil,

produção humana de nada.

 

Superficialidade assassina,

a violência faz a vida,

na empresa , na repartição ,na esquina. 

 

O bruto sobressai,

vence o burro,

mancha que não sai.

 

Cada dia aparece

nada muda

a vida se esquece.

 

O fazer é o preenchimento ,

recheia e ocupa a rotina,

depois o vazio como enchimento.

 

Vida banal e vulgar ,

a mente sujeita ao ego,

o Mal toma o seu lugar.

 

Cabeça cheia de ego , mas  vazia,

muita cerveja  no barzinho,

a nova catedral do fim do dia.

 

Mas a fé e esperança ,

propulsoras de ilusão,

ainda um país de futuro para alguma criança.    

 

Por enquanto brutalidade,

muita velocidade dos incautos ,

egóica impulsividade.

 

 

 

Observa-se aos poucos o esvaziamento da vontade de saber. Prevalece a superficialidade. Cessa o diálogo, foge-se do embate ; nada de profundidades.

Saber para quê? Qual a finalidade do saber? Para cortar frango, para trabalhar na colheita? Para trabalhar na loja, no supermercado? Para ir receitando ASS? Para defender assaltantes no tribunal?  É a pergunta no silêncio de cada mente. Diletantismo, nem falar. Prevalecem o pragmatismo e o utilitarismo. 

Onde está a curiosidade, a fonte individual e mesmo  coletiva da observação , da ciência apoiando a sabedoria? Nada disso. Prevalece mesmo é a vagabundagem espiritual e intelectual. Se algo não dá dinheiro, então , de nada serve. Por exemplo, aprender Inglês , quando eu for viajar eu aprendo. Isto como se fosse algo descartável e de fácil aquisição. Para tudo , é assim que se pensa.

Isto está ocorrendo numa época em que nunca houve tantos meios de boa informação , todos oferecidos pelos meios  virtuais , algo há 50 anos atrás inimaginável . Proliferam os meios, a enciclopédia universal está na palma da mão, acessível a qualquer momento. Nunca se pensou que tudo da sabedoria humana pudesse estar tão acessível a qualquer um em qualquer lugar do Globo.

Será que os livros deixaram de ter conteúdo útil e sábio para formar  o  bom senso? Será que as enciclopédias ficaram desatualizadas ou só trazem informações desnecessárias? Será que Wikipédia ficou superficial. Não. Por tudo estar no mundo virtual, pode ter permanente atualização. Os meios modernos de consulta estão cada vez mais ricos em informações e  cada vez mais acessíveis.

Nunca houve tanta democratização da informação. A universalização do saber é fantástica , imensa e ilimitada. 

Então, porque a vontade de saber está esvaziando? Por que a mediocridade e o nivelamento por  baixo são uma marca dos tempo atuais? Por que pouco se lê e se escreve ? Por que há desistência escolar e universitária? Por que a aula não é mais atrativa? Por que as crianças estudam por anos e no Enem não conseguem fazer contas e nem escrever uma redação? 

Certamente, a condição social e a escolaridade baixa. Milhões de analfabetos e semianalfabetos fazem a realidade. Não tem lápis, caneta ou papel em casa. Ora, é bom lembrar que dos semianalfabetos, só 8% podem ler e dizer o que leu. É a coluna vertebral  para se entender a realidade neste país. 

A pior das pragas que pode haver é de uma vida longe da curiosidade voltada para o  saber. O vazio alastra-se, contamina  a vida social, os diálogos ficam esvaziados e os pensamentos fugidios. Isto deixa a pessoa à mercê de qualquer fonte ideológica interna ou externa que lhe faça a mente; o país empobrece por dentro de cada cidadão, e suas avenidas asfaltadas e bem iluminadas servem para o desfile de esfarrapados intelectuais ou não, todavia, todos expostos à crescente brutalidade física e moral comum.

Os defeitos do sistema educacional familiar e escolar podem ser observados claramente, mas a grande maioria se realiza no setor de serviços. O analfabetismo e o semi-analfabetismo se realizam nos serviços da clínica, na cozinha do restaurante, na padaria, no setor de estoque dos supermercados, na hotelaria, no preparo de motorista profissionais, na construção civil. Há insegurança em tudo, quando a mão de obra é mal preparada e todos a população fica de refém.    

 

Odilon Reinhardt- 3.4.24