segunda-feira, 3 de junho de 2024

A intelectualidade em crise.

 

  












                                       A intelectualidade em crise.

 

 

A consagração de uma realidade.

 

 Seguir a rotina ,

o calendário dinâmico,

as horas vindo em serpentina.

 

Tudo passa muito ligeiro,

pragmático, mecânico,

o visível ,o palpável o dia inteiro.

 

O cidadão na engrenagem,

arruela desse seco mecanismo,

fazendo da vida uma bobagem.

 

Que vazio no existir ,

o pão e circo oficial,

para preencher o provir.

 

Ter um tempo para si, 

um de melhor proveito,

para a mente e corpo em si.

 

Urgente necessidade ,

aumentar o dia,

adequar a realidade.

 

Quem não pode ler e/ou escrever,

pintar, inventar, poetizar,

deve estar em apuros para se preencher.

 

Como é o tempo para si no dia,

a abstração pessoal e profunda,

senão preenchida pela TV e mídia?.

 

Que miséria de dia!

Nada distante do animal em sua gaiola.

Só a inconsciência ajuda a esconder tal agonia.

 

A todo dia mais superficialidade,

a vazia realidade do fazer e preencher o copo,

chegou-se ao enterro  da intelectualidade. 

 

 

 

Com o virtual no mundo da cultura, as telas queimando a visão, a fracassada Educação online, confirmando dados já comprovados por pesquisas que o cérebro pouco aprende com conteúdo enviado pela  tela, afastam-se os humanos da linha escrita. Nem se lê, nem se escreve, nem se pensa.

Está evidenciado que os meios de comunicação exercem toda a influência em modelar a intelectualidade de um país de semianalfabetos. 

São os meios de comunicação que promovem as marcas de uma época , fazem a moda e o padrão cultural e a mentalidade reinante. É a TV que faz a imagem da época , sem todavia , deixar de buscar lastro e abastecer-se nos resultados de seus comandos , a própria expressão popular que fabricou. Nada mais óbvio. A tela dobra-se ao povo e o povo adora e se vê na tela.  Grande platitude, pois o povo comandado e a TV se retroalimentam de modo a balizar-se pelo sucesso de audiência e vendas nos ditames do sensacionalismo. Nunca deixaram de se nivelar visivelmente pela qualidade do padrão existencial do momento. Constituem o par de sucesso, o pé e o chinelo furado da realidade.

A chamada cultura popular é o que temos e no nível que a encontramos. É a expressão da Terra , é produto nativo e cru dos arredores. Não é a intelectualidade mais rebuscada e filosófica que

traz o avant-guard do pensamento humano dos grandes centros e suas expressões comercializadas. Não, é a expressão do povo em todo seu nível de evolução existencial.

Tanto a cultura popular e a cultura intelectualizada são respeitáveis expressões do ser humano. O que vem à baila é o que pode existir  em cada país, onde por falta de educação formal de qualidade , o que predomina é a cultura popular , folclórica, fisiológica com a visível perda de espaço para a chamada cultura intelectualizada, episódio que leva os meios de comunicação a buscarem sobrevivência dando mais atenção à primeira e escanteando a segunda.

Certamente em tal país, pouco avanço intelectual  será visto, mas , sim, um eterno show repetitivo do mesmo , muito embora sob a melhoria da qualidade das câmaras de filmagem, aparelhos  de transmissão e o colorido de palcos cada vez mais ricos, evidenciando a predominância de uma intelectualidade já dominada por interesses meramente comerciais que adora o superficial, que é  natural  de suas entranhas e sublinhas exprimindo o vazio dos momentos de distração oferecidos pragmaticamente ao povo em sessões de pão e circo.

Em adendo, pode-se falar aqui da existência de censura.  O termo ainda  assusta  algumas mentes, que a ligam ao período  do regime militar, com ranços de totalitarismo dos regimes comunistas de alto controle sobre a vida individual e suas expressões.  Mas hodiernamente a censura existe abertamente e qualquer artista ou intelectual que se sujeita a comercialização de suas obras com vistas a conseguir seu sustento pelas artes, sabe que sua proposta artística será submetida a uma censura feroz por parte do editor, do financiador, do promotor, do programador, do expositor, do vendedor, do comprador e sem dúvida pela possibilidade de cancelamento aberto nas redes sociais.  E por último, surge a autocensura, quando os próprios intelectuais vão desistindo de escrever e se expressar , por não encontrarem ais interlocutores ou não acreditarem mais no que escrevem, tal a dissintonia com a realidade posta. 

Quando a obra afinal chega ao leitor, já está para lá de filtrada, censurada, corrompida , pronta para ser consumida como um objeto qualquer , comercializável, rentável. E como a obra é consumida, como é assimilada? Já é questionar de mais , mas o leitor nacional , submetido ao torniquete das necessidades econômicas e financeiras não tem tempo para si para relaxamento  para abstrair com qualidade. .

Onde estão as grandes livrarias, as que ainda não fecharam, as banquinhas de jornais e revistas? Quantas obras nacionais foram lançadas nos últimos 5 anos e qual sua efetiva qualidade? Alguma obra relevante de reflexões sobre a Pandemia, que diga o que a Humanidade aprendeu ?

Letras só as de câmbio, ideias só as esfarrapadas, decisões só as mais tresloucadas, pois sem intelectualidade  pura,   honesta e livre a vida pública ou privada fica superficial, vazia, perde o nexo e logo apresenta consequências bem palpáveis que os âncoras de TV mostram em oratória cada vez mais simples , pois o discernimento vai se abaixando cada vez mais e até a narração de futebol , o nível mais básico para conexão com o interesse popular, fica ininteligível.   A continuar....

 

Odilon Reinhardt.