A intelectualidade em crise.
A
consagração de uma realidade.
o
calendário dinâmico,
as
horas vindo em serpentina.
Tudo
passa muito ligeiro,
pragmático,
mecânico,
o
visível ,o palpável o dia inteiro.
O
cidadão na engrenagem,
arruela
desse seco mecanismo,
fazendo
da vida uma bobagem.
Que
vazio no existir ,
o
pão e circo oficial,
para
preencher o provir.
Ter
um tempo para si,
um
de melhor proveito,
para
a mente e corpo em si.
Urgente
necessidade ,
aumentar
o dia,
adequar
a realidade.
Quem
não pode ler e/ou escrever,
pintar,
inventar, poetizar,
deve
estar em apuros para se preencher.
Como
é o tempo para si no dia,
a
abstração pessoal e profunda,
senão
preenchida pela TV e mídia?.
Que
miséria de dia!
Nada
distante do animal em sua gaiola.
Só
a inconsciência ajuda a esconder tal agonia.
A
todo dia mais superficialidade,
a
vazia realidade do fazer e preencher o copo,
chegou-se
ao enterro da intelectualidade.
Com
o virtual no mundo da cultura, as telas queimando a visão, a fracassada Educação
online, confirmando dados já comprovados por pesquisas que o cérebro pouco
aprende com conteúdo enviado pela tela,
afastam-se os humanos da linha escrita. Nem se lê, nem se escreve, nem se
pensa.
Está
evidenciado que os meios de comunicação exercem toda a influência em modelar a
intelectualidade de um país de semianalfabetos.
São
os meios de comunicação que promovem as marcas de uma época , fazem a moda e o padrão cultural e a
mentalidade reinante. É a TV que faz a imagem da época , sem todavia , deixar
de buscar lastro e abastecer-se nos resultados de seus comandos , a própria
expressão popular que fabricou. Nada mais óbvio. A tela dobra-se ao povo e o
povo adora e se vê na tela. Grande
platitude, pois o povo comandado e a TV se retroalimentam de modo a balizar-se
pelo sucesso de audiência e vendas nos ditames do sensacionalismo. Nunca
deixaram de se nivelar visivelmente pela qualidade do padrão existencial do
momento. Constituem o par de sucesso, o pé e o chinelo furado da realidade.
A
chamada cultura popular é o que temos e no nível que a encontramos. É a
expressão da Terra , é produto nativo e cru dos arredores. Não é a
intelectualidade mais rebuscada e filosófica que
traz
o avant-guard do pensamento humano dos grandes centros e suas expressões
comercializadas. Não, é a expressão do povo em todo seu nível de evolução
existencial.
Tanto
a cultura popular e a cultura intelectualizada são respeitáveis expressões do
ser humano. O que vem à baila é o que pode existir em cada país, onde por falta de educação
formal de qualidade , o que predomina é a cultura popular , folclórica,
fisiológica com a visível perda de espaço para a chamada cultura
intelectualizada, episódio que leva os meios de comunicação a buscarem
sobrevivência dando mais atenção à primeira e escanteando a segunda.
Certamente
em tal país, pouco avanço intelectual será visto, mas , sim, um eterno show
repetitivo do mesmo , muito embora sob a melhoria da qualidade das câmaras de
filmagem, aparelhos de transmissão e o
colorido de palcos cada vez mais ricos, evidenciando a predominância de uma
intelectualidade já dominada por interesses meramente comerciais que adora o
superficial, que é natural de suas entranhas e sublinhas exprimindo o
vazio dos momentos de distração oferecidos pragmaticamente ao povo em sessões
de pão e circo.
Em
adendo, pode-se falar aqui da existência de censura. O termo ainda
assusta algumas mentes, que a
ligam ao período do regime militar, com
ranços de totalitarismo dos regimes comunistas de alto controle sobre a vida
individual e suas expressões. Mas
hodiernamente a censura existe abertamente e qualquer artista ou intelectual
que se sujeita a comercialização de suas obras com vistas a conseguir seu
sustento pelas artes, sabe que sua proposta artística será submetida a uma
censura feroz por parte do editor, do financiador, do promotor, do programador,
do expositor, do vendedor, do comprador e sem dúvida pela possibilidade de
cancelamento aberto nas redes sociais. E
por último, surge a autocensura, quando os próprios intelectuais vão desistindo
de escrever e se expressar , por não encontrarem ais interlocutores ou não
acreditarem mais no que escrevem, tal a dissintonia com a realidade posta.
Quando
a obra afinal chega ao leitor, já está para lá de filtrada, censurada,
corrompida , pronta para ser consumida como um objeto qualquer ,
comercializável, rentável. E como a obra é consumida, como é assimilada? Já é
questionar de mais , mas o leitor nacional , submetido ao torniquete das
necessidades econômicas e financeiras não tem tempo para si para relaxamento para abstrair com qualidade. .
Onde
estão as grandes livrarias, as que ainda não fecharam, as banquinhas de jornais
e revistas? Quantas obras nacionais foram lançadas nos últimos 5 anos e qual
sua efetiva qualidade? Alguma obra relevante de reflexões sobre a Pandemia, que
diga o que a Humanidade aprendeu ?
Letras
só as de câmbio, ideias só as esfarrapadas, decisões só as mais tresloucadas,
pois sem intelectualidade pura, honesta e livre a vida pública ou privada
fica superficial, vazia, perde o nexo e logo apresenta consequências bem
palpáveis que os âncoras de TV mostram em oratória cada vez mais simples , pois
o discernimento vai se abaixando cada vez mais e até a narração de futebol , o nível mais básico para conexão com o interesse popular, fica ininteligível. A continuar....
Odilon
Reinhardt.