Abstração
II
E agora na pátria oral.
A abstração virou distração
e
esta uma diversão
a
caminho da alienação.
O
diálogo virou papel picado,
o
livro é jogado no lixo,
a
conversa , um solilóquio desanimado.
Sem
abstração de qualidade,
a
vida está no barzinho,
hoje
clube social da instabilidade.
De
bar em bar,
a
intelectualidade se amesquinha
entre
copos até a hora de fechar.
A
História pode contar,
queriam
o país como igreja, quartel ,
sindicato
, mas agora o bar.
Imenso
bar,
onde
o espaço individual para pensar,
não
é maior do que o curto respirar.
No
país da oralidade,
onde pouco se quer ler, escrever , pensar,
prossegue
a baixa intelectualidade.
A
quem beneficia isso na prática?
Seria
muito forçado exigir,
que
a civilização do bar seja tão pragmática.
Mas
a resposta está bem presente
na
qualidade dos serviços profissionais,
em
cada setor já ineficiente.
Sem
bons pensadores,
as
boas decisões rareiam,
o
país mostra números perdedores.
Políticas
de descompressão como as de pão e circo estão sendo exacerbadas, manobras
invisíveis de psicologia de massa estão em voga e são aplicadas para reduzir o
cansaço social, utilizando distrações de péssima qualidade que não preenchem a
real necessidade de abstração que o indivíduo no seu tempo para si teria para
se preencher intelectualmente.
Nesta quadra da evolução, ousar em mencionar “intelectualmente” cheira a passado, algo mofado, já carregado de tendências de esquerda ou direita, algo retrógrado, pois o que vai na cabeça popular é o economicamente, o praticamente, o utilmente, o virtualmente. E na cabeça dos livres intelectuais, uma minoria em extinção, a solidão. A grande explosão dos pensadores acontece sem comoção.
A
realidade gerada pela limitação do discernimento, vem dos limites to sistema
educacional público, privado e familiar. Há crescente limitação do intelecto,
com aumento da sujeição aos condicionamentos e comandos do coletivo. O pensar
está limitado ao grotesco tema das dificuldades pessoais em pagar contas ,
aumentar números e achar tempo para a cerveja no barzinho da galera.
Já
está visível que a intelectualidade livre, desengajada, criativa, diletante que
brota da necessidade da conexão individual usando o talento para ligar-se à Energia Criadora, está
tão encolhida quanto a atividade espiritual, que virou adoração em cerimônias e
rituais calejados. O que pode sobrar de tal realidade? Só uma intelectualidade
rasteira e comercialmente conduzida , escravizada e artificial voltada a fazer
rir aos seres robotizados.
E
assim vai a vida neste canto do Globo, esvaziando de conteúdo e produzindo
comunicação de atos, fatos e fotos de um deserto multi dilacerado em termos de
qualidade no pensar.
“Abstração!?”,
deve ser palavra exotérica, usada em rituais de magia negra. O negócio agora é
“ have fun”. Segue...
Odilon
Reinhardt – 3.8.2024