sábado, 3 de agosto de 2024

Abstração II

 





Abstração II

 

 

E agora na pátria oral.

 

A abstração virou distração

e esta uma diversão

a caminho da alienação.

 

O diálogo virou papel picado,

o livro é jogado no lixo,

a conversa , um solilóquio desanimado.

 

Sem abstração de qualidade,

a vida está no barzinho,

hoje clube social da  instabilidade.

 

De bar em bar,

a intelectualidade se amesquinha

entre copos até a hora de fechar.  

 

A História pode contar,

queriam o país como igreja, quartel ,

sindicato , mas agora o bar.

 

Imenso bar,

onde o espaço individual para pensar,

não é maior do que o curto respirar.

 

No país da oralidade,

onde  pouco se quer ler, escrever , pensar,

prossegue a baixa intelectualidade.

 

A quem beneficia isso na prática?

Seria muito forçado exigir,

que a civilização do bar seja tão pragmática.

 

Mas a resposta está bem presente

na qualidade dos serviços profissionais,

em cada setor já ineficiente.

 

Sem bons pensadores,

as boas decisões rareiam,

o país mostra números perdedores.  

 

 Face a atribulações e mesmo instabilidade  da vida pessoal  em todas as classes socais, o tempo disponível para o indivíduo em si, encontra-se em processo de redução, sendo cada vez mais preenchido por horas de desafogo , pretendendo-se não pensar em nada e livrar-se  do desconforto causado pelas condições de trabalho, quer seja autônomo ou não.

Políticas de descompressão como as de pão e circo estão sendo exacerbadas, manobras invisíveis de psicologia de massa estão em voga e são aplicadas para reduzir o cansaço social, utilizando distrações de péssima qualidade que não preenchem a real necessidade de abstração que o indivíduo no seu tempo para si teria para se preencher intelectualmente.

Nesta quadra da evolução, ousar em mencionar  “intelectualmente” cheira a passado, algo mofado, já carregado de tendências de esquerda ou direita,  algo retrógrado, pois o que vai na cabeça popular é o economicamente, o praticamente, o utilmente, o virtualmente. E na cabeça dos livres intelectuais, uma minoria em extinção, a solidão. A grande explosão dos pensadores acontece sem comoção.

A realidade gerada pela limitação do discernimento, vem dos limites to sistema educacional público, privado e familiar. Há crescente limitação do intelecto, com aumento da sujeição aos condicionamentos e comandos do coletivo. O pensar está limitado ao grotesco tema das dificuldades pessoais em pagar contas , aumentar números e achar tempo para a cerveja no barzinho da galera.

Já está visível que a intelectualidade livre, desengajada, criativa, diletante que brota da necessidade da conexão individual usando o  talento para ligar-se à Energia Criadora, está tão encolhida quanto a atividade espiritual, que virou adoração em cerimônias e rituais calejados. O que pode sobrar de tal realidade? Só uma intelectualidade rasteira e comercialmente conduzida , escravizada e artificial voltada a fazer rir aos seres robotizados.

E assim vai a vida neste canto do Globo, esvaziando de conteúdo e produzindo comunicação de atos, fatos e fotos de um deserto multi dilacerado em termos de qualidade no pensar.

“Abstração!?”, deve ser palavra exotérica, usada em rituais de magia negra. O negócio agora é “ have fun”. Segue... 

 

Odilon Reinhardt – 3.8.2024