terça-feira, 3 de setembro de 2024

Abstração III

 





Abstração III

 

 

Por vários sinais

de um futuro que já se apresenta,

pode estar empobrecendo o país.

 

A abstração descuidada,

modelos sem trocados,

a intelectualidade retirada.

 

A produção intelectual 

sendo sequestrada pela economia,

o individual , o útil , o pragmático, o  racional.

 

Perde-se a sensibilidade ,

nada dessa tendência, se percebida é divulgada,

vestígios de pobre e abominável realidade.

Diálogos esvaziados,

letras se perdem no desinteresse,

livros descartados.

 

Intelectuais isolados, segregados,

boa abstração em crise,

maus momentos visualizados.

 

No resto vale a abstração popular,

diversões culturalmente  inúteis,

pão e circo para o povo não se matar.

 

 No meio de tantas incertezas e pendências quanto aos meios para assegurar um mínimo de vida razoável, o dia é feito por intensa atividade operacional, a produção ocupa o tempo de qualquer um e os momentos de abstração são sufocados por exigências materiais e o pouco que resta vira diversão , também no campo do fazer, na generalidade, para esvaziar a cabeça dos problemas que se acumulam gravemente , deixando as pessoas tontas e perturbadas com os inúmeros pensamentos saltitantes que a qualquer momento do dia aparecem na mente,  em busca de soluções, que ficam cada vez mais difíceis, fazendo o pano de fundo do teatro do sobreviver.  No sufoco ,  o  fazer parece ser a terapia usual , jamais o pensar,  o refletir , o meditar, o escrever ou ler. Então, a pergunta é como a pessoa está preenchendo seus instantes de nada fazer? Seria luxo falar em abstração.  

Com tantos assuntos pendentes, sem definição clara, projetos novos , ideias versus ideais, planos de negócios e  dificuldades muitas, a cabeça do cidadão movimenta-se em permanente agitação.

Abstração seria o momento de cada um pensar em si, ter sua conexão mais elevada como o ser. Todavia, hoje, há tempo para isso? Ou a abstração fica para as horas de TV e bar, de copo e sexo-fuga. Então, a abstração tornou-se diversão promovida pelo álcool , droga, conversa superficial, piadas e gargalhadas eufóricas , escárnio da alquebrada vida a fim de não dar em nada?

O bar , hoje o clube social da nova geração , torna-se o centro promotor da abstração mais rala que pode haver. Que outros tipos de “barzinho”, o cidadão está montando, para mitigar sua insatisfação e evitar seu “dia de fúria”?

Difícil momento para a intelectualidade livre e criativa. Nenhuma garantia de qualidade, só um devaneio de mentes tontas, desejando se livrar da cabeça cheia de tantas contrariedades .

Tudo  isso tem algo de conexo com a falta de espiritualidade sincera, porque só a educação mau conduzida, incompleta ou inócua é insuficiente para justificar o baixo nível do preenchimento da abstração , ou melhor, “distração, .

E nesse mote, estamos perdendo a sensibilidade de transcender, de ver os sinais de tendências danosas que afetam o ser, que já pouco escreve, pouco cria, pouco pensa no que efetivamente importa. A Epidemia de miopia não está mais só nos olhos.

O presente parece ser de involução, a sociedade humana aqui recusa-se a atingir o seu mais elevado patamar, ou seja, o pensar , o pensar unanimemente em sua melhoria contínua. A errônea compreensão da função do sistema produtivo e do capital gera individual desestímulo ao intelecto e foca os níveis mais operacionais: garantir o controle do fisiológico. Todavia, corpo e mente são maltratados diariamente por hábitos corporais bem inconscientes. Viva a cachaça de cada um! Viva o Universo do bar e seus deuses e deusas do dia e da hora!   

Novos padrões de distração. Até o pão e circo oficial está sendo questionado e em crise. A revolução dos copos está em andamento com seu vazio atormentador , para quem conhece  padrões mais elevados.

Enquanto a intelectualidade é desconstruída, sebos prosseguem com seus livros amarelados, mas procurados por garimpeiros  alienígenas  de uma época que vai acabando. E a produção de  livros? Traduções de livros estrangeiros, páginas e páginas de narrativas vazias e sonolentas e comezinhas e inúteis. Excelente campo para a inteligência artificial treinar seus artificiais tradutores.

 

Odilon Reinhardt.  3.9.2024