Distração.
Em fuga seguem diariamente todos
para
os bares espalhados
onde
muitos rodos
limpam
os pensamentos quebrados.
Em
cada gole o copo se aproxima
do
seu fundo
e
nele a verdade faz rima
com
os olhos do real mais profundo.
Nada
foi conseguido,
só
uma distração passageira
para
o cidadão que se tem por perseguido
num
sistema de produção exigente e ligeira.
Mero
moinho de vento ,
usado
como desculpa
pela
falta de intelecto sem assento
na
mente cheia de frustração e culpa .
De
copo em copo procuram
uma
conversa , que só conseguem preencher
com
algo que nunca encontram
na
mediocridade do intelecto a desaparecer.
Alguém
surge com um livro,
“vai
de retro satanás “
de
tu me livro,
nem
que seja com um copo de aguarás.
Assim
, morre a chance de abstração,
abaixo
qualquer cois apara ler, escrever ou pensar,
a
vida desce para a baixa distração,
e
o intelecto cede ao superficial até mesmo no bar.
Distração,
sinônimo mais popular , para abstração, entre nós, um instante de fuga do
trabalho e dos fracassos no relacionamento profissional e pessoal. Muito pão e
circo, muito barzinho novo, tudo para desopilar o fígado e enganar a mente com
falsos devaneios e bois de piranha.
Enganam-se
as novas gerações em números mais expressivos quanto a quantidade de jovens e
aumenta-se a revolta dos já enganados e fracassados , produtores da
violência.
A
busca incessante é pela descontração, sendo a distração o meio. Mais por que há
contração? Pergunta que fica no ar da boca de muitos, que costumam jogar todas as suas falhas pessoais para o sistema. Bodes expiatórios em
promoção, até grátis.
A
largos passos , diante da intelectualidade em baixa, num país que ainda discute
o básico em relação à sexualidade, racismo e a
liberdade humana em debates muito estranhos e de baixa qualidade,
renegando a solução mais evoluída e já incorporada a vida de outras sociedades,
nota-se a redução substancial da literatura, da poesia, dos livres pensadores .
A sessão cultural de alguns jornais fica reduzida a intelectuais controlados
pela mídia e suas linhas de pensamento.
Sem
muito do ler e escrever, certamente o pensar deve estar sendo mais ocupado
pelas frustrações e contrariedades do ego em reação do que pelas boas ideais e
soluções de como fazer um mundo melhor. A intelectualidade restringe-se as
situações comezinhas e o diálogo é orientado pelas notícias dos eventos
climáticos, políticos e socais de abominável qualidade , de modo que os breves
instantes de abstração ficam sendo preenchidos por lapsos de medo e euforia ,
apego desvairado e com o ego dançando na cabeça da maioria. Nem se fale mais
em linguagem figurada , metáforas .
Na
terra da vantagem, do ganhar muito e fazer pouco, a espiritualidade é feita de
níveis cada vez mais baixos de adoração inconsciente; uma falsa espiritualidade.
Até
o refúgio das multidões já mudou faz tempo; não é mais, a religião com seus
livros e a Bíblia ininteligível , que a cada momento exige mais interpretes
para o povo de pouco vocabulário e recursos gramáticos.
Textos,
livros e frases mais elaboradas já não
fazem parte da vida das pessoas nem de seus diálogos no dia a dia , feito de
assuntos corriqueiros , vazios e operacionais.
O discernimento está nos níveis mais baixos. Com tantos meios de comunicação,
quem está falando com quem?
Por
falar nisso, onde estão as bancas de jornais e revistas? No mesmo lugar , mas
vendendo doces e salgadinhos, bebidas.
Quantas
livrarias famosas no país já fecharam as portas? Que livros estão sendo
vendidos nas que não fecharam?
Se
alguém desejar comprar um livro, que procure um sebo, o cemitério da
intelectualidade. Bem amado cemitério.
Odilon
Reinhardt. 3.10.2024