quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Distração

 




                                                                    




 

                                                             Distração.

 

Em fuga seguem diariamente todos

para os bares espalhados

onde muitos rodos

limpam os pensamentos quebrados.

 

Em cada gole o copo se aproxima

do seu fundo

e nele a verdade faz rima

com os olhos do real mais profundo.

 

Nada foi conseguido,

só uma distração passageira

para o cidadão que se tem por perseguido

num sistema de produção exigente e ligeira.

 

Mero moinho de vento ,

usado como desculpa

pela falta de intelecto sem assento

na mente cheia de frustração e culpa .

 

De copo em copo procuram

uma conversa , que só conseguem preencher

com algo que nunca encontram

na mediocridade do intelecto a desaparecer.

 

Alguém surge com um livro,

“vai de retro satanás “

de tu me livro,

nem que seja com um copo de aguarás.

 

Assim , morre a chance de abstração,

abaixo qualquer cois apara ler, escrever ou pensar,

a vida desce para a baixa distração,

e o intelecto cede ao superficial até mesmo no bar.  

 Odilon Reinhardt. 

   

 

 

Distração, sinônimo mais popular , para abstração, entre nós, um instante de fuga do trabalho e dos fracassos no relacionamento profissional e pessoal. Muito pão e circo, muito barzinho novo, tudo para desopilar o fígado e enganar a mente com falsos devaneios e bois de piranha.

Enganam-se as novas gerações em números mais expressivos quanto a quantidade de jovens e aumenta-se a revolta dos já enganados e fracassados , produtores da violência. 

A busca incessante é pela descontração, sendo a distração o meio. Mais por que há contração? Pergunta que fica no ar da boca de muitos, que costumam  jogar todas as suas falhas  pessoais para o sistema. Bodes expiatórios em promoção, até grátis.

A largos passos , diante da intelectualidade em baixa, num país que ainda discute o básico em relação à sexualidade, racismo e a  liberdade humana em debates muito estranhos e de baixa qualidade, renegando a solução mais evoluída e já incorporada a vida de outras sociedades, nota-se a redução substancial da literatura, da poesia, dos livres pensadores . A sessão cultural de alguns jornais fica reduzida a intelectuais controlados pela mídia e suas linhas de pensamento.

Sem muito do ler e escrever, certamente o pensar deve estar sendo mais ocupado pelas frustrações e contrariedades do ego em reação do que pelas boas ideais e soluções de como fazer um mundo melhor. A intelectualidade restringe-se as situações comezinhas e o diálogo é orientado pelas notícias dos eventos climáticos, políticos e socais de abominável qualidade , de modo que os breves instantes de abstração ficam sendo preenchidos por lapsos de medo e euforia , apego desvairado e com o ego dançando na cabeça da maioria. Nem se fale mais em  linguagem figurada , metáforas .

Na terra da vantagem, do ganhar muito e fazer pouco, a espiritualidade é feita de níveis cada vez mais baixos de adoração inconsciente; uma  falsa espiritualidade. 

Até o refúgio das multidões já mudou faz tempo; não é mais, a religião com seus livros e a Bíblia ininteligível , que a cada momento exige mais interpretes para o povo de pouco vocabulário e recursos gramáticos.

Textos, livros e  frases mais elaboradas já não fazem parte da vida das pessoas nem de seus diálogos no dia a dia , feito de assuntos corriqueiros , vazios e operacionais.  O discernimento está nos níveis mais baixos. Com tantos meios de comunicação, quem está falando com quem?

Por falar nisso, onde estão as bancas de jornais e revistas? No mesmo lugar , mas vendendo  doces e salgadinhos, bebidas.

Quantas livrarias famosas no país já fecharam as portas? Que livros estão sendo vendidos nas que não fecharam?

Se alguém desejar comprar um livro, que procure um sebo, o cemitério da intelectualidade. Bem amado cemitério.

 

Odilon Reinhardt. 3.10.2024