Blog 31.7.2016
O interesse
público. E agora ?
Acabou o dinheiro ou
acabou o interesse ”público” para manter alguns na política? Será que haverá
interesse privado, suficiente para ser transformado em público, quando não há
mais financiamento através dos esquemas já escandalosamente revelados?
Ou será que há muito
dinheiro ainda estocado, para as próximas eleições, como caixa “2”? Mas será
mesmo que o dinheiro que vier a ser “investido” será depois recompensado
através das tradicionais contratações problemáticas? E os corruptores, empresas
com interesses em obter privilégios, contrariando a livre concorrência, vão
arriscar? Saberão competir no mercado, sem a proteção “oficial”?Deixarão de
procurar políticos, para defender seus “interesses”?
As perguntas são
muitas, as respostas poderiam ser honestas e resumidas num sonoro “ Não!”.
Todavia, sempre persistem a dúvida e a suspeita quanto à morte da impunidade e
da malandragem nesta pátria enrolada por uma burocracia e direito processual
que pretendia controlar e garantir tudo, mas acabou não controlando nem
garantindo nada.
Quando lemos e ouvimos
que pessoas, mesmo já presas, continuam a manter esquemas de “propinagem”, tudo
só confirma a suspeita acima. O país dessas pessoas está doente, tomado pela
ganância e abuso de poder. Montaram uma economia paralela com banco de fachada
e tudo, enquanto a população era iludida por mentiras, há várias décadas.
Se hoje, na TV a cabo, podemos ver uma série
histórica denominada Gigantes do Brasil, podemos ver como surgiram as empresas
e empreendimentos de Matarazzo, Martinelli , Faulkar e Guinle. Agora com toda
esta revelação, que tende a lavar a realidade, vemos empresas atuais que
destruíram oportunidades para o Brasil e sua população por décadas. São as
destruidoras de um futuro e serão lembradas pela História, em páginas de
revistas e jornais. Era um “grande negócio” construir obras imbecis e manter a
população na miséria e ignorância, iludida pela TV e enganada quanto ao seu
real desenvolvimento como pessoa.
Então, agora, que as
verdades estão boiando no rio, quem terá interesse em participar com dinheiro
próprio, honesto na campanha política, se não haverá, espera-se, o milagre de
transformar cada real “investido” em um milhão, via obras e serviços para
atender ao dito e corrompido” interesse público”?
Até agora, tudo é expectativa para as próximas eleições.
Espera-se que a Justiça Eleitoral questione cada centavo de doações feitas aos
políticos e impeça a desova do dinheiro sujo através de pessoas físicas?
Haverá “empresa” que
ainda fará doações informais para o caixa “2”, esperando ser beneficiada em
futuras licitações ou para “pagar” o já obtido?
Não deve estar fácil
achar candidatos idealistas e com dinheiro próprio suficiente. Uma coisa é
certa, quem se apresentar deve ser evidentemente o “iluminado“ em termos de
ideal cívico e honestidade. Vamos ver quem se apresenta, quem são os honestos e
sérios que eleitos poderão resgatar a soberania absoluta do interesse público,
efetivamente público, para beneficiar o país em todos os cantos e mostrar à
população que os impostos podem construir o país de verdade .
Qual o preço das novas
eleições municipais? O limite concedido aos candidatos é suficiente? Seja lá
como for, o cenário tem como pano de fundo o desenrolar de uma crise enorme, a
retração, a depressão que, com fé e esperança, aguarda-se não vire a demoníaca
hiperinflação, o que faria o país mergulhar no
túnel da história para voltar a 1991.
Certo que o interesse
público, em sua concepção mais ideal, estará enfraquecido e subordinado à
existência de financiamentos. Ideias e projetos serão raros, já que o interesse
privado estará desmotivado em pensar tornar-se público com a retirada da
expectativa da farta propina. Só os impostos atribuídos ao Município serão
insuficientes.
Pequenas e grandes
quadrilhas estão sob a mira da Polícia Federal e do Ministério Público.
Espera-se o correspondente zelo como dinheiro na gestão estadual e municipal,
mas este é outro aspecto que está ainda a se desvandar de modo mais profundo,
penetrando nos meandros do castelo dourado de governos blindados nos municípios
e estados. Espera-se que nestes “bunkers” também penetre o sentimento
patriótico dos órgãos de controle estaduais e que os piratas percam suas naus,
seus tesouros e suas galinhas de ovos de ouro nas economias mistas e empresas
públicas paradisíacas.
Aberta a temporada de
caça aos votos, já se observou a lentidão, a dificuldade em achar candidatos
que se ajustem ao novo “establishment”, o da seca nas hortas e a da ferrugem
nos cofres do erário público, agora acompanhado pela dos cofres privados. Há um
visível esmorecimento, falta de motivação e interesse privado. Os famosos
negócios oficiais de balcão, as costuras e as negociatas perderam o encanto
secular.
O “interesse público”
terá que ser efetivamente público, tendendo a beneficiar a população. Estão
abertas as vagas, alguém se interessa?
Mas enquanto a trupe
político-teatral prossegue em reuniões fechadas e secretas, pensando nos
interesses de seu umbigo egoísta, a população segue no seu dia-a-dia heroico,
tentando pagar suas dívidas, o crediário, achar emprego, achar meios de como
não devolver o apartamento, não se separar, não devolver o carro, a geladeira ,
numa rotina alienante, fisiológica e pressionada e “imaginando estar doente”
No mundo político, a
podridão do sistema envolve a todos, entre políticos, guerra é guerra, ego
contra ego, campo de estratégias do Mal, falsas promessas, traições. O pacote
completo.
No país, já meio
comandado pela geração “ vai que dá certo “, “ se colar colou”, a memória não é
uma qualidade muito eficiente, mesmo porque com tanta denúncia, uma
soterrando a outra, numa infindável
maratona, o perdão é quase um meio masoquista de empurrar tudo para mais tarde,
numa inocente demonstração de esperança juvenil.
Gente comprometida com
escândalos e roubalheira, com e sem precedentes, têm voz na imprensa, usando
frases de efeito, que propagandeiam a sua vitimização política, como se a
corrupção fosse toda ela parte de um imaginário, foi inventada pelos opositores
e adversários. Parece que a corrupção é um direito hereditário dos ocupantes de
cargos públicos e não pode ser atacada, denunciada ou averiguada. Para essas
pessoas o teatro continua e tudo é questão política.” “ Nada pessoal, é só
negócio”. “O show deve continuar....” como se diz no mundo circense.
A política neste nosso
amado Brasil, tem modo curioso de obter a permissão popular para que ali o ego
possa dançar como desejar; tudo a custo do dinheiro público, feito com impostos
de todos. A vitória na eleição é o passaporte democrático para a obter a
licença para roubar, desperdiçar, etc. etc.
E tudo pode continuar
como foi até hoje. A malandragem é cultural. Não há em termos de qualidade
estradas para ir ao porto, não há escolas, hospitais e posto de saúde,
segurança e creches etc, mas tudo está ok. Parece que o povo foi anestesiado.
Não há comprometimento com o progresso, mas sim, uma grande resignação, que só
pode ser explicada pelo altíssimo grau de analfabetismo.
A alienação é
estonteante, prato cheio para o planejado individualismo. É como um ditador do
norte da África estupidamente disse “ o nosso povo está preparado e pode a
qualquer hora voltar a viver em tendas no deserto” .
Se a Nação desejar
avançar, transformando toda esta trágica lição de décadas em alavanca de
transmutação, terá que deixar para trás sua pobre cultura e modo de fazer
política. Estamos no fundo do poço, é ruim e não se aguenta mais.
O modo de fazer
política faliu. O modelo se esgotou. Quem serão os eleitos? Não serão eles
também arrastados pelo mesmo sistema
político, o qual não pode ser elaborado só pelos próprios interessados
em preservar suas mazelas. O Poder Judiciário através da Justiça Eleitoral
poderá evitar que a raposa seja a chefe do galinheiro num novo sistema mais
inteligente.
Odilon Reinhardt .