Hoje,
se digo isso.
Deletado, Cancelado!
Se defendo isso.
Rejeitado!
Se penso isso .
Excluído!
Se sinto isso.
Ridicularizado!
Eis o superficialismo
que vive sem debate,
um tipo de antropofagismo.
Sem razões expostas
devido ao encontro de egos,
as pessoas evitam polêmicas e respostas.
O cala boca virtual
no tempo das imagens e comunicação
tudo dando sinal.
É mais fácil descartar
cancelar, excluir, rejeitar em silêncio,
é o processo do pensamento se degradar.
Basta uma cor, um gesto, uma palavra de expressão,
aquela que esteja proibida por alguns,
e encerra-se qualquer lavra em execução.
O politicamente correto,
cada vez mais amplo, pobre e vil,
imposto de modo nem sempre discreto.
Eis o diálogo
fechado, no pensar do ler e do escutar,
reduzido a solitário monólogo.
Cada um com suas razões
imutáveis, herméticas.
Pouco interessa o Outro e suas opiniões.
O consenso coletivo restringido
limitado ao pobre conversar
de pessoas sós no dia constrangido.
Que ditadura silenciosa e pessoal existe
que foi imposta pelos coexistentes dos tempos atuais
e que a todos atinge e de ninguém desiste?
Já tivemos tempos quase iguais na boca e pele.
O que você acha? Nada !
Meu amigo achou e nunca mais acharam ele!.
Hoje seria:
O que você disse, escreveu ou fez? Nada!.
Meu amigo fez e desfizeram ele!
Acontece diariamente em qualquer lugar a qualquer
momento: eu é que mando! Eu quero assim! Não interessa o que você pensa ou
quer, faça assim! Eu é que pago, faça e cala a boca! Quem é o chefe aqui?! E
ainda pior: Eu penso assim e o resto não interessa! Já foi, se colar, colou!
Você vem com esse blá-blá-blá! Você e esse nhennhennhen! (desde o tempo Tupi,
contra a demagogia do invasor.). Expressões todas que indicam o nível de
participação do Semelhante, mas nem sempre tão explicitamente verbalizadas. Há
muitos modos de demonstrar tal poder, todos amoldam-se , da mesa de casa à do bar, do chão da fábrica à
sala de reuniões.
Sempre o campo dos monólogos, com reuniões de um falante e outros engolindo a seco. O debate, se existir, é pouco produtivo e geralmente descamba para confusão com fortes indícios de afrontamento. Eis uma pequena demonstração do processo de Poder entre nós. Sempre uma decisão já aprontada nos bastidores, submetida proforma aos seguidores, numa na verdade comunicação urbi et orbi.
Esse é o processo que ocorre hodiernamente de pessoa a pessoa, entre instituições, entre empresas. Quase tudo sob o mando de uma quebradiça realidade que a qualquer momento diante da contrariedade e/ou frustração pode descambar para o embrutecimento com muita falta de vocabulário mais elevado, registrando a falta de intelecto falta de educação familiar e escolar etc. Um ambiente permanentemente dissimulado com sorrisos interesseiros onde há pessoas sabotadas por outras mais impulsivas, esperando o momento de terem suas opiniões acolhidas. Basta um não e a reação é egoística, cheia de violência física ou moral, em qualquer caso verbal .
É o ambiente para a falsidade social, a hipocrisia e muito fingimento onde os mais expertos se impõem até com certa facilidade, já que o medo de confronto por parte dos demais.
Assim crescem as pessoas, a empresa, a família, a associação; sempre com poucas palavras e muitas decisões sem discussão. Está no sangue do país, na raiz, geometricamente acomodada à ignorância, impossibilidade do participar e/ou avançado desinteresse em fazê-lo.
E todos louvam e aclamam o modelo simbólico de “o camelo ter sido o resultado de uma comissão para inventar um cavalo”. Assim, nascem as ordens domésticas, os regulamentos, os estatutos, as normas, as instruções, as portarias, os decretos, a lei, todos sob o silêncio da maioria num país que se dá ao luxo de dizer que “essa lei não pegou.”
O fracasso do processo de diálogo é visível, concreto e as consequências marcantes. De uma simples reunião de condomínio aos mais altos sítios da legislatura e decisão, o processo é recheado por deficiências, corrupção, ajeitamento de interesses pessoais e defesas de interesses bem discutíveis quanto a honestidade e fim público.
Tudo favorece o campo para tecnocratas, ditadores de balcão, malfeitores, autocratas, etc., todos arautos e propalados conhecedores da vontade popular.
Eis o processo democrático ainda na fase lactante, o possível, em face de aperfeiçoamentos, com muitos nós e amarras calculados e bem plantados. Como será a adolescência?
Por enquanto, é só uma tentativa de mudança de paradigma. Ainda por meio de gritos, desfazimentos, impulsividade, muito palavrão e inflexibilidade, abuso de poder e muita fake news. É uma ampliação barata da brutalidade pessoal, expressão da miséria intelectual e onde monossílabos dançam solitários entre o sim e o não ou em frases curtas que resumem posições fechadas, pétreas ou ainda em opiniões de frases sintéticas que geralmente arrepiam a sintaxe. Verdade de cada um, inflexíveis, intolerantes, radicais, mal pensadas, mas verdades defensáveis com impulsividade e se possível violência física e moral, como forma de imposição, autoafirmação e muita vontade de nunca perder. Nesse contexto , todo tipo de “ismo” distorcido floresce: machismo, feminismo, etc...( a continuar)
Odilon Reinhardt 3.9.2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário