Cacos escolhidos
pela realidade televisiva,
coletânea de pontas de iceberg,
pedaços da vida ativa;
a mídia não faz notícia,
mas escolhe cacos sensacionais
para invadir a casa alheia todo dia;
que tipo de visão de mundo,
produz o show de distorcidas exceções
que nunca vai em nada a fundo?
A perturbação da vida comum,
agitação estressante do caleidoscópio,
inevitável ataque a mente de cada um;
resulta no desligar,
na alienação ou revolta, pessimismo;
mas fim de pelo menos uma fonte do manipular.
No que isso contribui
para o processo democrático
nessa etapa que surgiu?
Superficialidade
para o discernimento sofrível,
qual a verdadeira realidade?
E é no campo das conversas que tudo se intensifica com
a miséria intelectual dos conteúdos vazios. A pobreza intelectual campeia. O
tema da conversa e o seu desenvolver, a superficialidade explícita. A
simplicidade mora na virtude, mas não nesse tipo de simples ignorante e obscuro
que vai do futebol, carros e qualidade de cerveja como campo onde os intelectos
hodiernos se encontram. Aqui não existe “jogar conversa fora”, pois a conversa
já nasce jogada. Realidade que é transferida para outros locais oficiais ou
não, onde o diálogo é todo mascarado por interesses umbilicais, cheio de
segundas intenções e coberto pelos cabrestos e máscaras do dia.
Tal realidade, gerada pelas pessoas em mal vida, é
transferida para vários locais, sendo a oficial a mais televisionada, onde a
política aberta, revela o amontoado de interesses pessoais, colocados e
impulsionados por totalitarismo autêntico, de raiz nascida do popular,
construção egóica, modo de vida e poder em qualquer lugar.
Sua prática diária vive da violência impulsiva do ego
de cada um; exprime-se bem à vontade na
inflexibilidade, intolerância, preconceito, conservadorismo e faz o radicalismo
das ações e reações no ato de evitar debate e discussão, diálogo que exponha a
contrariedade. É a democracia da maioria
egóica que anda do bar à fábrica, da casa ao palácio, da cozinha à cama, da
buzinada ao xingamento e cala-boca.
O processo de diálogo é conduzido pelos interesses em
jogo. Se o interesse é defender um assunto de esquemas de poder e seu
financiamento etc., o poder se manifesta e bloqueia por vários meios qualquer
oposição ou escamoteia o processo de debate , usando modos indiretos de
imposição, inclusive a distração do
boi-de-piranha. De certo modo, para quê democracia quando o objetivo é
legalizar interesses privados?
Aqui os relacionamentos são superficiais e se
aprofundados tornam-se tóxicos, pois logo surge a contrariedade. Tem guerra até
na sacristia. A convivência é difícil e leva à alienação ou à violência. Mesmo
o silêncio é uma violência quando feito com barulho interno, frustração,
revolta engolida e reprimida, que certamente espera a oportunidade de revanche.
Dizem que o país não é para amadores, tal a
complexidade que se lhe atribui no entrelaçamento dos interesses, onde a grande
maioria esmorece diante das iniquidades, mas alguns se aproveitam e são bem
ativos. Talvez a democracia para poucos no mundo formal e bem produtivo.
A vitrine mais popular do exercício democrático é a
vida política nas casas legislativas, pois é passível de cobertura televisiva,
todavia, qual os cacos no caleidoscópio, onde lá lapsos de progresso, mesmo que
a visão seja geral e superficial, cabendo a cada cidadão tirar sua impressão.
Quanto ao processo democrático nas relações diárias dos interesses comezinhos,
o processo é muito mais tosco e rude, marcado pelo encontro entre egos e
geralmente resolvido na imposição e violência física e moral.
Eis a democracia em seu berço, choramingando, mas com
muito a vencer. Dizia Nelson Rodrigues, que o Brasil conhecerá a selvageria
antes da civilização. Talvez radical, mas verdadeiro. Do índio ao astronauta,
ainda temos muitas realidades democráticas sofríveis, mas em avanço. É a fase
de transição do rural para o urbano, do rude para o sutil. Pode levar muitas
dezenas de décadas.
Duro de ver, de aguentar, de pensar, mas é a etapa do
processo. Aguentemos, pois já foi bem
pior. Hoje vemos o roto perseguindo o esfarrapado pelos caminhos da vida
medíocre, mas ambos pensando ser a expressão mais elevada da rua ainda em
macadame e barro.
Ad astra per áspera. Aqui o debate, perguntas, pedidos
de esclarecimento, discussão é sinônimo
de oposição, preparada ou não, sendo punida com cancelamento, seja lá onde for.
Mas a democracia, mesmo assim, é a melhor via. Aqui está ainda lactente. Vamos
fazê-la crescer e prosperar no tempo, pelos tempos e com o tempo. Não há
alternativa melhor.
É então, a democracia que estamos construindo, a
democracia na base social , nas relações pessoais, nas situações do dia a dia onde há interesses
diversos, e feita, muitas vezes, com a linguagem não adequada, mas expressão do
povo que temos e sua educação deficitária.
Essa realidade aparece no discernimento político e geral. O elemento humano é na grande maioria da mesma base e
alimenta a direita, a esquerda e o centro com o mesmo fundo de preparo e
despreparo.
Milhares de exemplos poderiam ser citados.
Desnecessário, pois é o dia a dia do condomínio, da vizinhança, da Câmara à
Assembleia, desta ao Congresso, da
escola à Faculdade. Em tudo, aparece o rude, o bruto, a inflexibilidade, a
intolerância, o radicalismo, a intransigência nas relações humanas.
É a fase em que estamos, aguentemos um dia passa,
passamos.
Odilon
Reinhardt-3.10.25
Nenhum comentário:
Postar um comentário