Há
na História de qualquer lugar, uma discrepância enorme, quando filosofias
estruturais se chocam e jamais combinam, formando idiossincrasias de confusa
adaptação. Um carnaval filosófico de loucas figuras do circo do dia a dia .
O
racionalismo e o utilitarismo, unidos ao pragmatismo, que alavancaram algumas
das nações europeias e suas colônias, aplicados como instrumentos inteligentes,
lógicos e inevitáveis para produzir mais, reduzindo custos e desperdícios em
qualquer empreendimento lucrativo, quando importados, aparecem nesta etapa de
evolução do cenário de muitas pessoas como cereja no pinheiro, como laranja em
pé de jaca. Não combinam jamais com a falta de educação de qualidade, com
baixos níveis de inteligência, com o despreparo para falar, escrever e pensar,
o que embaraça a mente das pessoas de modo determinante. Prevalece o autóctone
espírito de rejeição.
A
falta de educação formal de qualidade, constada a cada teste estudantil, quer
pelos resultados quer pelo número de inscritos, dificulta e turbina bastante a
discrepância acima mencionada, favorecendo a continuação do fisiologismo
animalesco e um falso pensamento, não só humanista bem como social, voltado à preservação do “natural” com muita atitude de antiprogresso
pessoal e coletivo.
Surge
neste contexto, um arremedo de racionalismo, um pragmatismo pobre, vazio, sem
crédito, aplicado à vida rotineira de muitas e muitas pessoas, afora um
intelectualismo retrógrado e promovido por gente frustrada em seu egoísmo.
São
velhos inimigos. A ignorância e a falta de esclarecimento, enfim a limitação
intelectual e sua orientação para um socialismo guarani, sem dinheiro, sem
recursos, que se abastece da politicagem e do pensamento miúdo e populista de
líderes que visão se manter no poder às custas da conservação de bases
eleitorais que querem tornar imutáveis. Esquecem que o povo se move, quer luxo
e dinheiro e que a miséria é coisa de intelectual, que tem sua própria vida
mental em pedaços de miséria, mergulhado no pessimismo, recanto onde sempre tem razão.
O
racionalismo que aqui se vê é o fisiológico, egoico, uma espécie de pragmatismo
do grosseiro, do animal em constante defesa, procurando sobreviver na caça, quase
selvagem, pela proteína carnívora disponível. O dia a dia é vasto em dar
exemplos da dissintonia filosófica num país ainda em fases primitivas de evolução
mental e material.
A
cultuada rejeição a qualquer racionalismo produtivo, a qualquer modelo que
deseje a forma em detrimento do hedonismo, do umbigo, da farra pessoal, da
cultura de preservação da vida simples da tribo, do espírito do “simples”, é
explícita e prejudica o progresso e a produção.
Enquanto
a prioridade for o conforto pessoal, a megalomania as custas do dinheiro
público e da incessante ânsia por vantagem , o racionalismo e seus modelos
produtivos para o mundo dos negócios vão sempre sofrer a crítica e revezes enormes, tudo promovido pelo espírito
do “simples e natural”, que se alimenta diariamente de falsas premissas intelectuais
disseminadas como uma praga pela TV e, imprensa, que diariamente reproduzem falas e ideias de
intelectuais fracassados, todos com seus bicos amarrados em subempregos no
mundo cultural e da propaganda tendenciosa.
Há
esta cultura do atraso, da dependência econômica e intelectual de que o lucro é
pecaminoso; o empreendimento particular é maldoso e de má-fé; o juro é pecado; a
ausência do lucro e interesse pessoal é algo elevado, isento, divino, puro; de
que a indústria é contra o homem e sua natureza etc. São mentalidades que fazem
o país ter o prazer em pisar na lama e no atraso que nos remete aos países
monárquicos de 1800, aos teocráticos, burocráticos, onde tudo é controlado e
gerido pelo Estado.
Num
país continental, o racionalismo trazido da Europa, mesmo que em resquícios, no
sangue de imigrantes de pouco estudo, sempre se chocou frontalmente com a
cultura local existente e o embate
persiste até hoje, onde a lógica pode ter vários objetivos hedonistas, mas
quase sempre é contra os negócios
honestos e de produção. É como se as forças produtivas fossem algo artificial,
que não pertencem ao local. É mesmo um cenário onde a paisagem mostra cereja em
pé de jaca, laranja nascendo em pinheiro. Não cola, não pega. Muitos valores,
princípios positivos e de produção nunca desceram das caravelas, dos aviões,
dos navios porque há um ranço nacional contra o progresso. Aqui o pensamento é
preservar a taba e sua cultura. Sem dúvida nunca a terra do “duty first, self
second”. Aqui vale “ primeiro eu e meu umbigo , depois o resto”.
As
forças contrárias à produção vivem no atraso dos discursos de intelectuais de
todas as profissões, vive diariamente no espírito do “ ganhar sem trabalhar” ;
no “vou aproveitar”; no “ ganha-ganha” ; na perpetuação , repita-se, do pensamento “ se
não tem fins lucrativos, é bom, é puro, é confiável. Vive na malandragem, no hedonismo; na
megalomania; no culto à preguiça e na aversão ao trabalho como fonte de riqueza
e crescimento pessoal; na ideia de que trabalho é sofrimento; na glorificação do emprego público e seus
salários; na crença de que o dinheiro público é a mina a ser explorada; na
crença danosa de que dinheiro não traz felicidade; no lema a ser aplicado na
função pública “ agora eu vou me fazer “; na ideologia de que o empreendedor é
o patrão explorador ; na vitimização dos coitadinhos, estes considerados como
eleitores a serem protegidos e preservados até cada eleição. Sobrevive no
pessimismo e no negativismo pregados sistematicamente, reforçando a síndrome
do” cão vira-lata”; na frase mais danosa
“ é mais fácil um camelo passar no buraco da agulha , do que o rico entrar no
reino dos céus. E mais, na ideia de que dinheiro é coisa do Mal; na crença
de que a pessoa tem que sofrer para merecer no céu; na faltas da ideia de
prosperidade, de que um empreendimento bem sucedido ajuda muitas pessoa e o
país. Persiste na pior crença, a de que para ter evolução espiritual é
necessário livrar-se do material. E mais, nas perguntas “qual é a minha
vantagem?” e “ o que eu ganho como isto?”.
Evidentemente,
toda esta plêiade de estrelas negras contamina a mídia, o jornalismo cativo, as
conversas estudantis, os pseudo intelectuais do barzinho perto da Universidade,
os comentários políticos, os textos de colunas em revistas e jornais fazendo
analises de visão parcial, compondo no conjunto o pensamento filosófico e
sociológico neste quadro da evolução social do país. Falta luz, falta energia,
falta horizonte. A questão a se formular é : tem alguém feliz com este pensar
negativo e derrotista? Isto ajuda os jovens a acreditar no país? Isto cria ambiente
de negócios e progresso pessoal? As
pessoas estão felizes?
A
revolução que não será feita de imediato, embora necessária, é a intelectual,
que rompa com a “sânsara” onde se aprisionaram os intelectuais e formadores de
opinião, com seu comportamento vaidoso, de dono da verdade, de espírito
fracassado na luta contra o ego; frustrado na tentativa de achar-se o detentor
do poder de achar a solução para o mundo. Ficam remoendo as mesmas ideias para
não serem incoerentes e perderam a plateia de copo na mão. É um circulo vicioso
que ficou defasado, enquanto o mundo girou, a vida andou; continua pregando o
caos, o fim do “sistema”; repete-se na mesmice improdutiva e no ranço da raiva
e frustração pessoal.
E
a intelectualidade vai diluindo-se neste nível, querendo preservar fórmulas que
escravizaram o povo para fins meramente eleitoreiros, querendo congelar a
mobilidade das classes sociais e engessar a miséria como massa cativa. Querem
preservar o Estado como o grande promotor da vida e o garantidor de empregos
suculentos, onde se possa mamar sem nada fazer em eternas sinecuras. São contra a empresa privada, ignoram o
óbvio, as empresas como geradoras de
empregos, salários e impostos. Atacam o consumismo, esquecendo a necessidade de
geração de empregos. Atacam o capitalismo, esquecendo que a outra alternativa
nunca deu certo em lugar nenhum e sempre afundou todas as economias e regimes
que a adotaram. Mas seguem nesta infantilidade, neste sonho idealista
fracassado.
E
são pensadores sacados de dentro da população, extratos melhorados do humano
disponível, mas autoritários, conservadores, falsos moralistas, inflexíveis,
antidemocráticos em suas rodas pessoais, intolerantes, radicais,
intransigentes; tomam-se por detentores dos remédios para melhora o mundo, mas
nunca a democracia, que para eles é só uma palavra boa de repetir e
politicamente correta. Mas o certo é que muitos são capazes de rapidamente
abandonar o espírito de revolta e ódio, assim que conseguem um bom emprego e
conseguem “ficar numa boa”. Aí acabou toda a “ideologia”. Mesmo assim são o que temos; são pensadores
que de qualquer modo pensam em algo; são melhores do que os milhares que não
pensam, os milhares de qualquer classe social que não pensam e vivem num vazio
do dia a dia.
Observe-se
como as grandes e pequenas questões, locais e nacionais, são conduzidas. Não há
debate razoável, só razões isoladas , fechadas. A solução é conseguida pelo
poder pessoal ou partidário. Imposição. Isto ocorre desde o colégio,
condomínio, associações, centro acadêmicos, órgãos de classe até o Congresso.
Onde está a democracia como processo regular? Votação por maioria não é
democracia, é mera parte dela. O cidadão não está habituado a a debater,
discutir, trocar ideias. Não sabe nem escutar, muito menos se expressar. A
colocação de simples ideia contrária é vista como afronta pessoal no país do
tosco e do bruto, onde impera a impaciência, a intolerância, e há total aversão
a ser contestado ou contrariado. Ninguém gosta de ser confrontado. Eis o país democrático
que temos: autoritário desde a raiz.
E
a vida vai por este caminho, uns torcendo para que tudo dê errado, para que se
possa começar do zero, num Estado totalitário, gerador de empregos e onde todo
mundo seja igual, e outros torcendo pela empresa como geradora de empregos e
estimuladora da vida; a empresa, esta ilha do racional pelo racional, é que
mais gera empregos e sustenta as famílias, gera salários e o consumo que gera
impostos para o Estado, hoje querendo deixar de ser um grande, guloso e
incompetente Leviatã, o qual agiu sempre contra quem o sustenta , virando o
cocho onde se alimenta.
São
mais de 100 anos de luta para afirmar o racionalismo produtivo, mas a reação é
feroz, na medida em que o racionalismo e o pragmatismo fisiológicos, reagem
contra o progresso; não querem mudar,
mas querem o resultado rápido, o luxo, o
poder de consumo sem contribuir para tal.
Talvez,
isto, curiosamente, contribua para que um dia se diga “nosso povo pode a
qualquer momento , voltar para suas tendas no deserto”, frase dita por Kadafi ,
para mostrar o seu total desprezo pelo progresso.
Se
continuarmos a resistir ao progresso, estaremos sempre sob a maldição de Nelson
Rodrigues de “o Brasil conhecerá a selvageria antes da civilização”. E a questão
“pergunte no que seu país precisa de você?“ demorará a substituir a de
hoje “o que o Governo pode fazer por mim?” É o paternalismo, a
filosofia do rebanho a ser tutelado e protegido; a filosofia dada a um país de
ovelhas, rodeado de conventos, todos vivendo na penumbra dos tempos, à espera do fim do mundo. Milhares de
metáforas mal interpretadas num país de analfabetos, tendo o país sido atrasado
em pelo menos 400 anos, mas que é mantido como símbolo e ícone para os que
fazem a opção de seguir pensamentos contra o progresso, manter seus privilégios
com seus pensamentos atrasados para
comer e encher as burras à custa de milhares de famigerados.
Com
crenças e ideologias negativistas, instalou-se uma cultura de resistência ao
progresso, que vive da conservação de interesses pessoais acima dos
institucionais. Seguindo tal diretiva intelectual, privilegia-se o fisiologismo,
o ego, o animalesco em sua versão tropical hedonista. E assim, enquanto a
evolução intelectual do país for conduzida por crenças contra o progresso, a
prosperidade e a riqueza, o racionalismo produtivo será aqui um elemento tão
estranho quanto uma cereja em pé de jaca.
Odilon
Reinhardt. 3.2.2020
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