segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Como cereja em pé de jaca.


                                     
                                          
                                                   Como cereja em pé de jaca.



Há na História de qualquer lugar, uma discrepância enorme, quando filosofias estruturais se chocam e jamais combinam, formando idiossincrasias de confusa adaptação. Um carnaval filosófico de loucas figuras do circo do dia a dia .
O racionalismo e o utilitarismo, unidos ao pragmatismo, que alavancaram algumas das nações europeias e suas colônias, aplicados como instrumentos inteligentes, lógicos e inevitáveis para produzir mais, reduzindo custos e desperdícios em qualquer empreendimento lucrativo, quando importados, aparecem nesta etapa de evolução do cenário de muitas pessoas como cereja no pinheiro, como laranja em pé de jaca. Não combinam jamais com a falta de educação de qualidade, com baixos níveis de inteligência, com o despreparo para falar, escrever e pensar, o que embaraça a mente das pessoas de modo determinante. Prevalece o autóctone espírito de rejeição.
A falta de educação formal de qualidade, constada a cada teste estudantil, quer pelos resultados quer pelo número de inscritos, dificulta e turbina bastante a discrepância acima mencionada, favorecendo a continuação do fisiologismo animalesco e um falso pensamento, não só humanista bem como social, voltado à  preservação do “natural” com muita atitude de antiprogresso pessoal e coletivo.
Surge neste contexto, um arremedo de racionalismo, um pragmatismo pobre, vazio, sem crédito, aplicado à vida rotineira de muitas e muitas pessoas, afora um intelectualismo retrógrado e promovido por gente frustrada em seu egoísmo.    
São velhos inimigos. A ignorância e a falta de esclarecimento, enfim a limitação intelectual e sua orientação para um socialismo guarani, sem dinheiro, sem recursos, que se abastece da politicagem e do pensamento miúdo e populista de líderes que visão se manter no poder às custas da conservação de bases eleitorais que querem tornar imutáveis. Esquecem que o povo se move, quer luxo e dinheiro e que a miséria é coisa de intelectual, que tem sua própria vida mental em pedaços de miséria, mergulhado no pessimismo, recanto onde   sempre tem razão.
O racionalismo que aqui se vê é o fisiológico, egoico, uma espécie de pragmatismo do grosseiro, do animal em constante defesa, procurando sobreviver na caça, quase selvagem, pela proteína carnívora disponível. O dia a dia é vasto em dar exemplos da dissintonia filosófica num país ainda em fases primitivas de evolução mental e material.
A cultuada rejeição a qualquer racionalismo produtivo, a qualquer modelo que deseje a forma em detrimento do hedonismo, do umbigo, da farra pessoal, da cultura de preservação da vida simples da tribo, do espírito do “simples”, é explícita e prejudica o progresso e a produção.
Enquanto a prioridade for o conforto pessoal, a megalomania as custas do dinheiro público e da incessante ânsia  por  vantagem , o racionalismo e seus modelos produtivos para o mundo dos negócios vão sempre sofrer a crítica e  revezes enormes, tudo promovido pelo espírito do “simples e natural”, que se alimenta diariamente de falsas premissas intelectuais disseminadas como uma praga pela TV e, imprensa,  que diariamente reproduzem falas e ideias de intelectuais fracassados, todos com seus bicos amarrados em subempregos no mundo cultural e da propaganda tendenciosa.
Há esta cultura do atraso, da dependência econômica e intelectual de que o lucro é pecaminoso; o empreendimento particular é maldoso e de má-fé; o juro é pecado; a ausência do lucro e interesse pessoal é algo elevado, isento, divino, puro; de que a indústria é contra o homem e sua natureza etc. São mentalidades que fazem o país ter o prazer em pisar na lama e no atraso que nos remete aos países monárquicos de 1800, aos teocráticos, burocráticos, onde tudo é controlado e gerido pelo Estado.        
Num país continental, o racionalismo trazido da Europa, mesmo que em resquícios, no sangue de imigrantes de pouco estudo, sempre se chocou frontalmente com a cultura local existente  e o embate persiste até hoje, onde a lógica pode ter vários objetivos hedonistas, mas quase sempre é contra  os negócios honestos e de produção. É como se as forças produtivas fossem algo artificial, que não pertencem ao local. É mesmo um cenário onde a paisagem mostra cereja em pé de jaca, laranja nascendo em pinheiro. Não cola, não pega. Muitos valores, princípios positivos e de produção nunca desceram das caravelas, dos aviões, dos navios porque há um ranço nacional contra o progresso. Aqui o pensamento é preservar a taba e sua cultura. Sem dúvida nunca a terra do “duty first, self second”. Aqui vale “ primeiro eu e meu umbigo , depois o resto”.
As forças contrárias à produção vivem no atraso dos discursos de intelectuais de todas as profissões, vive diariamente no espírito do “ ganhar sem trabalhar” ; no “vou aproveitar”; no “ ganha-ganha” ;  na perpetuação , repita-se, do pensamento “ se não tem fins lucrativos, é bom, é puro, é confiável.  Vive na malandragem, no hedonismo; na megalomania; no culto à preguiça e na aversão ao trabalho como fonte de riqueza e crescimento pessoal; na ideia de que trabalho é sofrimento;  na glorificação do emprego público e seus salários; na crença de que o dinheiro público é a mina a ser explorada; na crença danosa de que dinheiro não traz felicidade; no lema a ser aplicado na função pública “ agora eu vou me fazer “; na ideologia de que o empreendedor é o patrão explorador ; na vitimização dos coitadinhos, estes considerados como eleitores a serem protegidos e preservados até cada eleição. Sobrevive no pessimismo e no negativismo pregados sistematicamente, reforçando a síndrome do” cão vira-lata”; na frase mais danosa “ é mais fácil um camelo passar no buraco da agulha , do que o rico entrar no reino dos céus. E mais, na ideia de que dinheiro é coisa do Mal; na crença de que a pessoa tem que sofrer para merecer no céu; na faltas da ideia de prosperidade, de que um empreendimento bem sucedido ajuda muitas pessoa e o país. Persiste na pior crença, a de que para ter evolução espiritual é necessário livrar-se do material. E mais, nas perguntas “qual é a minha vantagem?” e “ o que eu ganho como isto?”.
Evidentemente, toda esta plêiade de estrelas negras contamina a mídia, o jornalismo cativo, as conversas estudantis, os pseudo intelectuais do barzinho perto da Universidade, os comentários políticos, os textos de colunas em revistas e jornais fazendo analises de visão parcial, compondo no conjunto o pensamento filosófico e sociológico neste quadro da evolução social do país. Falta luz, falta energia, falta horizonte. A questão a se formular é : tem alguém feliz com este pensar negativo e derrotista? Isto ajuda os jovens a acreditar no país? Isto cria ambiente de  negócios e progresso pessoal? As pessoas estão felizes?
A revolução que não será feita de imediato, embora necessária, é a intelectual, que rompa com a “sânsara” onde se aprisionaram os intelectuais e formadores de opinião, com seu comportamento vaidoso, de dono da verdade, de espírito fracassado na luta contra o ego; frustrado na tentativa de achar-se o detentor do poder de achar a solução para o mundo. Ficam remoendo as mesmas ideias para não serem incoerentes e perderam a plateia de copo na mão. É um circulo vicioso que ficou defasado, enquanto o mundo girou, a vida andou; continua pregando o caos, o fim do “sistema”; repete-se na mesmice improdutiva e no ranço da raiva e frustração pessoal.
E a intelectualidade vai diluindo-se neste nível, querendo preservar fórmulas que escravizaram o povo para fins meramente eleitoreiros, querendo congelar a mobilidade das classes sociais e engessar a miséria como massa cativa. Querem preservar o Estado como o grande promotor da vida e o garantidor de empregos suculentos, onde se possa mamar sem nada fazer em eternas sinecuras.  São contra a empresa privada, ignoram o óbvio, as empresas  como geradoras de empregos, salários e impostos. Atacam o consumismo, esquecendo a necessidade de geração de empregos. Atacam o capitalismo, esquecendo que a outra alternativa nunca deu certo em lugar nenhum e sempre afundou todas as economias e regimes que a adotaram. Mas seguem nesta infantilidade, neste sonho idealista fracassado.  
E são pensadores sacados de dentro da população, extratos melhorados do humano disponível, mas autoritários, conservadores, falsos moralistas, inflexíveis, antidemocráticos em suas rodas pessoais, intolerantes, radicais, intransigentes; tomam-se por detentores dos remédios para melhora o mundo, mas nunca a democracia, que para eles é só uma palavra boa de repetir e politicamente correta. Mas o certo é que muitos são capazes de rapidamente abandonar o espírito de revolta e ódio, assim que conseguem um bom emprego e conseguem “ficar numa boa”. Aí acabou toda a “ideologia”.   Mesmo assim são o que temos; são pensadores que de qualquer modo pensam em algo; são melhores do que os milhares que não pensam, os milhares de qualquer classe social que não pensam e vivem num vazio do dia a dia. 
Observe-se como as grandes e pequenas questões, locais e nacionais, são conduzidas. Não há debate razoável, só razões isoladas , fechadas. A solução é conseguida pelo poder pessoal ou partidário. Imposição. Isto ocorre desde o colégio, condomínio, associações, centro acadêmicos, órgãos de classe até o Congresso. Onde está a democracia como processo regular? Votação por maioria não é democracia, é mera parte dela. O cidadão não está habituado a a debater, discutir, trocar ideias. Não sabe nem escutar, muito menos se expressar. A colocação de simples ideia contrária é vista como afronta pessoal no país do tosco e do bruto, onde impera a impaciência, a intolerância, e há total aversão a ser contestado ou contrariado. Ninguém gosta de ser confrontado. Eis o país democrático que temos: autoritário desde a raiz.    
E a vida vai por este caminho, uns torcendo para que tudo dê errado, para que se possa começar do zero, num Estado totalitário, gerador de empregos e onde todo mundo seja igual, e outros torcendo pela empresa como geradora de empregos e estimuladora da vida; a empresa, esta ilha do racional pelo racional, é que mais gera empregos e sustenta as famílias, gera salários e o consumo que gera impostos para o Estado, hoje querendo deixar de ser um grande, guloso e incompetente Leviatã, o qual agiu sempre contra quem o sustenta , virando o cocho onde se alimenta.
São mais de 100 anos de luta para afirmar o racionalismo produtivo, mas a reação é feroz, na medida em que o racionalismo e o pragmatismo fisiológicos, reagem contra o progresso; não querem  mudar, mas querem  o resultado rápido, o luxo, o poder de consumo sem contribuir para tal.
Talvez, isto, curiosamente, contribua para que um dia se diga “nosso povo pode a qualquer momento , voltar para suas tendas no deserto”, frase dita por Kadafi , para mostrar o seu total desprezo pelo progresso. 
Se continuarmos a resistir ao progresso, estaremos sempre sob a maldição de Nelson Rodrigues de “o Brasil conhecerá a selvageria antes da civilização”. E a questão “pergunte no que seu país precisa de você?“ demorará a substituir a de hoje  “o que o Governo  pode fazer por mim?” É o paternalismo, a filosofia do rebanho a ser tutelado e protegido; a filosofia dada a um país de ovelhas, rodeado de conventos, todos vivendo na penumbra dos tempos,  à espera do fim do mundo. Milhares de metáforas mal interpretadas num país de analfabetos, tendo o país sido atrasado em pelo menos 400 anos, mas que é mantido como símbolo e ícone para os que fazem a opção de seguir pensamentos contra o progresso, manter seus privilégios com seus  pensamentos atrasados para comer e encher as burras à custa de milhares de famigerados.
Com crenças e ideologias negativistas, instalou-se uma cultura de resistência ao progresso, que vive da conservação de interesses pessoais acima dos institucionais. Seguindo tal diretiva intelectual, privilegia-se o fisiologismo, o ego, o animalesco em sua versão tropical hedonista. E assim, enquanto a evolução intelectual do país for conduzida por crenças contra o progresso, a prosperidade e a riqueza, o racionalismo produtivo será aqui um elemento tão estranho quanto uma cereja em pé de jaca.

Odilon Reinhardt. 3.2.2020                              

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